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Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida
de
Luzum olhar na história
rastros 2018
nº 11
fevereiro
Despretensioso convite para o
retorno às coisas simples, belas
e profundas do Evangelho.
a
cruz
lei da
3
a
lei
Quando procurado pelos
padecentes, Jesus os
questionava se realmente
desejavam a saúde, e se
criam que Ele os poderia
curar.
da cruz
4 5RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
eLucas 9: 23-27
E dizia a todos: Se alguém quer vir após
mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a
sua cruz, e siga-me.
Porque, qualquer que quiser salvar a sua
vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor
de mim, perder a sua vida, a salvará.
Porque, que aproveita ao homem granjear o
mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se
a si mesmo?
Porque, qualquer que de mim e das minhas
palavras se envergonhar, dele se envergonhará
o Filho do homem, quando vier na sua glória,
e na do Pai e dos santos anjos.
E em verdade vos digo que, dos que aqui
estão, alguns há que não provarão a morte até
que vejam o reino de Deus.
Se alguém quer vir após mim...
Com o anúncio de Jesus em ser Ele o
Caminho, a Verdade e a Vida, ou, segundo
outra tradução, ser o Caminho da Verdadeira
Vida, não ficou condicionada obrigatoriedade
em segui-Lo.
Ele pronunciou o consolador convite:
Venham a mim todos os que se encontram
cansados e aflitos e Eu os aliviarei...
Do mesmo modo, convida-nos: Se alguém
quer vir após mim...
Um convite, respeitando o livre-arbítrio
próprio dos seres humanos. Deixando-nos
a faculdade de escolha entre aceitar ou não
aceitar.
No entanto, aclarou-nos o entendimento
do celeste roteiro: Eu Sou o Caminho...,
e ninguém vem ao Pai, senão por mim,
conforme se lê em João, 14:6. Ou seja,
quem não queira aceitar o convite agora,
mais dia, menos dia, terá que se por em
caminhada, pois Jesus é o Caminho que leva
à Deus.
... Negue-se a si mesmo...
Renúncia. Notadamente de tudo aquilo
que nos retém os passos na conquista do
entendimento da imortalidade do ser, da
nossa preexistência ao berço e sobrevivência
a túmulo, de Deus, e do amor por Ele acima
de todas as coisas, e ao próximo como a nós
mesmos.
Renunciar aos desvalores da vida, que
adotamos decorrente de nossas falsas
crenças.
Renunciar, como desidentificação, com
tudo aquilo que nos trouxe, como resultado,
dores, sofrimentos, conflitos, desesperança,
6 7RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
enfermidades do corpo e da alma,
descrença também em nós próprios.
Nesse sentido continua a citação
evangélica aclarando que quem quiser
salvar a sua vida, o seu modo de viver
atual, manter suas ilusões, sua vida
voltada às aparências e às coisas, onde
se entrega pela posse de tudo o que é
perecível e passageiro, deixando de lado
tudo o que é essencial para o Espírito,
perdê-la-á. Pois, com a morte, tudo o
que pertence à Terra, aqui ficará, e,
tão-logo recobrada a consciência no
mundo espiritual, quem viveu somente
para ter e nada fez para ser, se dará
conta de que toda uma existência foi
desperdiçada, perdida.
Porém, quem por amor de mim,
perder sua vida, a salvará. Quem
renunciar aos seus nonadas, às suas
ilusões, ao seu viver atual dedicado
ao orgulho, à vaidade desmedida, ao
egoísmo, estará ganhando pela utilidade
que dará ao tempo, pela oportunidade
que dará ao amor em sua vida, pela
glória do bem. A nossa existência terá
sido proveitosa para nós e para os
demais.
De que adianta conquistar o mundo,
lançando mão de meios que não
justificam os fins nobres, e nada fazer
por nós mesmos, por tudo aquilo que
o ladrão não rouba e a ferrugem não
corrói, valores e virtudes que não ficarão
retidos na aduana do túmulo?
... Tome cada dia a sua cruz...
Tomar a cruz do compromisso
assumido perante a própria consciência,
ao preço do sacrifício que se faz devido,
a fim de se prosseguir na jornada
segundo uma vida cristã, devotada ao
bem e ao bom, num constante melhorar.
Paulo, o Apóstolo, ensinando a
necessária determinação e persistência
para os que desejam seguir o Cristo,
lecionava: Portanto, tornai a levantar
as mãos cansadas e os joelhos
desconjuntados (Hebreus, 12 :12), e
prosseguir sempre, com destemor.
Fortaleçam as mãos cansadas,
firmem os joelhos vacilantes; digam aos
desanimados de coração: “Sejam fortes,
não temam!”, assim cantava Isaías,
como vem escrito em 35: 3-4.
Tomar a cruz do arrependimento
e seguir em caminhada de redenção,
reparando os erros de outrora.
Tomar a cruz das consequências,
colhendo o resultado das semeaduras
equivocadas.
Conforme a semente, a colheita.
No Velho Testamento, lemos a citação
de Jó (4: 8): Pelo que tenho observado,
quem cultiva o mal e semeia maldade,
isso também colherá...
Em Provérbios (22: 8): Quem semeia
a perversidade colhe males. E em outra
tradução: Quem semeia a injustiça colhe
a maldade.
Ainda lemos em Oséias (8: 7):
Visto que semearam ventos, colherão
tempestades.
Já em Gálatas (6: 7), a expressão do
ensino, que retrata a natural Lei Divina
do Retorno: tudo que o homem semear,
isso também ceifará...
E Jesus (Marcos, 4: 32) vem ratificar
a Lei, por sua vez afirmando: Mas, tendo
sido semeado, cresce.
No mesmo sentido, Mateus anotou
em 16: 27: a cada um segundo as suas
obras.
Paulo, o Apóstolo dos gentios, ao
tratar da necessária semeadura, que
nada mais é do que nossas escolhas e
nossas atitudes, esclareceu os Coríntios,
em sua segunda carta (9: 6): Convém
lembrar: aquele que semeia pouco,
pouco ceifará. Aquele que semeia em
profusão, em profusão ceifará.
Elucidando que a Lei não está
somente para os equívocos, mas
também para os acertos, e uma boa
e selecionada semente (atitude)
resultará numa colheita correspondente
(resultado positivo, retorno do bem).
Num sentido amplo, mas que cabe
em nossas reflexões, lemos em Gênesis
(1: 12): A terra fez brotar a vegetação:
plantas que dão sementes de acordo
com as suas espécies, e árvores cujos
frutos produzem sementes de acordo
com as suas espécies.
... E siga-me...
E, como não poderia deixar de ser,
considerando a justiça amorosa do Pai, o
esforço, o empenho, as dificuldades para
se manter firme do trabalho redentor,
tem seu retorno abençoado (Salmos
126: 6): Aquele que leva a preciosa
semente, andando e chorando, voltará,
sem dúvida, com alegria, trazendo
consigo os seus molhos.
Ou seja, aquele que perseverar até
8 9RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
As três cruzes
(Nas pegadas do Mestre. Vinícius)
Naquele dia, três cruzes foram levantadas
no cimo do Calvário. A do meio sustinha Jesus,
o Cristo, cujo crime, como é sabido, consistiu
em ensinar ao povo a doutrina da igualdade
de direitos perante a lei natural e divina,
que emana de Deus. As laterais justiçavam,
respectivamente, à direita e à esquerda, o
bom e o mau ladrão.
Esses três supliciados são, ao mesmo
tempo, três realidades históricas e três
símbolos.
Jesus Crucificado é a imagem do amor e da
dor, elementos que, conjugados, determinam e
promovem a evolução dos homens. É a figura
da justiça aliada à misericórdia.
O bom e o mau ladrão representam a
Humanidade pecadora em sua generalidade.
O primeiro, reflete com admirável justeza
os pecadores confessos, as almas simples,
compenetradas de suas faltas, que suportam
os sofrimentos e as angústias da existência
com resignação e humildade, sem murmúrios
nem revoltas, porque veem nessas vicissitudes
o efeito das causas criadas por elas próprias.
Crendo firmemente na justiça, tiram preciosos
ensinamentos das provações cuja aspereza
é amenizada pela maneira com que são
recebidas.
O segundo espelha com notória fidelidade
os pecadores relapsos, impenitentes e
orgulhosos, que recebem a dor revoltados,
murmurando e blasfemando. Descrendo
do amor e da justiça, julgam-se vítimas de
inexorável iniquidade, pois se consideram
isentos de culpa, vendo-se através do orgulho
que lhes oblitera o entendimento e ofusca a
razão.
A Humanidade compõe-se de Dimas e de Giestas, isto é, de
pecadores humildes que, reconhecendo-se culpados, fazem da cruz
instrumento de redenção; e de pecadores orgulhosos que murmuram
e blasfemam continuamente, contorcendo-se e escabujando na
cruz que, para eles, não passa do que realmente é: instrumento de
suplício.
o fim será salvo, registrou Mateus em
seus escritos: 24.13.
Em síntese: Dome suas paixões
animais; não alimente ódio, nem inveja,
nem ciúme, nem orgulho; não se deixe
dominar pelo egoísmo; purifique-se,
nutrindo bons sentimentos; pratique o
bem; não ligue às coisas deste mundo
importância que não merecem; e, então,
embora revestido do invólucro corporal,
já estará depurado, já estará liberto
do jugo da matéria e, quando deixar
esse invólucro, não mais lhe sofrerá
a influência. Nenhuma recordação
dolorosa lhe advirá dos sofrimentos
físicos que haja padecido; nenhuma
impressão desagradável eles deixarão,
porque apenas terão atingido o corpo
e não a alma. Sentir-se-á feliz por se
haver libertado deles e a paz da sua
consciência o isentará de qualquer
sofrimento moral. (O Livro dos Espíritos,
de Allan Kardec, questão 257.)
Dando ao Espírito a liberdade de
escolher, Deus lhe deixa a inteira
responsabilidade de seus atos e das
consequências que estes tiverem.
Sem postergação, sigamos Jesus
Cristo, quem nos disse: Ninguém, que
lança mão do arado e olha para trás, é
apto para o reino de Deus. (Lucas 9 :
62.)
Nos decidamos por segui-Lo e
ouviremos o Meigo Rabi nos falando,
suavemente: Levantai-vos, vamos ...
(Marcos 14 : 42.)
10 11RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
Tomar a cruz
(Luz do mundo. Amélia Rodrigues, cap. 22.
Divaldo Franco)
Diariamente à sua volta renovavam-se os grupos ávidos do Seu socorro.
A mensagem da esperança alcançando as fronteiras das almas inebriava-as, derramando-se abundante pelos demais corações
que se contagiavam da Sua empolgante realidade.
Jamais Israel vira ou escutara alguém igual a Ele.
Os sofredores recebiam de Suas mãos as mais vantajosas quotas de auxílio, e os deserdados enriqueciam-se de alegria do
primeiro encontro com as Suas palavras.
N’Ele tudo transpirava amor.
Das aldeias e cidades, dos arredores do Lago e
das terras distantes chegavam os grupos que se
adensavam em multidões expressivas para ouvi-
Lo, sentir a grandeza dos Seus ensinos, fruir as
concessões das Suas dadivosas mãos.
Nunca se cansava de ensinar nem se
descoroçoava jamais ante a impertinência ou a
rebeldia dos infelizes. Compreendia-os por conhecer
o ácido sabor do sofrimento que os infelicitava e
por compreender-lhes a dor decorrente da pesada
canga a constranger-lhes os corpos cansados e os
espíritos aflitos.
Alongava-se a todos como abençoada fímbria de
luz na pesada sombra a clarear os roteiros e fazia-
se a barca de segurança para que os náufragos do
mar das paixões atingissem as praias da paz ou os
postos da segurança.
A primavera e o verão ensejavam-Lhe naqueles
dois últimos anos a apresentação rutilante da Sua
Mensagem. E mesmo quando os ventos outonais
sopravam prenunciando o frio, Ele prosseguia
ajudando os discípulos amados, para aproveitar o
tempo que urgia, por não ser Ele deste mundo.
*
À sombra da árvore veneranda, no entardecer,
enquanto amena a atmosfera se faz transparente,
facultando a visão do céu límpido azul-alaranjado,
Ele, ao lado dos discípulos, alongou os olhos por
sobre a multidão (Mateus: 10: 26 a 33 - Lucas: 12: 1 a 12)
. E
eram tantos os que ali estavam que se poderiam
atropelar uns aos outros.
Filhos da terra e estrangeiros, d’além Jordão
e da Decápolis, de Tiro e Sídon, daquelas aldeias
romanescas e simples que Ele se acostumara a
amar, eram aquelas criaturas.
Junto àqueles das margens das águas que com
Ele conviviam sentira a grandeza da humildade dos
simples e a nobreza da fidelidade dos humildes. Nas
suas mãos encontrava o grão e o pão, o fruto seco e
a água pura, a compreensão e a ternura. As gentes
nascidas na dor compreendiam-n’O, sim, e Ele os
amava em demasia, por isso mesmo.
Ali estavam todos os elementos constitutivos da
melodia dos sofrimentos humanos.
Mutilados em permanente exibição das
deformidades e miseráveis sonhadores da
esperança.
Aqueles rostos sulcados pela dor e curtidos
12 13RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
pelo sol, aqueles olhos sem luminosidade que as desilusões quase apagaram de todo,
acendiam-se, porém, expectantes, naquele momento aguardando.
Ao longe, o mar explodindo rendas nas praias tranquilas e bordando de espumas
alvas os seixos e pedregulhos negros. Os distantes coroados de sol poente e o verde-
marron da gramínea teimosa em que madressilvas como pingentes azuis bordam o
tapete do solo...
Ele amava tudo aquilo: o mar era o seu espelho a refletir a face do dia e da noite; o
rio o alaúde em que Suas mãos movimentavam sons nas longas cordas das correntezas
cantantes; as elevações tornavam-se tribunas nobres donde Sua voz se espraiava na
direção dos homens; os desertos em que se refugiava para estar a sós e orar eram
preferidos, e os painéis verde-brancos dos bosques e dos casarios eram a pintura
comovedora na tela da Natureza...
Nublaram-se-Lhe os olhos e pela tênue cortina de lágrimas Ele pareceu ver o futuro,
no qual aqueles que ali estavam se apresentariam, nascendo e renascendo, vivendo e
sofrendo, até conseguirem a paz da consciência e a plenitude do coração em harmonia,
sintonizados com as Leis do Estatuto Divino.
Profundamente apiedado das mazelas humanas, envolveu todas aquelas criaturas na
ternura indimensional do Seu amor e começou a falar:
— Alegrai-vos na dor e não vos desespereis. Participais desde hoje do Reino de Deus
e os tempos continuarão a correr cantando músicas de júbilo em vossas almas, se
perseverardes fiéis até o fim.
“Todos os que vos buscaram antes prometiam quimeras e acenavam triunfos que
o túmulo apaga, deixando em cinza ou lama os tecidos custosos e enferrujados, sem
valor os tesouros da ficção.
“Marcham e passam sorridentes os dominadores da Terra, guindados a postos nos
quais padecem a alucinação da loucura que os vence e preferem ignorar.
“Prometem a Terra e são submetidos a ela, desaparecendo nos seus carros de ouro,
sem deixarem saudades, porque são substituídos por outros títeres e por todos logo
esquecidos.
“Ameaçam e atemorizam os de coração simples, perseguem os fracos porque sofrem
fraquezas que os desgraçam e se fazem acompanhar de outros famanazes, quais
abutres reunidos, que, em última instância, irão devorar o mesmo cadáver em disputa
infeliz.
Os ouvidos aguçados da multidão recebem as palavras quais moedas de luz para
serem entesouradas nos cofres do coração ansioso.
A Natureza canta silêncios em derredor.
Ele prosseguiu:
— Quem desejar ser digno de mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-
me.
