MST, MAB e CPT defendem investigação de privatizações no governo FHC
1.
2. 2 junho de 2012 especial privataria tucana
Movimentos sociais Sindicalistas
exigem a CPI
cobram investigação Arquivo BDF
“ Me arrisco a dizer que essa investiga-
ção é importante como o é a investiga-
ção dos crimes cometidos pela ditadura.
Por quê? Porque as novas gerações
PRIVATARIA MST, MAB e precisam e têm direito a formar consci-
ência sobre um modelo desastroso que
CPT defendem retomada foi adotado para que, nunca mais, outra
de patrimônio dado a aventura como essa se repita.
capital privado ” José Cruz/ABr
Eduardo Sales de Lima
da Redação
A DENÚNCIA de crimes de corrupção
ocorridos em meio a “era das privatiza-
ções” comandada por Fernando Henri-
que Cardoso, que envolve figuras do al-
to escalão do PSDB, levou os principais
movimentos sociais do país a se mo-
bilizarem contra o que denominam de
“transferência de patrimônio” para o ca- Artur Henrique, presidente nacional da
pital privado. Central Única dos Trabalhadores (CUT)
As organizações populares, além de
reivindicarem a implementação de um
processo investigatório dos fatos por “ As denúncias que foram feitas no li-
vro é importante que sejam apuradas. O
meio de uma Comissão Parlamentar de Ato público realizado no Rio de Janeiro pede a anulação da privatização da Vale do Rio Doce erro de qualquer governo acaba prejudi-
Inquérito (CPI), defendem a retoma- cando principalmente os trabalhadores
da dessas empresas, antes públicas, por rurgia, energia, comunicação e minera- vos processos de privatização e para re- ou a maioria da população brasileira. É
parte do Estado. ção. De acordo com Gilberto Cervinski, tomar as empresas estatais privatizadas, importante que se apure, doa a quem
Porém, a luta não se trava somente se analisarmos o período de privatiza- como a Vale do Rio Doce”, explica João doer, pois com certeza ira doer nos que
contra os políticos corruptos de um par- ções a fundo, ficará constatado que não Paulo Rodrigues. estavam governando.
tido conservador. Assim que o livro-re-
portagem A Privataria Tucana, do jor-
houve somente uma “onda de privati-
zação”, e sim uma transferência do pa-
Fato é que mesmo com todas tenta-
tivas de encobrir a “privataria”, a elite ” José Cruz/ABr
nalista Amaury Ribeiro Jr., foi lançado, trimônio estatal para as empresas pri- política conservadora ficou “sem nor-
apesar de a repercussão ter sido gran- vadas. “Foi pior ainda do que se imagi- te”, como diz o bispo emérito de Goiás
de na internet e suas redes sociais, hou- na”, pontua. e presidente de honra da Comissão Pas-
ve uma tentativa por parte dos princi- toral da Terra (CPT), Dom Tomás Bal-
pais meios de comunicação de abafar su- duíno. “Esse pessoal da direita, do po-
as denúncias. Segundo João Paulo Ro- “Esse pessoal da direita, do der, do dinheiro, foi pego de surpresa,
drigues, integrante da coordenação na- e agora eles estão atrapalhados”, ironi-
cional do Movimento dos Trabalhado- poder, do dinheiro, foi pego za o bispo.
res Rurais Sem Terra (MST), grande de surpresa, e agora eles Estão “atrapalhados” e permanecem
parte da população não sabe do esque- hipócritas. O integrante da coordenação
ma comandado pelos tucanos para des- estão atrapalhados” nacional do MST destaca que os setores
viar os recursos das privatizações para conservadores usam o tema da corrup-
pessoas próximas a José Serra (candida- ção de forma superficial para fins eleito-
to a prefeitura de São Paulo) porque os rais, mas que, quando estão no governo,
canais de televisão, assim como os jor- Investigar se beneficiam do capital privado corrup- João Carlos Gonçalves (Juruna),
Secretário-Geral da Força Sindical e 2º Vice-
nais impressos da mídia burguesa, boi- O livro-reportagem motivou o deputa- tor. “Os movimentos sociais defendem Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
cotaram o livro e esconderam as denún- do federal Protógenes Queiroz (PCdoB- uma maior participação da sociedade na Paulo e Mogi das Cruzes.
cias”, pontua. SP) a apresentar o pedido de criação de gestão do Estado para orientar, acompa-
Nessa mesma linha, Gilberto Cer- CPI para que as denúncias sejam apura- nhar e fiscalizar esses processos, dando
vinski, integrante da coordenação na-
cional do Movimentos dos Atingidos por
das. Para o dirigente do MAB, tão im-
portante quanto a manifestação dos mo-
maior transparência e fechando as bre-
chas para a corrupção”, pontua.
