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OS LUSÍADAS
por ANTÓNIO FONSECA

  NOTAS DE IMPRENSA
2009
Dossier imprensa   lusiadas - antónio fonseca
Dossier imprensa   lusiadas - antónio fonseca
2010
António Fonseca - Destaques - Time Out - Lisboa                                Page 1 of 2




 António Fonseca
 É uma epopeia: a partir de quinta-feira, o actor António Fonseca
 interpreta os primeiros cinco cantos d´Os Lusíadas no Teatro
 Meridional.




 De quarta a sexta, às 21.45, faz uma antologia com uma selecção dos
 principais episódios; ao sábado, a partir das 17.00, é a vez da maratona
 com todos os versos da primeira metade do grande livro de Camões.
 Como é que se decoram cinco cantos dos Lusíadas?
 Com muito trabalho, não há outros segredos. Há fases, e não se pode
 saltá-las. Há uma primeira fase que é perceber tudo muito bem e
 esgravatar a gramática, sobretudo Os Lusíadas, que exigem uma
 competência técnica muito grande para serem lidos, e uma série de
 referências. Depois, há uma segunda fase em que se começa a meter
 tudo dentro da cabeça, a pensar aquele pensamento com aquelas
 palavras. E depois é como riscar ou fazer um veio numa pedra de
 mármore: risca-se, risca-se, risca-se, e aquilo vai ficando, com um ritmo e
 uma subjectividade que é necessariamente a minha.
 A maratona dos cinco cantos que se vai poder ver aos sábados,
 quantas horas terá?
 Cinco. Cada canto será dito na totalidade com um intervalo de dez minutos
 e o público pode comprar bilhete para um canto ou dois, ou para os cinco.
 O público escolhe e vai ver quando quiser. Pode ver um num sábado e no
 sábado seguinte ver outros dois. O terceiro canto é o maior. No total tem
 uma hora, uma hora e cinco com os comentários.
 Que comentários?
 Alguns comentários que vou introduzir em determinados versos e que
 podem ser espontâneos e depender do público. Porque eu não quero
 fazer uma coisa arqueológica, quero fazer uma actualização dos Lusíadas,
 falar com o pensamento e a imaginação portuguesa de hoje. A última
 coisa que eu queria era que as pessoas fossem ao Meridional para ficar a
 conhecer Os Lusíadas. Isso é a função da escola, é uma chatice. O que
 eu quero é que haja fruição, sonora e mental. Como actor, quero que as
 pessoas se riam, se emocionem e, eventualmente, que se inquietem. Mais
 nada.
 E porquê Os Lusíadas?
 Por muitas razões. Primeiro porque é uma grande obra nossa e do nosso
 imaginário colectivo. Depois porque eu já fiz um texto do Padre António




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António Fonseca - Destaques - Time Out - Lisboa                             Page 2 of 2



 Vieira, que é o grande imperador da língua portuguesa segundo o
 Camões, e acho que os outros dois grandes pilares são de facto o próprio
 Camões e o Pessoa, que também gostava de dizer um dia. Outra razão
 ainda é o facto de termos quase um trauma com este livro: toda a gente
 acha que sabe Os Lusíadas, mas ninguém sabe. Sabe da escola, mas não
 sabe. E é muito interessante voltar lá, a esta grande história do ser
 humano. Porque é isso que Os Lusíadas contam: a história da vida, no
 sentido em que a vida é uma viagem por um desconhecido, e aquela
 viagem à Índia foi a viagem por um desconhecido enorme.
 E os outros cinco cantos que ficam a faltar?
 O sexto já trabalhei, estou neste momento a fazer a análise do sétimo.
 Gostava de fazer todos no dia 10 de Junho de 2012.
 Por ser Dia de Portugal?
 E porque faz 440 anos da edição d’Os Lusíadas.



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Os Lusíadas à la carte
25.11.2010 - Ana Dias Cordeiro




Um dia António Fonseca vai contar "Os Lusíadas" do princípio ao fim. Porque ouvir não é a mesma coisa que ler. A
meio caminho, o actor diz os primeiros cinco cantos de cor(ação)
"Aqui vai haver dois espectáculos. Pode dizer-se que é um espectáculo 'à la carte'. Na verdade, isto não é um espectáculo".
Pausa, sem reacções. Há que ouvir. Quem fala é o actor António Fonseca, recuperando o fôlego. Acaba de representar
excertos dos primeiros cantos de "Os Lusíadas" no palco do Teatro Meridional, em Lisboa. Como preparação para a
performance que estreou ontem (até 18 de Dezembro).
Preparação, ensaio - mas nunca sem emoções. "O que não está no coração, não está na cabeça" e este não é de certeza
"um espectáculo de memória". "É uma contação. Não é uma leitura", explica António Fonseca. É ele o responsável pela
concepção e interpretação desta performance. "De cor" para ele faz sentido apenas no sentido "de coração." O que lhe
interessa é contar. "O texto está a ser inventado no momento em que está a ser dito. É como contar uma história."
Sobre o ser ou não espectáculo e "à la carte" significa que terá duas versões. Aos dias de semana - de quarta a sexta - esta
representação de um homem só começa às 21h45 com uma antologia resumida dos cinco primeiros cantos de "Os Lusíadas"
e dura cerca de 1h30. Aos sábados, é apresentada a integral dos cinco primeiros cantos. Neste caso, o espectador escolhe:
ver apenas um canto (e pagar 5 euros), dois ou vários; ver uma parte num sábado e outra no seguinte; ver todos. Nesse
caso, começa às 17h - entre os três primeiros cantos, há um intervalo de dez minutos - e pára às 20h30 para o jantar. Às
22h00 recomeça, com o Canto IV e às 23h00 o Canto V, os preferidos, no conjunto, de António Fonseca. "Como um todo, o
IV e o V são muito narrativos e penso que os mais equilibrados." Mas o actor rende-se a momentos e estrofes de outros
cantos.
No episódio Inês de Castro, no Canto III, acontece por vezes ceder à emoção do texto, "uma coisa de vibração física". No
vibrante discurso de Nuno Álvares Pereira, em defesa de Portugal, antes da batalha de Aljubarrota, põe força e determinação
na voz.
O actor-narrador partilha o palco com três grandes velas - são as três naus da armada de Vasco da Gama, de "Os
Lusíadas". Em cada uma estão estampados os mapas de África, Europa e Portugal e neles escritos os nomes dos locais de
então. Ilha de Moçambique era Ilha de Moçambique; mas as ilhas de Cabo Verde eram as Hespéridas; Madagáscar era São
Lourenço; e as ilhas Bijagós eram as Dórcadas.
No momento da partida da nau, ouve-se o som do mar, por entre as três velas. Uma luz fosca alterna com a penumbra. "A
grande coisa dos Descobrimentos é o espaço. Antes [dos Descobrimentos], para um europeu comum, o mundo era o
Mediterrâneo e pouco mais. Em 20, 30 anos, isso explode. E essa explosão espacial é muito clara n' 'Os Lusíadas'. O mundo
físico explodiu. E Camões tem consciência disso, uma consciência de época."
António Fonseca, que já fez "O Sermão da Sexagésima" do Padre António Vieira, quer "ainda ter tempo" para fazer Fernando
Pessoa. Com Camões, "são os três grandes pilares da língua portuguesa", considera. Por agora, o objectivo será representar
os dez cantos de "Os Lusíadas", entre as dez da manhã e as dez da noite do dia 10 de Junho de 2012. Porque a obra,
"história exemplar", "uma epopeia", "é universal", "toca no essencial do ser humano".

http://ipsilon.publico.pt/teatro/texto.aspx?id=270253
Epopeia: Ator António Fonseca diz Os Lusíadas
de cor
O ator António Fonseca anda há dois anos e meio a decorar Os Lusíadas, e
começa hoje no Teatro Meridional a apresentar os primeiros cinco cantos da
obra prima de Luís Vaz de Camões. Uma epopeia que só deverá acabar a 10 de
Junho de 2012, data em que espera dizer de uma só vez os dez cantos.

Anabela Campos
18:24 Quinta feira, 25 de novembro de 2010


António Fonseca irá por agora e durante um mês - de quarta às sextas às 21:45 e aos
sábados a partir das 17:00 - apresentar os primeiros cinco cantos de Os Lusíadas, numa
versão mais reduzida à semana e a integral ao sábado

No dia 10 de Junho de 2012, Dia de Portugal e data em que se comemora os 440 anos
da primeira edição de Os Lusíadas, espera dizer os 10 cantos durante todo o dia, uma
tarefa hercúlea, a que se tem dedicado desde Junho 2008 e que obriga o ator a estar em
grande forma física.

"Há mais de dois anos sonhei dizer os Lusíadas de cor. A ideia foi-se-me impondo. (...)
Comecei verso por verso, estrofe por estrofe, episódio por episódio, canto por canto.
Foi-se-me revelando uma grande estória da vida, uma grande estória da condição de ser
humano, uma metáfora enorme da nossa condição de seres históricos, em qualquer sítio,
em qualquer contexto cultural, em qualquer tempo", diz no seu blogue, onde explica por
que se decidiu pegar na obra prima de Luís Vaz de Camões.

"Foi uma ousadia", como o próprio reconhece em declarações ao Expresso. E que lhe
tem ocupado todas os momentos livres desde que começou a pensar na ideia. Até
porque, sublinha António Fonseca, desde 2008 já fez 7 peças de teatro, deu aulas, fez
novelas e séries televisivas.

"Para já fica uma antologia dos cinco cantos, com os episódios mais significativos: o
Consílio dos Deuses, a passagem na Ilha de Moçambique, a traição dos Mouros em
Mombaça, a visita de Vénus a Júpiter e as queixas que lhe faz, a chegada a Melinde, a
batalha de Ourique, o episódio da Inês de Castro, os preparativos e a batalha de
Aljubarrota, a despedida da Armada em Belém (e não só o velho do Restelo), os
fenómenos marítimos, o Fernão Veloso, o Adamastor e o escorbuto", avança Antónioo
Fonseca.

A MEMÓRIA DE ADOLESCÊNCIA

"Os Lusíadas evocavam uma memória recorrente da adolescência: um livro truncado com muitas
reticências, uma misturada de sentidos que não acabavam, muitos sublinhados a lápis e,
sinceramente, uma total ausência de noção da obra. Entre esta memória, que não posso dizer que
fosse grata, e tudo o que fui acrescentando ao longo do tempo sobre o lugar e importância da
literatura na vida e o papel dos Lusíadas no nosso imaginário coletivo, foi crescendo uma
curiosidade e uma vontade de conhecer verdadeiramente a partitura poética da Epopeia",
confessa.

"Sentia-me algo culpado por desconhecer uma obra que é matriz da nossa memória, tantas vezes
e de tantas maneiras utilizada para fins patrióticos e patrioteiros, que na intimidade de quem
passou pela experiência da sua abordagem obrigatória causa um misto de fascínio e ódio, que
ninguém pode verdadeiramente dizer que não conhece mas que quase ninguém conhece
verdadeiramente", acrescenta.
Além de interpretar Os Lusíadas, António Fonseca irá também fazer comentários em determinados
versos, porque na realidade o ator também quer fazer uma atualização da obra e não fazer uma
coisa arqueológica. Cada canto demora a dizer cerca de uma hora e haverá intervalos entre eles e
os espetadores podem ver os cantos em dias diferentes, não precisam de ver tudo de uma vez.

Depois de apresentar a obra em Lisboa, a intenção de António Fonseca é fazê-lo pelo país e em
escolas, se surgirem convites nesse sentido. O ator já está a preparar o sexto canto e espera
começar no final de 2011 o décimo.
Os Lusíadas (I a V Canto)

Teatro Meridional
Teatro
Qua-Sáb


O cone de luz sobre o corpo dobrado parece realçar a voz, elevar as palavras que, uma a uma e por aquela exacta ordem,
anunciam angústia, visão do fim, pelo menos certeza da dor que a doença garante. É um relato à beira do desespero, cortado
abruptamente pelo silêncio e pela escuridão, deixando o narrador, os marinheiros com o seu escorbuto e os espectadores
suspensos… da leitura da obra ou, com igual desfrute, da sua interpretação integral – o que é só aos sábados, pois às noites
de semana António Fonseca só dispensa Os Lusíadas em modo “antologia”.
Começa por “As armas e os barões assinalados,” como toda a gente sabe, e acaba, como quase ninguém faz ideia, em “Sem
à dita de Aquiles ter enveja” dez cantos depois. Isto no original, que a visão do épico de Luís Vaz de Camões (1524-1580)
criada por António Fonseca ainda vai no meio, no Canto V. No fim deste canto, Vasco da Gama agradecerá às musas e lá
vai, mareando à procura da Índia. Para já, ou melhor, às quartas, quintas e sextas, quando as luzes se fecham sobre o actor
e encerram esta sessão do best of, a armada portuguesa está em muito maus lençóis por evidente falta de vitamina C.
Há muito que os portugueses, a não ser quando vão de férias a crédito, não passam além da Taprobana. Felizmente, há
muito também que o escorbuto não afecta a nação. A não ser, claro, nesse território ardiloso da simbologia da pátria
inventada por Herculano, no essencial ainda em vigor, ignorados como costumam ser os críticos da obra, sejam eles Dom
Francisco Lobo (que acusou o poeta de desconhecer o amor), Cesário Verde (que não gostou do “desejo absurdo de sofrer”),
Hegel (a quem deu para embirrar com a dependência estilística de modelos clássicos), ou António José Saraiva (para quem
“o peito ilustre lusitano não passa de uma abstracção incapaz de conjuntivar carnalmente as proezas sucessivas dos
guerreiros.”) Considerando ou não estes e outros críticos, aceitando, mesmo que de soslaio, a versão mítico-nacionalista,
certo é Os Lusíadas serem, com Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro, e os Sermões de António Vieira, obra fundadora da
cultura literária e peça fundamental na afirmação da língua portuguesa.
Foi isso que interessou a António Fonseca, pois, seja como for – diz o programa –, o texto “é uma grande estória de vida,
uma grande estória da condição de ser humano, uma metáfora enorme da nossa condição histórica, em qualquer tempo e
lugar.” E é isso que o actor dá a ver, entre apartes, comparações e lamentações irónicas, assim combatendo o trauma
infligido por sucessivos ministros da Educação em várias gerações de alunos constrangidos a enfrentar Os Lusíadas uma
oração de cada vez.

Rui Monteiro
14.12.2010


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  42 NS TEATRO                 CAMÕES




        António
        Fonsecaconta
        ‘OsLusíadas’
         Em 1572 foi publicado pela primeira vez
         o poema Os Lusíadas, de Camões.
         Mais de quatrocentos anos depois, o actor
         António Fonseca diz de cor os primeiros cinco
         cantos da obra e prepara já os restantes.
         O espectáculo chega ao Teatro Meridional,
         em Lisboa, em 2011.

         TEXTO RITA PENEDOS DUARTE
         FOTOGRAFIA NUNO PINTO FERNANDES/GLOBAL IMAGENS



         Proposição                                    ço do Bispo, em Lisboa, saiba que António         todo o lado se diz que «o país não presta, que
         [Chama-se proposição ao momento em que,       Fonseca regressará àquele espaço em Ou-           isto está uma chatice, o que se deve fazer? Se
         num texto épico, se procede à apresentação    tubro do próximo ano. Parte, depois, em di-       calhar dar cabo da cabeça numa coisa inútil.
         do tema e dos heróis envolvidos.] Porque se   gressão pelo país. Coimbra, Aveiro e Gui-         Nem tudo tem de servir para alguma coisa.
         propôs o actor António Fonseca, de 52 anos,   marães são locais já confirmados. Nessa al-       O azul do céu é inútil e o pôr do Sol também
         a dizer de cor Os Lusíadas, de Luís Vaz de    tura estará em cena «uma nova versão com          não serve para nada, mas existem e quando
         Camões? «Foram muitos motivos mistura-        os dez cantos. É um trabalho que pelo me-         os vemos é… uau!»
         dos. Alguns anedóticos, outros mais sérios,   nos até Junho de 2012 estará sempre em               Se é de razões que se trata, o actor tem
         mais fundamentados, em termos de refle-       progresso», confirma o actor.                     uma mão-cheia delas. «A certa altura senti
         xão sobre o que é o papel do actor. Ou qual      Há três anos, António Fonseca arregaçou        necessidade de estudar e inscrevi-me num
         é o meu papel cívico. Não sou padeiro, sou    as mangas e decidiu empenhar-se em qual-          mestrado. Mas não gostei nada da experiên-
         actor. Um padeiro faz pão e um actor conta    quer coisa que teria tanto de «brutal» como       cia e pensei que, em vez de fazer um mestra-
         histórias. Eu não sei fazer pão.» Sabe, po-   de «inútil». «Quando disse a um colega de         do ou doutoramento que não me serviriam
         rém, como tornar um texto com quatro sé-      profissão que estava a decorar Os Lusíadas,       para nada, preferia decorar Os Lusíadas.»
         culos num espectáculo contemporâneo.          ele achou que era brutal e isso mexeu comi-       E continua a enumerá-las. «Outra coisa que
         A peça esteve em cena no Teatro Meridio-      go. Parece que tudo o que se faz tem de ser as-   me levou a iniciar este projecto foi o comple-
         nal, entre 25 de Novembro e 18 de Dezem-      sim. Não sei se o é, mas implica muito traba-     xo de culpa a que o texto está associado. Por
         bro, e surpreendeu as centenas de especta-    lho e nós não estamos habituados a trabalhar      um lado, a maioria das pessoas reconhece a
         dores que por lá passaram. Para quem não      muito», diz. Por outro lado, assume que é         sua existência e importância mas, por outro
         teve oportunidade de se deslocar até ao Po-   uma «provocação quase vital». Quando por          lado, poucos o leram.»
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            De qualquer forma, afirma que não é um          de pegar no Sermão da Sexagésima do padre não pediu auxílio às ninfas, mas procurou o
         texto fácil. «Para ler Os Lusíadas, mais do que    António Vieira e, desde essa altura, não parou conselho de profissionais para se preparar
         Os Maias, de Eça de Queirós ou qualquer tex-       de o apresentar em escolas secundárias, uni- para esta maratona. «Falei com o professor
         to de Gil Vicente, é preciso ter uma compe-        versidades e em eventos variados. «É um dos João Lobo Antunes [director do Serviço de
         tência técnica, gramatical, sintáctica, que as     textos mais incríveis sobre a comu-                       Neurocirurgia do Hospital de
         pessoas não têm, nem têm de ter. Mas ouvir         nicação. Demora uma hora, mas «ESTE TRABA- Santa Maria, em Lisboa] para
         Os Lusíadas todos podem ouvir. É como nu-          prende a atenção dos miúdos com LHO EXIGE                 tentar perceber se um esforço tão
         ma sinfonia: não sabes ler a partitura, mas        uma facilidade incrível. Em algu- MUITO DE NÓS            grande e continuado de memória
         ouves e podes curtir a música. Essa é a minha      mas escolas, os professores vinham FISICAMENTE,           podia ter quaisquer implicações
         função: contar esta história, para que as pes-     ter comigo a dizer que davam                              médicas conhecidas ou prová-
         soas possam conhecê-la, ouvindo.»                  aquele texto há vinte anos mas que
                                                                                                   CAUSA UMA          veis. Mas a conversa foi pouco
            António Fonseca não é um marinheiro de          nunca o tinham ouvido assim. A ANSIEDADE                  conclusiva», diz. «Aconteceu nu-
         primeira viagem. Licenciado em Filosofia, fez o    passagem para a oralidade muda GLOBAL»,                   ma altura em que, depois de duas
         Curso de Formação de Actores e seguiu a carrei-    e simplifica o entendimento.» É es- DIZ ANTÓNIO           a três horas de trabalho contínuo,
         ra de actor. A sua experiência no teatro é vasta   se o exercício que pretende fazer FONSECA.                ficava com dores. Parecia que as
         e reconhecida. Em 1996, a Câmara Municipal         agora com o texto de Camões.                              paredes da cabeça eram de corti-
         de Oeiras atribuiu-lhe a Medalha de Mérito                                                        ça e que não respirava. Vim a perceber de-
         Municipal grau Ouro e, em 2006, foi nomeado        Invocação                                      pois que o trabalho que estava a fazer exige
         para melhor actor de teatro na Gala Globos de      [Em que Camões invoca as ninfas do Tejo, a muito de nós fisicamente, causando uma an-
         Ouro, da SIC. Há cerca de dez anos lembrou-se      quem pede inspiração para escrever.] António siedade global.»
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  44 NS TEATRO              CAMÕES



