O documento descreve as formas geomorfológicas encontradas em regiões graníticas, incluindo tafoni, pedras "boroa", bolas graníticas, caos de blocos e pias, e discute a importância de preservar estas características naturais como património geológico. O documento também fornece detalhes sobre o Castro de S. Bento como um exemplo de sítio arqueológico localizado em uma região granítica.
1. ASPETOS GEOMORFOLÓGICOS NUMA REGIÃO
GRANÍTICA:
UM PATRIMÓNIO NATURAL A PRESERVAR
Mestrado em Ensino de Biologia e Geologia no 3ºciclo do
Ensino Básico e no Ensino Secundário
Cristiana Valente, Luís Sampaio, Tiago Silva, Ana
AlencoãoCristiana Valente, Luís Sampaio, Tiago Silva, Ana Alencoão
2. Introdução
As regiões graníticas pela diversidade de formas que
apresentam constituem locais privilegiados para
observar variados aspetos de índole geológica. Estes
locais constituem um verdadeiro património
geológico/ geomorfológico – geopatrimónio – cuja
preservação contribui inequivocamente para a
sustentabilidade ambiental e é uma mais-valia
económica para o meio rural.
4. Tafoni (1)
Tafoni – Pequenas cavidades arredon-
dadas, encontradas frequentemente
em rochas graníticas, resultantes de
processos de erosão diferencial.
5. Pedra “boroa” (2)
Pedra “boroa” - Bloco granítico que
sofreu fracturação poligonal, confe-
rindo à superfície rochosa um aspeto
muito característico em côdea de pão.
6. “Bolas” graníticas (3)
Blocos ou “Bolas” – Calhaus de dimensões variadas, de tamanho
métrico, no geral arredondados, assentes na superfície topográfica.
7. Caos de Blocos (4)
Caos de blocos - Acumulação de inúmeros blocos arredondados de
rocha em consequência de processos erosivos.
8. Pias (4)
Pias - depressões escava-
das no substrato rochoso,
com uma forma circular,
oval ou elíptica e com uma
génese muito diversificada.
A água é o principal agente
responsável pela formação inicial
e desenvolvimento das pias.
9. O Castro de S. Bento (5)
(Extraído de Parente, 2003)
13. Entrada de uma gruta
Altar de culto fálico
O Castro de S. Bento (5)
14. Referências Bibliográficas
Parente, J. ( 2003). O Castro de S. Bento e o seu Ambiente
Arqueológico. Minerva Transmontana.
Romani, J. R. V. & Twidale, C. R. (1998). Formas y Paisages
Graníticos. Universidade da Coruña.
Tal como aqui referimos as regiões graníticas são particularmente interessantes sob o ponto de vista geomorfológico. Assim, no trabalho que vamos apresentar, selecionámos uma região próxima de Vila Real, onde num pequeno percurso se podem observar aspetos geomorfológicos diversificados. Faremos também uma breve referência ao Santuário rupestre de S. Bento onde existem vestígios arqueológicos.
Apresentamos nesta imagem a localização do percurso proposto bem como as paragens relativamente às quais iremos ilustrar aspetos geomorfológicos e arqueológicos.
O percurso com cerca de 3 km, é acessível a qualquer pedestrianista, e faz-se através de uma paisagem granítica típica.
O acesso ao percurso faz-se por São Tomé do Castelo.
Nesta primeira imagem ilustramos um Tafoni, que é um bloco com erosão alveolar e que neste caso não está in situ.
A etimologia da palavra "tafoni" não é clara. Tafoni pode ter origem na palavra grega “taphos”, que significa "túmulo“, ou ter origem da palavra corsa taffoni, que significa "janelas", ou de tafonare que significa "perfurar". Alguns tafoni são pequenos (poucos centímetros de largura e altura), mas outros têm vários metros de largura e altura. Os Tafoni, em zonas graníticas, desenvolvem-se frequentemente associados ás partes basais das estruturas de esfoliação e também com alguma frequência em blocos isolados com sistema de fratura ortogonal associados. Podem também ser associados a paredes rochosas fortemente inclinadas.