“ O processo de privatização levado a
cabo pelos tucanos durante os governos
de Fernando Henrique Cardoso, orien-
Barragens (MAB), acrescenta que além vimentos sociais organizados e dos tra- Nesse sentido, segundo ele, comba-
dos políticos corruptos e da mídia, am- balhadores como um todo, é necessá- ter a corrupção é mais do que uma ques- tados pelo neoliberalismo, foi um crime
plos setores empresariais estão envolvi- rio pressionar o Congresso Nacional pe- tão moral. É também defender a organi- de lesa-pátria perpetrado contra a nação
dos nos crimes denunciados pelo livro e la implementação dessa investigação. zação e a participação do povo brasilei- e o povo brasileiro. A CPI da Privataria
mais que interessados em encobrir todo “Além de recuperar esse processo histó- ro na gestão do Estado, subordinando os Tucana é uma demanda republicana,
justa e necessária.
o processo de ilegalidades.
“Essas denúncias revelam que havia
um esquema de corrupção por trás do
rico por meio de nossas manifestações,
temos que desenvolver as lutas em todos
os campos, inclusive no âmbito institu-
interesses privados às necessidades do
conjunto da sociedade.
Para além de ampliar a luta contra
” CTB
processo de dilapidação do patrimônio cional”, enfatiza. a privatização, Gilberto Cervinski, do
nacional para entregar empresas esta- Assim também enxerga o MST. “A ins- MAB, defende que investigar a “priva-
tais para as mãos das empresas transna- talação da CPI é fundamental para pôr taria” é também elevar o nível de cons-
cionais”, salienta João Paulo Rodrigues. luz sobre a discussão das privatizações ciência da população. Porém, assegura
Foram mais de 150 empresas públicas e, a partir da indignação da sociedade, que “a resposta mais importante para es-
privatizadas nos governos de Fernando pressionar para que todos os envolvidos ses crimes será retomar esse patrimônio
Henrique, as melhores do setor de side- sejam punidos e presos para impedir no- [privatizado] ao povo brasileiro”.
OPINIÃO
O pecado capital tucano Wagner Gomes, presidente nacional da
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil (CTB).
A imprensa brasileira, unha (A Veja não conta. É um detrito de maré
baixa em vias de remoção.)
Primeiro, que os tucanos fizeram uma
bendita privatizacão, “modernizaram” o
“ O livro traz um conjunto de denún-
cias que põe a nu o processo de priva-
e carne com a privataria e tização em todo o governo PSDB. Só
Este livro do Amaury Ribeiro Junior Brasil. Na verdade, venderam a Vale do
processo de privatização já mereceria
põe a Privataria a nu. Rio Doce por meia dúzia de bananas e
os tucanos, ficou de bico O clã José Serra: a filha, o genro, o só- quase vendem o Banco do Brasil, a Cai-
uma ampla investigação para mostrar
à sociedade para onde foi o recurso e
calado diante do livro A cio, o cunhado, o tesoureiro de campa- xa e a Petrobras.
patrimônio público. O livro mostrou
nha, um Mr. Big, e um tal de Dr. Escu- (Eles são gulosos...)
Privataria Tucana ta, que ele pagou quando era governador que além do processo de privatização
(?) do estado de São Paulo – a turma es- foi todo usado para corrupção. As de-
tá toda lá. O presidente da farra era o Fernando núncias devem ser apuradas com rigor
Com a boca na botija. e os responsáveis serem punidos. O
Paulo Henrique Amorim E o presidente da farra era o Fernando Henrique Cardoso. A roubalheira povo brasileiro tem o direito de saber e
Henrique Cardoso. comia solta e ele, o presidente, o Congresso Nacional o dever de apurar
A PRIVATARIA Tucana é a maior rouba- A roubalheira comia solta e ele, o presi- as denúncias e o que foi feito com o pa-
lheira de uma privataria latino-america- dente, coitado, sem saber de nada. coitado, sem saber de nada trimônio público.
na. Quem foram os privatadores?