“Não temais aqueles que apenas matam os corpos e nada mais podem fazer. Eles
também morrerão.
“Temei, respeitai aquele que depois da morte tem poder de restituir a vida,
oferecendo paz ou dor.
“Se me amardes tomai a vossa cruz e renunciai às vãs utopias, vindo em seguida.
14 15RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
“Construí a nova conduta do amor e da verdade.
“Tudo pelo Pai é sabido, mesmo as coisas mais insignificantes Ele conhece. Tem contado os fios dos
vossos cabelos.
“Acautelai-vos da hipocrisia que é a arma dos cobardes.
“Sede verdadeiros e mantende limpos os corações.
“Aqueles que me confessarem diante dos homens, também eu os anunciarei a meu Pai.
“Nada digais em segredo contra alguém, pois que isto que seja dito em silêncio será apregoado aos
brados.
“Evitai manter duas condutas: a que os homens podem e aquela que não podem saber. Nada, pois,
façais escondido, porquanto tudo se torna revelado e permanece conhecido.
“A mentira é a medida do mentiroso como a presunção é a dimensão do ignorante.
“Levantai a cabeça reta mas sede simples de alma e humilde de sentimento.
“Engendrai a simpatia entre todos e fomentai a cordialidade. O homem isolacionista é espírito enfermo.
Manter cortesia com os que são corteses é retribuir a medida do que se recebe.
“Os meus seguidores aprendem a ter alegria interior para os momentos difíceis e se acostumam ao
prazer de servir em nome do amor. É nisto que reside a verdadeira união comigo.
“Preservai-vos do fermento da maledicência. As más palavras, as palavras
azedas, as palavras rudes corrompem o espírito e corroem a vida, turbando a
consciência.
“Saí da amargura e livrai-vos das suspeitas. Os espíritos imundos se
comprazem na inspiração dos pensamentos vulgares e se nutrem dos conúbios
deprimentes.
“Em toda circunstância buscai a prece, e, vigiando, servi. Não procureis,
porém, fazer tudo. Sede grandes nas tarefas insignificantes e tornai-vos
pequenos nas grandes realizações — eis como provar a integridade no bem.
“Aquele que me negar entre os homens, dele não me recordarei para
apresentá-lo no Reino.
“Se vos ofenderem buscai conquistar o ofensor; se vos enganarem ide ao
encontro dos enganadores; se vos caluniarem marchai com amizade junto ao
infamante. Fácil seria abandoná-los. Se assim o fizerdes não sereis dignos de
mim. Não vim para os sãos, os bons, os felizes, mas para eles os desventurados
e para vós, os que tendes sede de justiça e paz.”
A noite estava quase chegando. Uma sutil atmosfera de paz caía sobre
os grupos na multidão silenciosa, de coração túmido de emoções e almas
comovidas.
As silhuetas dos montes se recortam nas primeiras sombras e as estrelas
salmodiam nos Céus canções em prata fulgurantes.
Onomatopeias, hipérbatos e sinédoques escapam dos lábios do Mestre na
composição dos ditos.
É necessário ir mais longe, informar tudo. Num crescendo de ventura Ele
profere por fim: “Quando tiverdes de falar, diante de quem seja, não temais!
Abri a boca: o Espírito Santo falará por vós.
“Sede fiéis!”
Sublime musicalidade tomou conta do ar.
Levantou-se, ergueu as mãos e abençoou os ouvintes.
As lágrimas abundavam nos olhos de todos, nascendo nas fontes do espírito.
Havia um elan invisível que transformava a mole humana numa só família —
a família do amor universal do futuro!
No mar sereno deslizam ao longe as barcas que retornam. No ar salpicado
pelas lâmpadas estelares as ansiedades da multidão soluçam baixinho...
... E Ele entre os homens apresentando a legislação do amor em convite
esplêndido à Humanidade inteira.
E como todos se retirassem aos poucos, em silêncio, dispostos a carregarem
a sua cruz, Ele ficou a sós e se encheu de plenitude.
A noite, por fim, vestiu o aclive de luar, enquanto as aldeias e as cidades
dormiam, e Ele velava dos cimos do outeiro...
17
A transfiguração é símbolo
da ponte que nos liga
com o mundo espiritual,
nos demonstrando que a
vida é uma só, como bem
posicionado pelo apóstolo
Paulo, porém com múltiplas
existências, de modo a nos
permitir compreender que
o nosso viver estagia ora
no plano espiritual, ora no
plano físico, sem perdermos
a própria identidade, num
caminhar redentor, evoluindo
rumo à felicidade.
eram
Elias
Moisés
e
18 19RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
eLucas 9: 28-36
E aconteceu que, quase oito dias depois destas
palavras, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago,
e subiu ao monte a orar.
E, estando ele orando, transfigurou-se a
aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca
e mui resplandecente.
E eis que estavam falando com ele dois homens,
que eram Moisés e Elias,
Os quais apareceram com glória, e falavam
da sua morte, a qual havia de cumprir-se em
Jerusalém.
E Pedro e os que estavam com ele estavam
carregados de sono; e, quando despertaram, viram
a sua glória e aqueles dois homens que estavam
com ele.
E aconteceu que, quando aqueles se apartaram
dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós
estejamos aqui, e façamos três tendas: uma para
ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo
o que dizia.
E, dizendo ele isto, veio
uma nuvem que os cobriu
com a sua sombra; e,
entrando eles na nuvem,
temeram.
E saiu da nuvem uma
voz que dizia: Este é o meu
amado Filho; a ele ouvi.
E, tendo soado aquela voz,
Jesus foi achado só; e eles
calaram-se, e por aqueles
dias não contaram a ninguém
nada do que tinham visto.
.
As preciosas anotações dos evangelistas
sobre o fato da transfiguração e a presença
viva de dois dos maiores destaques da
história da Humanidade, tidos como mortos
há séculos da data da ocorrência, deixam
evidente vários pontos de nossas vidas,
dentre eles: os Espíritos existem; a morte
inexiste; a imortalidade do Espírito é
incontestável; os Espíritos se comunicam.
Essa realidade espiritual e objetiva que
transcende para além do túmulo, é consolo
para os corações sofridos que guardam as
dores decorrentes do falso entendimento
de que com a morte, tudo cessa, e nossas
amores desaparecem no nada.
As esperanças retomam suas forças
naturais, pois o magno testemunho
dado por Jesus sobre a imortalidade e
a comunicabilidade dos Espíritos, nos
permite ter a certeza de que logo mais
nos reencontraremos com todos os nossos
entes queridos, pois eles também vivem
após a inexistente morte, bem como nós
viveremos.
E aqueles sonhos que temos
tido com eles, vivos, podem sim
ser considerados reencontros
de almas, pois é um fato a
continuidade de nossas relações.
Bem como é um fato a presença
dos Espíritos em nossas vidas,
orientando-nos, assistindo-nos,
amparando-nos, socorrendo-nos,
abençoando-nos.
Identificar-se com a nossa
natureza imortal é abertura de
amplo portal para um novo e
verdadeiro entendimento da vida e
da nossa razão de existir; da vida
e nossa relação com o próximo; da
vida e da nossa devida relação com
Deus.
A transfiguração de Jesus e
a presença de Moisés e Elias,
convida-nos a mais profundo e
amadurecido pensar e refletir sobre
os laços que nos unem uns aos
outros na sucessão dos tempos,
bem como o encadeamento dos
fatos e a continuada presença
divina na vida de cada um, e,
no caso, a presença de Deus na
condução da Humanidade, para o
que, em dado momento, esteve
à frente dessa missão, Moisés, e,
logo mais adiante, Elias.
20 21RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
Sim, Elias, que novamente havia
estado nas lidas da condução humana,
como João, o Batista.
Incansável trabalho do Bem e dos
corações que são todo Amor, em prol
da redenção de todos nós, e nossa
religação com Deus, num constante
empenho e esforço em nos levar ao
despertamento da consciência e da
religiosidade em nosso íntimo. Não
apenas a religiosidade decantada em
prosa e verso, mas a religiosidade da
consciência, como luz que acende sem
jamais voltar a se apagar.
A transfiguração é esse hino à
imortalidade.
A transfiguração é testemunho da
comunicabilidade dos “mortos”, que
sempre estiveram vivos, com os “vivos”,
a fim de reviver-nos para a verdadeira e
abundante vida.
A transfiguração é símbolo da ponte
que nos liga com o mundo espiritual,
nos demonstrando que a vida é uma só,
como bem posicionado pelo apóstolo
Paulo, porém com múltiplas existências,
de modo a nos permitir compreender
que o nosso viver estagia ora no plano
espiritual, ora no plano físico, sem
perdermos a própria identidade, num
caminhar redentor, evoluindo rumo à
felicidade.
A transfiguração é Sol nas almas.
O Tabor e a planície
(Primícias do reino. Amélia Rodrigues. Divaldo
Franco)
Com a força da sua realidade
poderia ser considerado um díptico:
as bênçãos de Deus no monte e os
conflitos do homem em toda a pujança
de suas cores na planície.
Desciam Jesus, Pedro, Tiago e
João das culminâncias do Tabor, onde
comungaram com as excelências
de Deus, ao encontro das baixadas
espirituais das criaturas.
Há pouco, resplandecente, o Mestre
estivera envolto por uma esfera de
poderosa luz e dialogara com os
venerandos antepassados do povo:
Moisés e Elias.
As emoções ainda não se
aquietaram na horizontalidade do
habitual, e a curva descendente das
dores tomava forma chocante no terra
a terra das contingências humanas.
No alto, a visão da vida verdadeira;
ao sopé, as angústias junto aos
sofrimentos.
*
- “Espírito mudo e surdo, eu te
ordeno: sai dele e não entre mais
nele” – exortou Jesus com firmeza na
voz, na qual a piedade se misturava à
energia.
Não houve debate. Tudo simples.
A cena breve culminou no declínio
do jovem que ficara prostrado como
morto, banhado por álgido suor,
desfigurado.
O Mestre, comovido, curvou-se,
tocou a fronte do ex-obsidiado e o
levantou com gesto cativante.
Era quase um menino...
Sofria desde a mais tenra
idade sob o jugo violento do
impiedoso algoz desencarnado.
As raízes do ódio nefando se
perdiam nas sombras do passado,
quando foram comensais da mesa
farta da loucura e se enredaram
em odienta cena de sangue...
Agora a lei soberana, que jungia
o criminoso não punido à justiça
desrespeitada, manifestava-se
sobranceira.
O parasito espiritual se
imanara ao sofredor e reproduzia
nele os esgares epilépticos em
que se consumia, vítima de si
mesmo, escravo do ódio. Na
volúpia da vingança, atirava-o
de encontro ao solo, ateava-lhe
fogo às vestes, tentava afoga-lo,
subjugava-o.
As esperanças da família se
apagavam na lâmpada sem lume
das tentativas de cura, impossível
até aquele momento.
Seu pai ouvira falar do Rabi e o
trouxera, na expectativa duvidosa
de ver o filho recuperado, perdido
como se encontrava no caminho
do aniquilamento inexorável.
*
- Transcorreram oito dias após
a “confissão de Pedro”, o Mestre
tomou consigo Pedro, Tiago e
João, e levou-os sozinhos, e à
parte, para um alto monte.
Agosto, em plenitude,
derrama sua taça de luz e calor
sobre a terra. As papoulas e as
margaridas jazem crestadas em
hastes vencidas pela canícula.
O céu muito azul e transparente
concede visão infinita em todas as
direções.
À medida que o Tabor vai sendo
vencido, os painéis se desenrolam:
embaixo os campos de trigo ceifado,
a mancha pardacento-prateada do
Jordão, na configuração de imenso
alaúde entre sebes; para as bandas
do oriente erguem-se altaneiros os
montes Galaad e ao poente cintilam as
águas do Mediterrâneo, como imenso
espelho refletindo através da garganta
natural entre o Monte Carmelo e os
contrafortes altanados do Líbano; ao
norte o Genesaré salpicado de velas
coloridas e orlado por Tiberíades,
Magdala, Cafarnaum, Betsaida,
as cidades tão encantadoramente
derramadas dos pequenos cerros
na direção da praias, vestidas de
palmeiras verdejantes...
Do acúmen a visão não se detém.
De forma arredondada, a plataforma
batida pelos ventos, às vezes coroada
de zimbros, é a culminância dos 562
metros de altitude rochosa, sem
vegetação, com destaque na imensa e
formosa Galileia.
A noite ainda demora algumas horas
para estender o seu manto imenso
sob o céu. Os meses de agosto são de
longos dias. O calor asfixia e requeima
a rala vegetação.
A jornada é longa, na conquista
do monte: mais de quatro horas de
marcha lenta e cansativa, embora a
beleza da paisagem deslumbrante em
derredor.
Atingindo o acume, o Mestre se põe
em oração. Os discípulos, suarentos e
cansados, adormecem à sombra dos
arbustos escassos.
Um grande silêncio envolve tudo e
todos. O mormaço quase asfixia...
A noite vence a natureza e o Mestre
ora.
A madrugada alcança o Rabi em
oração. Os companheiros dormem.
Vozes percutem na monotonia. Os
22 23RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
discípulos despertam, assustados e
são dominados pela visão sublime
da transfiguração do Mestre, com as
vestes incendidas, dialogando com
Moisés e Elias. As palavras vibram no
ar; mas não são palavras como as que
se ouvem comumente...
Logo após, diluída a visão, Simão se
acerca do Rabi e exclama:
- Mestre, bom é que estejamos
aqui, e façamos três cabanas: uma
para ti, outra para Moisés e outra para
Elias.
O Mestre fita-o compadecido.
Uma nuvem surge misteriosa e uma
voz, então, exclama:
- Este é o meu filho amado; a Ele
ouvi!
Os discípulos ainda não refeitos são
tomados de pavor.
A grandiosa revelação fora feita.
Jesus estivera em toda a sua glória
e eles foram testemunhas silenciosas
e emocionadas do acontecimento
incomparável.
Os Céus foram cindidos e os
discípulos tiveram o “conhecimento do
Divino”.
Pedro se reportará mais tarde
a essa metamorfose do Mestre,
testemunho insofismável em que
fundamenta sua fé.
O Rabi, no entanto, exige-lhes
silêncio.
A verdade tem que ser dosada para
o entendimento da argila humana.
Mais tarde João, ao escrever os
“ditos do Senhor”, iniciará a sua
narrativa evocando, certamente, a
cena inesquecível: “Nele estava a vida,
e a vida era luz dos homens; a luz
resplandeceu nas trevas, e as trevas
não a compreenderam”.
*
- Descemos! – alvitra o Mestre.
- Não poderíamos aqui demorar-
nos? – indaga Simão.
- É necessário descer – retruca
Jesus. – Busquemos os que não dispõe
de forças para subir. Os homens
necessitam de nós. A nossa é a glória
deles. Para eles sejam nossas alegrias
e para nós as suas dores. Depois da
comunhão com os Céus, a convivência
entre os que demoram na Terra. O paraíso seria para nós estranho presídio
sem aqueles que, no ergástulo das aflições, anseiam pelo país da liberdade.
Desçamos. Os homens, para quem eu venho, nos esperam.
*
Na descida do monte confabulam:
- Rabi! – indagam como receosos – dizem os escribas que é mister que venha
primeiro Elias...
- Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo quanto quiseram.
Assim farão, também, padecer o Filho do Homem...
Visão desde o
Monte Tabor
24 25RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
“Então entenderam os discípulos
que lhes falara de João Batista.”
A nova revelação de ser Elias,
João Batista renascido, surpreende
os companheiros que começam
a compreender os inescrutáveis
desígnios do Pai.
Os Espíritos estão estuantes de
felicidade. Há festa em seus corações.
*
Jesus e os discípulos continuam
descendo.
O dia esplende. Os acontecimentos
são sóis em suas almas.
A plataforma do Tabor fica para
trás.
A planície imensa se estende
embaixo.
