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LIVRE COM UM LIVRO
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades
Exílio, Sophia de Mello Breyner Andresen
Página 2 de 23
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teu nome que no peito trago escrito
laranja verde limão
amargo e doce o teu nome.
Sobre esta página escrevo
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água e fogo lenha vento
primavera pátria exílio.
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Página 3 de 23
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Amor e morte. Navio.
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por quem morro por quem vivo
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por quem livre sou cativo.
Sobre esta página escrevo o
teu nome: liberdade.
Liberdade, Manuel Alegre
Página 4 de 23
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Página 5 de 23
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
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Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
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direitos e ao céu voltados.
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vi sempre os ombros curvados.
Página 6 de 23
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
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vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Página 7 de 23
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo
Página 8 de 23
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Página 9 de 23
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Trova do vento que passa, Manuel Alegre
Página 10 de 23
— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
Página 11 de 23
— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
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Página 12 de 23
Até que um dia, corajosamente,
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— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Liberdade, Miguel Torga
Página 13 de 23
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades
Exílio, Sophia de Mello Breyner Andresen
Página 14 de 23
Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.
Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
Página 15 de 23
Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.
Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
Página 16 de 23
Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.
Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.
Portugal Ressuscitado, José Carlos Ary dos Santos
Página 17 de 23
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Página 18 de 23
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Página 19 de 23
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Esta Gente, Sophia de Mello Breyner Andresen
Página 20 de 23
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Livre com um livro

  • 1. Página 1 de 23 LIVRE COM UM LIVRO Quando a pátria que temos não a temos Perdida por silêncio e por renúncia Até a voz do mar se torna exílio E a luz que nos rodeia é como grades Exílio, Sophia de Mello Breyner Andresen
  • 2. Página 2 de 23 Sobre esta página escrevo teu nome que no peito trago escrito laranja verde limão amargo e doce o teu nome. Sobre esta página escrevo o teu nome de muitos nomes feito água e fogo lenha vento primavera pátria exílio. Teu nome onde exilado habito e canto mais do que nome: navio onde já fui marinheiro naufragado no teu nome.
  • 3. Página 3 de 23 Sobre esta página escrevo o teu nome: tempestade. E mais do que nome: sangue. Amor e morte. Navio. Esta chama ateada no meu peito por quem morro por quem vivo este nome rosa e cardo por quem livre sou cativo. Sobre esta página escrevo o teu nome: liberdade. Liberdade, Manuel Alegre
  • 4. Página 4 de 23 Pergunto ao vento que passa notícias do meu país e o vento cala a desgraça o vento nada me diz. Pergunto aos rios que levam tanto sonho à flor das águas e os rios não me sossegam levam sonhos deixam mágoas. Levam sonhos deixam mágoas ai rios do meu país minha pátria à flor das águas para onde vais? Ninguém diz.
  • 5. Página 5 de 23 Se o verde trevo desfolhas pede notícias e diz ao trevo de quatro folhas que morro por meu país. Pergunto à gente que passa por que vai de olhos no chão. Silêncio -- é tudo o que tem quem vive na servidão. Vi florir os verdes ramos direitos e ao céu voltados. E a quem gosta de ter amos vi sempre os ombros curvados.
  • 6. Página 6 de 23 E o vento não me diz nada ninguém diz nada de novo. Vi minha pátria pregada nos braços em cruz do povo. Vi minha pátria na margem dos rios que vão pró mar como quem ama a viagem mas tem sempre de ficar. Vi navios a partir (minha pátria à flor das águas) vi minha pátria florir (verdes folhas verdes mágoas).
  • 7. Página 7 de 23 Há quem te queira ignorada e fale pátria em teu nome. Eu vi-te crucificada nos braços negros da fome. E o vento não me diz nada só o silêncio persiste. Vi minha pátria parada à beira de um rio triste. Ninguém diz nada de novo se notícias vou pedindo nas mãos vazias do povo vi minha pátria florindo
  • 8. Página 8 de 23 E a noite cresce por dentro dos homens do meu país. Peço notícias ao vento e o vento nada me diz. Quatro folhas tem o trevo liberdade quatro sílabas. Não sabem ler é verdade aqueles pra quem eu escrevo. Mas há sempre uma candeia dentro da própria desgraça há sempre alguém que semeia canções no vento que passa.
  • 9. Página 9 de 23 Mesmo na noite mais triste em tempo de servidão há sempre alguém que resiste há sempre alguém que diz não. Trova do vento que passa, Manuel Alegre
  • 10. Página 10 de 23 — Liberdade, que estais no céu... Rezava o padre-nosso que sabia, A pedir-te, humildemente, O pio de cada dia. Mas a tua bondade omnipotente Nem me ouvia.
  • 11. Página 11 de 23 — Liberdade, que estais na terra... E a minha voz crescia De emoção. Mas um silêncio triste sepultava A fé que ressumava Da oração.
  • 12. Página 12 de 23 Até que um dia, corajosamente, Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado, Saborear, enfim, O pão da minha fome. — Liberdade, que estais em mim, Santificado seja o vosso nome. Liberdade, Miguel Torga
  • 13. Página 13 de 23 Quando a pátria que temos não a temos Perdida por silêncio e por renúncia Até a voz do mar se torna exílio E a luz que nos rodeia é como grades Exílio, Sophia de Mello Breyner Andresen
  • 14. Página 14 de 23 Depois da fome, da guerra da prisão e da tortura vi abrir-se a minha terra como um cravo de ternura. Vi nas ruas da cidade o coração do meu povo gaivota da liberdade voando num Tejo novo. Agora o povo unido nunca mais será vencido nunca mais será vencido
  • 15. Página 15 de 23 Vi nas bocas vi nos olhos nos braços nas mãos acesas cravos vermelhos aos molhos rosas livres portuguesas. Vi as portas da prisão abertas de par em par vi passar a procissão do meu país a cantar. Agora o povo unido nunca mais será vencido nunca mais será vencido
  • 16. Página 16 de 23 Nunca mais nos curvaremos às armas da repressão somos a força que temos a pulsar no coração. Enquanto nos mantivermos todos juntos lado a lado somos a glória de sermos Portugal ressuscitado. Agora o povo unido nunca mais será vencido nunca mais será vencido. Portugal Ressuscitado, José Carlos Ary dos Santos
  • 17. Página 17 de 23 Esta gente cujo rosto Às vezes luminoso E outras vezes tosco Ora me lembra escravos Ora me lembra reis Faz renascer meu gosto De luta e de combate Contra o abutre e a cobra O porco e o milhafre
  • 18. Página 18 de 23 Pois a gente que tem O rosto desenhado Por paciência e fome É a gente em quem Um país ocupado Escreve o seu nome E em frente desta gente Ignorada e pisada Como a pedra do chão E mais do que a pedra Humilhada e calcada
  • 19. Página 19 de 23 Meu canto se renova E recomeço a busca De um país liberto De uma vida limpa E de um tempo justo Esta Gente, Sophia de Mello Breyner Andresen