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1
Memórias de Leônidas do Amaral Vieira1
(Vovô2
Major, 1949)
Em nossa terra, toda e qualquer pessoa que aprende a ler ou a soletrar,
julga-se desde logo jornalista, escritor ou literato. E, não há por esse Brasil afora
quem não deixe no seu inventário, pelo menos, um "diário". Como somos cretinos...
E esse cretinismo tanto mais se agiganta, avulta e cresce quanto mais os anos
saturam a nossa existência. Alimentamos a presunção de que não somos daqueles
que se enfileiram ou se alistam entre os cretinóides do Brasil.
Classificamo-nos no grupo ou no pelotão dos mal
alfabetizados. E, com essa credencial, vamos também deixar
nossa “lembrança” em letras indeléveis. Todo ser humano,
afirma a sabedoria popular, para bem cumprir sua passagem
ou missão pelo globo, deve deixar à posteridade uma árvore
plantada, um livro escrito e um filho. Da nossa parte já
plantamos a árvore, já temos o filho, faltando tão somente o
livro para, satisfazer o rifão popular. Este virá? Duvidamos. O
nosso receio pelo ridículo é apavorante. E por isso,
possivelmente, o livro não aparecerá. Estas memórias o
substituirá e nelas procuraremos ser sinceros, honestos e
precisos. Nada esconderemos ou ocultaremos do que nos vai
pela alma e pelo coração. Estas linhas são escritas para a família e o que nelas se
contém e declara são o reflexo da nossa vida, o espelho da nossa atuação, o retrato
do nosso interior.
Educados que fomos pela nossa Mãe, aprendemos ao seu regaço e ao seu
aconchego, a amar a Deus, perdoar aos homens e cultivar a honestidade. Dentro
destes princípios vivemos até hoje. Não temos ainda do que nos arrepender. Esses
ensinamentos sublimes, que haurimos nos refolhos do coração de Mãe, procuramos
transmitir aos nossos filhos, com todas as veras da nossa alma.
O NOSSO CASAMENTO
Mal saídos da infância, ainda adolescentes, encontramos aquela que é a
nossa companheira na luta pela Vida. Casamento feliz e promissor Identidade de
religião, de cultura, de educação. Duas crianças presas pelo amor, algemadas pelo
afeto e irmanadas pelos mesmos sentimentos, assumem o mais sublime
compromisso da vida: a construção do lar, a constituição da prole e a sua defesa.
Abençoados na Fé Católica, agarrados à esperança, confiantes no futuro partem em
busca de novos horizontes. Como capital possuem o amor, e como crédito a
honestidade e como financiamento a amizade. Assim equipados, assim municiados
e assim armados, confiaram na vitória. E ela veio mansa, tranquila e dadivosa.
25 de Março de 1911 evoca-nos o dia festivo e feliz: a Igreja enfeitada, a
marcha nupcial, a cerimônia, os convidados, enfim. Tarde esplêndida de sol, cheia
de luz, saturada de flores. Dir-se-ia a felicidade a cantar um poema de amor aos
nossos ouvidos. Mais um lar se construía. Mais dois corações que se uniam. Mais
duas vidas que se irmanavam. E as bênçãos de Deus caíram sobre nossas cabeças.
E a Graça da Virgem derramou-se em catadupas, envolvendo-nos. E assim
começamos a vida, cheios de Fé e de Esperanças. E os prognósticos se
1
Leônidas do Amaral Vieira, farmacêutico em Santa Cruz do Rio Pardo (07-Jul-1889~1949)
2
Avô de Rita Barbosa Canto, fonoaudióloga em São Paulo (12-Nov-1951~)
2
cristalizaram: a felicidade que sonhamos, transformou-se em magnífica realidade.
A ESPOSA
A Maria3
é a esposa fiel, a companheira esplendida, a amiga sem par que
mais aparece, vive e realça quando a procela ronda, a nossa porta ou a tempestade
sobe à nossa janela. Nas horas de bonança ou nos momentos de mar revolto nunca
nos faltou, jamais deixando de nos defender, de nos encorajar e de nos aconselhar,
com a sua bondade e com a sua Fé. Felizes dos que tal Graça podem obter ou
alcançar. Mal começamos a nossa vida em comum revelou-se a esposa
amantíssima, a companheira altiva, a mulher adorável, que sem desfalecimentos,
construiu o nosso lar magnífico, cheio de amor e de encantamento. Vieram os filhos
– um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete. E a mulher corajosa e indômita,
desdobrou-se em energias e trabalhos qual Deusa do Bem e da Família. Ora nos
serviços da casa, outras vezes na sua profissão de mestre escola e sempre na sua
missão Sagrada de Mãe disposta, alegre e conformada, contribuiu poderosamente
para a felicidade que desfrutamos. Trinta e oito anos de casados, 38 anos de vida
em sociedade e parceria. E as pequeninas rusgas que surgem, jamais empanam a
felicidade conjugal. Tudo perdoa, tudo esquece ou olvida, para que não se quebre
ou parta a harmonia reinante no lar. Nunca nos deu qualquer aborrecimento ou
desgosto, somente alegria nos proporcionou. As ligeiras desavenças, tão
corriqueiras entre casais, devemos confessar, partem sempre de nós. E ela, boa e
carinhosa, sensível e amorosa sempre nos desculpa. Gostosamente aqui
confessamos, como homenagem à companheira de todos os tempos: nunca nos
deu motivos ou razões para a mais leve ou ligeira queixa.