Lá estão as criaturas sofredoras
e ansiosas, os companheiros
aguardando.
Amedrontados, os discípulos se
revezam.
- Afasta-te, Satanás! – exclama
Judas, irado, enquanto o obsesso
ulula.
- Filho da trevas, semente de
Belzebu – brada Tadeu, com a voz
rouca e os olhos injetados – por quem
és, abandona tua vítima!
- Decaído, imundo – vocifera, pálido
e suarento, Natanael – eu te exorto a
que retornes às geenas!...
Curiosos se acercam dos gritadores,
enquanto o endemoninhado, como
se multiplicasse as forças que o
vampirismo espiritual consome,
mais se debate no solo e corcoveia,
exasperado, a ameaçar o débil corpo
em convulsão, semivencido.
É o próprio Dibbuk – soluça,
desanimado, Felipe.
convosco?
A indagação fica no ar, sem
resposta.
A arrogância da fraqueza é mais
petulante do que a vaidade da força.
O sinal do fracasso no orgulho é
como chaga de fogo a requeimar.
- Espírito mudo e surdo...
Pálido e fraco, o moço sorriu. Avia
gratidão sem palavras. Osculou a
mão do Rabi e, conduzido pelo pai em
êxtase de alegria, seguiram ambos no
rumo do lar.
*
À noite, quando o zimbório se
vestia de estrelas brilhantes, ainda
sob o impacto das manifestações
do Mestre, no Tabor e na planície,
Simão, traduzindo possivelmente a
visível inquietação dos companheiros,
aproximou-se d’Ele, que meditava, e
indagou, visivelmente emocionado:
- Por que não puderam eles
expulsar o espírito imundo?
- Esta casta não pode sair com coisa
alguma, a não ser com oração e jejum
– elucido o Amigo.
Desejando, no entanto, utilizar
o momento para melhor instruir
os companheiros desatentos e
pretensiosos, o Senhor esclareceu:
- Antes de tudo é necessário
compreendamos que os espíritos
imundos viveram antes, homens
que foram, homens que continuam
sendo. Enganados, como se deixaram
conduzir no corpo, prosseguem
enlouquecidos, fora dele. A morte
não os transformou. Viajores do
tempo, são o que fizeram. Ligados
mentalmente às reminiscências das
ações, demoram-se, sofrendo-as,
imanados aos que amaram, vinculados
àqueles que os fizeram sofrer...
Fez uma pausa, espontânea. E
prosseguiu:
- Por essa razão a Boa-nova é um
hino de amor e perdão. Amor indistinto
e perdão indiscriminado.
Diante deles, nossos irmãos na
sombra da ignorância, nenhuma
força possui força senão a força
do amor. Não apenas expulsá-los
daquele convívio a que se agregam
parasitariamente, mas também
socorrê-los, enlaçando-os com amor...
Novamente silenciou, e envolveu os
amigos num olhar de bondade, para
logo continuar:
- São nossos irmãos da retaguarda,
perdidos na ilusão das carnes a que
teimosamente pretendem continuar
ligados. Não se prepararam para a
verdade. É em razão disso que a
Mensagem de Vida não se reveste
das indumentárias fantasiosas tão do
agrado geral. É semente de luz para
fecundação no solo do espírito.
Diante, pois, deles – possessos e
possessores – só a oração do amor
infatigável e o jejum das paixões
conseguem mitigar a sede em que
se entredevoram, entregando-os aos
trabalhadores da Obra de Nosso Pai,
que, em toda parte, estão cooperando
com o Amor, incessantemente.
Se amardes ao invés de
detestardes, se desejares socorrer
e não apenas os expulsardes, tudo
fareis, pois que tudo quanto eu faço
podeis fazê-lo, e muito mais, se o
quiserdes...
No leve ar da noite bailavam suaves
brisas espraiando para o futuro a
palavra do Rabi, como antevisão
gloriosa para os dias porvindouros da
Humanidade.
- Nada conseguiremos! – arremata
o filho de Cléofas.
- Onde andará o Mestre – indaga
perturbado, Simão, o zelote – que não
vem socorrer-nos? Não saberá Ele de
nossa aflição?...
Entreolham-se, estremecem,
enquanto o obsidiado espumeja e se
debate.
Falam todos de uma vez. Gritam
inutilmente.
Vendo o Mestre e os companheiros,
que chegam à charneca das misérias
humanas, correm, aflitos e O saúdam.
- Que é que discutis com eles? –
interroga, sereno, o Senhor.
- Mestre, trouxe-te o meu filho, que
tem um Espírito mudo. E este, onde
quer que o apanhe, despedaça-o, e ele
espuma, e range os dentes, e vai-se
secando; eu disse aos teus discípulos
que expulsassem, e não puderam!
- Se podes – apela o pai – salva o
meu filho.
- Se tu podes crer, tudo é possível
ao que crê.
- Eu creio, Senhor! Ajuda a minha
incredulidade.
O Rabi se comove. O semblante
sereno expressa toda a angústia do
seu Espírito.
Sem qualquer mágoa, fita
os companheiros medrosos e
os admoesta com veemência e
compaixão. Compreende as fraquezas
dos convidados a esparzir a semente
da boa-nova.
Como a justificar-se a si mesmo e
aos outros, Judas tenta esclarecer:
- Fizemos tudo quanto nos
ensinaste e nada conseguimos...
- Até quando vos sofrerei e estarei
26 27RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
O Tabor e a imortalidade
(O trigo de Deus. Amélia Rodrigues, cap. 23.
Divaldo Franco)
Deslumbrados, ainda, após a
transfiguração do Mestre, no ímpar
diálogo com Moisés e Elias, em
recolhimento todos desceram o Tabor.
Lá, em cima, ficaram as esplêndidas
paisagens espirituais, a comunhão
plenificadora com Deus, o ‘silêncio e o
êxtase.
Era necessário, porém, por enquanto,
retornarem ao torvelinho, ao cotidiano,
às mesquinharias do imediatismo, às
criaturas humanas apaixonadas, sem
rumo...
O planalto, onde haviam comungado
com o Pensamento Divino, cedia lugar à
planície das lutas e disputas pessoais.
Eles, os discípulos, eram criaturas
frágeis, que se iam fortalecendo nos
sucessivos embates com os olhos postos
no futuro.
Criam no Mestre e temiam, não
sabiam o quê.
Amavam-nO, e cada vez mais O
conheciam, identificando-0 como o
Enviado.
Na descida, rompendo o silêncio
majestoso, disse-lhes Jesus:
— A ninguém conteis esta visão, até
que o Filho do Homem ressuscite dentre
os mortos. (Mateus 17: 9)
0 exuberante fenômeno mediúnico,
que trouxera de além da morte os
ilustres líderes da raça, Moisés e Elias,
deveria ficar ignorado pelas massas, que
não o podiam compreender. Somente
as pessoas preparadas emocional e
psiquicamente dispunham da percepção
necessária para entender que, ali,
Moisés revogava a proibição de se falar
com os mortos, vindo, ele próprio,
demonstrar a possibilidade, ora tornada
real. A sua proibição, quanto à evocação
dos mortos, justificava-se, para evitar
o abuso em voga; porque nem todos
os mortos podem retornar, atendendo
aos reclamos dos vivos, e sendo, não
raro, substituídos pelos frívolos e
mentirosos, que lhes usam os nomes;
para impor ao homem a liberdade de
ação com responsabilidade e o uso
do livre-arbítrio; pelo respeito que
devem merecer aqueles que aos outros
precedem na viagem de volta...
Agora estava derrogada a interdição;
porém, o povo não deveria sabê-lo,
senão, quando Ele próprio, ressurrecto
e vivo, retornasse após a tragédia que
todos conheceriam.
Aqueles eram momentos de
extraordinárias revelações.
As mentes se dilatariam ao infinito,
a fim de absorverem os conteúdos
imortalistas ali testemunhados.
A morte sempre se apresentou como
a grande destruidora da vida, a amarga
separadora daqueles que se amam, a
indesejada...
Para fugir-lhe à sanha, adornaram
o culto à memória dos mortos com
exéquias e homenagens, flores e
incensos, leituras e lágrimas, de alguma
forma tentando dissimular-lhe a face
trágica. Apesar disso, ela permanecia
enigmática.
No passado, essas exéquias e o culto
aos mortos revestiam-se de processos
ritualísticos e complexos cerimoniais, em
prova de amor para com alguns, assim
como para aplacarem os gênios maus,
que velavam junto ao cadáver.
Entre os gregos era hábito colocar-se
uma moeda entre os dentes do defunto,
que variava de valor conforme as posses
do extinto, a fim de pagar Caronte,
o barqueiro que o fazia atravessar as
águas do Estige, conduzindo-o à outra
margem.
Jesus veio demonstrar que a
consciência é a portadora do tesouro dos
atos de cada um, e que dela ninguém se
exime, a partir do momento do grande
transe.
Jamais fez apologia da morte, em
razão de ela não existir conforme era
descrita.
Toda a Sua mensagem é de ação
e, por isso mesmo, Ele declarou ser a
ressurreição e a vida, em incessante
convite ao crescimento espiritual.
A partir daquele momento, no
monte Tabor, fora inaugurado,
conscientemente, por Jesus, o
intercâmbio entre os homens e os
Espíritos, demonstrando a sobrevivência
da vida à morte. ‘
O reino dos Céus, que está no
íntimo de cada criatura, ali esplendeu,
grandioso, e Jesus, superando os
visitantes do Além, em beleza, poder
e glória, transfigurou-se diante dos
amigos deslumbrados.
Nunca mais as criaturas perderiam
o contato com o mundo transcendente
onde se originam a vida, os seres, a
realidade, e se reencontram os que
mergulham na carne, para o processo
de evolução, quando cessa o fenômeno
biológico.
O Tabor e a imortalidade
permaneceram como símbolos da Nova
Era.
29
Jesus ia por toda a Galileia,
ensinando nas sinagogas,
pregando o Evangelho
do reino e curando todos
os langores e todas as
enfermidades no meio do
povo.
a
curaepilépticodo
30 31RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
eLucas 9: 37-43
E aconteceu, no dia seguinte, que, descendo
eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande
multidão;
E eis que um homem da multidão clamou,
dizendo: Mestre, peço-te que olhes para meu filho,
porque é o único que eu tenho.
Eis que um espírito o toma e de repente clama,
e o despedaça até espumar; e só o larga depois de
o ter quebrantado.
E roguei aos teus discípulos que o expulsassem,
e não puderam.
E Jesus, respondendo, disse: Ó geração
incrédula e perversa! até quando estarei ainda
convosco e vos sofrerei? Traze-me aqui o teu filho.
E, quando vinha chegando, o demônio o
derrubou e convulsionou; porém, Jesus repreendeu
o espírito imundo, e curou o menino, e o entregou
a seu pai.
E todos pasmavam da
majestade de Deus. E,
maravilhando-se todos de
todas as coisas que Jesus
fazia...
No capítulo: Os milagres do evangelho, em A Gênese, de Allan Kardec, lemos:
(item 26) Jesus ia por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o
Evangelho do reino e curando todos os langores e todas as enfermidades no meio
do povo. — Tendo-se a sua reputação espalhado por toda a Síria; traziam-lhe os
que estavam doentes e afligidos por dores e males diversos, os possessos, os
lunáticos, os paralíticos e ele a todos curava. — Acompanhava-o grande multidão
de povo da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e de além Jordão. (S.
Mateus, 4:23 a 25.)
Parece que, ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os
obsidiados e os possessos, donde a oportunidade que ele teve de curar a muitos.
(item 35.)
(item 33) Com as curas, as libertações de possessos figuram entre os mais
numerosos atos de Jesus. Alguns há, entre os fatos dessa natureza, como os acima
narrados, no nº 30, em que a possessão não é evidente. Provavelmente, naquela
época, como ainda hoje acontece, atribuía-se à influência dos demônios todas
32 33RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
as enfermidades cuja causa se não
conhecia, principalmente a mudez, a
epilepsia e a catalepsia.
Outros há, todavia, em que nada tem
de duvidosa a ação dos maus Espíritos,
casos esses que guardam com os de
que somos testemunhas tão frisante
analogia, que neles se reconhecem
todos os sintomas de tal gênero de
afecção.
Ele cura os males físicos, mas cura,
sobretudo, as doenças morais e são
esses os maiores prodígios que lhe
atestam a procedência. Seus mais
sinceros adeptos não são os que se
sentem tocados pela observação de
fenômenos extraordinários, mas os que
dele recebem a consolação para suas
almas; os a quem liberta das torturas
da dúvida; aqueles a quem levantou o
ânimo na aflição, que hauriram forças
na certeza, que lhes trouxe, acerca do
futuro, no conhecimento do seu ser
espiritual e de seus destinos. Esses
os de fé inabalável, porque sentem e
compreendem.
(item 27) De todos os fatos que dão
testemunho do poder de Jesus, os mais
numerosos são, não há contestar, as
curas. Queria ele provar dessa forma
que o verdadeiro poder é o daquele
que faz o bem; que o seu objetivo era
ser útil e não satisfazer à curiosidade
dos indiferentes, por meio de coisas
extraordinárias.
Aliviando os sofrimentos, prendia
a si as criaturas pelo coração e fazia
prosélitos mais numerosos e sinceros,
do que se apenas os maravilhasse com
espetáculos para os olhos. Daquele
modo, fazia-se amado, ao passo que se
se limitasse a produzir surpreendentes
fatos materiais, conforme os fariseus
reclamavam, a maioria das pessoas não
teria visto nele senão um feiticeiro, ou
um mágico hábil, que os desocupados
iriam apreciar para se distraírem.
Doente da alma
(A mensagem do amor imortal. Amélia
Rodrigues, cap. 3. Divaldo Franco)
Depois que Ele entrou no barco os
ventos acalmaram...
A tormenta não fora total,
mesmo assim as águas do mar
ficaram agitadas e aqueles que se
encontravam navegando foram
tomados de justo receio.
O mar, em verdade, é um grande
lago que não pode ser considerado
com um dos maiores. O seu volume
de águas é menor do que o da baía
da Guanabara, no entanto, em face
da ausência de água na região, era
altamente considerado naqueles
tempos, e ainda hoje...
Aqueles eram dias de grande
efusão de júbilos, de exaltação e de
encantamento. Por onde Ele passava,
as multidões afluíam refertas de
mutilados do corpo e da alma, que
recebiam o Seu concurso estelar,
recuperando-se e glorificando-O.
Os episódios, que se sucediam,
eram ricos de misericórdia e de amor,
saturando as vidas com as bênçãos da
esperança, do reconforto e da paz.
Há pouco, Ele houvera liberado o
endemoninhado gadareno da força
ultriz que o afligia. Deixou-lhe a paz
ao lado da certeza de que também era
filho de Deus, pois que se beneficiara,
recuperando a saúde mental, quando
tudo se lhe afigurava tragédia e
infelicidade.
Logo depois, os companheiros
viram-nO andando serenamente sobre
as ondas eriçadas do mar, naquela
noite de leve tormenta. A princípio
supuseram que se tratava de um
fantasma e apavoraram-se até o
instante em que Ele os tranquilizou...
Também haviam observado a falência
da fé de Simão, o amigo que desejara
abraçá-lO sobre as águas encrespadas,
e depois de dar os primeiros passos
ante o vento que açoitava, acovardou-
se e temeu, quase afundando,
ficando todos comovidos com a Sua
magnitude, amparando o discípulo
temeroso...
Agora, depois que Ele entrou
no barco e os ventos acalmaram,
restituindo a serenidade ao mar,
rumaram no sentido oposto ao lugar
de onde vinham, seguindo em direção
da pequena Genesaré, que parecia
uma imensa pérola engastada nas
areias claras da enseada do generoso
mar...