                                                          Em conjunto com o seu médico, António
                                                       Fonseca adoptou uma profilaxia que deu re-
                                                       sultado: «Em alturas críticas tomava um an-
                                                       siolítico que me relaxava e repunha os níveis
                                                       de energia nos sítios certos.» Por outro lado,
                                                       tal como um atleta que se prepara para uma
                                                       prova, também o actor assumiu a máxima
                                                       «mente sã em corpo são» e mudou os seus há-
                                                       bitos alimentares. A carne passou a ser uma
                                                       excepção na sua mesa, dando primazia ao
                                                       peixe, legumes, fruta e cereais integrais. Di-
                                                       minuiu consideravelmente o número de ci-
                                                       garros e de café que consumia e começou a
                                                       fazer natação, ioga e marcha. «O meu médi-
                                                       co incentivou e aprovou este regime e refor-
                                                       çou com selénio, um complexo vitamínico e
                                                       magnésio.»
                                                          Agora que o espectáculo começou e não
                                                       pode parar, os cuidados foram revistos e me-
                                                       lhorados. «Ao sábado, quando digo os cinco
                                                       cantos, tento dormir nove a dez horas. O pe-
                                                       queno-almoço é o habitual: uma tigela de flo-
                                                       cos de aveia integrais, cozidos em chá ou
                                                       água, a que acrescento farelo de trigo, quinoa
                                                       e sementes de linhaça moídas. Depois mistu-
                                                       ro mel e fruta. Segue-se um passeio pela ma-
                                                       ta do Estádio Nacional. Pelas duas, sirvo-me
                                                       de um bom bife com esparguete, uma salada
                                                       verde (com agrião, alface e rúcula, que tem-
                                                       pero com gomásio ou sal de sésamo, e um fio
                                                       de bom azeite do Douro), acompanhados de
                                                       um copo de vinho tinto, receitado pelo meu
                                                       médico.»
                                                          Nem mesmo durante o espectáculo são
                                                       aceites deslizes neste campo: «Nos intervalos
                                                       como barras de cereais com chocolate e, du-
                                                       rante o espectáculo, bebo chá de perpétuas
                                                       roxas com mel, indicado para a voz. Ao jan-
                                                       tar, no intervalo do terceiro para o quarto
                                                       canto, o menu inclui massa com salmão e
                                                       brócolos e bebo outro copo de vinho. No fim
                                                       do espectáculo vou para casa, que já dei para
                                                       noitadas em bares.»

                                                       Dedicatória
                                                       [Dedicação do poema a D. Sebastião, incitan-
                                                       do-o a fazer grandes coisas.] Na plateia há
                                                       uma cadeira reservada para D. Sebastião,
                                                       não vá dar-se o caso de o «rei-menino» apa-
                                                       recer para agradecer a obra que lhe foi de-
                                                       dicada. Só falta o nevoeiro porque, como
                                                       diz o actor em palco, ficaria muito caro
                                                       comprar uma máquina para os efeitos de
                                                       fumo. Mas se não for el-rei a iluminar a sa-
                                                       la, que seja o presidente da República, o pri-
                                                       meiro-ministro ou a ministra da Cultura.
                                                       Recados à época contemporânea, que sal-
                                                       picam o espectáculo e o trazem para os dias
                                                       de hoje.
                                                          «Eu quero fazer uma actualização d’Os Lu-
                                                       síadas, não a sua arqueologia», afirma Antó-
                                                       nio Fonseca. «Quero contá-la neste tempo,
                                                       porque as grandes histórias fazem sentido,
                                                       inquietam, fazem rir e chorar, não só na altu-
                                                       ra em que são escritas como mil anos depois.»
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                                                                                                                                                           45 NS



         É só isso que António quer fazer da sua vida     na plateia e escreveu um texto que chamou a Epílogo
         e da sua arte: fazer rir, chorar e inquietar.    atenção do encenador Miguel Seabra, que [Momento em que o poeta lamenta as injustiças
         Entra em cena a discussão sobre qual deve        telefonou a António e disse: «Quero entrar contra si e dá conselhos ao rei.] António Fonseca
         ser a função do teatro e do actor. «O fenó-      nisso contigo.»                                não se lamenta. A sua viagem tem sido bem en-
         meno performativo existe no momento em              A fórmula de apresentação escolhida era caminhada, talvez por ter ganho as boas graças
         que está a acontecer. Eu não estou a dizer o     nova. «Isto não é um espectáculo, são vários. de deuses pagãos que tudo ouvem e tudo vêem.
         texto de Camões, estou a inventá-lo no mo-       Cada canto é uma unidade e os cinco cantos Ou porque o poder das ninfas vai muito além da
         mento em que estou a dizê-lo. E faço um jo-      são outra unidade. Cada um de-                            simples inspiração. Ou porque esta
         go duplo: por um lado “traduzo” algumas          les também faz sentido indivi- COM A                      é a hora de se contar de novo a his-
         referências culturais da época, de onde vem      dualmente.» Por isso, foi possível                        tória de homens que se lançaram
         o texto, e depois faço as referências actuais,   comprar um bilhete único e ver os
                                                                                                LEITURA DE          por «mares nunca dantes navega-
         para onde vai o texto.» Um exemplo é o dis-      cinco cantos em dias diferentes OS LUSÍADAS               dos», enfrentando «perigos e guer-
         curso de Nun’Álvares de incitação às tropas.     sempre com o mesmo bilhete. As- ANTÓNIO                   ras esforçados,/ Mais do que pro-
         «É muito actual, apetece perguntar o que         sim como se pôde ouvir uma se- FONSECA FAZ                metia a força humana», mas que
         andam a fazer esses grandes patriotas, que       lecção de episódios espalhados A APOLOGIA                 ainda assim «entre gente remota
         somos, no fundo, todos nós. O que andamos        pelos cinco cantos, como o Con-
                                                                                                DA CORAGEM edificaram/ Novo Reino, que tanto
         nós a fazer?»                                    cílio dos Deuses, a passagem pela                         sublimaram.» Hoje, com este texto,
                                                          ilha de Moçambique ou a batalha DE AVANÇAR                António não faz a apologia de colo-
         Narração                                         de Ourique.                           APESAR              nialismos desajustados, mas antes
         [Narrativa da viagem de Vasco da Gama à Ín-         Esta antologia foi dita de quar- DO MEDO.              da coragem de avançar, apesar do
         dia.] A história deste espectáculo começou       ta a sexta-feira às 21h45, com a                          medo. Por isso garante que, se não
         há cerca de três anos e fez-se de acasos, ou     duração de hora e meia. Ao sábado ouvia- conseguisse apresentar o espectáculo numa sa-
         intenções, conforme a crença de cada um.         -se os cinco cantos: a maratona começava la de teatro, diria o texto no metro ou em qual-
         Por razões já anunciadas, o veterano actor       às 17h00 e terminava à meia-noite. Cada quer outro lado. Para já são cinco cantos, meta-
         António Fonseca dispôs-se a decorar Os Lu-       canto tinha a duração aproximada de uma de do poema – 110 estrofes por cada canto, oi-
         síadas e apresentou em Fevereiro de 2009 o       hora e separava-se do seguinte por um cur- to versos por cada estrofe, dez sílabas métricas
         Primeiro Canto na Sala de Espera da Oficina      to intervalo. Entre o canto terceiro e o quar- em cada verso. Faça-se contas à vida e são cin-
         Municipal do Teatro, em Coimbra. Por um          to fazia-se uma pausa para jantar e retomar co horas de aventuras: cada hora, um canto, ca-
         acaso, ou talvez não, uma jornalista estava      o fôlego.                                      da canto, uma viagem. NS

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2011
António Fonseca declama Os Lusíadas em Amares




No passado dia 20 de Janeiro, o actor António Fonseca esteve na nossa Escola, numa actuação
com um reconto performativo dos cinco primeiros Cantos de Os Lusíadas. A iniciativa, da
responsabilidade da Biblioteca, proporcionou um momento único a mais de 200 alunos de 9º e 12º
anos, que têm vindo a estudar a obra de Camões. Durante duas horas, António Fonseca declamou,
de memória, extractos dos cinco primeiros cantos de Os Lusíadas, interpretando os seus
personagens, relatando momentos, explicando passagens, explicitando partes para os alunos,
mantendo-os “presos” a um texto, tantas vezes de difícil compreensão para os mais jovens.
A performance do actor maravilhou os alunos que ouviram em silêncio atento a declamação,
apenas interrompida pelos risos provocados por Fonseca, culminando num longo, espontâneo e
entusiasmado aplauso final.
Numa interpretação reveladora da obra cuja leitura não é fácil, muitos alunos declararam, no final,
o seu profundo agrado e uma renovada curiosidade pelo texto de Camões.
A actuação de António Fonseca é magistral e este constituiu, sem dúvida um momento único que,
por certo, perdurará, por muito tempo, na memória daqueles que tiveram o privilégio de a ela
assistir.

Jorge Brandão
25.01.2011
http://poramaresoslivros.blogspot.pt/2011/01/antonio-fonseca-declama-os-lusiadas-em.html
sexta-feira · 10 de junho de 2011
                                                                                                                                          parágrafo


                                                               CAMÕES
                                                               DE CORAÇÃO
                                                               Há um actor português que está a decorar “Os Lusíadas” e a dizer o poema épico
                                                               nos palcos. António Fonseca quer levar Camões às pessoas e às vidas que precisam
                                                               de histórias. páginas VI e VII
                         suplemento ponto final | nº 48




Conto no ponto
Um homem só com vista para Nam Van. Uma mulher que vai revelando os seus
segredos fotográficos. Publicamos “Fogo Lento”, conto de Hélder Beja que venceu a
versão portuguesa do concurso promovido pelo Macau Daily Times. páginas II a V
parágrafo                                                                                                                                                         sexta-feira · 10 de junho de 2011
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     parágrafo


“Precisarmos todos de ficção nas nossas vidas”
De ficção e de pensamento. Foi isto, entre muitos outros impulsos, que levou o actor António Fonseca a decorar “Os Lusíadas” para dizer a obra em palco. Leu bem: decorar e dizer “de coração” todo o grande poema épico português. Está quase.