Em 1930, quando a revolução "gaucha" triunfava sobre o poder constituído e
os "lenços vermelhos”, ao léu do vento, balançavam nos pescoços “aguerridos” dos
“paulistas", ela não desanimou, não se entregou, não se lamentou. Quando os
covardes nos abandonaram, a sorte nos foi adversa e a miséria caiu inexorável
sobre nós, ela com incrível coragem se fez novamente mestre escola, para que o
pão não faltasse. Devido à sua energia, à sua Fé e à sua alta compreensão, a nossa
vida continuou a mesma.
Os homens são egoístas, maus, incompreensíveis. Tudo exigem e nada
oferecem... Como devemos fazê-la sofrer e, no entanto, nem um queixume, nem
uma manifestação de azedume nem uma “cara feia” até hoje! Afirmamos porém, que
a nossa vida, o nosso afeto e o nosso carinho somente a ela pertencem. Depois que
Deus abençoou o nosso casamento, após a nossa união sagrada e indissolúvel,
repetimos, o nosso pensamento só a ela pertence. A vida é boa, feliz e risonha
quando se tem a sorte de encontrar no refúgio do lar, no aconchego da esposa, no
carinho da companheira, a paz, a amizade, o amor. Essa trilogia jamais faltou em
nossa casa. E, quanto mais o tempo passa, quanto mais a velhice se avizinha e,
sobretudo quanto mais nos aproximamos do fim, cresce o nosso afeto, a nossa
gratidão e a nossa amizade à esposa que o Criador nos ofertou. Somos daqueles
que não podem, sem gravame à justiça, queixar-se da vida. Tivemos altos e baixos,
sofremos injustiças, recebemos ingratidões, porém nada conseguiu afetar o recesso
do nosso lar, que continua lago manso azul, devido ao coração bem formado da
mulher, da esposa, da companheira. A pedra angular, o arcabouço da vida que
vivemos, não é senão o reflexo da firmeza da rainha do nosso coração, daquela que
ao pé do altar jurou nos amar e defender. Não o sabemos o que nela mais admirar:
se a sua inteligência aprimorada, se o seu grande coração ou se a sensibilidade de
3
Maria Lydia Fonseca Vieira, professora em São Paulo (14-Jan-1890~08-Mar-1958)
3
sua alma justa. Seja lá o que for o certo é que a ela devemos: conforto, afeto e
amizade. Os contratempos não a modificam, não a enervam, não a perturbam.
Sempre disposta tudo vence, tudo controla, tudo olvida, para o bem do casal. Sua
vida modificou-se inteiramente após o casamento. Moça nascida, criada e educada
na Capital, nunca teve oportunidade de travar conhecimento com o Interior paulista,
jamais conviveu com a gente cabocla do sertão. No entanto não se amedrontou em
acompanhar-nos ao “mato”. Adaptou-se a ele, aceitou o desconforto, admitiu as
provações, por nosso amor. Dir-se-á que é dever da mulher seguir o destino do
marido. Mas esse dever cristaliza-se e fixa-se quando a mulher é corajosa, boa e de
bons sentimentos. Esposa, Mãe ou “Dinda”, é ela o traço de união e de
confraternização entre todos nós. O casamento é uma maravilha, a vida um encanto,
o amor uma dádiva, quando se encontra um coração boníssimo que perdoa, que
ama, que compreende. A felicidade conjugal existe, palpável, perfeita, cristalina
quando a esposa é dócil, amorosa, inteligente. Dessa felicidade desfrutamos.