Trata-se de fracturação poligonal resultante de uma malha de fracturas que afecta apenas a camada superficial do bloco rochoso. A alteração química pela água vai actuar na rede de fracturas ortogonais, provocando incisões pouco profundas, que conferem às superfícies um aspecto muito característico em côdea de pão.
Ao longo de todo o percurso são observáveis bolas graníticas idênticas à que ilustramos nesta imagem e que são resultado de processos de alteração que actuam com diferente intensidade nos vértices, arestas e faces dos blocos graníticos.
Os blocos ou bolas consistem em penedos de dimensões variadas, de tamanho métrico, no geral arredondados, assentes na superfície topográfica, e que se encontram por vezes em grande quantidade formando aglomerações designadas por caos de blocos.
A génese das bolas implica a presença de uma rocha de textura granular recortada por uma rede de diaclases. A água das chuvas ao entrar na rede de diaclases começa a alterar a rocha física e quimicamente, o que leva a uma gradual desagregação, a qual designamos de meteorização, que vai arredondando progressivamente os vértices e as arestas dos blocos fragmentados. Assim, embora os blocos sejam característicos dos granitos, geram-se preferencialmente em granitos de grão grosseiro, onde as fracturas tendem a apresentar maior espaçamento.
Alguns dos blocos deslocam-se posteriormente sobre a superfície topográfica por acção da gravidade, descendo a partir do afloramento onde se geraram e imobilizando-se geralmente a pouca distância deste.
A sua formação está relacionada com a erosão que ocorre ao longo das fracturas. Conforme se ilustra no esquema após a fracturação ocorrem processos de alteração da rocha que conduzem à erosão dos blocos de menor dimensão e à acumulação dos maiores.
É uma das paisagens graníticas mais usuais na nossa região.
As pias são depressões escavadas no substrato rochoso. Em planta têm uma forma normalmente circular, oval ou elíptica. São formas onde há retenção temporal de água que habitualmente desaparece por evaporação.A água é o principal responsável pela formação inicial e desenvolvimento das pias. Por vezes é visível a associação entre as pias e as fracturas ou fissuras na rocha, zonas onde a desagregação da rocha é naturalmente mais propícia. A existência de heterogeneidades na rocha, por exemplo, a distribuição irregular ou concentração de minerais mais susceptíveis à alteração, como biotite e feldspatos no caso das rochas graníticas, leva à existência de zonas onde a meteorização é preferencial e onde se podem formar concavidades que evoluem posteriormente para pias
O percurso que aqui propomos termina no Castro ou Castelo de S. Bento que se considera ser um verdadeiro tesouro arqueológico, infelizmente sem a preservação que merece.
Trata-se de um imponente batólito granítico, com aproximadamente 50 m de altura onde é possível observar aspectos erosivos interessantes, nomeadamente o que se ilustra e que resulta da acção conjunta da fracturação e da meteorização.
Segundo o padre Parente, o Castro de S. Bento é um santuário ofiolátrico (adoração de serpentes) dedicado a Ísis. Esta suposição resulta da epigrafe encontrada em S. Bento e ilustrada nesta imagem. A inscrição traduz-se como : “à mais maternal Isis”.
Crê-se que o culto das serpentes e o culto de Ísis tenham estado associados no Santuário, uma vez que se encontram frequentemente interligados noutros santuários, sendo ambos relacionados com a ressurreição e a vida.
Esta imagem não é nossa pois a referida epigrafe não está facilmente acessível.
No entanto existem outras formas que podem ser observadas, nomeadamente este penedo que tem gravadas 3 serpentiformes paralelas.
Um hipotético altar e a cadeira que se crê tenham servido para ritos de fertilidade
Aqui surgem outras gravações, na entrada de uma gruta na qual segundo a lenda existe uma moura encantada que surge por vezes na manhã do dia de S. João a dobar novelos de ouro.
Muitas outras gravações existem neste Castro, nomeadamente serpentiformes, estribos e covinhas, contudo não estão acessíveis devido à vegetação.