O do México, Carlos Salinas de Gor-
Falando francês.
O PiG se calou diante do livro aqui re-
” CTB
tari, vendeu o México ao Slim, fugiu pa- sumido.
ra a Irlanda e hoje vive numa caverna na O livro tem documentos, documentos Segundo, eles eram os santinhos do
Cidade do México, de localização desco- públicos. pau oco. Acusavam todo mundo de la-
nhecida. Não há como desmenti-los. drões e eles, puros, limpos, idealistas –
O do Peru, Alberto Fujimori está preso, São vários batons na cueca: cuecas de eles não roubavam.
atrás das grades. vários tamanhos e batom de muitas cores. Os dois argumentos foram para o saco.
O da Bolivia, Losada, saiu do Palácio Os tucanos deixam de ser santinhos. A privataria é a mega-roubalheira.
debaixo de pedradas, pegou um avião e Não são mais virgens de colégio de freira. E a privatização foi isso: uma privataria.
vive em Miami. E não podem mais acusar ninguém de
O da Argentina, Carlos Menem, prote- corrupto. Paulo Henrique Amorim é jornalista e
ge-se com um mandato de Senador para Olha o teu rabo! blogueiro. Escreve para diversos jornais e
não ir em cana. É por isso que a imprensa brasileira, revistas do país, apresenta o programa
Aqui no Brasil, Fernando Henrique unha e carne com a privataria e os tuca- Domingo Espetacular da Rede Record e
Cardoso é o Sacerdote Máximo dos tu- nos, ficou de bico calado diante do livro. mantém o blog Conversa Afiada, com Edson Carneiro, (Indio), dirigente da
canos e do PiG, o Partido da Imprensa Porque perdeu os dois únicos argu- notícias e opiniões pessoais sobre o Brasil, o Intersindical
Golpista: a Globo, a Folha e o Estadão. mentos que tinha. mundo e a política.
Editor-chefe: Nilton Viana • Editores: Aldo Gama, Cristiano Navarro, Renato Godoy de Toledo • Subeditor: Eduardo Sales de Lima • Repórteres: Aline Scarso, Michelle Amaral,
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3. especial privataria tucana junho de 2012 3
Lavanderia tucana de dinheiro público Luciana Whitaker/Folha Imagem
PRIVATIZAÇÕES lia do ex-senador tucano Tasso Jereis-
sati). Os 410 mil seriam propina em tro-
Além de entregar o ca de favorecimento na compra da Te-
lemar, empresa de telefonia privatiza-
patrimônio público, venda da em 1998.
de estatais na era FHC foi Enquanto era diretor do Banco do
Brasil com influência na gestão dos fun-
marcada por esquema dos de pensão de estatais, as empresas
de Ricardo Sérgio apresentaram au-
milionário de corrupção, mento de faturamento, principalmente
em função de negócios com os próprios
sob comando de Serra fundos de pensão. Para a Previ, caixa de
previdência dos funcionários do Banco
do Brasil, as empresas dele venderam
um prédio por R$ 62 milhões. Da Pe-
da Redação tros, fundo dos funcionários da Petro-
bras, compraram dois prédios por R$ 11
O LIVRO A Privataria Tucana do jor- milhões. O dinheiro da compra do pré-
nalista Amaury Ribeiro Jr. revela uma dio da Petros veio de uma empresa de
rede de corrupção criada durante o go- fachada caribenha.
verno Fernando Henrique Cardoso Em outro caso de dinheiro ilícito liga-
(1995-2002) que, comandada por José do às privatizações, Privataria Tucana
Serra, desviava verbas do processo de aponta que dois ministros de FHC dis-
privatizações de empresas estatais. seram ter ouvido do líder do consórcio
Para além da consequência nefas- comprador da Vale que Ricardo Sérgio
ta para a economia brasileira, que so- exigiu dele uma comissão.