Aquela que escolhemos para Mãe de nossos filhos, avó de nossos netos e
companheira de nossa vida, faz jus à nossa satisfação de viver. Calma, serena e,
sobretudo, refletida, desculpa, absolve e até esconde ou disfarça as nossas
“malfeitorias”. E assim agindo, dignifica o lar e a nossa vida não sofre solução de
continuidade. E o nosso barco, defendendo-se das tempestades, desviando-se dos
vendavais navega, com a esposa ao leme, ao porto onde os bem-aventurados
constroem o seu tugúrio. Criatura adorável. Não sabe malquerer. Desconhece o
ódio. Despreza as intrigas. No seu coração não se aninha a inveja, não se agasalha
a cobiça ou a ambição desmedida. Simples, bom, honesto, generoso, honrado e
brioso, tem sido o nosso Anjo da Guarda. Não podemos deixar de consignar a sua
Fé inabalável, a sua confiança inalterável e a sua crença fervorosa, mesmo nos
instantes cruciantes ou torturantes, nos destinos da nossa união. Sua vida tem sido
de trabalho, de renúncia e de virtude. O seu anseio, o seu desejo, o seu ideal não
tem sido outro senão o de oferecer sua contribuição para a nossa constante
felicidade. Coração forrado de nobreza, alma coberta de bons sentimentos, vida
engrandecida pelo trabalho, conquistou a benemerência de todos que a conhecem e
com ela tem contato. Sua sogra votava-lhe especial estima, confundindo-a com suas
próprias filhas. Nossa Mãe dedicava-lhe verdadeiro amor e por ela tinha grande
adoração. Nada mais é necessário dizer-se para recomendá-la à estima e gratidão
de toda a nossa família. Ela soube encarnar, na mais forte expressão do termo, a
esposa, a Mãe e a nora.
A vida é manso lago azul, algumas vezes, outras vezes é mar fremente...
Nossa vida, lago azul ou mar fremente nunca se modifica. A companheira é sempre
a mesma criatura impassível, digna e altaneira. As intempéries não a abatem, não
diminuem a sua confiança, não alteram a sua vontade. Como mulher, sabe cativar e
atrair, sem maliciar. Cultiva a vaidade feminina, sem se exceder. Acompanha a
moda sem se escravizar. Adora a música, namora a arte e pratica a literatura com
sensibilidade, com gosto, com naturalidade. Aqui fica retratada ao natural a mulher
que é a nossa vida, o nosso encanto, o nosso amor. Não exageramos. Não
mudamos o curso de uma vida sã e nobre, apenas a constatamos. Na minha falta,
tudo que os filhos, genros e noras fizerem por ela, não será demais e não pagará o
que ela fez por todos.
O MARIDO
Sentimos que o dia final se aproxima e que a vida está se apagando. O nosso
estado de saúde é precário. O nosso organismo cambaleia. O nosso físico se abate.
4
O coração que sempre pulsou para o amor, para o bem e para a vida, encontra-se
desajustado. As coronárias emperraram. A "horta" esterilizou-se. O ventrículo e a
aurícula não se entendem mais. O sangue engrossa assustadoramente. É a velhice,
a senilidade, a decrepitude. Somente restam intactos, a coragem, a Fé e a honra,
que exclusivamente o túmulo nos arrebatará. Não tememos a morte, não nos
assustamos com o Além, não nos apavoramos com o Desconhecido. Temos Fé'. Ela
nos encoraja e anima para receber a sentença final. Chegou o dia da confissão, o
momento das verdades, a época da confidencia. Eis as razões destas "memórias".
Sobre a, esposa, a companheira, a amiga, que guardamos dentro de redoma
de fino cristal, resguardando-a e imunizando-a da maldade infinita da humanidade,
já nos externamos. Agora, nós. O que poderemos dizer? Somos bons? Somos
maus? Penoso dilema. Se considerarmo-nos bons, será elogio em boca própria... Se
afirmarmo-nos maus, não passaremos de imbecis. O que fazer? Não temos senão
que nos situarmos no meio termo, nem bons, nem maus. Ficamos no meio. Ainda
bem que no meio está a virtude “segundo afirma o Conselheiro Acácio”. Somos
puros. Não. A pureza é dádiva celeste, pertence aos bem aventurados, tocados pela
Graça Divina. Somos pecadores. Sofremos a influência da geração pagã da
atualidade, que nos arrebatou as conquistas do passado. Fomos obrigados por
forças incoercíveis das circunstâncias, a evoluir para pior. A dissolução campeia, em
disparada. A devassidão empolga a mocidade. A imoralidade incrusta-se nos
velhos. Triste verdade. Cruel realidade. Nem as práticas religiosas dos Padres, nem
as Pastorais dos Príncipes da Igreja e tão pouco as Encíclicas Papais, conseguem
arrebanhar as ovelhas tresmalhadas. O existencialismo é moda. O concubinato
tornou-se prática, comum e corriqueira. A prostituição é tolerada. Eis o mundo em
que vivemos. Haverá remédio para essa situação? Tão cedo, não. O comunismo se
expande, o paganismo revive, o ateísmo prolifera. A geração vindoura será
plasmada com a mesma massa que tisna a presente e sepultará a futura. Temos
esperanças, não para os nossos dias, que o Criador se amerce da humanidade,
repondo-a no império do Bem, do Justo e do Honesto. A vida atual não atrai, não
compensa, não interessa. O materialismo reina, governa e domina. O espiritualismo
não encontra ambiente propício para subsistir, dentro do quadro emoldurado pelo
erotismo dos homens. Pobre humanidade.
