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NEOMEDIEVALISMO
O QUE ESTE CONCEITO SIGNIFICA?
Prof. Pedro Henrique Medeiros
é um conceito relativamente
recente que busca explicar as
bases do pensamento e da
atitude de determinados
setores da sociedade que têm
se apropriado de forma
romântica dos elementos
medievais em uma crítica ou
rejeição à modernidade.
NEOMEDIEVALISMO
As ideias e as ações com as quais o conceito de
neomedievalismo tem lidado são antigas e
remontam, principalmente, ao século XIX.
O conceito teria surgido
durante a década de 1970,
pelos escritos de um dos
mais populares
medievalistas mundiais,
Umberto Eco, o autor do
romance histórico O Nome
da Rosa, adaptado para o
cinema em 1986, com a
atuação de Sean Connery,
como protagonista.
O próprio romance de Umberto Eco, era a sua
tentativa de contribuir de forma empírica com o
significado de neomedievalismo, ou seja, a
apropriação imaginativa da Idade Média.
Para Eco, essa apropriação não estava restrita
ao pensamento político ou religioso.
A indústria do
entretenimento
teria sido um dos
principais
instrumentos para
fortalecer essa
imagem romântica
do medievo, via
Disney com suas
histórias de
princesas, por
exemplo.
Filme
O
Nome
da
Rosa
Walt Disney World
Assim, o campo de estudos do neomedievalismo
teria como principal objetivo o estudo das
apropriações do tempo medieval na modernidade,
não do período da Idade Média.
Agora, eu te convido a começar a vislumbrar
alguns aspectos curiosos que estão envoltos neste
conceito.
1º. Neomedievalismo e
América Latina
Os historiadores Clínio
Amaral, Maria Eugênia
Bertarelli e Nadia Altschul,
em artigo publicado em 2021,
com o título O que é o
Neomedievalismo? destacam
que o conceito contribui para
dar bases para a produção de
uma historiografia que não
precise depender das
referências teóricas
europeias.
Ou seja, ao contrário do que defendem
historiadores como Jacques Le Goff e
Jérôme Baschet, não houve uma Idade
Média de longa duração transmutada da
Europa para as Américas, mas nas
Américas houve algo novo, apesar de
remontar a algo antigo:
Clinio Amaral
Nadia Altschul
“O que é fundamental que
possamos fazer é
compreender como um
complexo mecanismo de
apropriações de um
imaginário, já inventado e
mobilizado, desde o século
XVI, produziu algo novo e
suis generis deste lado do
Atlântico.”
2º. Neomedievalismo e catolicismo
O uso do conceito para os estudos da religião é
ainda mais recente. Porém, as descobertas já têm
sido significativas, dentre elas, estão aquelas que
demonstram como essa apropriação não é uma
exclusividade dos católicos.
É certo que o pensamento
católico no século XIX,
principalmente sob a
liderança de Pio IX, com a
encíclica Quanta Cura com
o Syllabus Errorum (1864) e
o Concílio Vaticano I
(1870), moveu-se de forma
a rejeitar de forma ampla
tudo o que estava
relacionado ao conceito de
modernidade. No Brasil, a
Reforma Ultramontana
seguiu este caminho.
Porém, há estudos que demonstram que essa
apropriação também ocorreu entre
neopentecostais. Um exemplo é o artigo mais
recente do prof. Clínio Amaral: Neomedievalism
and the Hagiography of Valdemiro Santiago:
neopentecostal sanctification.
3º. Neomedievalismo e
tradicionalismo
Por fim, outro aspecto
curioso e polêmico está
relacionado ao uso do
conceito para estudos do
pensamento político.
Um olhar superficial sobre
o conceito pode levar ao
equívoco de considerar que
apenas os tradicionalistas
sustentam suas ideias sobre
bases neomedievais.
Pio IX
Arautos do Evangelho
Porém, no mesmo dossiê organizado por Amaral,
Bertarelli e Altschul, há artigos que demonstram
como a apropriação medieval tem sido utilizada
tanto pelo espectro político da direita quanto da
esquerda progressista, incrível, não?
Um exemplo citado foi como os revoltosos do Chile,
em 2019, utilizaram esses elementos.
O santo Matacapos, um cão vira-
lata, foi posto como o protetor dos
revoltosos. A referência pode
remeter, neste caso, a são
Guinefort, que jamais foi
reconhecido como santo pela
Igreja Católica, mas que recebeu
uma devoção no sul da França,
entre os séculos 12 e 13.
Como você pôde ver, o conceito é
muito rico e é bem mais complexo
do que poderíamos imaginar.