Ao chegar, reconhecido por
alguns que ali residiam, log a notícia
se propagou com a velocidade
do relâmpago e os necessitados
acorreram de todo lado. Eram
estropiados, cegos, surdos, mudos,
leprosos, paralíticos, endemoninhados,
todos quantos são considerados como
a borra social, naturalmente excluídos
dos círculos privilegiados, que exibiam
as suas torpezas na expectativa de
receberem qualquer benefício.
Sem alarde ou exclusão, Ele os
recebia com infinita misericórdia,
minorando as suas aflições, curando as
suas enfermidades desagregadoras.
Após o atendimento, todos O
louvavam, sorridentes e emocionados.
Apesar do socorro em quantidade,
muitos outros que chegavam, ainda
suplicavam-Lhe:
- Deixa-nos tocar, ao menos, a
fímbria dos Teus vestidos, e temos a
certeza de que nos recuperaremos.
O poder da fé ao lado da disposição
feliz de alcançar a renovação, ajudava-
os na reconquista da saúde.
O magnetismo que dEle se
exteriorizava reconstruía os tecidos
apodrecidos e produzia alteração nos
processos de recuperação moral.
As doenças procedem do Espírito
endividado, vilmente comprometido
com a sua retaguarda em razão
dos atos ignóbeis e das torpezas
praticadas.
Jamais Ele deixou de amparar
aqueles que O buscavam, porque para
o mister de amor viera. Tornava-se
necessário enunciar-lhes a palavra
não verbal, que se traduz como ato de
compaixão e socorro imediato.
Nada obstante, os enfermos da
alma, logo recuperados dos desgastes
físicos, retornavam aos conflitos
e comportamentos infelizes, sem
aproveitarem a oportunidade de
reconstruir a vida ditosa.
Imantados à matéria, os indivíduos
de então como os de hoje, apenas
34 35RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
pensam nos resultados concretos,
evitando assumir o compromisso
de realizarem uma radical mudança
de conduta mental e moral,
estabelecendo novos parâmetros para
a autorrealização, aquele que conduz à
paz.
Aqueles eram, pois, dias muito
difíceis. A mensagem chegara para
libertar as criaturas do servilismo às
paixões degradantes, do jugo escuso
da sordidez...
Jesus, porém, reconhecia que
aquele era um estado de infância
psicológica em que os homens e
mulheres se encontravam, e, por isso,
na Sua condição de Educador por
excelência, oferecia-lhes conforme o
desejavam, porém, assinalava quanto
à necessidade de seguirem além na
busca do essencial, daqueles valores
que não se perdem e têm sabor de
imortalidade.
Mesmo hoje, no atual estágio da
cultura e da civilização, pululam as
multidões que desejam milagres,
que anelam por ter resolvidos os
seus problemas, e não procuram
compreender a necessidade de
insculpirem nos refolhos do ser os
propósitos de espiritualização e de
sublimidade interior.
Considerando o mar humano
tumultuado pelas aflições superlativas,
torna-se indispensável que a criatura
reflexione e permita que Jesus se
lhe adentre na alma, para os ventos
agitados das paixões dissolventes se
acalmem.
Somente, então, haverá paz e
libertação das doenças da alma,
encontrando-se, por fim, a saúde
integral.
37
Sim, a vida mental
responde pelas atitudes
comportamentais,
expressando-se em formas
de saúde ou doença conforme
o teor vibratório de que se
revista.
o
lótusque há em você
38 39RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
E um homem disse: - Fala-nos do
conhecimento de si próprio.
E ele respondeu dizendo:
-Vosso coração conhece em silêncio
os segredos dos dias e das noites.
Mas vossos ouvidos anseiam por
ouvir o que vosso coração sabe.
Desejais conhecer em palavras
aquilo que sempre conheceste em
pensamento. Quereis tocar com os
dedos o corpo nu de vossos sonhos.
E é bom que o desejeis.
A fonte secreta de vossa alma precisa
brotar e correr, murmurando, para o
mar. E o tesouro de vossas profundezas
ilimitadas, precisa revelar-se a vossos
olhos.
Mas não useis para pesar vossos
tesouros desconhecidos e não procureis
explorar as profundidades de vosso
conhecimento com uma vara ou uma
sonda.
Porque o Eu é um mar sem limites e
sem medidas.
Não digais: - Encontrei A verdade.
Dizei de preferência: - Encontrei uma
verdade.
Não digais: - Encontrei o caminho da
alma. Dizei de preferência: – Encontrei a
alma andando em meu caminho.
Porque a alma anda em todos os
caminhos.
A alma não marcha numa linha reta
nem cresce como um caniço.
A alma desabrocha, qual um lótus de
inúmeras pétalas.
(Gibran Kalil Gibran. Livro: O profeta)
*
O objetivo essencial da vida humana
é facultar ao ser o desenvolvimento
de todas as suas potencialidades
adormecidas - o deus interno —
tornando-o pessoa, uma individualidade
que pensa, um ser em harmonia entre
o pensar e o sentir. Esse processo não
é automático como ocorre com os seres
vegetal e animal, mas dependente das
escolhas, da lucidez, das aspirações
e dos esforços empreendidos, que
são resultados das conquistas já
conseguidas na sucessão dos dias bem
aproveitados.
Entretanto, em face da rapidez
dos momentos modernos, não se
apresentam oportunidades para
amadurecimento das emoções, para
escolhas corretas, para meditação e para
reflexões e ponderações significativas.
Os indivíduos são devorados pela
volúpia do muito agarrar e do pouco
reter. Há uma sofreguidão para aparecer
(e aparentar mais que os outros), uma
necessidade desesperadora para estar
em todos lugares ao mesmo tempo,
tombando na exaustão e levantando-
se sob estímulos químicos ainda mais
frustrantes.
Vitimado, em si mesmo, o indivíduo,
que perdeu o contato consigo mesmo,
exaure-se com sua personalidade
insatisfeita, exigente e pouco
gratificante, preocupando-se em ser
espelho que reflete outras pessoas,
suas opiniões, seus aplausos, suas
desmedidas ambições. É imagem que
externa quem não é.
Aumenta-lhe a necessidade
psicológica de esconder o sentimento
e exibir a aparência, sobrecarregando
as emoções com desaires e amarguras
que procura dissimular no convívio com
os demais até quando já não mais o
consegue.
São dias de utopia, nos quais se vale
pelo que se apresenta e não pelo que se
é. Pelo que se tem – ou se aparenta ter
– e não pelo que se deseja ser.
Os ideais que dignificam e trabalham
as forças normais cedem lugar aos
(Texto reproduzido com a devida
autorização: http://projeto-inove.com.br/
inove/2017/05/14/o-lotus-que-ha-em-voce//
e
40 41RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
prazeres ligeiros e frustrantes que
logo abrem espaço à novas mentirosas
necessidades.
Compreende-se a necessidade das
conquistas externas, que se torna uma
forma de autorrealização, e afadiga-se
a criatura por consegui-las, para logo
constatar a sua quase inutilidade, por
não preencher os espaços tomados pela
angústia e pelas incertezas. Transforma
seus dias e seu tempo mental numa
correria atrás do que não tem, sem
valorizar o de que já disponha.
Como se apoia nos outros, sua falta
de metas, de objetivos, que assalta
a consciência, dá lugar a indivíduos
psicologicamente vazios.
Esse vazio existencial, de certo
modo, também se deriva do tédio, da
repetição de experiências que não se
renovam, da quase indiferença pelas
demais criaturas, sugerindo a inutilidade
pessoal.
Desse modo, avança-se para
um sentimento perturbador que se
apresenta como um vazio coletivo que
se estabelece na sociedade.
Em tentativas inúteis de o preencher,
realizam-se as festas alucinantes,
volumosas, arrastando as multidões
tresloucadas e ansiosas, que se esgotam
no prazer anestesiante, para depois
despertar no mesmo estado de vácuo
interno, agora com os conflitos e culpas
das loucuras perpetradas, algumas de
difícil reparação.
Exige-se que todos se encontrem em
intérmino banquete de alegrias, fingindo
conforto e bem-estar nas coisas e
situações a que se entregam, distantes
embora da realidade e dos verdadeiros
significados existenciais.
Negando-se as qualidades do bem e
da paz, no intuito exclusivo do desfrutar,
do tirar proveito de tudo, seres de todas
as idades entregam-se à drogadição,
em busca do êxtase que logo passa
trazendo-os à realidade decepcionante
e enfermiça. O desencanto, que se lhes
instala, de imediato deve ser diminuído
no tempo e no espaço, facultando-
lhes buscar novos estimulantes ou
entorpecentes para esquecer ou para
gozar.
Esse vazio, portanto, não significa
ausência de significados internos, de
valores adormecidos ou ignorados, mas,
sim, a incapacidade que toma conta do
indivíduo, sugerindo-lhe impossibilidade
ou inutilidade de lutar contra a maré
das dificuldades, permitindo-se uma
resignação indiferente, um alheamento,
como mecanismo de autodefesa, que se
transforma num grande vácuo interno.
A pouco e pouco, porque se adapta à
nova conjuntura, perde o interesse pelo
desejar e pelo realizar, ficando amorfo,
sem tempero, embora com aparência
que corresponde aos padrões sociais,
por mínima exigência do ego soberbo e
rebelde.
Perdido o respeito pelo grupo social
e suas instituições, logo depois perde-o
por si mesmo, deixando-se arrastar para
profundos conflitos de inutilidade e de
depressão.
O vazio existencial consome o ser
e atira-o na depressão, empurrando-o
para o suicídio.
“Melhor morrer de vodca do que de
tédio”, palavras encontradas no perfil do
estudante da Unesp, morto por ingerir
uma quantidade absurda de vodca na
festa da faculdade, como largamente
noticiado pelos meios de comunicação,
soam como um grito de alerta e de
pedido de socorro.
Enquanto não se preencher o vazio
interior permanecerá o indivíduo
insatisfeito, deprimido ou agressivo.
A falta de objetivo real e nobre para
a existência física deixa um profundo
sentimento de frustração, responsável
por vários fenômenos perturbadores.
É necessária uma madura e profunda
reflexão sobre a vida, o viver e seus
objetivos superiores, com decisão
corajosa a respeito de nós mesmos,
identificando as razões das nossas
buscas, perdas e inquietações.
Façamos uma parada nessa correria
desenfreada para lugar nenhum, e
consideremos a vida uma oportunidade
de sorrir e produzir, descobrindo-nos útil
a nós mesmos e à comunidade.
A proposta não é um rompimento
pura e simplesmente com tudo e
com todos que até então povoaram a
cidade de nossas ilusões perdidas. Isso
redundaria em solidão, outra estrada
perigosa. Transformar não é destruir, é
modificar.
O mar pergunta ao rio: porque nunca
andas em uma linha reta?
O rio calmamente responde: aprendi
a superar os obstáculos para atingir meu
fim - chegar ao teu encontro.
A principal medida é buscar novos e
reais valores existenciais, que venham
a nortear nossa nova maneira de ser.
Busquemos novos rumos.
O alpinista, após escalar uma grande
montanha, foi indagado:
- Como conseguiu tal façanha?
- De fato, para escalar essa
montanha precisei além de muito
preparo físico, muita perseverança
e muita sabedoria para saber os
momentos em que eu deveria parar
ou prosseguir, fazendo, assim, boas
escolhas.
- Mas o que foi mais decisivo?
- Não perder de vista o topo da
montanha...
A pessoa humana está inserida em
uma constante tensão existencial,
aquela que representa por um lado o
“ser” e, por outro, o seu “dever ser”.
Quando se perde essa tensão, o ser
humano é acometido por uma sensação
de tédio e de vazio existencial, como
vimos nos parágrafos anteriores. Assim,
as reflexões apontam para a importância
em se ter uma direção na vida, uma
meta que possa ser digna de ser
atingida e que se constitua como um fim
em si mesmo. Que alimente e preencha
nosso ser, o que realmente somos e
nos dê forças para virmos a ser o que
queremos.
Enfim, olhar e viver a vida sob um
novo prisma.
O trabalho afasta de nós três grandes
males: o tédio, o vício e a pobreza,
conforme Voltaire.
Entendendo-se trabalho como toda
atividade útil, transcende seu significado
para além de busca somente pela
contrapartida financeira.
O trabalho é lei natural da vida. O
trabalho profissional faz parte dessa
equação, mas não é tudo.
Precisamos de algo além da ocupação
mental focada somente no dinheiro,
cuja postura, se fixada na estreiteza
dessa prática somente, nos levará para
outros lados também atormentadores e
igualmente vazios de satisfação plena.
O consumismo, ao invés de satisfazer,
alimenta a angústia para se ter mais e
outras coisas.
O iniciado pergunta ao seu Mestre:
Qual a mais bela paisagem do mundo?
O Mestre pede que o iniciado o leve
à aldeia mais pobre da redondeza e diz:
Eis aqui o lugar mais belo do mundo.
42 43RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
O discípulo logo indaga: Mas como pode, Mestre, aqui não há esgoto, nem água corrente e as pessoas estão
doentes.
Ao que Ele responde: A paisagem mais bela é aquela na qual um ser humano se solidariza com o seu
próximo.
E outra ilustração:
Mas como saberei se estou pautando a minha existência de uma forma adequada? O monge pergunta ao seu
Mestre.
- Saberás quando o amor for o princípio, o meio e o fim de tuas ações no mundo, respondeu ele
Caro leitor, estimada leitora.
Você é viajor das estrelas, mas é você mesmo quem se deve
amar, igualmente ao próximo amando, e ser amado como é e
não conforme os outros gostariam que você fosse.
Alegre-se como é, lutando para ser melhor, confiando que
pode conquistar mais beleza interior, e avanço sem receio pela
estrada da solidariedade.
Compartilhe com a vida e com seu próximo, exatamente
como você é.
Seja você mesmo, sem medos, sem angústias, sem
presunção, nem soberba.
Assuma sua identidade, realizando-se, emocional e
espiritualmente.
Enquanto você se ignora, gera conflitos contínuos, caminha
por caminhos incertos sem saber onde quer chegar, perdendo
excelentes oportunidades de transformar-se para melhor.
As pessoas que refletem outras pessoas, sem identificação,
perdem-se a si mesmas, preocupadas em parecer, jamais
conseguindo ser verdadeiras.
Disse o poeta: A alma desabrocha, qual um lótus de inúmeras
pétalas.
Figuradamente, cada pétala dessa flor, representa nossos
diversos compromissos e interesses perante a vida, que é
uma injunção entre nós, o próximo e Deus. Bem observado,
todas as pétalas continuam unidas, formando um todo, sendo
alimentadas em sua beleza e fragrância, pela absorção da seiva
que lhes dá sustentação e vitalidade, para seu todo – a flor -
prosseguir formosa diante da formosura da vida.
A seiva da vida é o amor, em todas suas múltiplas
expressões.
A flor de lótus simboliza o nascimento divino, o crescimento
espiritual e a pureza do coração e da mente.
O significado da flor de lótus começa em suas raízes –
literalmente.
A flor de lótus é um tipo de lírio d’água, cujas raízes estão
fundamentadas em meio à lama e ao lodo de lagoas e lagos. O
lótus vai subindo à superfície para florescer com notável beleza.
O simbolismo está especialmente nesta capacidade de enfrentar
a escuridão e florescer tão limpa, tão bonita e tão especial para
tantas pessoas.
À noite as pétalas da flor se fecham e a flor mergulha debaixo
d’água. Antes de amanhecer, ela levanta-se das profundezas
44 45RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ
de
Luzum olhar na história
rastros
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Revista eletrônica de circulação dirigida e gratuíta
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Livros: A Bíblia de Jerusalém, além dos
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obra estão reservados, única e exclusivamente, para Maurício Silva. Proibida a sua reprodução parcial ou total,
por qualquer meio, sem expressa autorização, nos termos da Lei 9.610/98.
novamente, até ressurgir na superfície,
onde abre suas pétalas novamente e
enfeita a vida, dando sua contribuição
e perfume, sem nada exigir, sem nada
esperar como retribuição. Sua existência
fala por si mesma.