Desviamo-nos um pouco da rota que nos propusemos palmilhar. Voltemos a
ela. Falemos de nós. O que fizemos de útil na vida? Qual a nossa contribuição à
Pátria e à Família? À Pátria demos um pouco, filhos para sua defesa e seu
engrandecimento. À Família oferecemos quase nada. Nossa será a culpa?
Pensamos que não. O pecado de nossa parcimônia pertence à humanidade má.
egoísta e ingrata que não ajuda, não facilita, não socorre os bem intencionados. O
mundo vive submerso na hipocrisia. Os homens cultivam o fingimento ou a
impostura. Enganar, tapear e destruir é a preocupação máxima da sociedade
hodierna. Fomos educados e crescidos para o Bem. Jamais praticamos o mal. E
assim, com armas tão desiguais, com mentalidades tão diferentes, não tivemos
senão que parar, hesitar, estacionar. A nossa boa fé choca-se com a insídia
humana. Apesar do trabalho intenso, da luta cotidiana, do mourejar incessante não
conseguimos amealhar ouro, para, acobertar a família de fortuitas necessidades. O
culto à honestidade que aprendemos com os nossos maiores, tem sido o catecismo
dentro do qual vivemos. Não nos foi possível encher o nosso "pé de meia",
honestamente. Desonestamente, nunca o faríamos transbordar. Muitas vezes nos
foi dado a "chance" de enriquecer. Tivemos várias oportunidades de tratar com o
dinheiro alheio e quanto mais com ele lidávamos, mais pobres ficávamos. Duas
5
vezes organizamos, a pedido do Governo, batalhões patrióticos, para a defesa da
legalidade. O Tesouro do Estado esteve ao nosso dispor. O dinheiro nos era
entregue sem fiscalização, sem exame, sem sindicância. Outra vez, como diretor de
Material da Secretaria da Educação, com verbas elásticas, com os fornecedores ao
nosso alcance e desfrutando da confiança dos superiores, podíamos, se o
quiséssemos, enriquecer. O nosso feitio, a nossa educação e o nosso sentimento
falaram sempre mais alto que a cobiça ao dinheiro. Dessas missões ou encargos
saímos, mercê de Deus, de cabeça erguida, sem termos do que nos envergonhar.
Será que a nossa atuação tem a aprovação dos filhos? Será que eles têm
orgulho do pai? Será que põem em dúvida o nosso proceder honesto como homem,
como político ou como administrador? Uma dúvida cruel assalta o nosso espírito e
toma vulto em nossa alma, quanto à resposta afirmativa. Realmente a nossa
atuação tem sido honesta? Essa dúvida cria corpo e se expande quando notamos
que nenhum dos netos tomou o nome do avô. Esse fato é sintomático, eloquente e
vivo! Será que o nosso nome afetaria o do neto? Rebuscando no passado e
procurando no presente não encontramos motivos reais para nos envergonhar.
Razões de outras ordens, acreditamos, influíram no espírito dos filhos, para não se
lembrarem dessa homenagem tão comum entre nós. Não estamos nos queixando,
não estamos censurando, não estamos condenando. Estamos, apenas,
constatando o fato. Poder-se-á dizer que a nossa estranheza não procede por que
nenhum dos nossos filhos tomou o nome do avô. Existe uma explicação para o caso.
A nenhum pusemos o nome do avô, o que muito desejávamos, pelo motivo de todos
conhecido. Não queríamos e não podíamos, de forma alguma, criar para a nossa
santa mãe qualquer constrangimento ou desgosto. Ela, como vítima, sentir-se-ia
humilhada com a nossa homenagem a quem tanto a magoou. Encerremos o
assunto sem mágoas.
Formados e casados aos 20 anos, não tivemos por assim dizer, mocidade.
Por isso, a boemia dos moços, a displicência dos rapazes e as extravagâncias dos
adolescentes não se manifestarem na ocasião propicia, para reviverem na velhice.
Daí algumas madrugadas, algumas noitadas alegres e algumas farras, agora.
Ora no pico do monte, ora na encosta do vale e muitas vezes palmilhando
estrada sinuosa, bem ou mal, criamos, educamos e instruímos nossos filhos para, a
luta incruenta da existência. De quebrada em quebrada, de moita em moita, de rio
em rio atravessamos a vida ajudando os necessitados, defendendo os fracos e
encorajando os tímidos.
Fizemos muito? Fomos úteis? Alcançamos a meta? Não o sabemos. O certo,
porém, é que demos tudo de nossa inteligência, do nosso esforço e de nossa
capacidade para sermos bom cidadão para a sociedade, bom chefe para a família e
bom filho para a Pátria. Podem acreditar que se mais não o fizemos foi por nos ter
faltado "engenho e arte".
