Os três poemas analisados se enquadram no período literário do Classicismo do século XVI, caracterizado pela presença de figuras mitológicas e estrutura fixa dos sonetos. Os poemas de Camões retratam os conflitos humanos através da expressão dos sentimentos do eu-lírico, como saudade, tristeza e sofrimento.
2. O DIA EM QUE EU NASCI, MOURA E
PEREÇA
O dia em que eu nasci, moura e
pereça,
não o queira jamais o tempo
dar,
não torne mais ao mundo, e, se
tornar,
eclipse nesse passo o sol
padeça.
luz lhe falte, o sol se [lhe]
escureça,
mostre o mundo sinais de se
acabar,
nasçam-lhe monstros, sangue
chova o ar,
a mãe ao próprio filho não
conheça.
as pessoas pasmadas de
ignorantes,
as lágrimas no rosto, a cor
3. ANÁLISE CONTEÚDO E FORMA
Eu-lírico
- O eu-poemático no texto não é
explicitamente identificado, mas conta, em
primeira pessoa, sobre como o dia em que ele
nasceu foi um dia desgraçado e amaldiçoado.
- Ele narra que nesse dia, o mundo passa por
um eclipse, que indica o fim dos tempos/da
luz e diz que ele nunca deveria ter nascido.
“este dia deitou ao mundo a vida
mais desgraçada que jamais se viu!”
“cuidem que o mundo já se destruiu”
- Sentimentos de tristeza sobre o seu
nascimento
Rimas
- Interpoladas (ABBA, ABBA, CDE, CDE)
Métrica
cui/dem /que o /mun/do/ já /se /des/tru/iu
10 Sílabas – Decassílabo
Figuras de linguagem
- Hipérbole -> Exagero ao falar que a
vida dele é pior do que a de todas as
pessoas
“a vida mais desgraçada que jamais se
viu”
-Apóstrofe -> Interpelação com
ênfase
“Ó gente temerosa”
- Metáfora -> Comparação sem o
termo comparativo
“Nascam-lhe monstros”
Ele é o monstro
4. O CÉU, A TERRA, O VENTO
SOSSEGADO
O céu, a terra, o vento sossegado...
As ondas, que se estendem pela
areia...
Os peixes, que no mar o sono
enfreia...
O nocturno silêncio repousado...
O pescador Aónio, que, deitado
onde co vento a água se meneia,
chorando, o nome amado em vão
nomeia,
que não pode ser mais que
nomeado:
Ondas (dezia), antes que Amor me
mate,
torna -me a minha Ninfa, que tão
cedo
me fizestes à morte estar sujeita.
Ninguém lhe fala; o mar de longe
bate;
5. ANÁLISE CONTEÚDO E FORMA
Eu-lírico
- O eu-poemático é um narrador que fala
sobre uma praia onde se encontra um
pescador chamado Aónio.
- O pescador está deitado na praia e
chora pela morte de sua Ninfa. Ele pede
para que ela volte, mas nada acontece.
- Sentimento de saudade e tristeza
Rimas
- Interpoladas (ABBA, ABBA, CDE, CDE)
Métrica
O/ pes/ca/dor/ A/ó/nio,/ que,/ dei/ta/do
10 Sílabas – Decassílabo
Figuras de linguagem
- Hipérbato -> A ordem da oração
está em uma ordem incomum
“move -se brandamente o arvoredo”
O arvoredo se move brandamente
- Perífrase -> Refere a um lugar por
suas características
“onde co vento a água se meneia” ->
Praia
6. NA RIBEIRA DO EUFRATES ASSENTADO
Na ribeira do Eufrates assentado,
discorrendo me achei pela memória
aquele breve bem, aquela glória,
que em ti, doce Sião, tinha passado.
Da causa de meus males perguntado
me foi: Como não cantas a história
de teu passado bem, e da vitória
que sempre de teu mal hás alcançado?
Não sabes que, a quem canta, se lhe esquece
o mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte.
Respondo com suspiros: Quando crece
a muita saudade, o piadoso
remédio é não cantar senso a morte.
7. ANÁLISE CONTEÚDO E FORMA
Eu-lírico
- O eu-poemático está na beira do rio
Eufrates lembrando de seu passado e
sente saudade de Sião (fortaleza perto de
Jerusalém).
- Alguém pergunta pra ele o motivo dele
não comemorar seu passado, ele
responde que quando se sente muita
saudade, o remédio é esquecer a morte.
- Sentimento de saudade de Sião e
tristeza
Rimas
- Interpoladas (ABBA, ABBA, CDE, CDE)
Métrica
a/que/le/ bre/ve/ bem,/ a/que/la/
Figuras de linguagem
- Anáfora -> Repetição de palavras
“aquele breve bem, aquela glória,”
- Hipérbato -> A ordem da oração
está em uma ordem incomum
“que em ti, doce Sião, tinha passado.”
Que tinha passado em ti, doce Sião
- Elipse -> Omissão de termo
“Como não cantas”
Como (tú) não cantas
8. EM QUAL PERÍODO HISTÓRICO-
LITERÁRIO OS POEMAS SE
ENQUADRAM?
• Camões viveu durante o século XVI e se enquadra no período
Classicista.
• O escritor foi símbolo do período por apresentar características
como:
- Presença de figuras da mitologia pagã, que retomam a Cultura
Clássica (Grécia + Roma), por isso o nome Classicismo.
“Ninfa”, “Amor” -> Com letra maiúscula (deus)
- Escrever sonetos com estruturas fixas (Metrificados, em forma de
soneto italiano)
- Além disso, os poemas de Camões são focados no ser humano
(pensamento antropocentrista) e não em Deus (pensamento
teocentrista), indicando sua diferença do período do barroco.
• Os conflitos humanos são retratados nos poemas pela expressão dos
sentimentos do eu-lírico, que geralmente envolvem o sofrimento, a