     Hélder Beja • helderbeja.pontofinal@gmail.com


“Isto é uma ideia maluca”, assume o                  decidiu avançar e de certeza que mui-                                                                                                                                                                                                                   “Não é preciso saber música para curtir a música.
actor António Fonseca, homem do cinema,              tos nos revemos nisto: conhecemos
da televisão e, sempre e principalmente, do          “Os Lusíadas” dos tempos da escola,                                                                                                                                                                                                                     Como não é preciso entender o sentido das palavras,
teatro. A ideia maluca é ‘só’ a de decorar e         mas não temos uma noção plena do                                                                                                                                                                                                                        a letra de todo o sentido das palavras e das metáfo-
dizer em palco os dez cantos de “Os Lusíadas”.       texto da obra. Também não tinha?
Fonseca, que já fez o mesmo com o “Sermão              A.F. – Não tinha, não. Tinha estudado                                                                                                                                                                                                                 ras, para curtir ouvir ‘Os Lusíadas’.”
da Sexagésima”, do Padre António Vieira, co-         “Os Lusíadas” no secundário, tinha uma vaga
meçou em 2008 e hoje já sobe a palco – de            ideia. Há toda aquela informação que anda à
teatros a escolas – com os cinco primeiros           volta de “Os Lusíadas”, da cultura e da histó-                                                                                                                                                                                                          memória comigo. Um momento de fruição               comigo o X. Isto era o que gostava de fazer
cantos e uma versão “zipada”, como o próprio         ria portuguesa, que entretanto fui assimilan-                                                                                                                                                                                                           cultural e artística neste sítio é muito interes-   durante os anos de 2012 e 2013. Vamos ver.
lhe chama, da obra de Luís Vaz de Camões.            do, mas a letra do texto não a conhecia. Devo                                                                                                                                                                                                           sante. Ao trabalhar estes textos, trabalho uma         - Camões também está no nome do
   Daqui por um ano, para assinalar o 10 de          dizer que a 1 de Junho de 2008 comecei a fa-                                                                                                                                                                                                            memória colectiva nossa, lusitana.                  Dia de Portugal e das Comunidades,
Junho na então capital europeia da cultura           zer este trabalho e não sabia a primeira estrofe                                                                                                                                                                                                           - Como têm sido as apresentações                 que se assinala amanhã [hoje]. Gos-
que será Guimarães, o actor formado em               de cor, ‘as armas e os barões assinalados’, que                                                                                                                                                                                                         do espectáculo ‘zipadas’ e com os cin-              tava de levar esse espectáculo às co-
Évora e ligado à Cornucópia durante mais             quase toda a gente sabe. Portanto, já se pode                                                                                                                                                                                                           co primeiros cantos?                                munidades espalhadas pelo mundo?
de dez anos quer apresentar a versão inte-           ver o meu conhecimento da letra do texto.                                                                                                                                                                                                                  A.F. – Há um preconceito enorme contra              A.F. – Evidentemente. Mas penso que não
gral de “Os Lusíadas”.                               Penso que é o que acontece com quase toda                                                                                                                                                                                                               “Os Lusíadas” e as pessoas pensam logo ‘nem         faria muito sentido levar o espectáculo glo-
   Em entrevista, Fonseca – que tem um               a gente. Se fosse aqui há 20 anos, se calhar                                                                                                                                                                                                            pensar’. Há essa resistência. O que acontece        bal, levar os dez cantos. Mas gostaria imenso
vasto trabalho na área da educação e par-            tinha o mesmo preconceito da maior parte                                                                                                                                                                                                                é que as pessoas que vão ver, mesmo os mi-          de fazer “Os Lusíadas Zipados”, até porque é
ticipações em filmes como “Os Mutantes”              das pessoas: ‘Os Lusíadas? É pá, isso é muito                                                                                                                                                                                                           údos, têm gostado muito. Ainda no sábado            uma coisa que se pode fazer sem nada, como
ou “Porto da Minha Infância” – explica as            chato’. Não tinha maturidade, porque é uma                                                                                                                                                                                                              passado estive num festival de teatro em Si-        tenho feito em escolas. Tenho uma versão
motivações desta empreitada, acompanha-              obra muitíssimo difícil de entender e de ler.                                                                                                                                                                                                           nes, estavam 120 ou 130 pessoas. Eu estava          teatral, com cenário e não sei quê, mas não
da online em http://lusiadasdecoracao.blo-           Curiosamente é muito fácil de ouvir. Se eu                                                                                                                                                                                                              a dizer a antologia, “Os Lusíadas Zipados”,         acrescenta muito. Claro que gostava de fazer
gspot.com, que lhe ocupa os dias. Fala da            conseguir levar isto a algum lado, é por isso,                                                                                                                                                                                                          como lhe chamo. As pessoas que ficaram, no          isso mas estou um bocadinho à espera de
missão de contar histórias e da vontade de           por ser fácil de ouvir. Claro que não é fácil                                                                                                                                                                                                           fim, estavam fascinadas, encantadas com a           ver o que é que isto vai dar. Não posso fazer
quebrar o preconceito que existe em relação          para alguém que não tenha alguma informa-                                                                                                                                                                                                               coisa. Acho que é um duplo fascínio pela obra       tudo. Não posso estar a decorar “Os Lusía-
ao poema épico de Camões.                            ção e alguma curiosidade, porque se vai com                                                                                                                                                                                                             e também pela musicalidade. Não tenho tido          das” e depois ainda ir falar com o Instituto
   - A ideia de decorar todo “Os Lusía-              preconceito não vai gostar. A maior parte das                                                                                                                                                                                                           muita gente. Fiz no Teatro Meridional três          Camões. O Instituto Camões é que tem de
das” surge em 2008, verdade? Como?                   pessoas diz-me que não se devia estudar isto                                                                                                                                                                                                            semanas seguidas e tive pouca gente. Mas            vir ter comigo. Já fiz o meu trabalho, alguém
   António Fonseca – Começou aí mas a                no secundário, que a gente só pode entender                                                                                                                                                                                                             as pessoas que vão ficam fascinadas. Estou          que faça o seu. Estou disposto a ir a todo o
ideia é inerente à minha própria condição            quando é mais crescida. Isso é verdade, tam-                                                                                                                                                                                                            convencido que isto é uma questão de bater          sítio e a fazer isto até na casa das pessoas,
de actor. Quando se tem como função, entre           bém. Não digo que tecnicamente, e na história                                                                                                                                                                                                           no preconceito. Não estou preocupado. Isto é        se elas quiserem. De resto, não me importo
outras coisas, contar histórias, há sempre           básica da cultura, não possa ser abordada,                                                                                                                                                                                                              uma ideia maluca e se houver cinco mil pes-         de passar dois ou três anos da minha vida a
coisas que vão aparecendo. A história de “Os         mas é uma obra para maiores de 18 anos, não                                                                                                                                                                                                             soas que nem vão ver mas vão dizer ‘como            fazer isto. Claro que tenho de viver e têm de
Lusíadas” é antiga e tem que ver como outras         tenho dúvida. “Os Lusíadas” não podem ficar                                                                                                                                                                                                             é possível um gajo meter-se nisto’, talvez se       me pagar. Daqui por um ano, se as pessoas
ligações, como quando fiz em Braga vários            como uma obra para convertidos, para pesso-        “Devo dizer que a 1 de Junho de 2008 comecei a fazer                                              a surfar. Isso demora pelo menos mais um          deu mais pistas para as pessoas sentirem e       metam noutras coisas. Para mim já é fantás-         curtirem e acharem que vale a pena expandir
projectos com o Sindicato de Poesia; e onde          as que já sabem, para os tipos da Faculdade        este trabalho e não sabia a primeira estrofe de cor,                                              mês, mas é o tempo que faz. Tenho de dizer        para estarem mais vivas. Pode ser que este       tico. Imagine que tenho cinco mil pessoas           isto tudo, estou disponível. Posso estar can-
fiz também no fim da década de 1990 um               de Letras – e duvido que a maior parte das                                                                                                           todos os dias aquele canto, todos os dias, ir     trabalho, que nesse aspecto ainda não come-      que vão ver isto e outras cinco mil que não         sado mas este é o meu trabalho e não tenho
espectáculo com o “Sermão da Sexagésima”,            pessoas que por lá passaram a tenham lido          ‘as armas e os barões assinalados’, que quase toda a                                              sempre lá. O tempo faz o resto.                   çou, seja a coisa mais importante que faça na    vão ver mas que ficam a matutar naquilo,            nada que me queixar.
de Padre António Vieira. Outras coisas foram         do princípio ao fim. Estou a falar de alunos,      gente sabe. Portanto, já se pode ver o meu conheci-                                                 - E nunca como uma rezinha. Como                minha vida, mas isso não sou eu que digo.        às tantas até vão fazer alguma coisa na vida           - A fechar: nessa também sua desco-
aparecendo como possibilidades, sobretudo            não de professores.                                                                                                                                  também diz no texto que tem no site,                 - Este interesse por adaptar textos           deles que tenha que ver com isto ou outra           berta pessoal de “Os Lusíadas”, que
grandes textos da literatura portuguesa, de            - Dizia que é uma obra fácil de ouvir.           mento da letra do texto. Penso que é o que acontece                                               “não há entendimento sem coração”.                como o “Sermão da Sexagésima” e                  coisa qualquer. Isto para mim é tão ou mais         texto e que autor encontrou?
que a maior parte da população tem infor-            E de oralizar? Houve dificuldade em                com quase toda a gente.”                                                                            A.F. – Isso sim. Mesmo quando digo e já         “Os Lusíadas”, textos que não são de             importante do que as pessoas que vão ver.              A.F. – Encontrei um grande artista, um
mação, já ouviu falar, mas depois realmente          actualizar um texto que tem séculos?                                                                                                                 sei bem, tenho de dizer implicado. Chego ao       palco, também tem que ver com a li-                 - A ideia é chegar a 2012 e poder di-            grande poeta, um grande cidadão – e isso
não conhece ou até tem preconceito, por-               A.F. – A dificuldade maior é a questão                                                                                                             fim de hora e meia de dizer, em casa, cansa-      gação à educação que de que falava               zer “Os Lusíadas” todos?                            é muito engraçado. Era uma pessoa com
que é muito difícil, porque é muito estra-           das referências culturais. “Os Lusíadas” são       mais interessantes. Por um lado, a possibi-      Esse trabalho, por um lado, não é fácil, mas     díssimo. Tem de ser muito implicado fisica-       há pouco?                                           A.F. – A 9 de Junho do próximo ano, em           um humor refinadíssimo e muito mimalha,
nho. Em 2008, por várias circunstâncias,             feitos em cima dos paradigmas clássicos,           lidade de actualização do texto, no sentido      para mim é fascinante. Conseguir surfar no       mente, se não, não serve para nada. Tanto que        A.F. – Tem que ver com uma ideia muito        Guimarães, então capital europeia da cultu-         que se está sempre a queixar, muito frágil.
a coisa amadureceu na cabeça. Tinha um               dos deuses, do vocabulário. A maior dificul-       de a gente ver que o texto tem ressonâncias      texto, isso sim é genial. É só isso que quero    preciso de estar numa forma física muito boa,     mais vasta, que é nós precisarmos todos mui-     ra, vou fazer os dez cantos. Vou fazer nove         Isso sente-se em muitas partes da obra. A
dilema: estava a pensar fazer um mestrado            dade é perceber a que é que correspondem           humanas, de vida, de pensamento, que nos         passar às pessoas, esse planar nesta música.     porque já não sou propriamente novo.              to de ficção nas nossas vidas, precisarmos de    seguidos: às 10h o primeiro, às 11h o II, ao        gente sente a fragilidade mas percebe que é
em questões de teatro, mas depois pensei             algumas referências, muitas vezes até actu-        são familiares e que são as nossas; e por          - Diz no site do projecto que este               - Diria que este é o seu maior desa-            histórias, de pensamento. Esses textos têm       meio-dia o III, com um intervalo de duas            mimalhice também, e isso é muito bonito.
que o mestrado não tinha graça, ia andar             alizando. Se no século XVI havia uma elite         outro lado jogar com outra coisa, que é a        não é um espectáculo circense de                 fio enquanto actor?                               muita ficção e muito pensamento. Do meu          horas e por aí fora, até às 23h. A essa hora        Depois, é uma obra musical absolutamente
dois ou três anos a aprender uma coisa que           que tinha essas referências da cultura clás-       musicalidade do texto. É a mesma coisa que       memória. Ainda assim é preciso uma                 A.F. – Enquanto actor perfomer é sem            ponto de vista, uma das minhas funções é         entram 40 ou 50 pessoas da população, com           fascinante. Tem pedaços melhores e peda-
depois não servia para nada. Então decidi            sicas, hoje não sei se é assim. Penso muitas       ouvir uma sinfonia de Beethoven. Se soube-       capacidade grande. Como é o método               dúvida o meu maior desafio. Ainda não con-        contar histórias. Costumo dizer que só me        quem trabalhei nos meses anteriores, uma            ços piores. Ainda não trabalhei em porme-
decorar “Os Lusíadas”. Parece caricato, mas          vezes nisso, sobretudo no canto VI, quando         res música, és capaz de curtir mais. Mas, se     de trabalho?                                     segui fazê-lo, só daqui a um ano. Como actor      interessam três coisas como actor: fazer rir,    orquestra e juntos dizemos o X canto. O que         nor os VIII, IX e X cantos, mas dá-me im-
foi assim que amadureci a ideia, que tirei a         é o consílio dos deuses marítimos, porque          gostares de música e não souberes, sentas-         A.F. – É trabalho, trabalho, trabalho. O       cidadão, acho que não é. Distingo o perfor-       fazer chorar e inquietar. Não me interessa       queria a seguir era, em todas as capitais de        pressão que ele está muitíssimo inspirado
maçã da árvore. Claro que há também a li-            aquilo parece uma reunião na Quinta da             te e apanhas ali um banho que não sabes de       método tem fases. Primeiro leio tudo, uma,       mer do actor que é cidadão, e aí penso que        mais nada. Trabalho com estas três e ideias.     distrito, onde há teatros, fazer a antologia        até ao fim do canto VII. Os cantos restantes
gação que sempre mantive com a educação,             Marinha. É tal e qual. Vem um com a espo-          quê. Não é preciso saber música para curtir      duas, três vezes. Depois começo a desmon-        não é de certeza a coisa mais importante e        Ora, se a gente vai à procura de textos de que   dos dez durante a semana, e depois no sá-           já são um bocadinho a arrastar. Para mim,
que me leva a pensar que, como actor, devo           sa, aquela levava do marido... Parece uma          a música. Como não é preciso entender o          tar, vendo as notas todas e o que as referên-    interessante que fiz na vida. As coisas que fiz   as pessoas já têm alguma memória, é mais         bado fazer tudo, sendo o X canto sempre             globalmente, os grandes cantos são o III, IV,
ter imensa responsabilidade de fazer passar          reportagem da revista Caras, com umas              sentido das palavras, a letra de todo o senti-   cias querem dizer. Depois começo estrofe         em Braga, ou mesmo as coisas que fiz numa         possível viajarmos em conjunto. Proponho a       com a população do sítio. Iria um mês antes,        V e VI. Se calhar um especialista de Camões
para as pessoas mais novas as grandes obras          fotografias e uns comentários do ex-Carlos         do das palavras e das metáforas, para curtir     a estrofe, ou por blocos. Essa é a fase mais     escola secundária em Carnaxide, foram mui-        coisa com uma ‘profundidade’, com um co-         trabalharia com as pessoas e elas diriam            não dirá isto, mas é o que sinto.
da literatura e do passado. Deveríamos ter           Castro. Estou convencido que, na altura,           ouvir “Os Lusíadas”. É nesse sítio que estou     violenta, que é fazer isto e ao mesmo tempo      to importantes enquanto actor cidadão. Não        nhecimento de coração, que as pessoas nunca
essa competência de ler a poesia e os roman-         como as pessoas sabiam aquelas coisas dos          a trabalhar, fundamentalmente.                   tentar dizer, mas tentar dizer no pensamento     propriamente enquanto ‘artista’ que é visto,      tiveram. Esta viagem comum torna-se mais         “A questão é esta: qual vai ser a importância disto
ces de uma forma muito mais fascinante do            deuses, fazia sentido e divertiam-se imenso.          - E como foi para si ler verdadeira-          e não nas palavras. Decorar fôlegos de pensa-    mas como cidadão dentro da minha função           fácil se as pessoas tiverem as mesmas referên-
que a maior parte dos professores de Por-            Hoje, a Quinta da Marinha é muito mais             mente “Os Lusíadas”?                             mento, bocados de narrativa. Ao ritmo a que      social. Não penso que isto venha a ser a coisa    cias. Por exemplo, uma das coisas que queria     para as pessoas do meu país? E aí posso vir a dizer
tuguês faz – e claro que há professores de           popular. Há coisas que são desse núcleo e             A.F. – É muito difícil desmontar aquilo       trabalho nisto – em média duas horas por         mais importante, mas pode ser, porque não         fazer – e que já não vou fazer, porque estou     que foi a coisa mais importante, porque foi a que mais
Português que fazem muitíssimo bem. Mas              hoje perderam-se. Mesmo a classe ‘culta’           tudo. Tenho de ir à procura das referências      dia há três anos e tal – 100 estrofes, uma mé-   sei que dimensão vai ganhar. A questão é          velho e não vou ter tempo – era pegar no Pes-
os actores deviam ter essa competência de            tem outras referências e o público em geral        todas, que também não as sei. Depois de ter      dia de um canto, no princípio demoravam-         esta: qual vai ser a importância disto para as    soa e fazer duas horas nos heterónimos, um       tocou e ajudou as pessoas, que deu mais pistas para
falar um texto escrito. Essa também é uma            não tem. Portanto, não pode ser por aí que         este trabalho todo mastigado, é quase como       me três meses. Umas 150 a 200 horas. Agora       pessoas do meu país? E aí posso vir a dizer       bocado como “Os Lusíadas”. Porque a geração      as pessoas sentirem e para estarem mais vivas.”
das razões por que estou a fazer isto.               a gente lê “Os Lusíadas”. Essas coisas têm         preparar um concerto, é ver os pormeno-          demoro menos. Depois, há outra fase que          que foi a coisa mais importante, porque foi       mais nova de uma forma geral tem muita in-
   - Li o texto em que explica por que               de desvalorizar e valorizar outras que são         res todos da escrita e depois deixar surfar.     é mecanizar isto. Dizer e dizer até começar      a que mais tocou e ajudou as pessoas, que         formação sobre o Pessoa e podem jogar essa


VI                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         VII
2012
António Fonseca trouxe-nos "Os Lusíadas" ...




                               Entrevistado na Biblioteca
No passado dia 26 de abril, o ator António Fonseca esteve na
Escola EB 2,3 de Celeirós, numa atuação com um reconto
extraordinário da antologia dos cinco primeiros Cantos de Os
Lusíadas. A iniciativa, da responsabilidade do grupo de Língua
Portuguesa, proporcionou um momento inesquecível a todos
os alunos do 9ºano, que numa perspetiva única tiveram o
privilégio de assistir a uma análise da obra diferente da que
já tinham feito, nas aulas de Língua Portuguesa.




          No seu modo teatral, criou entusiasmo em toda a plateia
Durante duas horas, António Fonseca disse, de memória,
algumas estâncias de Os Lusíadas, interpretando os seus
personagens, relatando momentos e explicando passagens,
sensibilizando os alunos para uma obra grandiosa que faz
parte do imaginário coletivo e que revela o fascínio de uma
viagem pelo desconhecido. A atuação de António Fonseca
“prendeu “os alunos a um texto, de difícil leitura e
interpretação , apenas interrompida pelas explicações do
ator que provocaram um misto de sensibilização e consciência
do valor de tão grandiosa obra e os seus apartes eloquentes e
divertidos. Foram momentos únicos de extasiado silêncio que
levaram os alunos a repensar Os Lusíadas de uma outra forma
e a quererem ouvir mais ,mas como disse António Fonseca
“Só no dia 9 de junho , em Guimarães”. Numa performance
magnífica, António Fonseca deixou na memória de todos os
que tiveram o privilégio de o ouvir, um espetáculo magistral.
Profª Aurora Oliveira
at Quarta-feira, Maio 02, 2012

http://becreceleiros.blogspot.pt/2012/05/antonio-fonseca-trouxe-nos-os-lusiadas.html
Encontro com Ator António Fonseca
Por Lígia Fernandes (Professora), em 2012/05/28             37 leram |   0 comentários |   3 gostam



Encontro com o ator António Fonseca sobre "Os Lusíadas"

                                                                          Ao longo das manhãs
                                                                          de 16 e 17 de maio,
                                                                          todos os alunos do 9º
                                                                          ano da nossa escola
                                                                          tiveram o privilégio de
                                                                          participar num
                                                                          encontro com o ator
                                                                          António Fonseca.
                                                                               O pretexto para
                                                                          este encontro foi a
                                                                          leitura de “Os
                                                                          Lusíadas”, de Luís de
                                                                          Camões, cuja
                                                                          apresentação integral
                                                                          está a ser preparada
                                                                          pelo ator. Foi uma
                                                                          partilha diferente,
inovadora, que possibilitou uma abordagem nova e nos permitiu, a todos, ver esta obra numa
perspetiva distinta da habitual, sob o olhar atento e perspicaz de alguém que diz o texto de cor,
ou seja, com o coração.
    A “conversa” repetiu-se no dia 27, desta vez com os professores, não só os de Língua
Portuguesa, mas com todos aqueles que puderam não ficar indiferentes à genialidade de Camões
e ao arrojo de alguém que propõe uma leitura muito especial de uma das maiores obras da nossa
literatura.
   O agrado foi geral e fica, pois, marcado um novo encontro para o dia 9 de junho, no CCVF,
onde terá lugar a apresentação integral da obra, com início às 10h da manhã.




Lígia Fernandes




http://meira.wikijornal.com/Artigo.asp?id=1261&d=encontro_com_ator_antonio_fonseca
Tiragem: 10500       Pág: 2

                            País: Portugal       Cores: Cor

                            Period.: Quinzenal   Área: 3,79 x 10,00 cm²

ID: 42047928   30-05-2012   Âmbito: Lazer        Corte: 1 de 1
Tiragem: 153674            Pág: 4

                                 País: Portugal             Cores: Cor

                                 Period.: Semanal           Área: 14,52 x 13,64 cm²

ID: 42087301   01-06-2012 | TV   Âmbito: Informação Geral   Corte: 1 de 1
Tiragem: 135000                       Pág: 9
                   Destak Porto                                                    País: Portugal                        Cores: Cor

                                                                                   Period.: Diária                       Área: 13,54 x 14,42 cm²

ID: 42126119               04-06-2012                                              Âmbito: Informação Geral              Corte: 1 de 1


               CAPITAL DA CULTURA

               ‘Os Lusíadas’ com 100
               vimaranenses em palco
                                                                                                          SUSANA PAIVA

               RAQUEL MADUREIRA
               rmadureira@destak.pt

                     A Capital Europeia da
                     Cultura estreia, no pró-
               ximo sábado, no Centro Cul-
               tural Vila Flor, em Guimarães,
               uma interpretação de António
               Fonseca sobre os 10 cantos da
               obra de Camões, Os Lusíadas,
               que estará em palco ao longo
               de oito horas, entre as 10h
               e as 23h. Numa co-produção
               do Teatro Meridional e da Ca-
               pital Europeia da Cultura,
               a peça junta em palco cerca de
               100 vimaranenses que estão,
               desde Abril, a trabalhar com
               o actor.
                  A criação, que está a ser de-
               senvolvida pelo actor há cerca     Maratona de oito horas no Centro Cultural Vila Flor
               de quatro anos, centra-se nu-
               ma apresentação de excertos        tam-se a António Fonseca pa-        Camões e das Comunida-
               da epopeia clássica, interrom-     ra interpretarem o 10º e últi-      des, um apelo à alma e à his-
               pida por comentários e inte-       mo canto. No dia que antecipa       tória nacionais, numa via-
               racções com o público. No fi-      as comemorações de 10 de            gem que é também profun-
               nal, os 100 vimaranenses jun-      Junho – Dia de Portugal,            damente autobiográfica.
Tiragem: 4000               Pág: 3

                                                                                                                  País: Portugal              Cores: Cor

                                                                                                                  Period.: Bimensal           Área: 22,91 x 24,34 cm²

   ID: 42260162                                           06-06-2012                                              Âmbito: Regional            Corte: 1 de 1




Uma ‘maratona de                                                                                      com especial ênfase para o Canto X.
                                                                                                          Obra de referência da nossa his-
                                                                                                      tória e da nossa memória coletiva,
                                                                                                      construída sob o signo da viagem,
                                                                                                                                              ator a partir do coração, que é a for-
                                                                                                                                              ma mais intensa do entendimento”,
                                                                                                                                              refere a organização dos Festivais Gil
                                                                                                                                              Vicente. E, segundo a mesma fonte,


falação’ para                                                                                         de Lisboa a Calecut na descoberta
                                                                                                      do caminho Marítimo para a Índia,
                                                                                                      “Os Lusíadas” são também a síntese
                                                                                                      e o prolongamento de todas as via-
                                                                                                                                              “num período do mundo em que a
                                                                                                                                              todos nós ‘Lusíadas’, afinal a todos
                                                                                                                                              os portugueses, nos é exigido um es-
                                                                                                                                              forço quase sobre-humano ao nível

celebrar Camões,                                                                                      gens, numa memorável metáfora da
                                                                                                      própria vida, emoldurando a nossa
                                                                                                      alma lusitana e a nossa identidade
                                                                                                                                              da nossa sobrevivência individual e
                                                                                                                                              coletiva, o Teatro Meridional quer con-
                                                                                                                                              tinuar a ver no Mar o horizonte de