Finalizando este capítulo queremos deixar consignado um erro que não
devíamos ter cometido e que foi praticamente por conta do nosso egoísmo e da
nossa vaidade. Demos o nosso nome a um dos filhos. Não o devíamos ter feito. E
agora ele tem que carregar para o resto da vida um nome que não escolheu.
Penitenciando-nos, pedimos-lhe desculpas.

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  • 1. 1 Memórias de Leônidas do Amaral Vieira1 (Vovô2 Major, 1949) Em nossa terra, toda e qualquer pessoa que aprende a ler ou a soletrar, julga-se desde logo jornalista, escritor ou literato. E, não há por esse Brasil afora quem não deixe no seu inventário, pelo menos, um "diário". Como somos cretinos... E esse cretinismo tanto mais se agiganta, avulta e cresce quanto mais os anos saturam a nossa existência. Alimentamos a presunção de que não somos daqueles que se enfileiram ou se alistam entre os cretinóides do Brasil. Classificamo-nos no grupo ou no pelotão dos mal alfabetizados. E, com essa credencial, vamos também deixar nossa “lembrança” em letras indeléveis. Todo ser humano, afirma a sabedoria popular, para bem cumprir sua passagem ou missão pelo globo, deve deixar à posteridade uma árvore plantada, um livro escrito e um filho. Da nossa parte já plantamos a árvore, já temos o filho, faltando tão somente o livro para, satisfazer o rifão popular. Este virá? Duvidamos. O nosso receio pelo ridículo é apavorante. E por isso, possivelmente, o livro não aparecerá. Estas memórias o substituirá e nelas procuraremos ser sinceros, honestos e precisos. Nada esconderemos ou ocultaremos do que nos vai pela alma e pelo coração. Estas linhas são escritas para a família e o que nelas se contém e declara são o reflexo da nossa vida, o espelho da nossa atuação, o retrato do nosso interior. Educados que fomos pela nossa Mãe, aprendemos ao seu regaço e ao seu aconchego, a amar a Deus, perdoar aos homens e cultivar a honestidade. Dentro destes princípios vivemos até hoje. Não temos ainda do que nos arrepender. Esses ensinamentos sublimes, que haurimos nos refolhos do coração de Mãe, procuramos transmitir aos nossos filhos, com todas as veras da nossa alma. O NOSSO CASAMENTO Mal saídos da infância, ainda adolescentes, encontramos aquela que é a nossa companheira na luta pela Vida. Casamento feliz e promissor Identidade de religião, de cultura, de educação. Duas crianças presas pelo amor, algemadas pelo afeto e irmanadas pelos mesmos sentimentos, assumem o mais sublime compromisso da vida: a construção do lar, a constituição da prole e a sua defesa. Abençoados na Fé Católica, agarrados à esperança, confiantes no futuro partem em busca de novos horizontes. Como capital possuem o amor, e como crédito a honestidade e como financiamento a amizade. Assim equipados, assim municiados e assim armados, confiaram na vitória. E ela veio mansa, tranquila e dadivosa. 25 de Março de 1911 evoca-nos o dia festivo e feliz: a Igreja enfeitada, a marcha nupcial, a cerimônia, os convidados, enfim. Tarde esplêndida de sol, cheia de luz, saturada de flores. Dir-se-ia a felicidade a cantar um poema de amor aos nossos ouvidos. Mais um lar se construía. Mais dois corações que se uniam. Mais duas vidas que se irmanavam. E as bênçãos de Deus caíram sobre nossas cabeças. E a Graça da Virgem derramou-se em catadupas, envolvendo-nos. E assim começamos a vida, cheios de Fé e de Esperanças. E os prognósticos se 1 Leônidas do Amaral Vieira, farmacêutico em Santa Cruz do Rio Pardo (07-Jul-1889~1949) 2 Avô de Rita Barbosa Canto, fonoaudióloga em São Paulo (12-Nov-1951~)
  • 2. 2 cristalizaram: a felicidade que sonhamos, transformou-se em magnífica realidade. A ESPOSA A Maria3 é a esposa fiel, a companheira esplendida, a amiga sem par que mais aparece, vive e realça quando a procela ronda, a nossa porta ou a tempestade sobe à nossa janela. Nas horas de bonança ou nos momentos de mar revolto nunca nos faltou, jamais deixando de nos defender, de nos encorajar e de nos aconselhar, com a sua bondade e com a sua Fé. Felizes dos que tal Graça podem obter ou alcançar. Mal começamos a nossa vida em comum revelou-se a esposa amantíssima, a companheira altiva, a mulher adorável, que sem desfalecimentos, construiu o nosso lar magnífico, cheio de amor e de encantamento. Vieram os filhos – um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete. E a mulher corajosa e indômita, desdobrou-se em energias e trabalhos qual Deusa do Bem e da Família. Ora nos serviços da casa, outras vezes na sua profissão de mestre