Na Índia, uma pequena lenda conta a
estória de sua criação:
Um dia, reuniram-se para uma
conversa, à beira de um lago tranquilo
cercado por belas árvores e coloridas
flores, quatro lendários irmãos. Eram
eles o Fogo, a Terra, a Água e o Ar.
Como eram raras as oportunidades
de estarem todos juntos, comentavam
como haviam se tornado presos a
seus ofícios, com pouco tempo livre
para encontros familiares. Mas a Água
lembrou aos irmãos que estavam
cumprindo a lei divina, e este era um
trabalho que deveria lhes trazer o maior
dos prazeres.
Assim, aproveitaram o momento para
confraternizar e contar, uns aos outros,
o que haviam construído – e destruído
– durante o tempo em que não se viam.
Estavam todos muito contentes por
servirem à criação e poderem dar sua
contribuição à vida, trabalhando em
belas e úteis formas.
Então se lembraram de como
o homem estava sendo ingrato.
Construído ele próprio pelo esforço
destes irmãos, não dava o devido valor
à vida. Os irmãos chegaram a pensar
em castigar o homem severamente,
deixando de ajudá-lo. Mas, por fim,
preferiram pensar em coisas boas e
alegres.
Antes de se despedir, decidiram
deixar uma recordação ao planeta
deste encontro. Queriam criar algo
que trouxesse em sua essência a
contribuição de cada um dos elementos,
combinados com harmonia e beleza.
Sentados à beira do lago, vendo suas
próprias imagens refletidas, cada um
deu sua sugestão e muitas ideias foram
trocadas. Até que um deles sugeriu que
usassem o próprio lago como origem.
Que tal um ser vivo que surgisse
da água e se crescesse em direção ao
céu? Um vegetal, talvez? Decidiram-
se, então, por uma planta que tivesse
suas raízes rente à terra, crescesse
pela água e chegasse à plenitude do
ar. Ofereceram, cada um, o seu próprio
dom.
A Terra disse: “darei o melhor de mim
para alimentar suas raízes”.
A Água foi a próxima: “Fornecerei
a linfa que corre em meus seios, para
trazer-lhe força para o crescimento de
sua haste”.
“E eu lhe cercarei com minhas
melhores brisas, dando-lhe minha
energia e atraindo sua flor”, disse o Ar.
Então o Fogo, para finalizar o projeto,
escolheu o que de melhor tinha a
oferecer: “ofereço o meu calor, através
do sol, trazendo-lhe a beleza das cores e
o impulso do desabrochar”.
Juntos, puseram-se a trabalhar,
detalhe a detalhe, na sua criação
conjunta. Quando finalizaram sua
obra, puderam se despedir em alegria,
deixando sobre o lago a beleza da
flor que se abria para o sol nascente.
Assim, em vez de punir o ser humano,
os quatro irmãos deixaram-lhe uma
lembrança da pureza da criação e da
perfeição que o homem pode um dia
alcançar.
Deixe desabrochar o lótus que há em
você!
Que sua vida fale por você.
Você nasceu para ser feliz.
Seja luz no mundo.

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  • 1. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida de Luzum olhar na história rastros 2018 nº 11 fevereiro Despretensioso convite para o retorno às coisas simples, belas e profundas do Evangelho. a cruz lei da
  • 2. 3 a lei Quando procurado pelos padecentes, Jesus os questionava se realmente desejavam a saúde, e se criam que Ele os poderia curar. da cruz
  • 3. 4 5RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ eLucas 9: 23-27 E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará. Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo? Porque, qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos. E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o reino de Deus. Se alguém quer vir após mim... Com o anúncio de Jesus em ser Ele o Caminho, a Verdade e a Vida, ou, segundo outra tradução, ser o Caminho da Verdadeira Vida, não ficou condicionada obrigatoriedade em segui-Lo. Ele pronunciou o consolador convite: Venham a mim todos os que se encontram cansados e aflitos e Eu os aliviarei... Do mesmo modo, convida-nos: Se alguém quer vir após mim... Um convite, respeitando o livre-arbítrio próprio dos seres humanos. Deixando-nos a faculdade de escolha entre aceitar ou não aceitar. No entanto, aclarou-nos o entendimento do celeste roteiro: Eu Sou o Caminho..., e ninguém vem ao Pai, senão por mim, conforme se lê em João, 14:6. Ou seja, quem não queira aceitar o convite agora, mais dia, menos dia, terá que se por em caminhada, pois Jesus é o Caminho que leva à Deus. ... Negue-se a si mesmo... Renúncia. Notadamente de tudo aquilo que nos retém os passos na conquista do entendimento da imortalidade do ser, da nossa preexistência ao berço e sobrevivência a túmulo, de Deus, e do amor por Ele acima de todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos. Renunciar aos desvalores da vida, que adotamos decorrente de nossas falsas crenças. Renunciar, como desidentificação, com tudo aquilo que nos trouxe, como resultado, dores, sofrimentos, conflitos, desesperança,
  • 4. 6 7RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ enfermidades do corpo e da alma, descrença também em nós próprios. Nesse sentido continua a citação evangélica aclarando que quem quiser salvar a sua vida, o seu modo de viver atual, manter suas ilusões, sua vida voltada às aparências e às coisas, onde se entrega pela posse de tudo o que é perecível e passageiro, deixando de lado tudo o que é essencial para o Espírito, perdê-la-á. Pois, com a morte, tudo o que pertence à Terra, aqui ficará, e, tão-logo recobrada a consciência no mundo espiritual, quem viveu somente para ter e nada fez para ser, se dará conta de que toda uma existência foi desperdiçada, perdida. Porém, quem por amor de mim, perder sua vida, a salvará. Quem renunciar aos seus nonadas, às suas ilusões, ao seu viver atual dedicado ao orgulho, à vaidade desmedida, ao egoísmo, estará ganhando pela utilidade que dará ao tempo, pela oportunidade que dará ao amor em sua vida, pela glória do bem. A nossa existência terá sido proveitosa para nós e para os demais. De que adianta conquistar o mundo, lançando mão de meios que não justificam os fins nobres, e nada fazer por nós mesmos, por tudo aquilo que o ladrão não rouba e a ferrugem não corrói, valores e virtudes que não ficarão retidos na aduana do túmulo? ... Tome cada dia a sua cruz... Tomar a cruz do compromisso assumido perante a própria consciência, ao preço do sacrifício que se faz devido, a fim de se prosseguir na jornada segundo uma vida cristã, devotada ao bem e ao bom, num constante melhorar. Paulo, o Apóstolo, ensinando a necessária determinação e persistência para os que desejam seguir o Cristo, lecionava: Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados (Hebreus, 12 :12), e prosseguir sempre, com destemor. Fortaleçam as mãos cansadas, firmem os joelhos vacilantes; digam aos desanimados de coração: “Sejam fortes, não temam!”, assim cantava Isaías, como vem escrito em 35: 3-4. Tomar a cruz do arrependimento e seguir em caminhada de redenção, reparando os erros de outrora. Tomar a cruz das consequências, colhendo o resultado das semeaduras equivocadas. Conforme a semente, a colheita. No Velho Testamento, lemos a citação de Jó (4: 8): Pelo que tenho observado, quem cultiva o mal e semeia maldade, isso também colherá... Em Provérbios (22: 8): Quem semeia a perversidade colhe males. E em outra tradução: Quem semeia a injustiça colhe a maldade. Ainda lemos em Oséias (8: 7): Visto que semearam ventos, colherão tempestades. Já em Gálatas (6: 7), a expressão do ensino, que retrata a natural Lei Divina do Retorno: tudo que o homem semear, isso também ceifará... E Jesus (Marcos, 4: 32) vem ratificar a Lei, por sua vez afirmando: Mas, tendo sido semeado, cresce. No mesmo sentido, Mateus anotou em 16: 27: a cada um segundo as suas obras. Paulo, o Apóstolo dos gentios, ao tratar da necessária semeadura, que nada mais é do que nossas escolhas e nossas atitudes, esclareceu os Coríntios, em sua segunda carta (9: 6): Convém lembrar: aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará. Elucidando que a Lei não está somente para os equívocos, mas também para os acertos, e uma boa e selecionada semente (atitude) resultará numa colheita correspondente (resultado positivo, retorno do bem). Num sentido amplo, mas que cabe em nossas reflexões, lemos em Gênesis (1: 12): A terra fez brotar a vegetação: plantas que dão sementes de acordo com as suas espécies, e árvores cujos frutos produzem sementes de acordo com as suas espécies. ... E siga-me... E, como não poderia deixar de ser, considerando a justiça amorosa do Pai, o esforço, o empenho, as dificuldades para se manter firme do trabalho redentor, tem seu retorno abençoado (Salmos 126: 6): Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos. Ou seja, aquele que perseverar até
  • 5. 8 9RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ As três cruzes (Nas pegadas do Mestre. Vinícius) Naquele dia, três cruzes foram levantadas no cimo do Calvário. A do meio sustinha Jesus, o Cristo, cujo crime, como é sabido, consistiu em ensinar ao povo a doutrina da igualdade de direitos perante a lei natural e divina, que emana de Deus. As laterais justiçavam, respectivamente, à direita e à esquerda, o bom e o mau ladrão. Esses três supliciados são, ao mesmo tempo, três realidades históricas e três símbolos. Jesus Crucificado é a imagem do amor e da dor, elementos que, conjugados, determinam e promovem a evolução dos homens. É a figura da justiça aliada à misericórdia. O bom e o mau ladrão representam a Humanidade pecadora em sua generalidade. O primeiro, reflete com admirável justeza os pecadores confessos, as almas simples, compenetradas de suas faltas, que suportam os sofrimentos e as angústias da existência com resignação e humildade, sem murmúrios nem revoltas, porque veem nessas vicissitudes o efeito das causas criadas por elas próprias. Crendo firmemente na justiça, tiram preciosos ensinamentos das provações cuja aspereza é amenizada pela maneira com que são recebidas. O segundo espelha com notória fidelidade os pecadores relapsos, impenitentes e orgulhosos, que recebem a dor revoltados, murmurando e blasfemando. Descrendo do amor e da justiça, julgam-se vítimas de inexorável iniquidade, pois se consideram isentos de culpa, vendo-se através do orgulho que lhes oblitera o entendimento e ofusca a razão. A Humanidade compõe-se de Dimas e de Giestas, isto é, de pecadores humildes que, reconhecendo-se culpados, fazem da cruz instrumento de redenção; e de pecadores orgulhosos que murmuram e blasfemam continuamente, contorcendo-se e escabujando na cruz que, para eles, não passa do que realmente é: instrumento de suplício. o fim será salvo, registrou Mateus em seus escritos: 24.13. Em síntese: Dome suas paixões animais; não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons sentimentos; pratique o bem; não ligue às coisas deste mundo importância que não merecem; e, então, embora revestido do invólucro corporal, já estará depurado, já estará liberto do jugo da matéria e, quando deixar esse invólucro, não mais lhe sofrerá a influência. Nenhuma recordação dolorosa lhe advirá dos sofrimentos físicos que haja padecido; nenhuma impressão desagradável eles deixarão, porque apenas terão atingido o corpo e não a alma. Sentir-se-á feliz por se haver libertado deles e a paz da sua consciência o isentará de qualquer sofrimento moral. (O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 257.) Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Sem postergação, sigamos Jesus Cristo, quem nos disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus. (Lucas 9 : 62.) Nos decidamos por segui-Lo e ouviremos o Meigo Rabi nos falando, suavemente: Levantai-vos, vamos ... (Marcos 14 : 42.)
  • 6. 10 11RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ Tomar a cruz (Luz do mundo. Amélia Rodrigues, cap. 22. Divaldo Franco) Diariamente à sua volta renovavam-se os grupos ávidos do Seu socorro. A mensagem da esperança alcançando as fronteiras das almas inebriava-as, derramando-se abundante pelos demais corações que se contagiavam da Sua empolgante realidade. Jamais Israel vira ou escutara alguém igual a Ele. Os sofredores recebiam de Suas mãos as mais vantajosas quotas de auxílio, e os deserdados enriqueciam-se de alegria do primeiro encontro com as Suas palavras. N’Ele tudo transpirava amor. Das aldeias e cidades, dos arredores do Lago e das terras distantes chegavam os grupos que se adensavam em multidões expressivas para ouvi- Lo, sentir a grandeza dos Seus ensinos, fruir as concessões das Suas dadivosas mãos. Nunca se cansava de ensinar nem se descoroçoava jamais ante a impertinência ou a rebeldia dos infelizes. Compreendia-os por conhecer o ácido sabor do sofrimento que os infelicitava e por compreender-lhes a dor decorrente da pesada canga a constranger-lhes os corpos cansados e os espíritos aflitos. Alongava-se a todos como abençoada fímbria de luz na pesada sombra a clarear os roteiros e fazia- se a barca de segurança para que os náufragos do mar das paixões atingissem as praias da paz ou os postos da segurança. A primavera e o verão ensejavam-Lhe naqueles dois últimos anos a apresentação rutilante da Sua Mensagem. E mesmo quando os ventos outonais sopravam prenunciando o frio, Ele prosseguia ajudando os discípulos amados, para aproveitar o tempo que urgia, por não ser Ele deste mundo. * À sombra da árvore veneranda, no entardecer, enquanto amena a atmosfera se faz transparente, facultando a visão do céu límpido azul-alaranjado, Ele, ao lado dos discípulos, alongou os olhos por sobre a multidão (Mateus: 10: 26 a 33 - Lucas: 12: 1 a 12) . E eram tantos os que ali estavam que se poderiam atropelar uns aos outros. Filhos da terra e estrangeiros, d’além Jordão e da Decápolis, de Tiro e Sídon, daquelas aldeias romanescas e simples que Ele se acostumara a amar, eram aquelas criaturas. Junto àqueles das margens das águas que com Ele conviviam sentira a grandeza da humildade dos simples e a nobreza da fidelidade dos humildes. Nas suas mãos encontrava o grão e o pão, o fruto seco e a água pura, a compreensão e a ternura. As gentes nascidas na dor compreendiam-n’O, sim, e Ele os amava em demasia, por isso mesmo. Ali estavam todos os elementos constitutivos da melodia dos sofrimentos humanos. Mutilados em permanente exibição das deformidades e miseráveis sonhadores da esperança. Aqueles rostos sulcados pela dor e curtidos
  • 7. 12 13RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ pelo sol, aqueles olhos sem luminosidade que as desilusões quase apagaram de todo, acendiam-se, porém, expectantes, naquele momento aguardando. Ao longe, o mar explodindo rendas nas praias tranquilas e bordando de espumas alvas os seixos e pedregulhos negros. Os distantes coroados de sol poente e o verde- marron da gramínea teimosa em que madressilvas como pingentes azuis bordam o tapete do solo... Ele amava tudo aquilo: o mar era o seu espelho a refletir a face do dia e da noite; o rio o alaúde em que Suas mãos movimentavam sons nas longas cordas das correntezas cantantes; as elevações tornavam-se tribunas nobres donde Sua voz se espraiava na direção dos homens; os desertos em que se refugiava para estar a sós e orar eram preferidos, e os painéis verde-brancos dos bosques e dos casarios eram a pintura comovedora na tela da Natureza... Nublaram-se-Lhe os olhos e pela tênue cortina de lágrimas Ele pareceu ver o futuro, no qual aqueles que ali estavam se apresentariam, nascendo e renascendo, vivendo e sofrendo, até conseguirem a paz da consciência e a plenitude do coração em harmonia, sintonizados com as Leis do Estatuto Divino. Profundamente apiedado das mazelas humanas, envolveu todas aquelas criaturas na ternura indimensional do Seu amor e começou a falar: — Alegrai-vos na dor e não vos desespereis. Participais desde hoje do Reino de Deus e os tempos continuarão a correr cantando músicas de júbilo em vossas almas, se perseverardes fiéis até o fim. “Todos os que vos buscaram antes prometiam quimeras e acenavam triunfos que o túmulo apaga, deixando em cinza ou lama os tecidos custosos e enferrujados, sem valor os tesouros da ficção. “Marcham e passam sorridentes os dominadores da Terra, guindados a postos nos quais padecem a alucinação da loucura que os vence e preferem ignorar. “Prometem a Terra e são submetidos a ela, desaparecendo nos seus carros de ouro, sem deixarem saudades, porque são substituídos por outros títeres e por todos logo esquecidos. “Ameaçam e atemorizam os de coração simples, perseguem os fracos porque sofrem fraquezas que os desgraçam e se fazem acompanhar de outros famanazes, quais abutres reunidos, que, em última instância, irão devorar o mesmo cadáver em disputa infeliz. Os ouvidos aguçados da multidão recebem as palavras quais moedas de luz para serem entesouradas nos cofres do coração ansioso. A Natureza canta silêncios em derredor. Ele prosseguiu: — Quem desejar ser digno de mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga- me. “Não temais aqueles que apenas matam os corpos e nada mais podem fazer. Eles também morrerão. “Temei, respeitai aquele que depois da morte tem poder de restituir a vida, oferecendo paz ou dor. “Se me amardes tomai a vossa cruz e renunciai às vãs utopias, vindo em seguida.