Portugal e a vida
                                                                                                      enquanto povo. “Esta é a grande his-    todas as Viagens, e exaltar, espalhar
                                                                                                      tória do ser humano, porque é isso      e cantar por toda a parte se a tanto
                                                                                                      que ‘Os Lusíadas’ contam: a história    nos ajudar o engenho e a arte… “Mais
                                                                                                      da vida, no sentido em que a vida é     do que prometia a força Humana”…
                                                                                                      uma viagem por um desconhecido, e           Licenciado em Filosofia, António
NO ÂMBITO DOS FESTIVAIS GIL VICENTE, O ATOR ANTÓNIO                                                   aquela viagem à Índia foi a viagem      Fonseca, natural de Burgães (Santo
FONSECA DÁ VOZ A “OS LUSÍADAS”. LEITURA INTEGRAL DA                                                   por um desconhecido enorme”, refe-      Tirso) é ator desde 1977. Foi nomea-
                                                                                                      re o ator que em abril deste ano es-    do para os Globos de Ouro para me-
OBRA DE CAMÕES A PARTIR DAS 10 HORAS DO                                                               teve em Vila das Aves no âmbito das     lhor ator de teatro por “Wating for Go-
PRÓXIMO SÁBADO, DIA 9 DE JUNHO, EM GUIMARÃES                                                          sessões da Comunidade de Leitores       dot”, encenado por Miguel Seabra,
                                                                                                      do Centro Cultural, onde leu algu-      do Teatro Meridional (2006) e a mes-
Desde há uns anos a esta parte que                                                                    mas das passagens mais marcantes        ma nomeação este ano pelo traba-
o ator António Fonseca – por inter-                                                                   da obra de Camões.                      lho na peça ‘Vermelho’, encenada por
médio do Teatro Meridional - anda                                                                         “Neste espetáculo, esta grande      João Lourenço. Colabora regularmen-
                                           TEATRO: “OS LUSÍADAS”
às voltas com o épico de Camões. Já        Guimarães, Centro Cultural Vila Flor. Dia 9 de junho.      estória com História, vai ser contada   te em projetos de formação nas áre-
fez maratonas de cinco horas com a         Apresentações: Canto I - 10h00; Canto II - 11h00; Canto    através de episódios e factos referi-   as do Teatro, com destaque para a
                                           III - 12h00; Canto IV - 15h00; Canto V - 16h00; Canto VI
leitura e interpretação da primeira        - 17h00; Canto VII - 18h00; Canto VIII - 19h00; Canto IX   dos numa viagem profundamente au-       colaboração mantida com o Curso de
                                           - 22h00; Canto X - 23h00. Bilhetes a 5 euros.
metade d’ Os Lusíadas mas ficou sem-       Morada: avenida D. Afonso Henriques, 701. 4810-431         tobiográfica como as mais ingénuas      Teatro e Educação da ESECoimbra. ||||||
pre o desejo de apresentar, num 10         Guimarães. Telefone: 253 424 700. www.ccvf.pt                                                      FOTO: SUSANA PAIVA
                                                                                                      estórias infantis e comunicada pelo            SUSANA AIVA
de Junho, a obra por inteiro. Quatro
anos depois, mais coisa menos coi-
sa, António Fonseca, concretiza-o.
    Integrado nos Festivais Gil Vicente,
e em estreia absoluta, o ator sobe, no
próximo sábado, ao palco do Centro
Cultural Vila Flor, em Guimarães, para
a apresentação integral do épico de
Camões numa “maratona de falação”
que começa no dia 9 (10h00) e ter-
mina a 10 de junho, data em que se
assinalam 440 anos da edição d’ “Os
Lusíadas”. “Será uma momento único
e uma forma diferente de festejar o
Dia de Portugal”, sublinhou o progra-
mador de artes performativas de Gui-
marães Capital da Cultura, no âmbi-
to da apresentação dos Festivais Gil
Vicente (ver página 9). António Fon-
seca não estará sozinho em palco, já
que para este espetáculo foram convo-
cadas “muitas famílias de Guimarães”,
Famílias de Caldas das Taipas juntam-se na
oralização de Os Lusíadas
06.JUN.2012 |    Guimarães - CEC 2012
                                   A iniciativa é inovadora. António
                                   Fonseca, actor, apresentará no dia 9 de
                                   Junho, no Centro Cultural Vila Flor,
                                   Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões.




No canto décimo, cederá a voz a várias famílias de Guimarães, para a
conclusão da apresentação da obra que canta, como refere, a “vida de
pessoas com coragem”.

O actor, natural de Santo Tirso, nomeado pela segunda vez para os Globos de
Ouro para melhor ator de teatro (já o tinha sido em 2007), trabalha neste
projecto já há quatro anos.

Quando começou a pensar nesta apresentação, ainda estava longe de pensar
que viria a integrar a programação da Capital Europeia da Cultura. A
integração na CEC 2012 não veio alterar substancialmente a ideia original de
António Fonseca, “Já tinha feito a apresentação dos primeiros cinco cantos
em vários locais do país e as mudanças, para o dia nove de Junho,
prendem-se mais com alguns aspectos ligados aos cenários e aos aspectos
Quando começou a pensar nesta apresentação, ainda estava longe de pensar
que viria a integrar a programação da Capital Europeia da Cultura. A
integração na CEC 2012 não veio alterar substancialmente a ideia original de
António Fonseca, “Já tinha feito a apresentação dos primeiros cinco cantos
em vários locais do país e as mudanças, para o dia nove de Junho,
prendem-se mais com alguns aspectos ligados aos cenários e aos aspectos
visuais”.

A inovação principal do projecto original foi o de chamar ao palco várias
famílias que vão oralizar o canto décimo. Para António Fonseca esta
participação aconteceu de uma forma natural, “Os Lusíadas é uma coisa
nossa, é um património colectivo e seria mais interessante juntar mais
pessoas num projecto que começou mais individual. Quando ficou decidido
que a apresentação seria em Guimarães, pensei logo nas famílias. Se fosse
em Coimbra, talvez pensasse nos estudantes das diferentes faculdades; no
norte, a família é algo ainda muito forte, muito emocional, muito afectivo e
os tempos que vivemos são mais incertos do que há vinte anos atrás. Não
sabemos o que nos reserva o futuro e o que nos espera não será fácil de
enfrentar e tudo o que seja cimentar os laços colectivos ajudar-nos-á a viver.
A cultura entrar nestas relações familiares é importante e o facto de uma
família se juntar não para um baptizado mas para tratar Os Lusíadas é
fantástico”.

Ao todo, no palco principal do Centro Cultural Vila Flor, ao lado de António
Fonseca, passarão 97 pessoas, dividas por várias famílias, das quais quatro
são de Caldas das Taipas e de freguesias circunvizinhas. António Fonseca
começará às dez horas com a oralização, de hora a hora, dos nove primeiros
cantos. Serão realizados dois intervalos, o primeiro entre as 13 e as 15 horas
e o segundo será das 20 às 22 horas para jantar, coincidindo com a realização
do primeiro jogo de Portugal no Europeu de futebol. Às vinte e duas horas,
canto nono será ainda oralizado por António Fonseca e pelas onze horas
começam a entrar as famílias que concluirão o canto décimo da obra de
são de Caldas das Taipas e de freguesias circunvizinhas. António Fonseca
começará às dez horas com a oralização, de hora a hora, dos nove primeiros
cantos. Serão realizados dois intervalos, o primeiro entre as 13 e as 15 horas
e o segundo será das 20 às 22 horas para jantar, coincidindo com a realização
do primeiro jogo de Portugal no Europeu de futebol. Às vinte e duas horas,
canto nono será ainda oralizado por António Fonseca e pelas onze horas
começam a entrar as famílias que concluirão o canto décimo da obra de
Camões.

No dia que antecipa as comemorações de 10 de Junho – Dia de Portugal, de
Camões e das Comunidades Portuguesas –, o actor apela à alma e à história
nacionais, numa viagem que é também profundamente autobiográfica. Os
bilhetes para o espectáculo “Os Lusíadas” já estão disponíveis e podem ser
adquiridos, por cinco euros, no CCVF, FNAC e Bilheteira Online.
Dossier imprensa   lusiadas - antónio fonseca
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Todos os Cantos de "Os Lusíadas"
Alexandra Madeira, RTP08 Jun, 2012, 18:00 / Última atualização 08 Jun, 2012, 18:00



De fio a pavio, a obra maior de Luís Vaz de Camões foi dita, hora a hora, no palco do grande auditório do
Centro Cultural Vila Flor.
Um projeto do ator António Fonseca, que há alguns anos se embrenha pelas estrofes de "Os Lusíadas". É dito um canto por hora. O último,
o Canto X, junto com várias famílias entusiastas de Guimarães. Em palco quase cem pessoas numa produção que foi apresentada a 9 de
junho.

A antena 1 assistiu a um dos ensaios.



Ouvir em http://www.rtp.pt/guimaraes2012/artigo/?t=Todos-os-Cantos-de-Os-Lusiadas&artigo=121
Tiragem: 8000                   Pág: 12

                                                                                               País: Portugal                  Cores: Cor

                                                                                               Period.: Diária                 Área: 15,31 x 4,83 cm²

ID: 42215241                                   09-06-2012                                      Âmbito: Regional                Corte: 1 de 1

               GUIMARÃES: ACTOR NARRA                     prolongamento até amanhã, a “primeira         política”, a história épica narrada por
               LUSÍADAS EM 10 HORAS                       interpretação integral” da obra maior         Camões “não é a de reis e nobres”,
               A história d’Os Lusíadas, de Luís Vaz de   da literatura portuguesa.                     “é do povo”, como, apontou, “afirma, o
               Camões, vai ser contada ‘na íntegra’ ao    “Trezentos gajos fizeram-se à vida            próprio Camões no texto ao dizer: E
               longo de dez horas, numa peça levada       em naus, enfrentaram doenças,                 também as memórias gloriosas/ Daque-
               ao palco pelo actor António Fonseca e      tempestades. Não eram nobres, eram            les Reis, que foram dilatando/ A Fé, o
               por mais de 100 vimaranenses dos           pobres, condenados, marinheiros.              Império”, disse. “Esta é uma história
               sete aos 80 anos.                          Passaram as tormentas, chegaram ao            fechada nos eruditos. Quis conta-la,
               “Nenhum canto será esquecido”,             desconhecido”. - “Esta é a verdadeira         fala-la, analisa-la sem perceber nada”.
               garantiu António Fonseca, que estreia na   história d’Os Lusíadas”, explicou o actor.
               Capital Europeia da Cultura, hoje com      Ao contrário do “defendido pela
Tiragem: 46102                    Pág: 44
                Público - Porto                              País: Portugal                    Cores: Preto e Branco

                                                             Period.: Diária                   Área: 10,41 x 16,36 cm²

ID: 42212105          09-06-2012                             Âmbito: Informação Geral          Corte: 1 de 1



               Poesia                                                          PAULO PIMENTA




               O homem que meteu 8816             hora, com uma interrupção para
               versos na cabeça                   almoço a seguir ao canto III, e
               Os Lusíadas. Espectáculo de        outra para jantar depois do VIII,
               António Fonseca. Guimarães         a maratona começa às 10h00 e
               2012. Centro Cultural Vila Flor,   prevê-se que acabe já no dia 10,
               a partir das 10h00.                quando se comemoram os 444
               De cor, par coeur, by heart: são   anos decorridos desde a primeira
               muitas as línguas em que o acto    edição do poema. No último
               de dizer algo que previamente      canto, o actor será secundado por
               se memorizou é relacionado,        um coro de cem vimaranenses.
               não com o cérebro, mas com         Não se trata de um espectáculo
               o coração. Como se o que se        mais ou menos circense, nem
               sabe de cor passasse a fazer       de uma tentativa de figurar
               parte de nós, do nosso corpo.      no Guiness. Trata-se de dizer
               E talvez seja justamente isso o    um poema de cor, a partir do
               que acontece. Há quatro anos,      coração, como os poemas devem
               António Fonseca começou a          ser ditos. Os Lusíadas merecem
               decorar Os Lusíadas. Hoje, em      ser ditos assim. Felizmente
               Guimarães, vai “falá-los” (é ele   surgiu alguém suficiente louco
               próprio quem recorre a este        para se propor fazê-lo, alojando
               verbo, em detrimento de “dizer”    na cabeça e no coração as 1102
               ou “recitar”) de uma ponta a       estrofes, num total de 8816
               outra. Ao ritmo de um canto por    versos, que Camões nos deixou.
ATOR ANTÓNIO FONSECA
RECITA "OS LUSÍADAS"
DURANTE 12 HORAS
Espetáculo em
Guimarães assinala
os 440 anos da
publicação da obra
de Luís de Camões

Delfim Machado
cultura@jn.pt



A MAIOR epopeia portugue-
sa jamais publicada, "Os Lu-
síadas", é o tema de um espe-
táculo de teatro de 12 horas       António Fonseca levou quatro anos a preparar récita
que vai decorrer hoje no Cen-
tro Cultural de Vila Flor, em      deste trabalho. "Não é uma     ca, ao JN. Como profissional
Guimarães. Foi há 440 anos         coisa extraordinária andar     de histórias, encontra moti-
que a obra de Luís Vaz de Ca-      quatro anos a trabalhar no     vação delineando bem os ob-
mões foi publicada pela pri-       mesmo projeto, há pessoas      jetivosdasuavida,   "o porquê
meira vez, e a Capital Euro-       que trabalham no mesmo a       de ser ator".
peia da Cultura não quis dei-      vida inteira", afirma Fonse-     As 12 horas de "Os Lusía-
xar passar a efeméride.                                           das" passam pelos dez cantos
  Assim, convidou o ator An-                                      da obra no caminho até à ín-
tónio Fonseca, que interpre-          NO ÚLTIMO                   dia. No final de cada um, há
ta Ambrósio Conde na tele-            CANTO                       intervalos de dez minutos.
novela "Rosa fogo", para re-          O ATOR CONTA                No último         canto, António
citar a obra na íntegra. Dos 3 5      COMA                        Fonseca conta com a ajuda de
anos de carreira do ator por-         COLABORAÇÃO                 cerca de 80 pessoas. A récita
tuguês, os últimos quatro fo-         DE 80 PESSOAS               começa às 10 horas e termina
ram passados na preparação                                        à   meia-noite.    •
Famílias de Guimarães juntaram-se na oralização de “Os Lusíadas” (FOTOS)
12.JUN.2012 |   Sociedade




A estreia aconteceu no dia 9 de Junho, no âmbito da Capital Europeia da Cultura

Ao longo de mais de oito horas, entre as 10h00 e as 24h00, António Fonseca apresentou no Centro Cultural Vila Flor
(CCVF) os mais de mil versos decorados ao longo de quatro anos. No décimo e último canto, a maratona juntou em
palco cerca de 100 vimaranenses que, desde Abril, trabalharam com o actor.

No canto décimo, cedeu a voz a várias famílias de Guimarães, para a conclusão da apresentação da obra que canta,
como refere, a “vida de pessoas com coragem”. Para António Fonseca esta participação aconteceu de uma forma
natural, “Os Lusíadas é uma coisa nossa, é um património colectivo e seria mais interessante juntar mais pessoas num
projecto que começou mais individual.

Apesar da primeira edição de Os Lusíadas ter sido publicada pela primeira vez em 1572, António Fonseca entende que
não fazia sentido fixar essa história no tempo em que foi escrita, “Os Lusíadas faz-nos pensar no mundo de hoje, na
nossa vida, como povo e como pessoas e temos que inventar Os Lusíadas como se fossem criados agora”.

António Fonseca não deixa dúvidas quanto à actualidade da viagem de Camões: “Os Lusíadas é uma grande história de
vida e viver é ir à aventura, viver é arriscar. O que é que aqueles trezentos homens fizeram? Arriscaram, arriscaram a
vida, arriscaram viver. O que é que eles estavam a fazer em Portugal? Não foram para dilatar a fé ou o império. O
Vasco da Gama, eu sei o que ele fazia como o resto dos maiorais da época, mas, e os outros?. Na proposição, Camões
diz: eu canto, as armas e os barões assinalados que foram descobrir a Índia que se meteram ao mar, a memória dos reis
que dilataram a fé e o império e as terras viciosas de África e todos que por obras valorosas se vão da lei da morte
libertando e o peito ilustre lusitano. Ele canta pessoas com coragem, é isso que ele canta. Só canta uma coisa
relativamente à memória dos reis, agora, as coisas importantes que canta, são os homens corajosos que se lançaram à
vida. Na proposição, “a memória dos reis que dilataram a fé e o império “ é simplesmente uma nota de rodapé e não
podemos fazer desta nota de rodapé o principal, no meu atender, é adulterar o que Camões escreveu”.
Dossier imprensa   lusiadas - antónio fonseca
Dossier imprensa   lusiadas - antónio fonseca
Lusíadas no CC Vila Flor


http://www.reflexodigital.com/index.php?cat=43&item=13882
OS LUSÍADAS À VOLTA DA MESA




O actor António Fonseca disse de cor a obra integral de Camões numa maratona que durou mais de meio
dia. A primeira estrofe foi ouvida ainda às escuras.


Sozinho em palco, o actor António Fonseca apresentou sábado [9 de Junho], em Guimarães, os dez cantos d’Os
Lusíadas. Mas sozinho nunca esteve. Alguns resistentes ouviram a «falação» desde as 10h, e o Canto X, às
23h, foi dito pelos membros de dez famílias do concelho de Guimarães. Durante nove horas, António Fonseca foi
puxando conversa, explicando as referências mais obscuras do poema épico e fazendo apartes que mostravam
a actualidade dos versos: o jogo da selecção, a ilha da Madeira, os jornalistas e o ministro. Os temas actuais
surgiam inesperadamente por conta dos próprios versos. Alguns espectadores davam troco, e assim se
passaram nove cantos, um por hora, com almoço e jantar pelo meio.


As famílias, que acompanharam o actor nos últimos dois meses, subiram ao palco do Grande Auditório do
Centro Cultural Vila Flor para encerrar o acto, dizendo a maior parte das estrofes do Canto X. A epopeia dos
heróis lusitanos tornou-se um serão à volta da mesa, onde se mostraram os lusíadas de hoje, cujo heroísmo foi
chegar-se à frente para dizer os versos de Camões e, neles, dizerem-se de outra maneira. A primeira estrofe foi
ouvida ainda com o palco às escuras, fazendo prova que o actor não tinha teleponto. Os versos iniciais, que já
toda a gente aprendeu e esqueceu, ressoaram na escuridão como se estivessem a ser arrancados à memória.
Pouco a pouco, a sala iluminou-se, revelando os mapas da Europa, de África e da Península Ibérica (depois
substituído pelo da Índia) estampados em velas de navios. Quando necessário, António Fonseca apontava no
mapa, com uma luzinha, o local de que se falava nas estrofes, com os nomes exóticos que Camões designa.
Posto à vontade, o público participava quando queria. Uma criança reparou na ilha de São Lourenço e corrigiu de
imediato: «aquela ilha é Madagáscar». Sim, responde o actor, vão ver mais tarde. E no Canto X lá está: «de São
Lourenço vê a ilha afamada / Que Madagáscar é dalguns chamada». No Canto VIII, antes de prosseguir, o actor
explicou que diria algumas estrofes mais rapidamente, para não se demorar muito nos feitos dos vários heróis
nacionais. Uma espectadora, comovida, interrompeu para frisar que estavam ali para o ouvir, e que ele
demorasse o tempo que fosse preciso. «Não desanime, por favor. Estamos a ver o esforço que está a fazer e
queremos ouvir tudo.» António Fonseca aproveitou para lembrar que tudo aquilo – inclusive o aparente esforço –
era truque teatral, e que estava ali para mentir, como Camões fazia, porque uma história só é boa se for
fingimento. A pena que a espectadora teve dele era o melhor elogio que poderia ouvir.