escola e sempre na sua missão Sagrada de Mãe disposta, alegre e conformada, contribuiu poderosamente para a felicidade que desfrutamos. Trinta e oito anos de casados, 38 anos de vida em sociedade e parceria. E as pequeninas rusgas que surgem, jamais empanam a felicidade conjugal. Tudo perdoa, tudo esquece ou olvida, para que não se quebre ou parta a harmonia reinante no lar. Nunca nos deu qualquer aborrecimento ou desgosto, somente alegria nos proporcionou. As ligeiras desavenças, tão corriqueiras entre casais, devemos confessar, partem sempre de nós. E ela, boa e carinhosa, sensível e amorosa sempre nos desculpa. Gostosamente aqui confessamos, como homenagem à companheira de todos os tempos: nunca nos deu motivos ou razões para a mais leve ou ligeira queixa. Em 1930, quando a revolução "gaucha" triunfava sobre o poder constituído e os "lenços vermelhos”, ao léu do vento, balançavam nos pescoços “aguerridos” dos “paulistas", ela não desanimou, não se entregou, não se lamentou. Quando os covardes nos abandonaram, a sorte nos foi adversa e a miséria caiu inexorável sobre nós, ela com incrível coragem se fez novamente mestre escola, para que o pão não faltasse. Devido à sua energia, à sua Fé e à sua alta compreensão, a nossa vida continuou a mesma. Os homens são egoístas, maus, incompreensíveis. Tudo exigem e nada oferecem... Como devemos fazê-la sofrer e, no entanto, nem um queixume, nem uma manifestação de azedume nem uma “cara feia” até hoje! Afirmamos porém, que a nossa vida, o nosso afeto e o nosso carinho somente a ela pertencem. Depois que Deus abençoou o nosso casamento, após a nossa união sagrada e indissolúvel, repetimos, o nosso pensamento só a ela pertence. A vida é boa, feliz e risonha quando se tem a sorte de encontrar no refúgio do lar, no aconchego da esposa, no carinho da companheira, a paz, a amizade, o amor. Essa trilogia jamais faltou em nossa casa. E, quanto mais o tempo passa, quanto mais a velhice se avizinha e, sobretudo quanto mais nos aproximamos do fim, cresce o nosso afeto, a nossa gratidão e a nossa amizade à esposa que o Criador nos ofertou. Somos daqueles que não podem, sem gravame à justiça, queixar-se da vida. Tivemos altos e baixos, sofremos injustiças, recebemos ingratidões, porém nada conseguiu afetar o recesso do nosso lar, que continua lago manso azul, devido ao coração bem formado da mulher, da esposa, da companheira. A pedra angular, o arcabouço da vida que vivemos, não é senão o reflexo da firmeza da rainha do nosso coração, daquela que ao pé do altar jurou nos amar e defender. Não o sabemos o que nela mais admirar: se a sua inteligência aprimorada, se o seu grande coração ou se a sensibilidade de 3 Maria Lydia Fonseca Vieira, professora em São Paulo (14-Jan-1890~08-Mar-1958)
  • 3. 3 sua alma justa. Seja lá o que for o certo é que a ela devemos: conforto, afeto e amizade. Os contratempos não a modificam, não a enervam, não a perturbam. Sempre disposta tudo vence, tudo controla, tudo olvida, para o bem do casal. Sua vida modificou-se inteiramente após o casamento. Moça nascida, criada e educada na Capital, nunca teve oportunidade de travar conhecimento com o Interior paulista, jamais conviveu com a gente cabocla do sertão. No entanto não se amedrontou em acompanhar-nos ao “mato”. Adaptou-se a ele, aceitou o desconforto, admitiu as provações, por nosso amor. Dir-se-á que é dever da mulher seguir o destino do marido. Mas esse dever cristaliza-se e fixa-se quando a mulher é corajosa, boa e de bons sentimentos. Esposa, Mãe ou “Dinda”, é ela o traço de união e de confraternização entre todos nós. O casamento é uma maravilha, a vida um encanto, o amor uma dádiva, quando se encontra um coração boníssimo que perdoa, que ama, que compreende. A felicidade conjugal existe, palpável, perfeita, cristalina quando a esposa é dócil, amorosa, inteligente. Dessa felicidade desfrutamos. Aquela que escolhemos para Mãe de nossos filhos, avó de nossos netos e companheira de nossa vida, faz jus à nossa satisfação de viver. Calma, serena e, sobretudo, refletida, desculpa, absolve e até esconde ou disfarça as nossas “malfeitorias”. E assim agindo, dignifica o lar e a nossa vida não sofre solução de continuidade. E o nosso barco, defendendo-se das tempestades, desviando-se dos vendavais navega, com a esposa ao leme, ao porto onde os bem-aventurados constroem o seu tugúrio. Criatura adorável. Não sabe malquerer. Desconhece o ódio. Despreza as intrigas. No seu coração não se aninha a inveja, não se agasalha a cobiça ou a ambição