freu um processo de desmonte, o livro
aponta que o governo brasileiro pagou Rede de espionagem
para que as empresas fossem desestati- O tucano José Serra bate o martelo no leilão da leilão Light em 1995 O livro afirma ainda que José Serra,
zadas. “A temporada de bondades com desde o seu período à frente do Ministé-
o dinheiro público ultrapassou os pre- canos rastreou documentos em cartó- Isso leva a crer que o marido de Verô- rio da Saúde, utilizou o serviços de ara-
ços baixos, as prestações em 12 anos e rios de títulos e juntas comerciais. nica e a IConexa do Caribe eram os úni- pongas, pagos com dinheiro público, pa-
as moedas podres. Nos anos que ante- cos acionistas da IConexa de São Paulo. ra criar dossiês contra adversários polí-
cederam a venda das estatais, suas tari- Sob o comando de Serra O capital da empresa na data da assem- ticos. O grupo de Serra faria grande uso
fas sofreram uma sequência de reajus- Segundo o livro, o principal articula- bleia era de 5,4 milhões de reais. Não há da tática da contra-inteligência, isto é,
tes”, afirma o livro. No caso da energia dor da rede foi o ex-ministro José Ser- como saber qual era a porcentagem de manobras diversionistas, antecipação e
elétrica, esse aumento foi de 500%. ra (PSDB), que chefiou o Plano Nacio- cada sócio. Em sendo a IConexa do Ca- esvaziamento de possíveis denúncias e
A Privataria cita um levantamento nal de Desestatização. Ainda são prota- ribe amplamente majoritária, é possível vitimização perante a opinião pública.
feito pelo jornalista econômico Aloysio gonistas dessas operações bilionárias a que tenha comprado a maior parte do O livro também destaca como adversá-
Biondi. Segundo os dados que foram filha e o genro de Serra, Verônica e Ale- capital da IConexa de São Paulo como rios políticos do mesmo partido pratica-
publicados em O Brasil Privatizado, o xandre Bourgeois, além de Gregório meio de remeter o dinheiro para o Bra- ram guerras de espionagem e contra-es-
governo FHC afirmou ter arrecadado Marin Preciado, casado com uma pri- sil. Mais tarde, o capital da IConexa de pionagem entre si nos bastidores, tanto
R$ 85,2 bilhões com as privatizações, ma do tucano. A filha de Serra era só- São Paulo foi aumentado para R$ 7 mi- no PSDB (no caso, entre José Serra e Aé-
quando na verdade pagou 87,6 bilhões cia de Verônica Dantas, filha do ban- lhões, totalizando a soma que, segundo cio Neves) como no PT (entre Fernando
de dólares para “se livrar” das empre- queiro Daniel Dantas, indiciado pela o livro, foi trazida do Caribe pelo mari- Pimentel e Rui Falcão).
sas. Ou seja, um gasto de R$ 2,4 bilhões Operação Satiagraha da Polícia Fede- do de Verônica. José Serra teria comandado uma cen-
para perder empresas importantes co- ral em 2008. tral para tentar dizimar a pré-candidatu-
mo a Vale, a Embraer e a Usiminas. Ambas possuíam três empresas cha- ra de seu correligionário, Aécio Neves, à
Não bastasse isso, o processo ficou madas Decidir, que foram utilizadas pa- Ainda são protagonistas dessas presidência da República em 2010. Na-
marcado pelo maior esquema de lava- ra trazer 5 milhões de dólares do Citi- quele ano, Serra foi candidato e perdeu o
gem de dinheiro da história do país. As bank ao Brasil pelo trajeto Miami-Cari- operações bilionárias a filha e o genro de pleito para Dilma Rousseff.
operações eram baseadas na criação de be-São Paulo. Isso seria uma forma de
empresas de fachada em paraísos fis- propina por favorecimento nas privati-
Serra, Verônica e Alexandre Bourgeois,
cais, no envio de remessas de dinheiro zações, já que o Citibank comprou parte além de Gregório Marin Preciado, casado O que é paraíso fiscal
ao exterior e na lavagem de dinheiro. As da Telebrás associado a Daniel Dantas.