A última parte começou já depois da derrota da selecção portuguesa, motivo para mais apartes. É o mesmo tipo
de apartes que Fonseca usou nos ensaios com as famílias. Estas famílias lusitanas foram encontradas um pouco
ao acaso. Augusta Sousa, por exemplo, foi uma das duas famílias contactadas pelo serviço educativo do CCVF.
Expôs o caso à família num almoço dominical. Os homens puseram-se logo de fora. Mas entre ela e as filhas,
algumas primas e amigos, lá juntaram gente suficiente. Nem sabiam se iam ser escolhidas. Mas ao cabo de
alguns ensaios e jantares, lá foram, briosas. Ana Baltar, ao contrário, contracenara com António Fonseca há
mais de quarenta anos, num grupo amador da região. Por ocasião dos seus cinquenta anos, as irmãs
reconstituíram a representação como prenda de aniversário e contactaram o agora actor profissional para saber
como tinha sido. Quando o projecto dos Lusíadas veio para Guimarães, António desafiou Ana a participar. E lá
estavam, na primeira fila, os pais orgulhos dos rebentos, aperaltados, dando o seu melhor, mostrando o valor
dos portugueses.


Faltou um convidado: D. Sebastião. A meio da plateia, uma cadeira iluminada, com um aviso de reservado,
simbolizava o Desejado, a quem o poema foi originalmente dedicado, e o lugar dos governantes portugueses. Já
depois dos versos finais, em jeito de coda, António Fonseca apontou a cadeira que estava destinada a D.
Sebastião, mas que este não ocupara por falta de nevoeiro. Seria essa a cadeira para Presidentes, Ministros e
Secretários de Estado, se tivessem vindo: «Não sabíamos que também precisavam de nevoeiro.» No final,
aproveitando as invectivas de Luís Vaz de Camões, António Fonseca interpelou presentes e ausentes. A pátria
«está metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza»; «um fraco rei faz fraca a
forte gente». A maratona terminou, já depois da meia-noite, com um «Viva a forte gente!», que arrancou a
saudação emocionada da plateia.


Jorge Louraço Figueira
http://estadocritico.wordpress.com/2012/06/14/os-lusiadas-a-volta-da-mesa/
Público – 12.06.2012