  • 8. 14 15RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ “Construí a nova conduta do amor e da verdade. “Tudo pelo Pai é sabido, mesmo as coisas mais insignificantes Ele conhece. Tem contado os fios dos vossos cabelos. “Acautelai-vos da hipocrisia que é a arma dos cobardes. “Sede verdadeiros e mantende limpos os corações. “Aqueles que me confessarem diante dos homens, também eu os anunciarei a meu Pai. “Nada digais em segredo contra alguém, pois que isto que seja dito em silêncio será apregoado aos brados. “Evitai manter duas condutas: a que os homens podem e aquela que não podem saber. Nada, pois, façais escondido, porquanto tudo se torna revelado e permanece conhecido. “A mentira é a medida do mentiroso como a presunção é a dimensão do ignorante. “Levantai a cabeça reta mas sede simples de alma e humilde de sentimento. “Engendrai a simpatia entre todos e fomentai a cordialidade. O homem isolacionista é espírito enfermo. Manter cortesia com os que são corteses é retribuir a medida do que se recebe. “Os meus seguidores aprendem a ter alegria interior para os momentos difíceis e se acostumam ao prazer de servir em nome do amor. É nisto que reside a verdadeira união comigo. “Preservai-vos do fermento da maledicência. As más palavras, as palavras azedas, as palavras rudes corrompem o espírito e corroem a vida, turbando a consciência. “Saí da amargura e livrai-vos das suspeitas. Os espíritos imundos se comprazem na inspiração dos pensamentos vulgares e se nutrem dos conúbios deprimentes. “Em toda circunstância buscai a prece, e, vigiando, servi. Não procureis, porém, fazer tudo. Sede grandes nas tarefas insignificantes e tornai-vos pequenos nas grandes realizações — eis como provar a integridade no bem. “Aquele que me negar entre os homens, dele não me recordarei para apresentá-lo no Reino. “Se vos ofenderem buscai conquistar o ofensor; se vos enganarem ide ao encontro dos enganadores; se vos caluniarem marchai com amizade junto ao infamante. Fácil seria abandoná-los. Se assim o fizerdes não sereis dignos de mim. Não vim para os sãos, os bons, os felizes, mas para eles os desventurados e para vós, os que tendes sede de justiça e paz.” A noite estava quase chegando. Uma sutil atmosfera de paz caía sobre os grupos na multidão silenciosa, de coração túmido de emoções e almas comovidas. As silhuetas dos montes se recortam nas primeiras sombras e as estrelas salmodiam nos Céus canções em prata fulgurantes. Onomatopeias, hipérbatos e sinédoques escapam dos lábios do Mestre na composição dos ditos. É necessário ir mais longe, informar tudo. Num crescendo de ventura Ele profere por fim: “Quando tiverdes de falar, diante de quem seja, não temais! Abri a boca: o Espírito Santo falará por vós. “Sede fiéis!” Sublime musicalidade tomou conta do ar. Levantou-se, ergueu as mãos e abençoou os ouvintes. As lágrimas abundavam nos olhos de todos, nascendo nas fontes do espírito. Havia um elan invisível que transformava a mole humana numa só família — a família do amor universal do futuro! No mar sereno deslizam ao longe as barcas que retornam. No ar salpicado pelas lâmpadas estelares as ansiedades da multidão soluçam baixinho... ... E Ele entre os homens apresentando a legislação do amor em convite esplêndido à Humanidade inteira. E como todos se retirassem aos poucos, em silêncio, dispostos a carregarem a sua cruz, Ele ficou a sós e se encheu de plenitude. A noite, por fim, vestiu o aclive de luar, enquanto as aldeias e as cidades dormiam, e Ele velava dos cimos do outeiro...
  • 9. 17 A transfiguração é símbolo da ponte que nos liga com o mundo espiritual, nos demonstrando que a vida é uma só, como bem posicionado pelo apóstolo Paulo, porém com múltiplas existências, de modo a nos permitir compreender que o nosso viver estagia ora no plano espiritual, ora no plano físico, sem perdermos a própria identidade, num caminhar redentor, evoluindo rumo à felicidade. eram Elias Moisés e
  • 10. 18 19RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ eLucas 9: 28-36 E aconteceu que, quase oito dias depois destas palavras, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao monte a orar. E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente. E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias, Os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém. E Pedro e os que estavam com ele estavam carregados de sono; e, quando despertaram, viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam com ele. E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo o que dizia. E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram. E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi. E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só; e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto. . As preciosas anotações dos evangelistas sobre o fato da transfiguração e a presença viva de dois dos maiores destaques da história da Humanidade, tidos como mortos há séculos da data da ocorrência, deixam evidente vários pontos de nossas vidas, dentre eles: os Espíritos existem; a morte inexiste; a imortalidade do Espírito é incontestável; os Espíritos se comunicam. Essa realidade espiritual e objetiva que transcende para além do túmulo, é consolo para os corações sofridos que guardam as dores decorrentes do falso entendimento de que com a morte, tudo cessa, e nossas amores desaparecem no nada. As esperanças retomam suas forças naturais, pois o magno testemunho dado por Jesus sobre a imortalidade e a comunicabilidade dos Espíritos, nos permite ter a certeza de que logo mais nos reencontraremos com todos os nossos entes queridos, pois eles também vivem após a inexistente morte, bem como nós viveremos. E aqueles sonhos que temos tido com eles, vivos, podem sim ser considerados reencontros de almas, pois é um fato a continuidade de nossas relações. Bem como é um fato a presença dos Espíritos em nossas vidas, orientando-nos, assistindo-nos, amparando-nos, socorrendo-nos, abençoando-nos. Identificar-se com a nossa natureza imortal é abertura de amplo portal para um novo e verdadeiro entendimento da vida e da nossa razão de existir; da vida e nossa relação com o próximo; da vida e da nossa devida relação com Deus. A transfiguração de Jesus e a presença de Moisés e Elias, convida-nos a mais profundo e amadurecido pensar e refletir sobre os laços que nos unem uns aos outros na sucessão dos tempos, bem como o encadeamento dos fatos e a continuada presença divina na vida de cada um, e, no caso, a presença de Deus na condução da Humanidade, para o que, em dado momento, esteve à frente dessa missão, Moisés, e, logo mais adiante, Elias.
  • 11. 20 21RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ Sim, Elias, que novamente havia estado nas lidas da condução humana, como João, o Batista. Incansável trabalho do Bem e dos corações que são todo Amor, em prol da redenção de todos nós, e nossa religação com Deus, num constante empenho e esforço em nos levar ao despertamento da consciência e da religiosidade em nosso íntimo. Não apenas a religiosidade decantada em prosa e verso, mas a religiosidade da consciência, como luz que acende sem jamais voltar a se apagar. A transfiguração é esse hino à imortalidade. A transfiguração é testemunho da comunicabilidade dos “mortos”, que sempre estiveram vivos, com os “vivos”, a fim de reviver-nos para a verdadeira e abundante vida. A transfiguração é símbolo da ponte que nos liga com o mundo espiritual, nos demonstrando que a vida é uma só, como bem posicionado pelo apóstolo Paulo, porém com múltiplas existências, de modo a nos permitir compreender que o nosso viver estagia ora no plano espiritual, ora no plano físico, sem perdermos a própria identidade, num caminhar redentor, evoluindo rumo à felicidade. A transfiguração é Sol nas almas. O Tabor e a planície (Primícias do reino. Amélia Rodrigues. Divaldo Franco) Com a força da sua realidade poderia ser considerado um díptico: as bênçãos de Deus no monte e os conflitos do homem em toda a pujança de suas cores na planície. Desciam Jesus, Pedro, Tiago e João das culminâncias do Tabor, onde comungaram com as excelências de Deus, ao encontro das baixadas espirituais das criaturas. Há pouco, resplandecente, o Mestre estivera envolto por uma esfera de poderosa luz e dialogara com os venerandos antepassados do povo: Moisés e Elias. As emoções ainda não se aquietaram na horizontalidade do habitual, e a curva descendente das dores tomava forma chocante no terra a terra das contingências humanas. No alto, a visão da vida verdadeira; ao sopé, as angústias junto aos sofrimentos. * - “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dele e não entre mais nele” – exortou Jesus com firmeza na voz, na qual a piedade se misturava à energia. Não houve debate. Tudo simples. A cena breve culminou no declínio do jovem que ficara prostrado como morto, banhado por álgido suor, desfigurado. O Mestre, comovido, curvou-se, tocou a fronte do ex-obsidiado e o levantou com gesto cativante. Era quase um menino... Sofria desde a mais tenra idade sob o jugo violento do impiedoso algoz desencarnado. As raízes do ódio nefando se perdiam nas sombras do passado, quando foram comensais da mesa farta da loucura e se enredaram em odienta cena de sangue... Agora a lei soberana, que jungia o criminoso não punido à justiça desrespeitada, manifestava-se sobranceira. O parasito espiritual se imanara ao sofredor e reproduzia nele os esgares epilépticos em que se consumia, vítima de si mesmo, escravo do ódio. Na volúpia da vingança, atirava-o de encontro ao solo, ateava-lhe fogo às vestes, tentava afoga-lo, subjugava-o. As esperanças da família se apagavam na lâmpada sem lume das tentativas de cura, impossível até aquele momento. Seu pai ouvira falar do Rabi e o trouxera, na expectativa duvidosa de ver o filho recuperado, perdido como se encontrava no caminho do aniquilamento inexorável. * - Transcorreram oito dias após a “confissão de Pedro”, o Mestre tomou consigo Pedro, Tiago e João, e levou-os sozinhos, e à parte, para um alto monte. Agosto, em plenitude, derrama sua taça de luz e calor sobre a terra. As papoulas e as margaridas jazem crestadas em hastes vencidas pela canícula. O céu muito azul e transparente concede visão infinita em todas as direções. À medida que o Tabor vai sendo vencido, os painéis se desenrolam: embaixo os campos de trigo ceifado, a mancha pardacento-prateada do Jordão, na configuração de imenso alaúde entre sebes; para as bandas do oriente erguem-se altaneiros os montes Galaad e ao poente cintilam as águas do Mediterrâneo, como imenso espelho refletindo através da garganta natural entre o Monte Carmelo e os contrafortes altanados do Líbano; ao norte o Genesaré salpicado de velas coloridas e orlado por Tiberíades, Magdala, Cafarnaum, Betsaida, as cidades tão encantadoramente derramadas dos pequenos cerros na direção da praias, vestidas de palmeiras verdejantes... Do acúmen a visão não se detém. De forma arredondada, a plataforma batida pelos ventos, às vezes coroada de zimbros, é a culminância dos 562 metros de altitude rochosa, sem vegetação, com destaque na imensa e formosa Galileia. A noite ainda demora algumas horas para estender o seu manto imenso sob o céu. Os meses de agosto são de longos dias. O calor asfixia e requeima a rala vegetação. A jornada é longa, na conquista do monte: mais de quatro horas de marcha lenta e cansativa, embora a beleza da paisagem deslumbrante em derredor. Atingindo o acume, o Mestre se põe em oração. Os discípulos, suarentos e cansados, adormecem à sombra dos arbustos escassos. Um grande silêncio envolve tudo e todos. O mormaço quase asfixia... A noite vence a natureza e o Mestre ora. A madrugada alcança o Rabi em oração. Os companheiros dormem. Vozes percutem na monotonia. Os
  • 12. 22 23RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ discípulos despertam, assustados e são dominados pela visão sublime da transfiguração do Mestre, com as vestes incendidas, dialogando com Moisés e Elias. As palavras vibram no ar; mas não são palavras como as que se ouvem comumente... Logo após, diluída a visão, Simão se acerca do Rabi e exclama: - Mestre, bom é que estejamos aqui, e façamos três cabanas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias. O Mestre fita-o compadecido. Uma nuvem surge misteriosa e uma voz, então, exclama: - Este é o meu filho amado; a Ele ouvi! Os discípulos ainda não refeitos são tomados de pavor. A grandiosa revelação fora feita. Jesus estivera em toda a sua glória e eles foram testemunhas silenciosas e emocionadas do acontecimento incomparável. Os Céus foram cindidos e os discípulos tiveram o “conhecimento do Divino”. Pedro se reportará mais tarde a essa metamorfose do Mestre, testemunho insofismável em que fundamenta sua fé. O Rabi, no entanto, exige-lhes silêncio. A verdade tem que ser dosada para o entendimento da argila humana. Mais tarde João, ao escrever os “ditos do Senhor”, iniciará a sua narrativa evocando, certamente, a cena inesquecível: “Nele estava a vida, e a vida era luz dos homens; a luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. * - Descemos! – alvitra o Mestre. - Não poderíamos aqui demorar- nos? – indaga Simão. - É necessário descer – retruca Jesus. – Busquemos os que não dispõe de forças para subir. Os homens necessitam de nós. A nossa é a glória deles. Para eles sejam nossas alegrias e para nós as suas dores. Depois da comunhão com os Céus, a convivência entre os que demoram na Terra. O paraíso seria para nós estranho presídio sem aqueles que, no ergástulo das aflições, anseiam pelo país da liberdade. Desçamos. Os homens, para quem eu venho, nos esperam. * Na descida do monte confabulam: - Rabi! – indagam como receosos – dizem os escribas que é mister que venha primeiro Elias... - Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo quanto quiseram. Assim farão, também, padecer o Filho do Homem... Visão desde o Monte Tabor
