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Corre, Corre, Cabacinha
Era uma vez uma velha muito velha, mãe de muitos filhos e avó de muitos netos. Vivia numa
casa escondida na floresta, me sabia como ninguém fazer pão de ló, arroz-doce, coscorões e papas
de farinha com mel.
De vez em quando, um dos seus muitos filhos batia-lhe à porta e dizia-lhe:
Nós te fizemos
outra vez avó
nós te fizemos
avó outra vez:
leva pão de ló
para o batizado
que é no fim do mês.
Então a velha passava trinta dias e trinta noites junto do fogão a fazer pão de ló, arroz-doce,
coscorões e papas de farinha com mel e no dia aprazado metia tudo dentro de uma cesta, agarrava-
se ao cajado - que os anos já pesavam -, atravessava a floresta e ia até à aldeia, para o batizado de
mais um neto.
Um dia um dos filhos bateu-lhe à porta e disse:
Nós te fizemos
outra vez avó
nós te fizemos
avó outra vez:
leva pão de ló
para o batizado
que é no fim do mês.
Só que desta vez
vais levar também
padrinho a preceito:
já corremos tudo
já tudo corremos
padrinho de jeito
é que nós não temos.
A velha ficou aflita: vivia sozinha e não conhecia ninguém que pudesse servir de padrinho ao
neto acabado de nascer. Mas no dia aprazado pegou no cajado e pôs-se ao caminho, a cesta bem
carregadinha com as iguarias do costume.
Ainda mal acabara de passar a primeira clareira da floresta quando o lobo lhe salta ao
caminho, gritando:
Velha, velhinha
velha, velhão
como-te inteirinha
com cesta e bordão!
Tremendo, tremendo, tremendo de medo, a velha respondeu:
Eu estou tão magrinha,
nem terei sabor!
Deixa-me ir à festa,
voltarei melhor,
com a barriga cheia
de mel e farinha
poderás então
comer-me inteirinha
com cesta e bordão!
O lobo pensou uma, pensou duas, pensou três vezes, e lá deixou a velha seguir o seu
caminho, não sem antes a ter feito jurar que, assim que o Sol desaparecesse nas montanhas, ela
voltaria do batizado para ele a comer e matar finalmente a fome.
Tão assustada ia a velha pelo caminho fora que nem reparou num vendedor de cabaças que
dela se aproximava, perguntando:
Onde vais, velhinha
assim tão curvada
que foi que te pôs
assim assustada?
Tremendo, tremendo, tremendo de medo, a velha respondeu:
Vou ao batizado
de mais um netinho,
vou cheia de medo
e não acho padrinho.
E logo ali lhe contou o que se tinha passado e o que prometera ao lobo. O velho conversou uns
minutos com as suas cabaças, e depois ofereceu-se para padrinho, dizendo-lhe que não pensasse
mais no assunto, que tudo se resolveria:
Comei e bebei
bebei e comei,
que em chegando a hora
eu vos salvarei!, <
Batizado foi o neto, e a tarde se passou em danças e folias, com muito pão de ló, arroz-doce,
coscorões e papas de farinha com mel.
E, de vez em quando, a velha murmurava:
Compadre, dizei:
em chegando a hora
como escaparei?
Mas o velho bailava, bailava, e só respondia:
Comei e bebei
bebei e comei,
que em chegando a hora
eu vos salvarei.
Quando o Sol desapareceu nas montanhas, o velho, foi então buscar uma das suas cabaças, a
maior de todas, a mais redondinha e amarela, e disse à velha que se metesse lá dentro e fosse a rolar
pelo caminho fora até casa, sem nunca parar.
E assim a velha foi rolando, rolando, rolando, por caminhos e ladeiras, atalhos e clareiras,
quando de repente o lobo lhe saltou ao caminho, perguntando:
Ó cabaça, cabacinha
amarela, redondinha,
não viste no teu caminho
uma velha mirradinha?
Tremendo, tremendo, tremendo de medo, a velha respondeu:
Não vi velha nem velhinha
não vi velha nem velhão
corre, corre, cabacinha
corre, corre, cabação.
E lá continuou rolando, rolando, rolando sem parar, por caminhos e ladeiras, atalhos e
clareiras.
Mas o lobo não desistia à primeira. Ia a velha já a atravessar a segunda clareira da floresta
quando ele lhe saltou de novo ao caminho, dizendo:
Lembro-me agora que a velha
devia vir mais gordinha:
não viste velha anafada,
ó cabaça, cabacinha?
Tremendo, tremendo, tremendo de medo, a velha respondeu:
Não vi velha nem velhinha
não vi velha nem velhão
corre, corre, cabacinha
corre, corre, cabação.
Nem mesmo assim o lobo se convenceu. Estava a velha a atravessar a última clareira da
floresta quando ele lhe salta de novo ao caminho, gritando:
Gorda ou magra, tanto faz,
se velha não tenho, tu me bastarás!
E com um salto preparava-se para lhe cair em cima quando a cabaça, com a velha dentro, veio
a rolar, a rolar, a rolar pela ladeira abaixo, sempre mais depressa, entrando de rompante pela casa
dentro, deixando o lobo a perder de vista.
Logo a velha para fora da cabaça pulou, a porta trancou e de alegria bailou. E quando, meses
depois, outro dos seus filhos lhe bateu à porta para lhe anunciar o nascimento de mais outro neto,
ainda ela cantava:
Não vi velha nem velhinha
não vi velha nem velhão
corre, corre, cabacinha
corre, corre, cabação.