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  • 1. OS LUSÍADAS por ANTÓNIO FONSECA NOTAS DE IMPRENSA
  • 6. António Fonseca - Destaques - Time Out - Lisboa Page 1 of 2 António Fonseca É uma epopeia: a partir de quinta-feira, o actor António Fonseca interpreta os primeiros cinco cantos d´Os Lusíadas no Teatro Meridional. De quarta a sexta, às 21.45, faz uma antologia com uma selecção dos principais episódios; ao sábado, a partir das 17.00, é a vez da maratona com todos os versos da primeira metade do grande livro de Camões. Como é que se decoram cinco cantos dos Lusíadas? Com muito trabalho, não há outros segredos. Há fases, e não se pode saltá-las. Há uma primeira fase que é perceber tudo muito bem e esgravatar a gramática, sobretudo Os Lusíadas, que exigem uma competência técnica muito grande para serem lidos, e uma série de referências. Depois, há uma segunda fase em que se começa a meter tudo dentro da cabeça, a pensar aquele pensamento com aquelas palavras. E depois é como riscar ou fazer um veio numa pedra de mármore: risca-se, risca-se, risca-se, e aquilo vai ficando, com um ritmo e uma subjectividade que é necessariamente a minha. A maratona dos cinco cantos que se vai poder ver aos sábados, quantas horas terá? Cinco. Cada canto será dito na totalidade com um intervalo de dez minutos e o público pode comprar bilhete para um canto ou dois, ou para os cinco. O público escolhe e vai ver quando quiser. Pode ver um num sábado e no sábado seguinte ver outros dois. O terceiro canto é o maior. No total tem uma hora, uma hora e cinco com os comentários. Que comentários? Alguns comentários que vou introduzir em determinados versos e que podem ser espontâneos e depender do público. Porque eu não quero fazer uma coisa arqueológica, quero fazer uma actualização dos Lusíadas, falar com o pensamento e a imaginação portuguesa de hoje. A última coisa que eu queria era que as pessoas fossem ao Meridional para ficar a conhecer Os Lusíadas. Isso é a função da escola, é uma chatice. O que eu quero é que haja fruição, sonora e mental. Como actor, quero que as pessoas se riam, se emocionem e, eventualmente, que se inquietem. Mais nada. E porquê Os Lusíadas? Por muitas razões. Primeiro porque é uma grande obra nossa e do nosso imaginário colectivo. Depois porque eu já fiz um texto do Padre António http://timeout.sapo.pt/printn.asp?id_news=6271
  • 7. António Fonseca - Destaques - Time Out - Lisboa Page 2 of 2 Vieira, que é o grande imperador da língua portuguesa segundo o Camões, e acho que os outros dois grandes pilares são de facto o próprio Camões e o Pessoa, que também gostava de dizer um dia. Outra razão ainda é o facto de termos quase um trauma com este livro: toda a gente acha que sabe Os Lusíadas, mas ninguém sabe. Sabe da escola, mas não sabe. E é muito interessante voltar lá, a esta grande história do ser humano. Porque é isso que Os Lusíadas contam: a história da vida, no sentido em que a vida é uma viagem por um desconhecido, e aquela viagem à Índia foi a viagem por um desconhecido enorme. E os outros cinco cantos que ficam a faltar? O sexto já trabalhei, estou neste momento a fazer a análise do sétimo. Gostava de fazer todos no dia 10 de Junho de 2012. Por ser Dia de Portugal? E porque faz 440 anos da edição d’Os Lusíadas. © 2007 Time Out Group Ltd. Todos os direitos reservados. Ficha Técnica | Estatuto Editorial Av. da Liberdade, nº13 - 3ºEsq. 1250-139 Lisboa Telefone: 21.359.31.00 Fax: 21.359.31.31 e-mail: geral@timeout.pt Empresa jornalística: 223 753 * Registo de título: 125 225 Director: João Cepeda http://timeout.sapo.pt/printn.asp?id_news=6271
  • 8. Os Lusíadas à la carte 25.11.2010 - Ana Dias Cordeiro Um dia António Fonseca vai contar "Os Lusíadas" do princípio ao fim. Porque ouvir não é a mesma coisa que ler. A meio caminho, o actor diz os primeiros cinco cantos de cor(ação) "Aqui vai haver dois espectáculos. Pode dizer-se que é um espectáculo 'à la carte'. Na verdade, isto não é um espectáculo". Pausa, sem reacções. Há que ouvir. Quem fala é o actor António Fonseca, recuperando o fôlego. Acaba de representar excertos dos primeiros cantos de "Os Lusíadas" no palco do Teatro Meridional, em Lisboa. Como preparação para a performance que estreou ontem (até 18 de Dezembro). Preparação, ensaio - mas nunca sem emoções. "O que não está no coração, não está na cabeça" e este não é de certeza "um espectáculo de memória". "É uma contação. Não é uma leitura", explica António Fonseca. É ele o responsável pela concepção e interpretação desta performance. "De cor" para ele faz sentido apenas no sentido "de coração." O que lhe interessa é contar. "O texto está a ser inventado no momento em que está a ser dito. É como contar uma história." Sobre o ser ou não espectáculo e "à la carte" significa que terá duas versões. Aos dias de semana - de quarta a sexta - esta representação de um homem só começa às 21h45 com uma antologia resumida dos cinco primeiros cantos de "Os Lusíadas" e dura cerca de 1h30. Aos sábados, é apresentada a integral dos cinco primeiros cantos. Neste caso, o espectador escolhe: ver apenas um canto (e pagar 5 euros), dois ou vários; ver uma parte num sábado e outra no seguinte; ver todos. Nesse caso, começa às 17h - entre os três primeiros cantos, há um intervalo de dez minutos - e pára às 20h30 para o jantar. Às 22h00 recomeça, com o Canto IV e às 23h00 o Canto V, os preferidos, no conjunto, de António Fonseca. "Como um todo, o IV e o V são muito narrativos e penso que os mais equilibrados." Mas o actor rende-se a momentos e estrofes de outros cantos. No episódio Inês de Castro, no Canto III, acontece por vezes ceder à emoção do texto, "uma coisa de vibração física". No vibrante discurso de Nuno Álvares Pereira, em defesa de Portugal, antes da batalha de Aljubarrota, põe força e determinação na voz. O actor-narrador partilha o palco com três grandes velas - são as três naus da armada de Vasco da Gama, de "Os Lusíadas". Em cada uma estão estampados os mapas de África, Europa e Portugal e neles escritos os nomes dos locais de então. Ilha de Moçambique era Ilha de Moçambique; mas as ilhas de Cabo Verde eram as Hespéridas; Madagáscar era São Lourenço; e as ilhas Bijagós eram as Dórcadas. No momento da partida da nau, ouve-se o som do mar, por entre as três velas. Uma luz fosca alterna com a penumbra. "A grande coisa dos Descobrimentos é o espaço. Antes [dos Descobrimentos], para um europeu comum, o mundo era o Mediterrâneo e pouco mais. Em 20, 30 anos, isso explode. E essa explosão espacial é muito clara n' 'Os Lusíadas'. O mundo físico explodiu. E Camões tem consciência disso, uma consciência de época." António Fonseca, que já fez "O Sermão da Sexagésima" do Padre António Vieira, quer "ainda ter tempo" para fazer Fernando Pessoa. Com Camões, "são os três grandes pilares da língua portuguesa", considera. Por agora, o objectivo será representar os dez cantos de "Os Lusíadas", entre as dez da manhã e as dez da noite do dia 10 de Junho de 2012. Porque a obra, "história exemplar", "uma epopeia", "é universal", "toca no essencial do ser humano". http://ipsilon.publico.pt/teatro/texto.aspx?id=270253
  • 9. Epopeia: Ator António Fonseca diz Os Lusíadas de cor O ator António Fonseca anda há dois anos e meio a decorar Os Lusíadas, e começa hoje no Teatro Meridional a apresentar os primeiros cinco cantos da obra prima de Luís Vaz de Camões. Uma epopeia que só deverá acabar a 10 de Junho de 2012, data em que espera dizer de uma só vez os dez cantos. Anabela Campos 18:24 Quinta feira, 25 de novembro de 2010 António Fonseca irá por agora e durante um mês - de quarta às sextas às 21:45 e aos sábados a partir das 17:00 - apresentar os primeiros cinco cantos de Os Lusíadas, numa versão mais reduzida à semana e a integral ao sábado No dia 10 de Junho de 2012, Dia de Portugal e data em que se comemora os 440 anos da primeira edição de Os Lusíadas, espera dizer os 10 cantos durante todo o dia, uma tarefa hercúlea, a que se tem dedicado desde Junho 2008 e que obriga o ator a estar em grande forma física. "Há mais de dois anos sonhei dizer os Lusíadas de cor. A ideia foi-se-me impondo. (...) Comecei verso por verso, estrofe por estrofe, episódio por episódio, canto por canto. Foi-se-me revelando uma grande estória da vida, uma grande estória da condição de ser humano, uma metáfora enorme da nossa condição de seres históricos, em qualquer sítio, em qualquer contexto cultural, em qualquer tempo", diz no seu blogue, onde explica por que se decidiu pegar na obra prima de Luís Vaz de Camões. "Foi uma ousadia", como o próprio reconhece em declarações ao Expresso. E que lhe tem ocupado todas os momentos livres desde que começou a pensar na ideia. Até porque, sublinha António Fonseca, desde 2008 já fez 7 peças de teatro, deu aulas, fez novelas e séries televisivas. "Para já fica uma antologia dos cinco cantos, com os episódios mais significativos: o Consílio dos Deuses, a passagem na Ilha de Moçambique, a traição dos Mouros em Mombaça, a visita de Vénus a Júpiter e as queixas que lhe faz, a chegada a Melinde, a batalha de Ourique, o episódio da Inês de Castro, os preparativos e a batalha de Aljubarrota, a despedida da Armada em Belém (e não só o velho do Restelo), os fenómenos marítimos, o Fernão Veloso, o Adamastor e o escorbuto", avança Antónioo Fonseca. A MEMÓRIA DE ADOLESCÊNCIA "Os Lusíadas evocavam uma memória recorrente da adolescência: um livro truncado com muitas reticências, uma misturada de sentidos que não acabavam, muitos sublinhados a lápis e, sinceramente, uma total ausência de noção da obra. Entre esta memória, que não posso dizer que fosse grata, e tudo o que fui acrescentando ao longo do tempo sobre o lugar e importância da literatura na vida e o papel dos Lusíadas no nosso imaginário coletivo, foi crescendo uma curiosidade e uma vontade de conhecer verdadeiramente a partitura poética da Epopeia", confessa. "Sentia-me algo culpado por desconhecer uma obra que é matriz da nossa memória, tantas vezes e de tantas maneiras utilizada para fins patrióticos e patrioteiros, que na intimidade de quem passou pela experiência da sua abordagem obrigatória causa um misto de fascínio e ódio, que ninguém pode verdadeiramente dizer que não conhece mas que quase ninguém conhece verdadeiramente", acrescenta.
  • 10. Além de interpretar Os Lusíadas, António Fonseca irá também fazer comentários em determinados versos, porque na realidade o ator também quer fazer uma atualização da obra e não fazer uma coisa arqueológica. Cada canto demora a dizer cerca de uma hora e haverá intervalos entre eles e os espetadores podem ver os cantos em dias diferentes, não precisam de ver tudo de uma vez. Depois de apresentar a obra em Lisboa, a intenção de António Fonseca é fazê-lo pelo país e em escolas, se surgirem convites nesse sentido. O ator já está a preparar o sexto canto e espera começar no final de 2011 o décimo.
  • 11. Os Lusíadas (I a V Canto) Teatro Meridional Teatro Qua-Sáb O cone de luz sobre o corpo dobrado parece realçar a voz, elevar as palavras que, uma a uma e por aquela exacta ordem, anunciam angústia, visão do fim, pelo menos certeza da dor que a doença garante. É um relato à beira do desespero, cortado abruptamente pelo silêncio e pela escuridão, deixando o narrador, os marinheiros com o seu escorbuto e os espectadores suspensos… da leitura da obra ou, com igual desfrute, da sua interpretação integral – o que é só aos sábados, pois às noites de semana António Fonseca só dispensa Os Lusíadas em modo “antologia”. Começa por “As armas e os barões assinalados,” como toda a gente sabe, e acaba, como quase ninguém faz ideia, em “Sem à dita de Aquiles ter enveja” dez cantos depois. Isto no original, que a visão do épico de Luís Vaz de Camões (1524-1580) criada por António Fonseca ainda vai no meio, no Canto V. No fim deste canto, Vasco da Gama agradecerá às musas e lá vai, mareando à procura da Índia. Para já, ou melhor, às quartas, quintas e sextas, quando as luzes se fecham sobre o actor e encerram esta sessão do best of, a armada portuguesa está em muito maus lençóis por evidente falta de vitamina C. Há muito que os portugueses, a não ser quando vão de férias a crédito, não passam além da Taprobana. Felizmente, há muito também que o escorbuto não afecta a nação. A não ser, claro, nesse território ardiloso da simbologia da pátria inventada por Herculano, no essencial ainda em vigor, ignorados como costumam ser os críticos da obra, sejam eles Dom Francisco Lobo (que acusou o poeta de desconhecer o amor), Cesário Verde (que não gostou do “desejo absurdo de sofrer”), Hegel (a quem deu para embirrar com a dependência estilística de modelos clássicos), ou António José Saraiva (para quem “o peito ilustre lusitano não passa de uma abstracção incapaz de conjuntivar carnalmente as proezas sucessivas dos guerreiros.”) Considerando ou não estes e outros críticos, aceitando, mesmo que de soslaio, a versão mítico-nacionalista, certo é Os Lusíadas serem, com Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro, e os Sermões de António Vieira, obra fundadora da cultura literária e peça fundamental na afirmação da língua portuguesa. Foi isso que interessou a António Fonseca, pois, seja como for – diz o programa –, o texto “é uma grande estória de vida, uma grande estória da condição de ser humano, uma metáfora enorme da nossa condição histórica, em qualquer tempo e lugar.” E é isso que o actor dá a ver, entre apartes, comparações e lamentações irónicas, assim combatendo o trauma infligido por sucessivos ministros da Educação em várias gerações de alunos constrangidos a enfrentar Os Lusíadas uma oração de cada vez. Rui Monteiro 14.12.2010 © 2007 Time Out Group Ltd. Todos os direitos reservados. Ficha Técnica | Estatuto Editorial Av. da Liberdade, nº13 - 3ºEsq. 1250-139 Lisboa Telefone: 21.359.31.00 Fax: 21.359.31.31 e-mail: geral@timeout.pt Empresa jornalística: 223 753 * Registo de título: 125 225 Director: João Cepeda http://timeout.sapo.pt/news.asp?id_news=6359
  • 12. NS259_lusiadas ER.qxd 12/21/10 1:28 PM Page 42 42 NS TEATRO CAMÕES António Fonsecaconta ‘OsLusíadas’ Em 1572 foi publicado pela primeira vez o poema Os Lusíadas, de Camões. Mais de quatrocentos anos depois, o actor António Fonseca diz de cor os primeiros cinco cantos da obra e prepara já os restantes. O espectáculo chega ao Teatro Meridional, em Lisboa, em 2011. TEXTO RITA PENEDOS DUARTE FOTOGRAFIA NUNO PINTO FERNANDES/GLOBAL IMAGENS Proposição ço do Bispo, em Lisboa, saiba que António todo o lado se diz que «o país não presta, que [Chama-se proposição ao momento em que, Fonseca regressará àquele espaço em Ou- isto está uma chatice, o que se deve fazer? Se num texto épico, se procede à apresentação tubro do próximo ano. Parte, depois, em di- calhar dar cabo da cabeça numa coisa inútil. do tema e dos heróis envolvidos.] Porque se gressão pelo país. Coimbra, Aveiro e Gui- Nem tudo tem de servir para alguma coisa. propôs o actor António Fonseca, de 52 anos, marães são locais já confirmados. Nessa al- O azul do céu é inútil e o pôr do Sol também a dizer de cor Os Lusíadas, de Luís Vaz de tura estará em cena «uma nova versão com não serve para nada, mas existem e quando Camões? «Foram muitos motivos mistura- os dez cantos. É um trabalho que pelo me- os vemos é… uau!» dos. Alguns anedóticos, outros mais sérios, nos até Junho de 2012 estará sempre em Se é de razões que se trata, o actor tem mais fundamentados, em termos de refle- progresso», confirma o actor. uma mão-cheia delas. «A certa altura senti xão sobre o que é o papel do actor. Ou qual Há três anos, António Fonseca arregaçou necessidade de estudar e inscrevi-me num é o meu papel cívico. Não sou padeiro, sou as mangas e decidiu empenhar-se em qual- mestrado. Mas não gostei nada da experiên- actor. Um padeiro faz pão e um actor conta quer coisa que teria tanto de «brutal» como cia e pensei que, em vez de fazer um mestra- histórias. Eu não sei fazer pão.» Sabe, po- de «inútil». «Quando disse a um colega de do ou doutoramento que não me serviriam rém, como tornar um texto com quatro sé- profissão que estava a decorar Os Lusíadas, para nada, preferia decorar Os Lusíadas.» culos num espectáculo contemporâneo. ele achou que era brutal e isso mexeu comi- E continua a enumerá-las. «Outra coisa que A peça esteve em cena no Teatro Meridio- go. Parece que tudo o que se faz tem de ser as- me levou a iniciar este projecto foi o comple- nal, entre 25 de Novembro e 18 de Dezem- sim. Não sei se o é, mas implica muito traba- xo de culpa a que o texto está associado. Por bro, e surpreendeu as centenas de especta- lho e nós não estamos habituados a trabalhar um lado, a maioria das pessoas reconhece a dores que por lá passaram. Para quem não muito», diz. Por outro lado, assume que é sua existência e importância mas, por outro teve oportunidade de se deslocar até ao Po- uma «provocação quase vital». Quando por lado, poucos o leram.»
  • 13. NS259_lusiadas ER.qxd 12/21/10 1:29 PM Page 43 43 NS De qualquer forma, afirma que não é um de pegar no Sermão da Sexagésima do padre não pediu auxílio às ninfas, mas procurou o texto fácil. «Para ler Os Lusíadas, mais do que António Vieira e, desde essa altura, não parou conselho de profissionais para se preparar Os Maias, de Eça de Queirós ou qualquer tex- de o apresentar em escolas secundárias, uni- para esta maratona. «Falei com o professor to de Gil Vicente, é preciso ter uma compe- versidades e em eventos variados. «É um dos João Lobo Antunes [director do Serviço de tência técnica, gramatical, sintáctica, que as textos mais incríveis sobre a comu- Neurocirurgia do Hospital de pessoas não têm, nem têm de ter. Mas ouvir nicação. Demora uma hora, mas «ESTE TRABA- Santa Maria, em Lisboa] para Os Lusíadas todos podem ouvir. É como nu- prende a atenção dos miúdos com LHO EXIGE tentar perceber se um esforço tão ma sinfonia: não sabes ler a partitura, mas uma facilidade incrível. Em algu- MUITO DE NÓS grande e continuado de memória ouves e podes curtir a música. Essa é a minha mas escolas, os professores vinham FISICAMENTE, podia ter quaisquer implicações função: contar esta história, para que as pes- ter comigo a dizer que davam médicas conhecidas ou prová- soas possam conhecê-la, ouvindo.» aquele texto há vinte anos mas que CAUSA UMA veis. Mas a conversa foi pouco António Fonseca não é um marinheiro de nunca o tinham ouvido assim. A ANSIEDADE conclusiva», diz. «Aconteceu nu- primeira viagem. Licenciado em Filosofia, fez o passagem para a oralidade muda GLOBAL», ma altura em que, depois de duas Curso de Formação de Actores e seguiu a carrei- e simplifica o entendimento.» É es- DIZ ANTÓNIO a três horas de trabalho contínuo, ra de actor. A sua experiência no teatro é vasta se o exercício que pretende fazer FONSECA. ficava com dores. Parecia que as e reconhecida. Em 1996, a Câmara Municipal agora com o texto de Camões. paredes da cabeça eram de corti- de Oeiras atribuiu-lhe a Medalha de Mérito ça e que não respirava. Vim a perceber de- Municipal grau Ouro e, em 2006, foi nomeado Invocação pois que o trabalho que estava a fazer exige para melhor actor de teatro na Gala Globos de [Em que Camões invoca as ninfas do Tejo, a muito de nós fisicamente, causando uma an- Ouro, da SIC. Há cerca de dez anos lembrou-se quem pede inspiração para escrever.] António siedade global.»
  • 14. NS259_lusiadas ER.qxd 12/21/10 4:09 PM Page 44 44 NS TEATRO CAMÕES Em conjunto com o seu médico, António Fonseca adoptou uma profilaxia que deu re- sultado: «Em alturas críticas tomava um an- siolítico que me relaxava e repunha os níveis de energia nos sítios certos.» Por outro lado, tal como um atleta que se prepara para uma prova, também o actor assumiu a máxima «mente sã em corpo são» e mudou os seus há- bitos alimentares. A carne passou a ser uma excepção na sua mesa, dando primazia ao peixe, legumes, fruta e cereais integrais. Di- minuiu consideravelmente o número de ci- garros e de café que consumia e começou a fazer natação, ioga e marcha. «O meu médi- co incentivou e aprovou este regime e refor- çou com selénio, um complexo vitamínico e magnésio.» Agora que o espectáculo começou e não pode parar, os cuidados foram revistos e me- lhorados. «Ao sábado, quando digo os cinco cantos, tento dormir nove a dez horas. O pe- queno-almoço é o habitual: uma tigela de flo- cos de aveia integrais, cozidos em chá ou água, a que acrescento farelo de trigo, quinoa e sementes de linhaça moídas. Depois mistu- ro mel e fruta. Segue-se um passeio pela ma- ta do Estádio Nacional. Pelas duas, sirvo-me de um bom bife com esparguete, uma salada verde (com agrião, alface e rúcula, que tem- pero com gomásio ou sal de sésamo, e um fio de bom azeite do Douro), acompanhados de um copo de vinho tinto, receitado pelo meu médico.» Nem mesmo durante o espectáculo são aceites deslizes neste campo: «Nos intervalos como barras de cereais com chocolate e, du- rante o espectáculo, bebo chá de perpétuas roxas com mel, indicado para a voz. Ao jan- tar, no intervalo do terceiro para o quarto canto, o menu inclui massa com salmão e brócolos e bebo outro copo de vinho. No fim do espectáculo vou para casa, que já dei para noitadas em bares.» Dedicatória [Dedicação do poema a D. Sebastião, incitan- do-o a fazer grandes coisas.] Na plateia há uma cadeira reservada para D. Sebastião, não vá dar-se o caso de o «rei-menino» apa- recer para agradecer a obra que lhe foi de- dicada. Só falta o nevoeiro porque, como diz o actor em palco, ficaria muito caro comprar uma máquina para os efeitos de fumo. Mas se não for el-rei a iluminar a sa- la, que seja o presidente da República, o pri- meiro-ministro ou a ministra da Cultura. Recados à época contemporânea, que sal- picam o espectáculo e o trazem para os dias de hoje. «Eu quero fazer uma actualização d’Os Lu- síadas, não a sua arqueologia», afirma Antó- nio Fonseca. «Quero contá-la neste tempo, porque as grandes histórias fazem sentido, inquietam, fazem rir e chorar, não só na altu- ra em que são escritas como mil anos depois.»