  • 13. 24 25RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ “Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.” A nova revelação de ser Elias, João Batista renascido, surpreende os companheiros que começam a compreender os inescrutáveis desígnios do Pai. Os Espíritos estão estuantes de felicidade. Há festa em seus corações. * Jesus e os discípulos continuam descendo. O dia esplende. Os acontecimentos são sóis em suas almas. A plataforma do Tabor fica para trás. A planície imensa se estende embaixo. Lá estão as criaturas sofredoras e ansiosas, os companheiros aguardando. Amedrontados, os discípulos se revezam. - Afasta-te, Satanás! – exclama Judas, irado, enquanto o obsesso ulula. - Filho da trevas, semente de Belzebu – brada Tadeu, com a voz rouca e os olhos injetados – por quem és, abandona tua vítima! - Decaído, imundo – vocifera, pálido e suarento, Natanael – eu te exorto a que retornes às geenas!... Curiosos se acercam dos gritadores, enquanto o endemoninhado, como se multiplicasse as forças que o vampirismo espiritual consome, mais se debate no solo e corcoveia, exasperado, a ameaçar o débil corpo em convulsão, semivencido. É o próprio Dibbuk – soluça, desanimado, Felipe. convosco? A indagação fica no ar, sem resposta. A arrogância da fraqueza é mais petulante do que a vaidade da força. O sinal do fracasso no orgulho é como chaga de fogo a requeimar. - Espírito mudo e surdo... Pálido e fraco, o moço sorriu. Avia gratidão sem palavras. Osculou a mão do Rabi e, conduzido pelo pai em êxtase de alegria, seguiram ambos no rumo do lar. * À noite, quando o zimbório se vestia de estrelas brilhantes, ainda sob o impacto das manifestações do Mestre, no Tabor e na planície, Simão, traduzindo possivelmente a visível inquietação dos companheiros, aproximou-se d’Ele, que meditava, e indagou, visivelmente emocionado: - Por que não puderam eles expulsar o espírito imundo? - Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum – elucido o Amigo. Desejando, no entanto, utilizar o momento para melhor instruir os companheiros desatentos e pretensiosos, o Senhor esclareceu: - Antes de tudo é necessário compreendamos que os espíritos imundos viveram antes, homens que foram, homens que continuam sendo. Enganados, como se deixaram conduzir no corpo, prosseguem enlouquecidos, fora dele. A morte não os transformou. Viajores do tempo, são o que fizeram. Ligados mentalmente às reminiscências das ações, demoram-se, sofrendo-as, imanados aos que amaram, vinculados àqueles que os fizeram sofrer... Fez uma pausa, espontânea. E prosseguiu: - Por essa razão a Boa-nova é um hino de amor e perdão. Amor indistinto e perdão indiscriminado. Diante deles, nossos irmãos na sombra da ignorância, nenhuma força possui força senão a força do amor. Não apenas expulsá-los daquele convívio a que se agregam parasitariamente, mas também socorrê-los, enlaçando-os com amor... Novamente silenciou, e envolveu os amigos num olhar de bondade, para logo continuar: - São nossos irmãos da retaguarda, perdidos na ilusão das carnes a que teimosamente pretendem continuar ligados. Não se prepararam para a verdade. É em razão disso que a Mensagem de Vida não se reveste das indumentárias fantasiosas tão do agrado geral. É semente de luz para fecundação no solo do espírito. Diante, pois, deles – possessos e possessores – só a oração do amor infatigável e o jejum das paixões conseguem mitigar a sede em que se entredevoram, entregando-os aos trabalhadores da Obra de Nosso Pai, que, em toda parte, estão cooperando com o Amor, incessantemente. Se amardes ao invés de detestardes, se desejares socorrer e não apenas os expulsardes, tudo fareis, pois que tudo quanto eu faço podeis fazê-lo, e muito mais, se o quiserdes... No leve ar da noite bailavam suaves brisas espraiando para o futuro a palavra do Rabi, como antevisão gloriosa para os dias porvindouros da Humanidade. - Nada conseguiremos! – arremata o filho de Cléofas. - Onde andará o Mestre – indaga perturbado, Simão, o zelote – que não vem socorrer-nos? Não saberá Ele de nossa aflição?... Entreolham-se, estremecem, enquanto o obsidiado espumeja e se debate. Falam todos de uma vez. Gritam inutilmente. Vendo o Mestre e os companheiros, que chegam à charneca das misérias humanas, correm, aflitos e O saúdam. - Que é que discutis com eles? – interroga, sereno, o Senhor. - Mestre, trouxe-te o meu filho, que tem um Espírito mudo. E este, onde quer que o apanhe, despedaça-o, e ele espuma, e range os dentes, e vai-se secando; eu disse aos teus discípulos que expulsassem, e não puderam! - Se podes – apela o pai – salva o meu filho. - Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê. - Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade. O Rabi se comove. O semblante sereno expressa toda a angústia do seu Espírito. Sem qualquer mágoa, fita os companheiros medrosos e os admoesta com veemência e compaixão. Compreende as fraquezas dos convidados a esparzir a semente da boa-nova. Como a justificar-se a si mesmo e aos outros, Judas tenta esclarecer: - Fizemos tudo quanto nos ensinaste e nada conseguimos... - Até quando vos sofrerei e estarei
  • 14. 26 27RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ O Tabor e a imortalidade (O trigo de Deus. Amélia Rodrigues, cap. 23. Divaldo Franco) Deslumbrados, ainda, após a transfiguração do Mestre, no ímpar diálogo com Moisés e Elias, em recolhimento todos desceram o Tabor. Lá, em cima, ficaram as esplêndidas paisagens espirituais, a comunhão plenificadora com Deus, o ‘silêncio e o êxtase. Era necessário, porém, por enquanto, retornarem ao torvelinho, ao cotidiano, às mesquinharias do imediatismo, às criaturas humanas apaixonadas, sem rumo... O planalto, onde haviam comungado com o Pensamento Divino, cedia lugar à planície das lutas e disputas pessoais. Eles, os discípulos, eram criaturas frágeis, que se iam fortalecendo nos sucessivos embates com os olhos postos no futuro. Criam no Mestre e temiam, não sabiam o quê. Amavam-nO, e cada vez mais O conheciam, identificando-0 como o Enviado. Na descida, rompendo o silêncio majestoso, disse-lhes Jesus: — A ninguém conteis esta visão, até que o Filho do Homem ressuscite dentre os mortos. (Mateus 17: 9) 0 exuberante fenômeno mediúnico, que trouxera de além da morte os ilustres líderes da raça, Moisés e Elias, deveria ficar ignorado pelas massas, que não o podiam compreender. Somente as pessoas preparadas emocional e psiquicamente dispunham da percepção necessária para entender que, ali, Moisés revogava a proibição de se falar com os mortos, vindo, ele próprio, demonstrar a possibilidade, ora tornada real. A sua proibição, quanto à evocação dos mortos, justificava-se, para evitar o abuso em voga; porque nem todos os mortos podem retornar, atendendo aos reclamos dos vivos, e sendo, não raro, substituídos pelos frívolos e mentirosos, que lhes usam os nomes; para impor ao homem a liberdade de ação com responsabilidade e o uso do livre-arbítrio; pelo respeito que devem merecer aqueles que aos outros precedem na viagem de volta... Agora estava derrogada a interdição; porém, o povo não deveria sabê-lo, senão, quando Ele próprio, ressurrecto e vivo, retornasse após a tragédia que todos conheceriam. Aqueles eram momentos de extraordinárias revelações. As mentes se dilatariam ao infinito, a fim de absorverem os conteúdos imortalistas ali testemunhados. A morte sempre se apresentou como a grande destruidora da vida, a amarga separadora daqueles que se amam, a indesejada... Para fugir-lhe à sanha, adornaram o culto à memória dos mortos com exéquias e homenagens, flores e incensos, leituras e lágrimas, de alguma forma tentando dissimular-lhe a face trágica. Apesar disso, ela permanecia enigmática. No passado, essas exéquias e o culto aos mortos revestiam-se de processos ritualísticos e complexos cerimoniais, em prova de amor para com alguns, assim como para aplacarem os gênios maus, que velavam junto ao cadáver. Entre os gregos era hábito colocar-se uma moeda entre os dentes do defunto, que variava de valor conforme as posses do extinto, a fim de pagar Caronte, o barqueiro que o fazia atravessar as águas do Estige, conduzindo-o à outra margem. Jesus veio demonstrar que a consciência é a portadora do tesouro dos atos de cada um, e que dela ninguém se exime, a partir do momento do grande transe. Jamais fez apologia da morte, em razão de ela não existir conforme era descrita. Toda a Sua mensagem é de ação e, por isso mesmo, Ele declarou ser a ressurreição e a vida, em incessante convite ao crescimento espiritual. A partir daquele momento, no monte Tabor, fora inaugurado, conscientemente, por Jesus, o intercâmbio entre os homens e os Espíritos, demonstrando a sobrevivência da vida à morte. ‘ O reino dos Céus, que está no íntimo de cada criatura, ali esplendeu, grandioso, e Jesus, superando os visitantes do Além, em beleza, poder e glória, transfigurou-se diante dos amigos deslumbrados. Nunca mais as criaturas perderiam o contato com o mundo transcendente onde se originam a vida, os seres, a realidade, e se reencontram os que mergulham na carne, para o processo de evolução, quando cessa o fenômeno biológico. O Tabor e a imortalidade permaneceram como símbolos da Nova Era.
  • 15. 29 Jesus ia por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todos os langores e todas as enfermidades no meio do povo. a curaepilépticodo
  • 16. 30 31RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ eLucas 9: 37-43 E aconteceu, no dia seguinte, que, descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão; E eis que um homem da multidão clamou, dizendo: Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que eu tenho. Eis que um espírito o toma e de repente clama, e o despedaça até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam. E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei? Traze-me aqui o teu filho. E, quando vinha chegando, o demônio o derrubou e convulsionou; porém, Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino, e o entregou a seu pai. E todos pasmavam da majestade de Deus. E, maravilhando-se todos de todas as coisas que Jesus fazia... No capítulo: Os milagres do evangelho, em A Gênese, de Allan Kardec, lemos: (item 26) Jesus ia por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todos os langores e todas as enfermidades no meio do povo. — Tendo-se a sua reputação espalhado por toda a Síria; traziam-lhe os que estavam doentes e afligidos por dores e males diversos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos e ele a todos curava. — Acompanhava-o grande multidão de povo da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e de além Jordão. (S. Mateus, 4:23 a 25.) Parece que, ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os obsidiados e os possessos, donde a oportunidade que ele teve de curar a muitos. (item 35.) (item 33) Com as curas, as libertações de possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus. Alguns há, entre os fatos dessa natureza, como os acima narrados, no nº 30, em que a possessão não é evidente. Provavelmente, naquela época, como ainda hoje acontece, atribuía-se à influência dos demônios todas
  • 17. 32 33RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ as enfermidades cuja causa se não conhecia, principalmente a mudez, a epilepsia e a catalepsia. Outros há, todavia, em que nada tem de duvidosa a ação dos maus Espíritos, casos esses que guardam com os de que somos testemunhas tão frisante analogia, que neles se reconhecem todos os sintomas de tal gênero de afecção. Ele cura os males físicos, mas cura, sobretudo, as doenças morais e são esses os maiores prodígios que lhe atestam a procedência. Seus mais sinceros adeptos não são os que se sentem tocados pela observação de fenômenos extraordinários, mas os que dele recebem a consolação para suas almas; os a quem liberta das torturas da dúvida; aqueles a quem levantou o ânimo na aflição, que hauriram forças na certeza, que lhes trouxe, acerca do futuro, no conhecimento do seu ser espiritual e de seus destinos. Esses os de fé inabalável, porque sentem e compreendem. (item 27) De todos os fatos que dão testemunho do poder de Jesus, os mais numerosos são, não há contestar, as curas. Queria ele provar dessa forma que o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o seu objetivo era ser útil e não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por meio de coisas extraordinárias. Aliviando os sofrimentos, prendia a si as criaturas pelo coração e fazia prosélitos mais numerosos e sinceros, do que se apenas os maravilhasse com espetáculos para os olhos. Daquele modo, fazia-se amado, ao passo que se se limitasse a produzir surpreendentes fatos materiais, conforme os fariseus reclamavam, a maioria das pessoas não teria visto nele senão um feiticeiro, ou um mágico hábil, que os desocupados iriam apreciar para se distraírem. Doente da alma (A mensagem do amor imortal. Amélia Rodrigues, cap. 3. Divaldo Franco) Depois que Ele entrou no barco os ventos acalmaram... A tormenta não fora total, mesmo assim as águas do mar ficaram agitadas e aqueles que se encontravam navegando foram tomados de justo receio. O mar, em verdade, é um grande lago que não pode ser considerado com um dos maiores. O seu volume de águas é menor do que o da baía da Guanabara, no entanto, em face da ausência de água na região, era altamente considerado naqueles tempos, e ainda hoje... Aqueles eram dias de grande efusão de júbilos, de exaltação e de encantamento. Por onde Ele passava, as multidões afluíam refertas de mutilados do corpo e da alma, que recebiam o Seu concurso estelar, recuperando-se e glorificando-O. Os episódios, que se sucediam, eram ricos de misericórdia e de amor, saturando as vidas com as bênçãos da esperança, do reconforto e da paz. Há pouco, Ele houvera liberado o endemoninhado gadareno da força ultriz que o afligia. Deixou-lhe a paz ao lado da certeza de que também era filho de Deus, pois que se beneficiara, recuperando a saúde mental, quando tudo se lhe afigurava tragédia e infelicidade. Logo depois, os companheiros viram-nO andando serenamente sobre as ondas eriçadas do mar, naquela noite de leve tormenta. A princípio supuseram que se tratava de um fantasma e apavoraram-se até o instante em que Ele os tranquilizou... Também haviam observado a falência da fé de Simão, o amigo que desejara abraçá-lO sobre as águas encrespadas, e depois de dar os primeiros passos ante o vento que açoitava, acovardou- se e temeu, quase afundando, ficando todos comovidos com a Sua magnitude, amparando o discípulo temeroso... Agora, depois que Ele entrou no barco e os ventos acalmaram, restituindo a serenidade ao mar, rumaram no sentido oposto ao lugar de onde vinham, seguindo em direção da pequena Genesaré, que parecia uma imensa pérola engastada nas areias claras da enseada do generoso mar... Ao chegar, reconhecido por alguns que ali residiam, log a notícia se propagou com a velocidade do relâmpago e os necessitados acorreram de todo lado. Eram estropiados, cegos, surdos, mudos, leprosos, paralíticos, endemoninhados, todos quantos são considerados como a borra social, naturalmente excluídos dos círculos privilegiados, que exibiam as suas torpezas na expectativa de receberem qualquer benefício. Sem alarde ou exclusão, Ele os recebia com infinita misericórdia, minorando as suas aflições, curando as suas enfermidades desagregadoras. Após o atendimento, todos O louvavam, sorridentes e emocionados. Apesar do socorro em quantidade, muitos outros que chegavam, ainda suplicavam-Lhe: - Deixa-nos tocar, ao menos, a fímbria dos Teus vestidos, e temos a certeza de que nos recuperaremos. O poder da fé ao lado da disposição feliz de alcançar a renovação, ajudava- os na reconquista da saúde. O magnetismo que dEle se exteriorizava reconstruía os tecidos apodrecidos e produzia alteração nos processos de recuperação moral. As doenças procedem do Espírito endividado, vilmente comprometido com a sua retaguarda em razão dos atos ignóbeis e das torpezas praticadas. Jamais Ele deixou de amparar aqueles que O buscavam, porque para o mister de amor viera. Tornava-se necessário enunciar-lhes a palavra não verbal, que se traduz como ato de compaixão e socorro imediato. Nada obstante, os enfermos da alma, logo recuperados dos desgastes físicos, retornavam aos conflitos e comportamentos infelizes, sem aproveitarem a oportunidade de reconstruir a vida ditosa. Imantados à matéria, os indivíduos de então como os de hoje, apenas
  • 18. 34 35RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ pensam nos resultados concretos, evitando assumir o compromisso de realizarem uma radical mudança de conduta mental e moral, estabelecendo novos parâmetros para a autorrealização, aquele que conduz à paz. Aqueles eram, pois, dias muito difíceis. A mensagem chegara para libertar as criaturas do servilismo às paixões degradantes, do jugo escuso da sordidez... Jesus, porém, reconhecia que aquele era um estado de infância psicológica em que os homens e mulheres se encontravam, e, por isso, na Sua condição de Educador por excelência, oferecia-lhes conforme o desejavam, porém, assinalava quanto à necessidade de seguirem além na busca do essencial, daqueles valores que não se perdem e têm sabor de imortalidade. Mesmo hoje, no atual estágio da cultura e da civilização, pululam as multidões que desejam milagres, que anelam por ter resolvidos os seus problemas, e não procuram compreender a necessidade de insculpirem nos refolhos do ser os propósitos de espiritualização e de sublimidade interior. Considerando o mar humano tumultuado pelas aflições superlativas, torna-se indispensável que a criatura reflexione e permita que Jesus se lhe adentre na alma, para os ventos agitados das paixões dissolventes se acalmem. Somente, então, haverá paz e libertação das doenças da alma, encontrando-se, por fim, a saúde integral.