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Prof. Pedro Henrique Medeiros

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NEOMEDIEVALISMO: O QUE ESTE CONCEITO SIGNIFICA?

  • 1. NEOMEDIEVALISMO O QUE ESTE CONCEITO SIGNIFICA? Prof. Pedro Henrique Medeiros é um conceito relativamente recente que busca explicar as bases do pensamento e da atitude de determinados setores da sociedade que têm se apropriado de forma romântica dos elementos medievais em uma crítica ou rejeição à modernidade. NEOMEDIEVALISMO
  • 2. As ideias e as ações com as quais o conceito de neomedievalismo tem lidado são antigas e remontam, principalmente, ao século XIX. O conceito teria surgido durante a década de 1970, pelos escritos de um dos mais populares medievalistas mundiais, Umberto Eco, o autor do romance histórico O Nome da Rosa, adaptado para o cinema em 1986, com a atuação de Sean Connery, como protagonista. O próprio romance de Umberto Eco, era a sua tentativa de contribuir de forma empírica com o significado de neomedievalismo, ou seja, a apropriação imaginativa da Idade Média. Para Eco, essa apropriação não estava restrita ao pensamento político ou religioso. A indústria do entretenimento teria sido um dos principais instrumentos para fortalecer essa imagem romântica do medievo, via Disney com suas histórias de princesas, por exemplo. Filme O Nome da Rosa Walt Disney World
  • 3. Assim, o campo de estudos do neomedievalismo teria como principal objetivo o estudo das apropriações do tempo medieval na modernidade, não do período da Idade Média. Agora, eu te convido a começar a vislumbrar alguns aspectos curiosos que estão envoltos neste conceito. 1º. Neomedievalismo e América Latina Os historiadores Clínio Amaral, Maria Eugênia Bertarelli e Nadia Altschul, em artigo publicado em 2021, com o título O que é o Neomedievalismo? destacam que o conceito contribui para dar bases para a produção de uma historiografia que não precise depender das referências teóricas europeias. Ou seja, ao contrário do que defendem historiadores como Jacques Le Goff e Jérôme Baschet, não houve uma Idade Média de longa duração transmutada da Europa para as Américas, mas nas Américas houve algo novo, apesar de remontar a algo antigo: Clinio Amaral Nadia Altschul “O que é fundamental que possamos fazer é compreender como um complexo mecanismo de apropriações de um imaginário, já inventado e mobilizado, desde o século XVI, produziu algo novo e suis generis deste lado do Atlântico.”
  • 4. 2º. Neomedievalismo e catolicismo O uso do conceito para os estudos da religião é ainda mais recente. Porém, as descobertas já têm sido significativas, dentre elas, estão aquelas que demonstram como essa apropriação não é uma exclusividade dos católicos. É certo que o pensamento católico no século XIX, principalmente sob a liderança de Pio IX, com a encíclica Quanta Cura com o Syllabus Errorum (1864) e o Concílio Vaticano I (1870), moveu-se de forma a rejeitar de forma ampla tudo o que estava relacionado ao conceito de modernidade. No Brasil, a Reforma Ultramontana seguiu este caminho. Porém, há estudos que demonstram que essa apropriação também ocorreu entre neopentecostais. Um exemplo é o artigo mais recente do prof. Clínio Amaral: Neomedievalism and the Hagiography of Valdemiro Santiago: neopentecostal sanctification. 3º. Neomedievalismo e tradicionalismo Por fim, outro aspecto curioso e polêmico está relacionado ao uso do conceito para estudos do pensamento político. Um olhar superficial sobre o conceito pode levar ao equívoco de considerar que apenas os tradicionalistas sustentam suas ideias sobre bases neomedievais. Pio IX Arautos do Evangelho
  • 5. Porém, no mesmo dossiê organizado por Amaral, Bertarelli e Altschul, há artigos que demonstram como a apropriação medieval tem sido utilizada tanto pelo espectro político da direita quanto da esquerda progressista, incrível, não? Um exemplo citado foi como os revoltosos do Chile, em 2019, utilizaram esses elementos. O santo Matacapos, um cão vira- lata, foi posto como o protetor dos revoltosos. A referência pode remeter, neste caso, a são Guinefort, que jamais foi reconhecido como santo pela Igreja Católica, mas que recebeu uma devoção no sul da França, entre os séculos 12 e 13. Como você pôde ver, o conceito é muito rico e é bem mais complexo do que poderíamos imaginar. COMPARTILHE Se você gostou dessa história e quer que outros também conheçam! Prof. Pedro Henrique Medeiros