  • 15. NS259_lusiadas ER.qxd 12/21/10 4:09 PM Page 45 45 NS É só isso que António quer fazer da sua vida na plateia e escreveu um texto que chamou a Epílogo e da sua arte: fazer rir, chorar e inquietar. atenção do encenador Miguel Seabra, que [Momento em que o poeta lamenta as injustiças Entra em cena a discussão sobre qual deve telefonou a António e disse: «Quero entrar contra si e dá conselhos ao rei.] António Fonseca ser a função do teatro e do actor. «O fenó- nisso contigo.» não se lamenta. A sua viagem tem sido bem en- meno performativo existe no momento em A fórmula de apresentação escolhida era caminhada, talvez por ter ganho as boas graças que está a acontecer. Eu não estou a dizer o nova. «Isto não é um espectáculo, são vários. de deuses pagãos que tudo ouvem e tudo vêem. texto de Camões, estou a inventá-lo no mo- Cada canto é uma unidade e os cinco cantos Ou porque o poder das ninfas vai muito além da mento em que estou a dizê-lo. E faço um jo- são outra unidade. Cada um de- simples inspiração. Ou porque esta go duplo: por um lado “traduzo” algumas les também faz sentido indivi- COM A é a hora de se contar de novo a his- referências culturais da época, de onde vem dualmente.» Por isso, foi possível tória de homens que se lançaram o texto, e depois faço as referências actuais, comprar um bilhete único e ver os LEITURA DE por «mares nunca dantes navega- para onde vai o texto.» Um exemplo é o dis- cinco cantos em dias diferentes OS LUSÍADAS dos», enfrentando «perigos e guer- curso de Nun’Álvares de incitação às tropas. sempre com o mesmo bilhete. As- ANTÓNIO ras esforçados,/ Mais do que pro- «É muito actual, apetece perguntar o que sim como se pôde ouvir uma se- FONSECA FAZ metia a força humana», mas que andam a fazer esses grandes patriotas, que lecção de episódios espalhados A APOLOGIA ainda assim «entre gente remota somos, no fundo, todos nós. O que andamos pelos cinco cantos, como o Con- DA CORAGEM edificaram/ Novo Reino, que tanto nós a fazer?» cílio dos Deuses, a passagem pela sublimaram.» Hoje, com este texto, ilha de Moçambique ou a batalha DE AVANÇAR António não faz a apologia de colo- Narração de Ourique. APESAR nialismos desajustados, mas antes [Narrativa da viagem de Vasco da Gama à Ín- Esta antologia foi dita de quar- DO MEDO. da coragem de avançar, apesar do dia.] A história deste espectáculo começou ta a sexta-feira às 21h45, com a medo. Por isso garante que, se não há cerca de três anos e fez-se de acasos, ou duração de hora e meia. Ao sábado ouvia- conseguisse apresentar o espectáculo numa sa- intenções, conforme a crença de cada um. -se os cinco cantos: a maratona começava la de teatro, diria o texto no metro ou em qual- Por razões já anunciadas, o veterano actor às 17h00 e terminava à meia-noite. Cada quer outro lado. Para já são cinco cantos, meta- António Fonseca dispôs-se a decorar Os Lu- canto tinha a duração aproximada de uma de do poema – 110 estrofes por cada canto, oi- síadas e apresentou em Fevereiro de 2009 o hora e separava-se do seguinte por um cur- to versos por cada estrofe, dez sílabas métricas Primeiro Canto na Sala de Espera da Oficina to intervalo. Entre o canto terceiro e o quar- em cada verso. Faça-se contas à vida e são cin- Municipal do Teatro, em Coimbra. Por um to fazia-se uma pausa para jantar e retomar co horas de aventuras: cada hora, um canto, ca- acaso, ou talvez não, uma jornalista estava o fôlego. da canto, uma viagem. NS PUBLICIDADE
  • 16. 2011
  • 17. António Fonseca declama Os Lusíadas em Amares No passado dia 20 de Janeiro, o actor António Fonseca esteve na nossa Escola, numa actuação com um reconto performativo dos cinco primeiros Cantos de Os Lusíadas. A iniciativa, da responsabilidade da Biblioteca, proporcionou um momento único a mais de 200 alunos de 9º e 12º anos, que têm vindo a estudar a obra de Camões. Durante duas horas, António Fonseca declamou, de memória, extractos dos cinco primeiros cantos de Os Lusíadas, interpretando os seus personagens, relatando momentos, explicando passagens, explicitando partes para os alunos, mantendo-os “presos” a um texto, tantas vezes de difícil compreensão para os mais jovens. A performance do actor maravilhou os alunos que ouviram em silêncio atento a declamação, apenas interrompida pelos risos provocados por Fonseca, culminando num longo, espontâneo e entusiasmado aplauso final. Numa interpretação reveladora da obra cuja leitura não é fácil, muitos alunos declararam, no final, o seu profundo agrado e uma renovada curiosidade pelo texto de Camões. A actuação de António Fonseca é magistral e este constituiu, sem dúvida um momento único que, por certo, perdurará, por muito tempo, na memória daqueles que tiveram o privilégio de a ela assistir. Jorge Brandão 25.01.2011 http://poramaresoslivros.blogspot.pt/2011/01/antonio-fonseca-declama-os-lusiadas-em.html
  • 18. sexta-feira · 10 de junho de 2011 parágrafo CAMÕES DE CORAÇÃO Há um actor português que está a decorar “Os Lusíadas” e a dizer o poema épico nos palcos. António Fonseca quer levar Camões às pessoas e às vidas que precisam de histórias. páginas VI e VII suplemento ponto final | nº 48 Conto no ponto Um homem só com vista para Nam Van. Uma mulher que vai revelando os seus segredos fotográficos. Publicamos “Fogo Lento”, conto de Hélder Beja que venceu a versão portuguesa do concurso promovido pelo Macau Daily Times. páginas II a V
  • 19. parágrafo sexta-feira · 10 de junho de 2011 parágrafo “Precisarmos todos de ficção nas nossas vidas” De ficção e de pensamento. Foi isto, entre muitos outros impulsos, que levou o actor António Fonseca a decorar “Os Lusíadas” para dizer a obra em palco. Leu bem: decorar e dizer “de coração” todo o grande poema épico português. Está quase. Hélder Beja • helderbeja.pontofinal@gmail.com “Isto é uma ideia maluca”, assume o decidiu avançar e de certeza que mui- “Não é preciso saber música para curtir a música. actor António Fonseca, homem do cinema, tos nos revemos nisto: conhecemos da televisão e, sempre e principalmente, do “Os Lusíadas” dos tempos da escola, Como não é preciso entender o sentido das palavras, teatro. A ideia maluca é ‘só’ a de decorar e mas não temos uma noção plena do a letra de todo o sentido das palavras e das metáfo- dizer em palco os dez cantos de “Os Lusíadas”. texto da obra. Também não tinha? Fonseca, que já fez o mesmo com o “Sermão A.F. – Não tinha, não. Tinha estudado ras, para curtir ouvir ‘Os Lusíadas’.” da Sexagésima”, do Padre António Vieira, co- “Os Lusíadas” no secundário, tinha uma vaga meçou em 2008 e hoje já sobe a palco – de ideia. Há toda aquela informação que anda à teatros a escolas – com os cinco primeiros volta de “Os Lusíadas”, da cultura e da histó- memória comigo. Um momento de fruição comigo o X. Isto era o que gostava de fazer cantos e uma versão “zipada”, como o próprio ria portuguesa, que entretanto fui assimilan- cultural e artística neste sítio é muito interes- durante os anos de 2012 e 2013. Vamos ver. lhe chama, da obra de Luís Vaz de Camões. do, mas a letra do texto não a conhecia. Devo sante. Ao trabalhar estes textos, trabalho uma - Camões também está no nome do Daqui por um ano, para assinalar o 10 de dizer que a 1 de Junho de 2008 comecei a fa- memória colectiva nossa, lusitana. Dia de Portugal e das Comunidades, Junho na então capital europeia da cultura zer este trabalho e não sabia a primeira estrofe - Como têm sido as apresentações que se assinala amanhã [hoje]. Gos- que será Guimarães, o actor formado em de cor, ‘as armas e os barões assinalados’, que do espectáculo ‘zipadas’ e com os cin- tava de levar esse espectáculo às co- Évora e ligado à Cornucópia durante mais quase toda a gente sabe. Portanto, já se pode co primeiros cantos? munidades espalhadas pelo mundo? de dez anos quer apresentar a versão inte- ver o meu conhecimento da letra do texto. A.F. – Há um preconceito enorme contra A.F. – Evidentemente. Mas penso que não gral de “Os Lusíadas”. Penso que é o que acontece com quase toda “Os Lusíadas” e as pessoas pensam logo ‘nem faria muito sentido levar o espectáculo glo- Em entrevista, Fonseca – que tem um a gente. Se fosse aqui há 20 anos, se calhar pensar’. Há essa resistência. O que acontece bal, levar os dez cantos. Mas gostaria imenso vasto trabalho na área da educação e par- tinha o mesmo preconceito da maior parte é que as pessoas que vão ver, mesmo os mi- de fazer “Os Lusíadas Zipados”, até porque é ticipações em filmes como “Os Mutantes” das pessoas: ‘Os Lusíadas? É pá, isso é muito údos, têm gostado muito. Ainda no sábado uma coisa que se pode fazer sem nada, como ou “Porto da Minha Infância” – explica as chato’. Não tinha maturidade, porque é uma passado estive num festival de teatro em Si- tenho feito em escolas. Tenho uma versão motivações desta empreitada, acompanha- obra muitíssimo difícil de entender e de ler. nes, estavam 120 ou 130 pessoas. Eu estava teatral, com cenário e não sei quê, mas não da online em http://lusiadasdecoracao.blo- Curiosamente é muito fácil de ouvir. Se eu a dizer a antologia, “Os Lusíadas Zipados”, acrescenta muito. Claro que gostava de fazer gspot.com, que lhe ocupa os dias. Fala da conseguir levar isto a algum lado, é por isso, como lhe chamo. As pessoas que ficaram, no isso mas estou um bocadinho à espera de missão de contar histórias e da vontade de por ser fácil de ouvir. Claro que não é fácil fim, estavam fascinadas, encantadas com a ver o que é que isto vai dar. Não posso fazer quebrar o preconceito que existe em relação para alguém que não tenha alguma informa- coisa. Acho que é um duplo fascínio pela obra tudo. Não posso estar a decorar “Os Lusía- ao poema épico de Camões. ção e alguma curiosidade, porque se vai com e também pela musicalidade. Não tenho tido das” e depois ainda ir falar com o Instituto - A ideia de decorar todo “Os Lusía- preconceito não vai gostar. A maior parte das muita gente. Fiz no Teatro Meridional três Camões. O Instituto Camões é que tem de das” surge em 2008, verdade? Como? pessoas diz-me que não se devia estudar isto semanas seguidas e tive pouca gente. Mas vir ter comigo. Já fiz o meu trabalho, alguém António Fonseca – Começou aí mas a no secundário, que a gente só pode entender as pessoas que vão ficam fascinadas. Estou que faça o seu. Estou disposto a ir a todo o ideia é inerente à minha própria condição quando é mais crescida. Isso é verdade, tam- convencido que isto é uma questão de bater sítio e a fazer isto até na casa das pessoas, de actor. Quando se tem como função, entre bém. Não digo que tecnicamente, e na história no preconceito. Não estou preocupado. Isto é se elas quiserem. De resto, não me importo outras coisas, contar histórias, há sempre básica da cultura, não possa ser abordada, uma ideia maluca e se houver cinco mil pes- de passar dois ou três anos da minha vida a coisas que vão aparecendo. A história de “Os mas é uma obra para maiores de 18 anos, não soas que nem vão ver mas vão dizer ‘como fazer isto. Claro que tenho de viver e têm de Lusíadas” é antiga e tem que ver como outras tenho dúvida. “Os Lusíadas” não podem ficar é possível um gajo meter-se nisto’, talvez se me pagar. Daqui por um ano, se as pessoas ligações, como quando fiz em Braga vários como uma obra para convertidos, para pesso- “Devo dizer que a 1 de Junho de 2008 comecei a fazer a surfar. Isso demora pelo menos mais um deu mais pistas para as pessoas sentirem e metam noutras coisas. Para mim já é fantás- curtirem e acharem que vale a pena expandir projectos com o Sindicato de Poesia; e onde as que já sabem, para os tipos da Faculdade este trabalho e não sabia a primeira estrofe de cor, mês, mas é o tempo que faz. Tenho de dizer para estarem mais vivas. Pode ser que este tico. Imagine que tenho cinco mil pessoas isto tudo, estou disponível. Posso estar can- fiz também no fim da década de 1990 um de Letras – e duvido que a maior parte das todos os dias aquele canto, todos os dias, ir trabalho, que nesse aspecto ainda não come- que vão ver isto e outras cinco mil que não sado mas este é o meu trabalho e não tenho espectáculo com o “Sermão da Sexagésima”, pessoas que por lá passaram a tenham lido ‘as armas e os barões assinalados’, que quase toda a sempre lá. O tempo faz o resto. çou, seja a coisa mais importante que faça na vão ver mas que ficam a matutar naquilo, nada que me queixar. de Padre António Vieira. Outras coisas foram do princípio ao fim. Estou a falar de alunos, gente sabe. Portanto, já se pode ver o meu conheci- - E nunca como uma rezinha. Como minha vida, mas isso não sou eu que digo. às tantas até vão fazer alguma coisa na vida - A fechar: nessa também sua desco- aparecendo como possibilidades, sobretudo não de professores. também diz no texto que tem no site, - Este interesse por adaptar textos deles que tenha que ver com isto ou outra berta pessoal de “Os Lusíadas”, que grandes textos da literatura portuguesa, de - Dizia que é uma obra fácil de ouvir. mento da letra do texto. Penso que é o que acontece “não há entendimento sem coração”. como o “Sermão da Sexagésima” e coisa qualquer. Isto para mim é tão ou mais texto e que autor encontrou? que a maior parte da população tem infor- E de oralizar? Houve dificuldade em com quase toda a gente.” A.F. – Isso sim. Mesmo quando digo e já “Os Lusíadas”, textos que não são de importante do que as pessoas que vão ver. A.F. – Encontrei um grande artista, um mação, já ouviu falar, mas depois realmente actualizar um texto que tem séculos? sei bem, tenho de dizer implicado. Chego ao palco, também tem que ver com a li- - A ideia é chegar a 2012 e poder di- grande poeta, um grande cidadão – e isso não conhece ou até tem preconceito, por- A.F. – A dificuldade maior é a questão fim de hora e meia de dizer, em casa, cansa- gação à educação que de que falava zer “Os Lusíadas” todos? é muito engraçado. Era uma pessoa com que é muito difícil, porque é muito estra- das referências culturais. “Os Lusíadas” são mais interessantes. Por um lado, a possibi- Esse trabalho, por um lado, não é fácil, mas díssimo. Tem de ser muito implicado fisica- há pouco? A.F. – A 9 de Junho do próximo ano, em um humor refinadíssimo e muito mimalha, nho. Em 2008, por várias circunstâncias, feitos em cima dos paradigmas clássicos, lidade de actualização do texto, no sentido para mim é fascinante. Conseguir surfar no mente, se não, não serve para nada. Tanto que A.F. – Tem que ver com uma ideia muito Guimarães, então capital europeia da cultu- que se está sempre a queixar, muito frágil. a coisa amadureceu na cabeça. Tinha um dos deuses, do vocabulário. A maior dificul- de a gente ver que o texto tem ressonâncias texto, isso sim é genial. É só isso que quero preciso de estar numa forma física muito boa, mais vasta, que é nós precisarmos todos mui- ra, vou fazer os dez cantos. Vou fazer nove Isso sente-se em muitas partes da obra. A dilema: estava a pensar fazer um mestrado dade é perceber a que é que correspondem humanas, de vida, de pensamento, que nos passar às pessoas, esse planar nesta música. porque já não sou propriamente novo. to de ficção nas nossas vidas, precisarmos de seguidos: às 10h o primeiro, às 11h o II, ao gente sente a fragilidade mas percebe que é em questões de teatro, mas depois pensei algumas referências, muitas vezes até actu- são familiares e que são as nossas; e por - Diz no site do projecto que este - Diria que este é o seu maior desa- histórias, de pensamento. Esses textos têm meio-dia o III, com um intervalo de duas mimalhice também, e isso é muito bonito. que o mestrado não tinha graça, ia andar alizando. Se no século XVI havia uma elite outro lado jogar com outra coisa, que é a não é um espectáculo circense de fio enquanto actor? muita ficção e muito pensamento. Do meu horas e por aí fora, até às 23h. A essa hora Depois, é uma obra musical absolutamente dois ou três anos a aprender uma coisa que que tinha essas referências da cultura clás- musicalidade do texto. É a mesma coisa que memória. Ainda assim é preciso uma A.F. – Enquanto actor perfomer é sem ponto de vista, uma das minhas funções é entram 40 ou 50 pessoas da população, com fascinante. Tem pedaços melhores e peda- depois não servia para nada. Então decidi sicas, hoje não sei se é assim. Penso muitas ouvir uma sinfonia de Beethoven. Se soube- capacidade grande. Como é o método dúvida o meu maior desafio. Ainda não con- contar histórias. Costumo dizer que só me quem trabalhei nos meses anteriores, uma ços piores. Ainda não trabalhei em porme- decorar “Os Lusíadas”. Parece caricato, mas vezes nisso, sobretudo no canto VI, quando res música, és capaz de curtir mais. Mas, se de trabalho? segui fazê-lo, só daqui a um ano. Como actor interessam três coisas como actor: fazer rir, orquestra e juntos dizemos o X canto. O que nor os VIII, IX e X cantos, mas dá-me im- foi assim que amadureci a ideia, que tirei a é o consílio dos deuses marítimos, porque gostares de música e não souberes, sentas- A.F. – É trabalho, trabalho, trabalho. O cidadão, acho que não é. Distingo o perfor- fazer chorar e inquietar. Não me interessa queria a seguir era, em todas as capitais de pressão que ele está muitíssimo inspirado maçã da árvore. Claro que há também a li- aquilo parece uma reunião na Quinta da te e apanhas ali um banho que não sabes de método tem fases. Primeiro leio tudo, uma, mer do actor que é cidadão, e aí penso que mais nada. Trabalho com estas três e ideias. distrito, onde há teatros, fazer a antologia até ao fim do canto VII. Os cantos restantes gação que sempre mantive com a educação, Marinha. É tal e qual. Vem um com a espo- quê. Não é preciso saber música para curtir duas, três vezes. Depois começo a desmon- não é de certeza a coisa mais importante e Ora, se a gente vai à procura de textos de que dos dez durante a semana, e depois no sá- já são um bocadinho a arrastar. Para mim, que me leva a pensar que, como actor, devo sa, aquela levava do marido... Parece uma a música. Como não é preciso entender o tar, vendo as notas todas e o que as referên- interessante que fiz na vida. As coisas que fiz as pessoas já têm alguma memória, é mais bado fazer tudo, sendo o X canto sempre globalmente, os grandes cantos são o III, IV, ter imensa responsabilidade de fazer passar reportagem da revista Caras, com umas sentido das palavras, a letra de todo o senti- cias querem dizer. Depois começo estrofe em Braga, ou mesmo as coisas que fiz numa possível viajarmos em conjunto. Proponho a com a população do sítio. Iria um mês antes, V e VI. Se calhar um especialista de Camões para as pessoas mais novas as grandes obras fotografias e uns comentários do ex-Carlos do das palavras e das metáforas, para curtir a estrofe, ou por blocos. Essa é a fase mais escola secundária em Carnaxide, foram mui- coisa com uma ‘profundidade’, com um co- trabalharia com as pessoas e elas diriam não dirá isto, mas é o que sinto. da literatura e do passado. Deveríamos ter Castro. Estou convencido que, na altura, ouvir “Os Lusíadas”. É nesse sítio que estou violenta, que é fazer isto e ao mesmo tempo to importantes enquanto actor cidadão. Não nhecimento de coração, que as pessoas nunca essa competência de ler a poesia e os roman- como as pessoas sabiam aquelas coisas dos a trabalhar, fundamentalmente. tentar dizer, mas tentar dizer no pensamento propriamente enquanto ‘artista’ que é visto, tiveram. Esta viagem comum torna-se mais “A questão é esta: qual vai ser a importância disto ces de uma forma muito mais fascinante do deuses, fazia sentido e divertiam-se imenso. - E como foi para si ler verdadeira- e não nas palavras. Decorar fôlegos de pensa- mas como cidadão dentro da minha função fácil se as pessoas tiverem as mesmas referên- que a maior parte dos professores de Por- Hoje, a Quinta da Marinha é muito mais mente “Os Lusíadas”? mento, bocados de narrativa. Ao ritmo a que social. Não penso que isto venha a ser a coisa cias. Por exemplo, uma das coisas que queria para as pessoas do meu país? E aí posso vir a dizer tuguês faz – e claro que há professores de popular. Há coisas que são desse núcleo e A.F. – É muito difícil desmontar aquilo trabalho nisto – em média duas horas por mais importante, mas pode ser, porque não fazer – e que já não vou fazer, porque estou que foi a coisa mais importante, porque foi a que mais Português que fazem muitíssimo bem. Mas hoje perderam-se. Mesmo a classe ‘culta’ tudo. Tenho de ir à procura das referências dia há três anos e tal – 100 estrofes, uma mé- sei que dimensão vai ganhar. A questão é velho e não vou ter tempo – era pegar no Pes- os actores deviam ter essa competência de tem outras referências e o público em geral todas, que também não as sei. Depois de ter dia de um canto, no princípio demoravam- esta: qual vai ser a importância disto para as soa e fazer duas horas nos heterónimos, um tocou e ajudou as pessoas, que deu mais pistas para falar um texto escrito. Essa também é uma não tem. Portanto, não pode ser por aí que este trabalho todo mastigado, é quase como me três meses. Umas 150 a 200 horas. Agora pessoas do meu país? E aí posso vir a dizer bocado como “Os Lusíadas”. Porque a geração as pessoas sentirem e para estarem mais vivas.” das razões por que estou a fazer isto. a gente lê “Os Lusíadas”. Essas coisas têm preparar um concerto, é ver os pormeno- demoro menos. Depois, há outra fase que que foi a coisa mais importante, porque foi mais nova de uma forma geral tem muita in- - Li o texto em que explica por que de desvalorizar e valorizar outras que são res todos da escrita e depois deixar surfar. é mecanizar isto. Dizer e dizer até começar a que mais tocou e ajudou as pessoas, que formação sobre o Pessoa e podem jogar essa VI VII
  • 20. 2012
  • 21. António Fonseca trouxe-nos "Os Lusíadas" ... Entrevistado na Biblioteca No passado dia 26 de abril, o ator António Fonseca esteve na Escola EB 2,3 de Celeirós, numa atuação com um reconto extraordinário da antologia dos cinco primeiros Cantos de Os Lusíadas. A iniciativa, da responsabilidade do grupo de Língua Portuguesa, proporcionou um momento inesquecível a todos os alunos do 9ºano, que numa perspetiva única tiveram o privilégio de assistir a uma análise da obra diferente da que já tinham feito, nas aulas de Língua Portuguesa. No seu modo teatral, criou entusiasmo em toda a plateia
  • 22. Durante duas horas, António Fonseca disse, de memória, algumas estâncias de Os Lusíadas, interpretando os seus personagens, relatando momentos e explicando passagens, sensibilizando os alunos para uma obra grandiosa que faz parte do imaginário coletivo e que revela o fascínio de uma viagem pelo desconhecido. A atuação de António Fonseca “prendeu “os alunos a um texto, de difícil leitura e interpretação , apenas interrompida pelas explicações do ator que provocaram um misto de sensibilização e consciência do valor de tão grandiosa obra e os seus apartes eloquentes e divertidos. Foram momentos únicos de extasiado silêncio que levaram os alunos a repensar Os Lusíadas de uma outra forma e a quererem ouvir mais ,mas como disse António Fonseca “Só no dia 9 de junho , em Guimarães”. Numa performance magnífica, António Fonseca deixou na memória de todos os que tiveram o privilégio de o ouvir, um espetáculo magistral. Profª Aurora Oliveira at Quarta-feira, Maio 02, 2012 http://becreceleiros.blogspot.pt/2012/05/antonio-fonseca-trouxe-nos-os-lusiadas.html