  • 19. 37 Sim, a vida mental responde pelas atitudes comportamentais, expressando-se em formas de saúde ou doença conforme o teor vibratório de que se revista. o lótusque há em você
  • 20. 38 39RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ E um homem disse: - Fala-nos do conhecimento de si próprio. E ele respondeu dizendo: -Vosso coração conhece em silêncio os segredos dos dias e das noites. Mas vossos ouvidos anseiam por ouvir o que vosso coração sabe. Desejais conhecer em palavras aquilo que sempre conheceste em pensamento. Quereis tocar com os dedos o corpo nu de vossos sonhos. E é bom que o desejeis. A fonte secreta de vossa alma precisa brotar e correr, murmurando, para o mar. E o tesouro de vossas profundezas ilimitadas, precisa revelar-se a vossos olhos. Mas não useis para pesar vossos tesouros desconhecidos e não procureis explorar as profundidades de vosso conhecimento com uma vara ou uma sonda. Porque o Eu é um mar sem limites e sem medidas. Não digais: - Encontrei A verdade. Dizei de preferência: - Encontrei uma verdade. Não digais: - Encontrei o caminho da alma. Dizei de preferência: – Encontrei a alma andando em meu caminho. Porque a alma anda em todos os caminhos. A alma não marcha numa linha reta nem cresce como um caniço. A alma desabrocha, qual um lótus de inúmeras pétalas. (Gibran Kalil Gibran. Livro: O profeta) * O objetivo essencial da vida humana é facultar ao ser o desenvolvimento de todas as suas potencialidades adormecidas - o deus interno — tornando-o pessoa, uma individualidade que pensa, um ser em harmonia entre o pensar e o sentir. Esse processo não é automático como ocorre com os seres vegetal e animal, mas dependente das escolhas, da lucidez, das aspirações e dos esforços empreendidos, que são resultados das conquistas já conseguidas na sucessão dos dias bem aproveitados. Entretanto, em face da rapidez dos momentos modernos, não se apresentam oportunidades para amadurecimento das emoções, para escolhas corretas, para meditação e para reflexões e ponderações significativas. Os indivíduos são devorados pela volúpia do muito agarrar e do pouco reter. Há uma sofreguidão para aparecer (e aparentar mais que os outros), uma necessidade desesperadora para estar em todos lugares ao mesmo tempo, tombando na exaustão e levantando- se sob estímulos químicos ainda mais frustrantes. Vitimado, em si mesmo, o indivíduo, que perdeu o contato consigo mesmo, exaure-se com sua personalidade insatisfeita, exigente e pouco gratificante, preocupando-se em ser espelho que reflete outras pessoas, suas opiniões, seus aplausos, suas desmedidas ambições. É imagem que externa quem não é. Aumenta-lhe a necessidade psicológica de esconder o sentimento e exibir a aparência, sobrecarregando as emoções com desaires e amarguras que procura dissimular no convívio com os demais até quando já não mais o consegue. São dias de utopia, nos quais se vale pelo que se apresenta e não pelo que se é. Pelo que se tem – ou se aparenta ter – e não pelo que se deseja ser. Os ideais que dignificam e trabalham as forças normais cedem lugar aos (Texto reproduzido com a devida autorização: http://projeto-inove.com.br/ inove/2017/05/14/o-lotus-que-ha-em-voce// e
  • 21. 40 41RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ prazeres ligeiros e frustrantes que logo abrem espaço à novas mentirosas necessidades. Compreende-se a necessidade das conquistas externas, que se torna uma forma de autorrealização, e afadiga-se a criatura por consegui-las, para logo constatar a sua quase inutilidade, por não preencher os espaços tomados pela angústia e pelas incertezas. Transforma seus dias e seu tempo mental numa correria atrás do que não tem, sem valorizar o de que já disponha. Como se apoia nos outros, sua falta de metas, de objetivos, que assalta a consciência, dá lugar a indivíduos psicologicamente vazios. Esse vazio existencial, de certo modo, também se deriva do tédio, da repetição de experiências que não se renovam, da quase indiferença pelas demais criaturas, sugerindo a inutilidade pessoal. Desse modo, avança-se para um sentimento perturbador que se apresenta como um vazio coletivo que se estabelece na sociedade. Em tentativas inúteis de o preencher, realizam-se as festas alucinantes, volumosas, arrastando as multidões tresloucadas e ansiosas, que se esgotam no prazer anestesiante, para depois despertar no mesmo estado de vácuo interno, agora com os conflitos e culpas das loucuras perpetradas, algumas de difícil reparação. Exige-se que todos se encontrem em intérmino banquete de alegrias, fingindo conforto e bem-estar nas coisas e situações a que se entregam, distantes embora da realidade e dos verdadeiros significados existenciais. Negando-se as qualidades do bem e da paz, no intuito exclusivo do desfrutar, do tirar proveito de tudo, seres de todas as idades entregam-se à drogadição, em busca do êxtase que logo passa trazendo-os à realidade decepcionante e enfermiça. O desencanto, que se lhes instala, de imediato deve ser diminuído no tempo e no espaço, facultando- lhes buscar novos estimulantes ou entorpecentes para esquecer ou para gozar. Esse vazio, portanto, não significa ausência de significados internos, de valores adormecidos ou ignorados, mas, sim, a incapacidade que toma conta do indivíduo, sugerindo-lhe impossibilidade ou inutilidade de lutar contra a maré das dificuldades, permitindo-se uma resignação indiferente, um alheamento, como mecanismo de autodefesa, que se transforma num grande vácuo interno. A pouco e pouco, porque se adapta à nova conjuntura, perde o interesse pelo desejar e pelo realizar, ficando amorfo, sem tempero, embora com aparência que corresponde aos padrões sociais, por mínima exigência do ego soberbo e rebelde. Perdido o respeito pelo grupo social e suas instituições, logo depois perde-o por si mesmo, deixando-se arrastar para profundos conflitos de inutilidade e de depressão. O vazio existencial consome o ser e atira-o na depressão, empurrando-o para o suicídio. “Melhor morrer de vodca do que de tédio”, palavras encontradas no perfil do estudante da Unesp, morto por ingerir uma quantidade absurda de vodca na festa da faculdade, como largamente noticiado pelos meios de comunicação, soam como um grito de alerta e de pedido de socorro. Enquanto não se preencher o vazio interior permanecerá o indivíduo insatisfeito, deprimido ou agressivo. A falta de objetivo real e nobre para a existência física deixa um profundo sentimento de frustração, responsável por vários fenômenos perturbadores. É necessária uma madura e profunda reflexão sobre a vida, o viver e seus objetivos superiores, com decisão corajosa a respeito de nós mesmos, identificando as razões das nossas buscas, perdas e inquietações. Façamos uma parada nessa correria desenfreada para lugar nenhum, e consideremos a vida uma oportunidade de sorrir e produzir, descobrindo-nos útil a nós mesmos e à comunidade. A proposta não é um rompimento pura e simplesmente com tudo e com todos que até então povoaram a cidade de nossas ilusões perdidas. Isso redundaria em solidão, outra estrada perigosa. Transformar não é destruir, é modificar. O mar pergunta ao rio: porque nunca andas em uma linha reta? O rio calmamente responde: aprendi a superar os obstáculos para atingir meu fim - chegar ao teu encontro. A principal medida é buscar novos e reais valores existenciais, que venham a nortear nossa nova maneira de ser. Busquemos novos rumos. O alpinista, após escalar uma grande montanha, foi indagado: - Como conseguiu tal façanha? - De fato, para escalar essa montanha precisei além de muito preparo físico, muita perseverança e muita sabedoria para saber os momentos em que eu deveria parar ou prosseguir, fazendo, assim, boas escolhas. - Mas o que foi mais decisivo? - Não perder de vista o topo da montanha... A pessoa humana está inserida em uma constante tensão existencial, aquela que representa por um lado o “ser” e, por outro, o seu “dever ser”. Quando se perde essa tensão, o ser humano é acometido por uma sensação de tédio e de vazio existencial, como vimos nos parágrafos anteriores. Assim, as reflexões apontam para a importância em se ter uma direção na vida, uma meta que possa ser digna de ser atingida e que se constitua como um fim em si mesmo. Que alimente e preencha nosso ser, o que realmente somos e nos dê forças para virmos a ser o que queremos. Enfim, olhar e viver a vida sob um novo prisma. O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a pobreza, conforme Voltaire. Entendendo-se trabalho como toda atividade útil, transcende seu significado para além de busca somente pela contrapartida financeira. O trabalho é lei natural da vida. O trabalho profissional faz parte dessa equação, mas não é tudo. Precisamos de algo além da ocupação mental focada somente no dinheiro, cuja postura, se fixada na estreiteza dessa prática somente, nos levará para outros lados também atormentadores e igualmente vazios de satisfação plena. O consumismo, ao invés de satisfazer, alimenta a angústia para se ter mais e outras coisas. O iniciado pergunta ao seu Mestre: Qual a mais bela paisagem do mundo? O Mestre pede que o iniciado o leve à aldeia mais pobre da redondeza e diz: Eis aqui o lugar mais belo do mundo.
  • 22. 42 43RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ O discípulo logo indaga: Mas como pode, Mestre, aqui não há esgoto, nem água corrente e as pessoas estão doentes. Ao que Ele responde: A paisagem mais bela é aquela na qual um ser humano se solidariza com o seu próximo. E outra ilustração: Mas como saberei se estou pautando a minha existência de uma forma adequada? O monge pergunta ao seu Mestre. - Saberás quando o amor for o princípio, o meio e o fim de tuas ações no mundo, respondeu ele Caro leitor, estimada leitora. Você é viajor das estrelas, mas é você mesmo quem se deve amar, igualmente ao próximo amando, e ser amado como é e não conforme os outros gostariam que você fosse. Alegre-se como é, lutando para ser melhor, confiando que pode conquistar mais beleza interior, e avanço sem receio pela estrada da solidariedade. Compartilhe com a vida e com seu próximo, exatamente como você é. Seja você mesmo, sem medos, sem angústias, sem presunção, nem soberba. Assuma sua identidade, realizando-se, emocional e espiritualmente. Enquanto você se ignora, gera conflitos contínuos, caminha por caminhos incertos sem saber onde quer chegar, perdendo excelentes oportunidades de transformar-se para melhor. As pessoas que refletem outras pessoas, sem identificação, perdem-se a si mesmas, preocupadas em parecer, jamais conseguindo ser verdadeiras. Disse o poeta: A alma desabrocha, qual um lótus de inúmeras pétalas. Figuradamente, cada pétala dessa flor, representa nossos diversos compromissos e interesses perante a vida, que é uma injunção entre nós, o próximo e Deus. Bem observado, todas as pétalas continuam unidas, formando um todo, sendo alimentadas em sua beleza e fragrância, pela absorção da seiva que lhes dá sustentação e vitalidade, para seu todo – a flor - prosseguir formosa diante da formosura da vida. A seiva da vida é o amor, em todas suas múltiplas expressões. A flor de lótus simboliza o nascimento divino, o crescimento espiritual e a pureza do coração e da mente. O significado da flor de lótus começa em suas raízes – literalmente. A flor de lótus é um tipo de lírio d’água, cujas raízes estão fundamentadas em meio à lama e ao lodo de lagoas e lagos. O lótus vai subindo à superfície para florescer com notável beleza. O simbolismo está especialmente nesta capacidade de enfrentar a escuridão e florescer tão limpa, tão bonita e tão especial para tantas pessoas. À noite as pétalas da flor se fecham e a flor mergulha debaixo d’água. Antes de amanhecer, ela levanta-se das profundezas
  • 23. 44 45RASTROS DE LUZ | A LEI DA CRUZ de Luzum olhar na história rastros PRÓXIMO FASCÍCULO: Vem! Revista eletrônica de circulação dirigida e gratuíta Redação, organização e diagramação: Maurício Silva Contato: redator@resenhaespiritaonline.com.br Curitiba - PR CRÉDITOS DESTE FASCÍCULO: Imagens: acervo próprio ou baixadas da Internet: Google Imagens e The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints Livros: A Bíblia de Jerusalém, além dos livros citados no corpo do fascículo. Blog/site: www.projeto-inove.com.br DIREITOS RESERVADOS: todos os direitos de reprodução, cópia, veiculação e comunicação ao público desta obra estão reservados, única e exclusivamente, para Maurício Silva. Proibida a sua reprodução parcial ou total, por qualquer meio, sem expressa autorização, nos termos da Lei 9.610/98. novamente, até ressurgir na superfície, onde abre suas pétalas novamente e enfeita a vida, dando sua contribuição e perfume, sem nada exigir, sem nada esperar como retribuição. Sua existência fala por si mesma. Na Índia, uma pequena lenda conta a estória de sua criação: Um dia, reuniram-se para uma conversa, à beira de um lago tranquilo cercado por belas árvores e coloridas flores, quatro lendários irmãos. Eram eles o Fogo, a Terra, a Água e o Ar. Como eram raras as oportunidades de estarem todos juntos, comentavam como haviam se tornado presos a seus ofícios, com pouco tempo livre para encontros familiares. Mas a Água lembrou aos irmãos que estavam cumprindo a lei divina, e este era um trabalho que deveria lhes trazer o maior dos prazeres. Assim, aproveitaram o momento para confraternizar e contar, uns aos outros, o que haviam construído – e destruído – durante o tempo em que não se viam. Estavam todos muito contentes por servirem à criação e poderem dar sua contribuição à vida, trabalhando em belas e úteis formas. Então se lembraram de como o homem estava sendo ingrato. Construído ele próprio pelo esforço destes irmãos, não dava o devido valor à vida. Os irmãos chegaram a pensar em castigar o homem severamente, deixando de ajudá-lo. Mas, por fim, preferiram pensar em coisas boas e alegres. Antes de se despedir, decidiram deixar uma recordação ao planeta deste encontro. Queriam criar algo que trouxesse em sua essência a contribuição de cada um dos elementos, combinados com harmonia e beleza. Sentados à beira do lago, vendo suas próprias imagens refletidas, cada um deu sua sugestão e muitas ideias foram trocadas. Até que um deles sugeriu que usassem o próprio lago como origem. Que tal um ser vivo que surgisse da água e se crescesse em direção ao céu? Um vegetal, talvez? Decidiram- se, então, por uma planta que tivesse suas raízes rente à terra, crescesse pela água e chegasse à plenitude do ar. Ofereceram, cada um, o seu próprio dom. A Terra disse: “darei o melhor de mim para alimentar suas raízes”. A Água foi a próxima: “Fornecerei a linfa que corre em meus seios, para trazer-lhe força para o crescimento de sua haste”. “E eu lhe cercarei com minhas melhores brisas, dando-lhe minha energia e atraindo sua flor”, disse o Ar. Então o Fogo, para finalizar o projeto, escolheu o que de melhor tinha a oferecer: “ofereço o meu calor, através do sol, trazendo-lhe a beleza das cores e o impulso do desabrochar”. Juntos, puseram-se a trabalhar, detalhe a detalhe, na sua criação conjunta. Quando finalizaram sua obra, puderam se despedir em alegria, deixando sobre o lago a beleza da flor que se abria para o sol nascente. Assim, em vez de punir o ser humano, os quatro irmãos deixaram-lhe uma lembrança da pureza da criação e da perfeição que o homem pode um dia alcançar. Deixe desabrochar o lótus que há em você! Que sua vida fale por você. Você nasceu para ser feliz. Seja luz no mundo.