desmedida. Simples, bom, honesto, generoso, honrado e brioso, tem sido o nosso Anjo da Guarda. Não podemos deixar de consignar a sua Fé inabalável, a sua confiança inalterável e a sua crença fervorosa, mesmo nos instantes cruciantes ou torturantes, nos destinos da nossa união. Sua vida tem sido de trabalho, de renúncia e de virtude. O seu anseio, o seu desejo, o seu ideal não tem sido outro senão o de oferecer sua contribuição para a nossa constante felicidade. Coração forrado de nobreza, alma coberta de bons sentimentos, vida engrandecida pelo trabalho, conquistou a benemerência de todos que a conhecem e com ela tem contato. Sua sogra votava-lhe especial estima, confundindo-a com suas próprias filhas. Nossa Mãe dedicava-lhe verdadeiro amor e por ela tinha grande adoração. Nada mais é necessário dizer-se para recomendá-la à estima e gratidão de toda a nossa família. Ela soube encarnar, na mais forte expressão do termo, a esposa, a Mãe e a nora. A vida é manso lago azul, algumas vezes, outras vezes é mar fremente... Nossa vida, lago azul ou mar fremente nunca se modifica. A companheira é sempre a mesma criatura impassível, digna e altaneira. As intempéries não a abatem, não diminuem a sua confiança, não alteram a sua vontade. Como mulher, sabe cativar e atrair, sem maliciar. Cultiva a vaidade feminina, sem se exceder. Acompanha a moda sem se escravizar. Adora a música, namora a arte e pratica a literatura com sensibilidade, com gosto, com naturalidade. Aqui fica retratada ao natural a mulher que é a nossa vida, o nosso encanto, o nosso amor. Não exageramos. Não mudamos o curso de uma vida sã e nobre, apenas a constatamos. Na minha falta, tudo que os filhos, genros e noras fizerem por ela, não será demais e não pagará o que ela fez por todos. O MARIDO Sentimos que o dia final se aproxima e que a vida está se apagando. O nosso estado de saúde é precário. O nosso organismo cambaleia. O nosso físico se abate.
  • 4. 4 O coração que sempre pulsou para o amor, para o bem e para a vida, encontra-se desajustado. As coronárias emperraram. A "horta" esterilizou-se. O ventrículo e a aurícula não se entendem mais. O sangue engrossa assustadoramente. É a velhice, a senilidade, a decrepitude. Somente restam intactos, a coragem, a Fé e a honra, que exclusivamente o túmulo nos arrebatará. Não tememos a morte, não nos assustamos com o Além, não nos apavoramos com o Desconhecido. Temos Fé'. Ela nos encoraja e anima para receber a sentença final. Chegou o dia da confissão, o momento das verdades, a época da confidencia. Eis as razões destas "memórias". Sobre a, esposa, a companheira, a amiga, que guardamos dentro de redoma de fino cristal, resguardando-a e imunizando-a da maldade infinita da humanidade, já nos externamos. Agora, nós. O que poderemos dizer? Somos bons? Somos maus? Penoso dilema. Se considerarmo-nos bons, será elogio em boca própria... Se afirmarmo-nos maus, não passaremos de imbecis. O que fazer? Não temos senão que nos situarmos no meio termo, nem bons, nem maus. Ficamos no meio. Ainda bem que no meio está a virtude “segundo afirma o Conselheiro Acácio”. Somos puros. Não. A pureza é dádiva celeste, pertence aos bem aventurados, tocados pela Graça Divina. Somos pecadores. Sofremos a influência da geração pagã da atualidade, que nos arrebatou as conquistas do passado. Fomos obrigados por forças incoercíveis das circunstâncias, a evoluir para pior. A dissolução campeia, em disparada. A devassidão empolga a mocidade. A imoralidade incrusta-se nos velhos. Triste verdade. Cruel realidade. Nem as práticas religiosas dos Padres, nem as Pastorais dos Príncipes da Igreja e tão pouco as Encíclicas Papais, conseguem arrebanhar as ovelhas tresmalhadas. O existencialismo é moda. O concubinato tornou-se prática, comum e corriqueira. A prostituição é tolerada. Eis o mundo em que vivemos. Haverá remédio para essa situação? Tão cedo, não. O comunismo se expande, o paganismo revive, o ateísmo prolifera. A geração vindoura será plasmada com a mesma massa que tisna a presente e sepultará a futura. Temos esperanças, não para os nossos dias, que o Criador se amerce da humanidade, repondo-a no império do Bem, do Justo e do Honesto. A vida atual não atrai, não compensa, não interessa. O materialismo reina, governa e domina. O espiritualismo não encontra ambiente propício para subsistir, dentro do quadro emoldurado pelo erotismo dos homens. Pobre humanidade. Desviamo-nos um pouco da rota que nos propusemos palmilhar. Voltemos a ela. Falemos de nós. O que fizemos de útil