Alice Vieira

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Corre, corre, cabacinha de alice vieira texto integral

  • 1. Corre, Corre, Cabacinha Era uma vez uma velha muito velha, mãe de muitos filhos e avó de muitos netos. Vivia numa casa escondida na floresta, me sabia como ninguém fazer pão de ló, arroz-doce, coscorões e papas de farinha com mel. De vez em quando, um dos seus muitos filhos batia-lhe à porta e dizia-lhe: Nós te fizemos outra vez avó nós te fizemos avó outra vez: leva pão de ló para o batizado que é no fim do mês. Então a velha passava trinta dias e trinta noites junto do fogão a fazer pão de ló, arroz-doce, coscorões e papas de farinha com mel e no dia aprazado metia tudo dentro de uma cesta, agarrava- se ao cajado - que os anos já pesavam -, atravessava a floresta e ia até à aldeia, para o batizado de mais um neto. Um dia um dos filhos bateu-lhe à porta e disse: Nós te fizemos outra vez avó nós te fizemos avó outra vez: leva pão de ló para o batizado que é no fim do mês. Só que desta vez vais levar também padrinho a preceito: já corremos tudo já tudo corremos padrinho de jeito é que nós não temos. A velha ficou aflita: vivia sozinha e não conhecia ninguém que pudesse servir de padrinho ao neto acabado de nascer. Mas no dia aprazado pegou no cajado e pôs-se ao caminho, a cesta bem carregadinha com as iguarias do costume. Ainda mal acabara de passar a primeira clareira da floresta quando o lobo lhe salta ao caminho, gritando: Velha, velhinha velha, velhão como-te inteirinha com cesta e bordão! Tremendo, tremendo, tremendo de medo, a velha respondeu:
  • 2. Eu estou tão magrinha, nem terei sabor! Deixa-me ir à festa, voltarei melhor, com a barriga cheia de mel e farinha poderás então comer-me inteirinha com cesta e bordão! O lobo pensou uma, pensou duas, pensou três vezes, e lá deixou a velha seguir o seu caminho, não sem antes a ter feito jurar que, assim que o Sol desaparecesse nas montanhas, ela voltaria do batizado para ele a comer e matar finalmente a fome. Tão assustada ia a velha pelo caminho fora que nem reparou num vendedor de cabaças que dela se aproximava, perguntando: Onde vais, velhinha assim tão curvada que foi que te pôs assim assustada? Tremendo, tremendo, tremendo de medo, a velha respondeu: Vou ao batizado de mais um netinho, vou cheia de medo e não acho padrinho. E logo ali lhe contou o que se tinha passado e o que prometera ao lobo. O velho conversou uns minutos com as suas cabaças, e depois ofereceu-se para padrinho, dizendo-lhe que não pensasse mais no assunto, que tudo se resolveria: Comei e bebei bebei e comei, que em chegando a hora eu vos salvarei!, < Batizado foi o neto, e a tarde se passou em danças e folias, com muito pão de ló, arroz-doce, coscorões e papas de farinha com mel. E, de vez em quando, a velha murmurava: Compadre, dizei: em chegando a hora como escaparei? Mas o velho bailava, bailava, e só respondia: Comei e bebei bebei e comei, que em chegando a hora eu vos salvarei.
  • 3. Quando o Sol desapareceu nas montanhas, o velho, foi então buscar uma das suas cabaças, a maior de todas, a mais redondinha e amarela, e disse à velha que se metesse lá dentro e fosse a rolar pelo caminho fora até casa, sem nunca parar. E assim a velha foi rolando, rolando, rolando, por caminhos e ladeiras, atalhos e clareiras, quando de repente o lobo lhe saltou ao caminho, perguntando: Ó cabaça, cabacinha amarela, redondinha, não viste no teu caminho uma velha mirradinha? Tremendo, tremendo, tremendo de medo, a velha respondeu: Não vi velha nem velhinha não vi velha nem velhão corre, corre, cabacinha corre, corre, cabação. E lá continuou rolando, rolando, rolando sem parar, por caminhos e ladeiras, atalhos e clareiras. Mas o lobo não desistia à primeira. Ia a velha já a atravessar a segunda clareira da floresta quando ele lhe saltou de novo ao caminho, dizendo: Lembro-me agora que a velha devia vir mais gordinha: não viste velha anafada, ó cabaça, cabacinha? Tremendo, tremendo, tremendo de medo, a velha respondeu: Não vi velha nem velhinha não vi velha nem velhão corre, corre, cabacinha corre, corre, cabação. Nem mesmo assim o lobo se convenceu. Estava a velha a atravessar a última clareira da floresta quando ele lhe salta de novo ao caminho, gritando: Gorda ou magra, tanto faz, se velha não tenho, tu me bastarás! E com um salto preparava-se para lhe cair em cima quando a cabaça, com a velha dentro, veio a rolar, a rolar, a rolar pela ladeira abaixo, sempre mais depressa, entrando de rompante pela casa dentro, deixando o lobo a perder de vista. Logo a velha para fora da cabaça pulou, a porta trancou e de alegria bailou. E quando, meses depois, outro dos seus filhos lhe bateu à porta para lhe anunciar o nascimento de mais outro neto, ainda ela cantava: Não vi velha nem velhinha não vi velha nem velhão corre, corre, cabacinha corre, corre, cabação. Alice Vieira