  • 23. Encontro com Ator António Fonseca Por Lígia Fernandes (Professora), em 2012/05/28 37 leram | 0 comentários | 3 gostam Encontro com o ator António Fonseca sobre "Os Lusíadas" Ao longo das manhãs de 16 e 17 de maio, todos os alunos do 9º ano da nossa escola tiveram o privilégio de participar num encontro com o ator António Fonseca. O pretexto para este encontro foi a leitura de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, cuja apresentação integral está a ser preparada pelo ator. Foi uma partilha diferente, inovadora, que possibilitou uma abordagem nova e nos permitiu, a todos, ver esta obra numa perspetiva distinta da habitual, sob o olhar atento e perspicaz de alguém que diz o texto de cor, ou seja, com o coração. A “conversa” repetiu-se no dia 27, desta vez com os professores, não só os de Língua Portuguesa, mas com todos aqueles que puderam não ficar indiferentes à genialidade de Camões e ao arrojo de alguém que propõe uma leitura muito especial de uma das maiores obras da nossa literatura. O agrado foi geral e fica, pois, marcado um novo encontro para o dia 9 de junho, no CCVF, onde terá lugar a apresentação integral da obra, com início às 10h da manhã. Lígia Fernandes http://meira.wikijornal.com/Artigo.asp?id=1261&d=encontro_com_ator_antonio_fonseca
  • 24. Tiragem: 10500 Pág: 2 País: Portugal Cores: Cor Period.: Quinzenal Área: 3,79 x 10,00 cm² ID: 42047928 30-05-2012 Âmbito: Lazer Corte: 1 de 1
  • 25. Tiragem: 153674 Pág: 4 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 14,52 x 13,64 cm² ID: 42087301 01-06-2012 | TV Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1
  • 26. Tiragem: 135000 Pág: 9 Destak Porto País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 13,54 x 14,42 cm² ID: 42126119 04-06-2012 Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 CAPITAL DA CULTURA ‘Os Lusíadas’ com 100 vimaranenses em palco SUSANA PAIVA RAQUEL MADUREIRA rmadureira@destak.pt A Capital Europeia da Cultura estreia, no pró- ximo sábado, no Centro Cul- tural Vila Flor, em Guimarães, uma interpretação de António Fonseca sobre os 10 cantos da obra de Camões, Os Lusíadas, que estará em palco ao longo de oito horas, entre as 10h e as 23h. Numa co-produção do Teatro Meridional e da Ca- pital Europeia da Cultura, a peça junta em palco cerca de 100 vimaranenses que estão, desde Abril, a trabalhar com o actor. A criação, que está a ser de- senvolvida pelo actor há cerca Maratona de oito horas no Centro Cultural Vila Flor de quatro anos, centra-se nu- ma apresentação de excertos tam-se a António Fonseca pa- Camões e das Comunida- da epopeia clássica, interrom- ra interpretarem o 10º e últi- des, um apelo à alma e à his- pida por comentários e inte- mo canto. No dia que antecipa tória nacionais, numa via- racções com o público. No fi- as comemorações de 10 de gem que é também profun- nal, os 100 vimaranenses jun- Junho – Dia de Portugal, damente autobiográfica.
  • 27. Tiragem: 4000 Pág: 3 País: Portugal Cores: Cor Period.: Bimensal Área: 22,91 x 24,34 cm² ID: 42260162 06-06-2012 Âmbito: Regional Corte: 1 de 1 Uma ‘maratona de com especial ênfase para o Canto X. Obra de referência da nossa his- tória e da nossa memória coletiva, construída sob o signo da viagem, ator a partir do coração, que é a for- ma mais intensa do entendimento”, refere a organização dos Festivais Gil Vicente. E, segundo a mesma fonte, falação’ para de Lisboa a Calecut na descoberta do caminho Marítimo para a Índia, “Os Lusíadas” são também a síntese e o prolongamento de todas as via- “num período do mundo em que a todos nós ‘Lusíadas’, afinal a todos os portugueses, nos é exigido um es- forço quase sobre-humano ao nível celebrar Camões, gens, numa memorável metáfora da própria vida, emoldurando a nossa alma lusitana e a nossa identidade da nossa sobrevivência individual e coletiva, o Teatro Meridional quer con- tinuar a ver no Mar o horizonte de Portugal e a vida enquanto povo. “Esta é a grande his- todas as Viagens, e exaltar, espalhar tória do ser humano, porque é isso e cantar por toda a parte se a tanto que ‘Os Lusíadas’ contam: a história nos ajudar o engenho e a arte… “Mais da vida, no sentido em que a vida é do que prometia a força Humana”… uma viagem por um desconhecido, e Licenciado em Filosofia, António NO ÂMBITO DOS FESTIVAIS GIL VICENTE, O ATOR ANTÓNIO aquela viagem à Índia foi a viagem Fonseca, natural de Burgães (Santo FONSECA DÁ VOZ A “OS LUSÍADAS”. LEITURA INTEGRAL DA por um desconhecido enorme”, refe- Tirso) é ator desde 1977. Foi nomea- re o ator que em abril deste ano es- do para os Globos de Ouro para me- OBRA DE CAMÕES A PARTIR DAS 10 HORAS DO teve em Vila das Aves no âmbito das lhor ator de teatro por “Wating for Go- PRÓXIMO SÁBADO, DIA 9 DE JUNHO, EM GUIMARÃES sessões da Comunidade de Leitores dot”, encenado por Miguel Seabra, do Centro Cultural, onde leu algu- do Teatro Meridional (2006) e a mes- Desde há uns anos a esta parte que mas das passagens mais marcantes ma nomeação este ano pelo traba- o ator António Fonseca – por inter- da obra de Camões. lho na peça ‘Vermelho’, encenada por médio do Teatro Meridional - anda “Neste espetáculo, esta grande João Lourenço. Colabora regularmen- TEATRO: “OS LUSÍADAS” às voltas com o épico de Camões. Já Guimarães, Centro Cultural Vila Flor. Dia 9 de junho. estória com História, vai ser contada te em projetos de formação nas áre- fez maratonas de cinco horas com a Apresentações: Canto I - 10h00; Canto II - 11h00; Canto através de episódios e factos referi- as do Teatro, com destaque para a III - 12h00; Canto IV - 15h00; Canto V - 16h00; Canto VI leitura e interpretação da primeira - 17h00; Canto VII - 18h00; Canto VIII - 19h00; Canto IX dos numa viagem profundamente au- colaboração mantida com o Curso de - 22h00; Canto X - 23h00. Bilhetes a 5 euros. metade d’ Os Lusíadas mas ficou sem- Morada: avenida D. Afonso Henriques, 701. 4810-431 tobiográfica como as mais ingénuas Teatro e Educação da ESECoimbra. |||||| pre o desejo de apresentar, num 10 Guimarães. Telefone: 253 424 700. www.ccvf.pt FOTO: SUSANA PAIVA estórias infantis e comunicada pelo SUSANA AIVA de Junho, a obra por inteiro. Quatro anos depois, mais coisa menos coi- sa, António Fonseca, concretiza-o. Integrado nos Festivais Gil Vicente, e em estreia absoluta, o ator sobe, no próximo sábado, ao palco do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, para a apresentação integral do épico de Camões numa “maratona de falação” que começa no dia 9 (10h00) e ter- mina a 10 de junho, data em que se assinalam 440 anos da edição d’ “Os Lusíadas”. “Será uma momento único e uma forma diferente de festejar o Dia de Portugal”, sublinhou o progra- mador de artes performativas de Gui- marães Capital da Cultura, no âmbi- to da apresentação dos Festivais Gil Vicente (ver página 9). António Fon- seca não estará sozinho em palco, já que para este espetáculo foram convo- cadas “muitas famílias de Guimarães”,
  • 28. Famílias de Caldas das Taipas juntam-se na oralização de Os Lusíadas 06.JUN.2012 | Guimarães - CEC 2012 A iniciativa é inovadora. António Fonseca, actor, apresentará no dia 9 de Junho, no Centro Cultural Vila Flor, Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões. No canto décimo, cederá a voz a várias famílias de Guimarães, para a conclusão da apresentação da obra que canta, como refere, a “vida de pessoas com coragem”. O actor, natural de Santo Tirso, nomeado pela segunda vez para os Globos de Ouro para melhor ator de teatro (já o tinha sido em 2007), trabalha neste projecto já há quatro anos. Quando começou a pensar nesta apresentação, ainda estava longe de pensar que viria a integrar a programação da Capital Europeia da Cultura. A integração na CEC 2012 não veio alterar substancialmente a ideia original de António Fonseca, “Já tinha feito a apresentação dos primeiros cinco cantos em vários locais do país e as mudanças, para o dia nove de Junho, prendem-se mais com alguns aspectos ligados aos cenários e aos aspectos
  • 29. Quando começou a pensar nesta apresentação, ainda estava longe de pensar que viria a integrar a programação da Capital Europeia da Cultura. A integração na CEC 2012 não veio alterar substancialmente a ideia original de António Fonseca, “Já tinha feito a apresentação dos primeiros cinco cantos em vários locais do país e as mudanças, para o dia nove de Junho, prendem-se mais com alguns aspectos ligados aos cenários e aos aspectos visuais”. A inovação principal do projecto original foi o de chamar ao palco várias famílias que vão oralizar o canto décimo. Para António Fonseca esta participação aconteceu de uma forma natural, “Os Lusíadas é uma coisa nossa, é um património colectivo e seria mais interessante juntar mais pessoas num projecto que começou mais individual. Quando ficou decidido que a apresentação seria em Guimarães, pensei logo nas famílias. Se fosse em Coimbra, talvez pensasse nos estudantes das diferentes faculdades; no norte, a família é algo ainda muito forte, muito emocional, muito afectivo e os tempos que vivemos são mais incertos do que há vinte anos atrás. Não sabemos o que nos reserva o futuro e o que nos espera não será fácil de enfrentar e tudo o que seja cimentar os laços colectivos ajudar-nos-á a viver. A cultura entrar nestas relações familiares é importante e o facto de uma família se juntar não para um baptizado mas para tratar Os Lusíadas é fantástico”. Ao todo, no palco principal do Centro Cultural Vila Flor, ao lado de António Fonseca, passarão 97 pessoas, dividas por várias famílias, das quais quatro são de Caldas das Taipas e de freguesias circunvizinhas. António Fonseca começará às dez horas com a oralização, de hora a hora, dos nove primeiros cantos. Serão realizados dois intervalos, o primeiro entre as 13 e as 15 horas e o segundo será das 20 às 22 horas para jantar, coincidindo com a realização do primeiro jogo de Portugal no Europeu de futebol. Às vinte e duas horas, canto nono será ainda oralizado por António Fonseca e pelas onze horas começam a entrar as famílias que concluirão o canto décimo da obra de
  • 30. são de Caldas das Taipas e de freguesias circunvizinhas. António Fonseca começará às dez horas com a oralização, de hora a hora, dos nove primeiros cantos. Serão realizados dois intervalos, o primeiro entre as 13 e as 15 horas e o segundo será das 20 às 22 horas para jantar, coincidindo com a realização do primeiro jogo de Portugal no Europeu de futebol. Às vinte e duas horas, canto nono será ainda oralizado por António Fonseca e pelas onze horas começam a entrar as famílias que concluirão o canto décimo da obra de Camões. No dia que antecipa as comemorações de 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas –, o actor apela à alma e à história nacionais, numa viagem que é também profundamente autobiográfica. Os bilhetes para o espectáculo “Os Lusíadas” já estão disponíveis e podem ser adquiridos, por cinco euros, no CCVF, FNAC e Bilheteira Online.
  • 35. Todos os Cantos de "Os Lusíadas" Alexandra Madeira, RTP08 Jun, 2012, 18:00 / Última atualização 08 Jun, 2012, 18:00 De fio a pavio, a obra maior de Luís Vaz de Camões foi dita, hora a hora, no palco do grande auditório do Centro Cultural Vila Flor. Um projeto do ator António Fonseca, que há alguns anos se embrenha pelas estrofes de "Os Lusíadas". É dito um canto por hora. O último, o Canto X, junto com várias famílias entusiastas de Guimarães. Em palco quase cem pessoas numa produção que foi apresentada a 9 de junho. A antena 1 assistiu a um dos ensaios. Ouvir em http://www.rtp.pt/guimaraes2012/artigo/?t=Todos-os-Cantos-de-Os-Lusiadas&artigo=121
  • 36. Tiragem: 8000 Pág: 12 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 15,31 x 4,83 cm² ID: 42215241 09-06-2012 Âmbito: Regional Corte: 1 de 1 GUIMARÃES: ACTOR NARRA prolongamento até amanhã, a “primeira política”, a história épica narrada por LUSÍADAS EM 10 HORAS interpretação integral” da obra maior Camões “não é a de reis e nobres”, A história d’Os Lusíadas, de Luís Vaz de da literatura portuguesa. “é do povo”, como, apontou, “afirma, o Camões, vai ser contada ‘na íntegra’ ao “Trezentos gajos fizeram-se à vida próprio Camões no texto ao dizer: E longo de dez horas, numa peça levada em naus, enfrentaram doenças, também as memórias gloriosas/ Daque- ao palco pelo actor António Fonseca e tempestades. Não eram nobres, eram les Reis, que foram dilatando/ A Fé, o por mais de 100 vimaranenses dos pobres, condenados, marinheiros. Império”, disse. “Esta é uma história sete aos 80 anos. Passaram as tormentas, chegaram ao fechada nos eruditos. Quis conta-la, “Nenhum canto será esquecido”, desconhecido”. - “Esta é a verdadeira fala-la, analisa-la sem perceber nada”. garantiu António Fonseca, que estreia na história d’Os Lusíadas”, explicou o actor. Capital Europeia da Cultura, hoje com Ao contrário do “defendido pela
  • 37. Tiragem: 46102 Pág: 44 Público - Porto País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Diária Área: 10,41 x 16,36 cm² ID: 42212105 09-06-2012 Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 Poesia PAULO PIMENTA O homem que meteu 8816 hora, com uma interrupção para versos na cabeça almoço a seguir ao canto III, e Os Lusíadas. Espectáculo de outra para jantar depois do VIII, António Fonseca. Guimarães a maratona começa às 10h00 e 2012. Centro Cultural Vila Flor, prevê-se que acabe já no dia 10, a partir das 10h00. quando se comemoram os 444 De cor, par coeur, by heart: são anos decorridos desde a primeira muitas as línguas em que o acto edição do poema. No último de dizer algo que previamente canto, o actor será secundado por se memorizou é relacionado, um coro de cem vimaranenses. não com o cérebro, mas com Não se trata de um espectáculo o coração. Como se o que se mais ou menos circense, nem sabe de cor passasse a fazer de uma tentativa de figurar parte de nós, do nosso corpo. no Guiness. Trata-se de dizer E talvez seja justamente isso o um poema de cor, a partir do que acontece. Há quatro anos, coração, como os poemas devem António Fonseca começou a ser ditos. Os Lusíadas merecem decorar Os Lusíadas. Hoje, em ser ditos assim. Felizmente Guimarães, vai “falá-los” (é ele surgiu alguém suficiente louco próprio quem recorre a este para se propor fazê-lo, alojando verbo, em detrimento de “dizer” na cabeça e no coração as 1102 ou “recitar”) de uma ponta a estrofes, num total de 8816 outra. Ao ritmo de um canto por versos, que Camões nos deixou.
  • 38. ATOR ANTÓNIO FONSECA RECITA "OS LUSÍADAS" DURANTE 12 HORAS Espetáculo em Guimarães assinala os 440 anos da publicação da obra de Luís de Camões Delfim Machado cultura@jn.pt A MAIOR epopeia portugue- sa jamais publicada, "Os Lu- síadas", é o tema de um espe- táculo de teatro de 12 horas António Fonseca levou quatro anos a preparar récita que vai decorrer hoje no Cen- tro Cultural de Vila Flor, em deste trabalho. "Não é uma ca, ao JN. Como profissional Guimarães. Foi há 440 anos coisa extraordinária andar de histórias, encontra moti- que a obra de Luís Vaz de Ca- quatro anos a trabalhar no vação delineando bem os ob- mões foi publicada pela pri- mesmo projeto, há pessoas jetivosdasuavida, "o porquê meira vez, e a Capital Euro- que trabalham no mesmo a de ser ator". peia da Cultura não quis dei- vida inteira", afirma Fonse- As 12 horas de "Os Lusía- xar passar a efeméride. das" passam pelos dez cantos Assim, convidou o ator An- da obra no caminho até à ín- tónio Fonseca, que interpre- NO ÚLTIMO dia. No final de cada um, há ta Ambrósio Conde na tele- CANTO intervalos de dez minutos. novela "Rosa fogo", para re- O ATOR CONTA No último canto, António citar a obra na íntegra. Dos 3 5 COMA Fonseca conta com a ajuda de anos de carreira do ator por- COLABORAÇÃO cerca de 80 pessoas. A récita tuguês, os últimos quatro fo- DE 80 PESSOAS começa às 10 horas e termina ram passados na preparação à meia-noite. •
  • 39. Famílias de Guimarães juntaram-se na oralização de “Os Lusíadas” (FOTOS) 12.JUN.2012 | Sociedade A estreia aconteceu no dia 9 de Junho, no âmbito da Capital Europeia da Cultura Ao longo de mais de oito horas, entre as 10h00 e as 24h00, António Fonseca apresentou no Centro Cultural Vila Flor (CCVF) os mais de mil versos decorados ao longo de quatro anos. No décimo e último canto, a maratona juntou em palco cerca de 100 vimaranenses que, desde Abril, trabalharam com o actor. No canto décimo, cedeu a voz a várias famílias de Guimarães, para a conclusão da apresentação da obra que canta, como refere, a “vida de pessoas com coragem”. Para António Fonseca esta participação aconteceu de uma forma natural, “Os Lusíadas é uma coisa nossa, é um património colectivo e seria mais interessante juntar mais pessoas num projecto que começou mais individual. Apesar da primeira edição de Os Lusíadas ter sido publicada pela primeira vez em 1572, António Fonseca entende que não fazia sentido fixar essa história no tempo em que foi escrita, “Os Lusíadas faz-nos pensar no mundo de hoje, na nossa vida, como povo e como pessoas e temos que inventar Os Lusíadas como se fossem criados agora”. António Fonseca não deixa dúvidas quanto à actualidade da viagem de Camões: “Os Lusíadas é uma grande história de vida e viver é ir à aventura, viver é arriscar. O que é que aqueles trezentos homens fizeram? Arriscaram, arriscaram a vida, arriscaram viver. O que é que eles estavam a fazer em Portugal? Não foram para dilatar a fé ou o império. O Vasco da Gama, eu sei o que ele fazia como o resto dos maiorais da época, mas, e os outros?. Na proposição, Camões diz: eu canto, as armas e os barões assinalados que foram descobrir a Índia que se meteram ao mar, a memória dos reis que dilataram a fé e o império e as terras viciosas de África e todos que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando e o peito ilustre lusitano. Ele canta pessoas com coragem, é isso que ele canta. Só canta uma coisa relativamente à memória dos reis, agora, as coisas importantes que canta, são os homens corajosos que se lançaram à vida. Na proposição, “a memória dos reis que dilataram a fé e o império “ é simplesmente uma nota de rodapé e não podemos fazer desta nota de rodapé o principal, no meu atender, é adulterar o que Camões escreveu”.
  • 42. Lusíadas no CC Vila Flor http://www.reflexodigital.com/index.php?cat=43&item=13882
  • 43. OS LUSÍADAS À VOLTA DA MESA O actor António Fonseca disse de cor a obra integral de Camões numa maratona que durou mais de meio dia. A primeira estrofe foi ouvida ainda às escuras. Sozinho em palco, o actor António Fonseca apresentou sábado [9 de Junho], em Guimarães, os dez cantos d’Os Lusíadas. Mas sozinho nunca esteve. Alguns resistentes ouviram a «falação» desde as 10h, e o Canto X, às 23h, foi dito pelos membros de dez famílias do concelho de Guimarães. Durante nove horas, António Fonseca foi puxando conversa, explicando as referências mais obscuras do poema épico e fazendo apartes que mostravam a actualidade dos versos: o jogo da selecção, a ilha da Madeira, os jornalistas e o ministro. Os temas actuais surgiam inesperadamente por conta dos próprios versos. Alguns espectadores davam troco, e assim se passaram nove cantos, um por hora, com almoço e jantar pelo meio. As famílias, que acompanharam o actor nos últimos dois meses, subiram ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor para encerrar o acto, dizendo a maior parte das estrofes do Canto X. A epopeia dos heróis lusitanos tornou-se um serão à volta da mesa, onde se mostraram os lusíadas de hoje, cujo heroísmo foi chegar-se à frente para dizer os versos de Camões e, neles, dizerem-se de outra maneira. A primeira estrofe foi ouvida ainda com o palco às escuras, fazendo prova que o actor não tinha teleponto. Os versos iniciais, que já toda a gente aprendeu e esqueceu, ressoaram na escuridão como se estivessem a ser arrancados à memória. Pouco a pouco, a sala iluminou-se, revelando os mapas da Europa, de África e da Península Ibérica (depois substituído pelo da Índia) estampados em velas de navios. Quando necessário, António Fonseca apontava no mapa, com uma luzinha, o local de que se falava nas estrofes, com os nomes exóticos que Camões designa.
  • 44. Posto à vontade, o público participava quando queria. Uma criança reparou na ilha de São Lourenço e corrigiu de imediato: «aquela ilha é Madagáscar». Sim, responde o actor, vão ver mais tarde. E no Canto X lá está: «de São Lourenço vê a ilha afamada / Que Madagáscar é dalguns chamada». No Canto VIII, antes de prosseguir, o actor explicou que diria algumas estrofes mais rapidamente, para não se demorar muito nos feitos dos vários heróis nacionais. Uma espectadora, comovida, interrompeu para frisar que estavam ali para o ouvir, e que ele demorasse o tempo que fosse preciso. «Não desanime, por favor. Estamos a ver o esforço que está a fazer e queremos ouvir tudo.» António Fonseca aproveitou para lembrar que tudo aquilo – inclusive o aparente esforço – era truque teatral, e que estava ali para mentir, como Camões fazia, porque uma história só é boa se for fingimento. A pena que a espectadora teve dele era o melhor elogio que poderia ouvir. A última parte começou já depois da derrota da selecção portuguesa, motivo para mais apartes. É o mesmo tipo de apartes que Fonseca usou nos ensaios com as famílias. Estas famílias lusitanas foram encontradas um pouco ao acaso. Augusta Sousa, por exemplo, foi uma das duas famílias contactadas pelo serviço educativo do CCVF. Expôs o caso à família num almoço dominical. Os homens puseram-se logo de fora. Mas entre ela e as filhas, algumas primas e amigos, lá juntaram gente suficiente. Nem sabiam se iam ser escolhidas. Mas ao cabo de alguns ensaios e jantares, lá foram, briosas. Ana Baltar, ao contrário, contracenara com António Fonseca há mais de quarenta anos, num grupo amador da região. Por ocasião dos seus cinquenta anos, as irmãs reconstituíram a representação como prenda de aniversário e contactaram o agora actor profissional para saber como tinha sido. Quando o projecto dos Lusíadas veio para Guimarães, António desafiou Ana a participar. E lá estavam, na primeira fila, os pais orgulhos dos rebentos, aperaltados, dando o seu melhor, mostrando o valor dos portugueses. Faltou um convidado: D. Sebastião. A meio da plateia, uma cadeira iluminada, com um aviso de reservado, simbolizava o Desejado, a quem o poema foi originalmente dedicado, e o lugar dos governantes portugueses. Já depois dos versos finais, em jeito de coda, António Fonseca apontou a cadeira que estava destinada a D. Sebastião, mas que este não ocupara por falta de nevoeiro. Seria essa a cadeira para Presidentes, Ministros e Secretários de Estado, se tivessem vindo: «Não sabíamos que também precisavam de nevoeiro.» No final, aproveitando as invectivas de Luís Vaz de Camões, António Fonseca interpelou presentes e ausentes. A pátria «está metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza»; «um fraco rei faz fraca a forte gente». A maratona terminou, já depois da meia-noite, com um «Viva a forte gente!», que arrancou a saudação emocionada da plateia. Jorge Louraço Figueira http://estadocritico.wordpress.com/2012/06/14/os-lusiadas-a-volta-da-mesa/ Público – 12.06.2012