na vida? Qual a nossa contribuição à Pátria e à Família? À Pátria demos um pouco, filhos para sua defesa e seu engrandecimento. À Família oferecemos quase nada. Nossa será a culpa? Pensamos que não. O pecado de nossa parcimônia pertence à humanidade má. egoísta e ingrata que não ajuda, não facilita, não socorre os bem intencionados. O mundo vive submerso na hipocrisia. Os homens cultivam o fingimento ou a impostura. Enganar, tapear e destruir é a preocupação máxima da sociedade hodierna. Fomos educados e crescidos para o Bem. Jamais praticamos o mal. E assim, com armas tão desiguais, com mentalidades tão diferentes, não tivemos senão que parar, hesitar, estacionar. A nossa boa fé choca-se com a insídia humana. Apesar do trabalho intenso, da luta cotidiana, do mourejar incessante não conseguimos amealhar ouro, para, acobertar a família de fortuitas necessidades. O culto à honestidade que aprendemos com os nossos maiores, tem sido o catecismo dentro do qual vivemos. Não nos foi possível encher o nosso "pé de meia", honestamente. Desonestamente, nunca o faríamos transbordar. Muitas vezes nos foi dado a "chance" de enriquecer. Tivemos várias oportunidades de tratar com o dinheiro alheio e quanto mais com ele lidávamos, mais pobres ficávamos. Duas
  • 5. 5 vezes organizamos, a pedido do Governo, batalhões patrióticos, para a defesa da legalidade. O Tesouro do Estado esteve ao nosso dispor. O dinheiro nos era entregue sem fiscalização, sem exame, sem sindicância. Outra vez, como diretor de Material da Secretaria da Educação, com verbas elásticas, com os fornecedores ao nosso alcance e desfrutando da confiança dos superiores, podíamos, se o quiséssemos, enriquecer. O nosso feitio, a nossa educação e o nosso sentimento falaram sempre mais alto que a cobiça ao dinheiro. Dessas missões ou encargos saímos, mercê de Deus, de cabeça erguida, sem termos do que nos envergonhar. Será que a nossa atuação tem a aprovação dos filhos? Será que eles têm orgulho do pai? Será que põem em dúvida o nosso proceder honesto como homem, como político ou como administrador? Uma dúvida cruel assalta o nosso espírito e toma vulto em nossa alma, quanto à resposta afirmativa. Realmente a nossa atuação tem sido honesta? Essa dúvida cria corpo e se expande quando notamos que nenhum dos netos tomou o nome do avô. Esse fato é sintomático, eloquente e vivo! Será que o nosso nome afetaria o do neto? Rebuscando no passado e procurando no presente não encontramos motivos reais para nos envergonhar. Razões de outras ordens, acreditamos, influíram no espírito dos filhos, para não se lembrarem dessa homenagem tão comum entre nós. Não estamos nos queixando, não estamos censurando, não estamos condenando. Estamos, apenas, constatando o fato. Poder-se-á dizer que a nossa estranheza não procede por que nenhum dos nossos filhos tomou o nome do avô. Existe uma explicação para o caso. A nenhum pusemos o nome do avô, o que muito desejávamos, pelo motivo de todos conhecido. Não queríamos e não podíamos, de forma alguma, criar para a nossa santa mãe qualquer constrangimento ou desgosto. Ela, como vítima, sentir-se-ia humilhada com a nossa homenagem a quem tanto a magoou. Encerremos o assunto sem mágoas. Formados e casados aos 20 anos, não tivemos por assim dizer, mocidade. Por isso, a boemia dos moços, a displicência dos rapazes e as extravagâncias dos adolescentes não se manifestarem na ocasião propicia, para reviverem na velhice. Daí algumas madrugadas, algumas noitadas alegres e algumas farras, agora. Ora no pico do monte, ora na encosta do vale e muitas vezes palmilhando estrada sinuosa, bem ou mal, criamos, educamos e instruímos nossos filhos para, a luta incruenta da existência. De quebrada em quebrada, de moita em moita, de rio em rio atravessamos a vida ajudando os necessitados, defendendo os fracos e encorajando os tímidos. Fizemos muito? Fomos úteis? Alcançamos a meta? Não o sabemos. O certo, porém, é que demos tudo de nossa inteligência, do nosso esforço e de nossa capacidade para sermos bom cidadão para a sociedade, bom chefe para a família e bom filho para a Pátria. Podem acreditar que se mais não o fizemos foi por nos ter faltado "engenho e arte". Finalizando este capítulo queremos deixar consignado um erro que não devíamos ter cometido e que foi praticamente por conta do nosso egoísmo e da nossa vaidade. Demos o nosso nome a um dos filhos. Não o devíamos ter feito. E agora ele tem que carregar para o resto da vida um nome que não escolheu. Penitenciando-nos, pedimos-lhe desculpas.