operações movimentaram milhões de O livro também relata que o mari- com uma prima do tucano O termo paraíso fiscal costuma ser muito
recorrente no noticiário de escândalos de
dólares entre 1993 e 2003. do de Verônica Serra usou uma empre- corrupção. Esses paraísos são pequenos países,
Assim, empresas ligadas aos tucanos sa do Caribe para injetar R$ 7 milhões mais frequentemente no Caribe, que possuem
desviavam verbas para esses paraísos em outra empresa no Brasil. As duas se uma legislação conivente com a entrada e
fiscais e depois resgatavam o dinheiro chamam IConexa. Há um indício de que Ricardo Sérgio e os Jereissati saída de dinheiro sem quase nenhuma fis-
para usar no Brasil. as transferências foram feitas por meio Outro importante operador do esque- calização. Para “lavar” o dinheiro, mafiosos e
O livro aponta que em uma dessas da compra de ações da empresa brasi- ma de desvios é Ricardo Sérgio de Oli- corruptos investem o dinheiro nessas ilhas em
operações de resgate de dinheiro, José leira pela sua homônima caribenha: a veira (“o chefe da lavanderia do tuca- empresas (chamadas offshore) que podem ter
Serra teria comprado a casa em que vi- ata de uma assembleia de acionistas nato”, segundo Amaury), ex-diretor do como sede uma simples caixa postal, como
ve até hoje, em um bairro luxuoso da ci- da IConexa de São Paulo, assinada du- Banco do Brasil nos anos FHC. Olivei- retrata o livro A Privataria Tucana. Além da ga-
dade de São Paulo. as vezes pelo marido de Verônica, sen- ra recebeu 410 mil dólares da empre- rantia de rentabilidade, aqueles que aplicam
Amaury relata que para chegar às do uma como pessoa física e outra como sa Infinity Trading, controlada pelo o dinheiro nesses países têm garantia de sigilo
absoluto e conivência da Justiça local.
fraudes financeiras cometidas pelos tu- representante da IConexa do Caribe. Grupo Jereissati (pertencente à famí-
“Petrobrax”
O Brasil é a vítima A Petrobras foi uma das poucas em-
presas estatais que não foi completa-
tarde. Não é demais reparar que, na mori admitiu, depois, ter concedido mente vendida no governo FHC, muito
Amaury Ribeiro Jr. América Latina, estamos atrasados nes- propinas — “briberization”, como diria em função da resistência dos petroleiros
tas providências. No México, o ex-presi- Joseph Stiglitz — o que somou à sua pe- e de setores da sociedade.
DEPOIS DESTA jornada pelos pânta- dente Carlos Salinas de Gortari — espé- na mais alguns anos de cadeia. No entanto, as tentativas de sufocar a
nos da política em que todos são vilões e cie de santo padroeiro da privataria la- Para quem entende a desigualdade empresa e até de difamar a imagem da
o Brasil é a vítima, acho importante en- tina — crivado de denúncias de corrup- social como um valor em si mesmo e o companhia perante a sociedade eram
cerrar a narrativa com algumas observa- ção, saltou em seu jatinho e fugiu para Estado do Bem-Estar Social como um evidentes. Diversos acidentes macula-
ções. A primeira delas é que o país e su- Nova York. Na Bolívia, após privatizar trambolho no caminho da realização ram a empresa naquela época.
as instituições não têm o direito de con- até a água, que entregou à francesa Suez- plena do indivíduo, Salinas de Gortari, A gestão do PSDB da empresa come-
tinuar fazendo de conta que não viram a Lyonnaise des Eaux e à norte-america- Sánchez de Losada, Menem, Fujimori e çou em 1995 com cerca de 60 mil traba-
rapinagem organizada que devastou os na Betchel, o “modernizador neoliberal” similares fizeram o que tinham que fa- lhadores. Em oito anos, nenhum con-
bens do Estado nos anos 1990 e come- Gonzalo Sánchez de Lozada foi ejetado zer. Foram flagrados — uma lástima do curso público para contratação foi reali-
ço da década seguinte. E que serviu para do seu trono aos gritos de “assassino” e seu ponto de vista — mas não se pode fa- zado. Ao final da gestão, a empresa tinha
tornar os ricos mais ricos. voou para Miami. zer maiores reparos à sua ação política reduzido o seu quadro de funcionários
Varrer a sujeira para debaixo do ta- Tripulando uma razia privatizante em termos de coerência. pela metade. Além disto, os funcionários
pete, como se fez tantas vezes, não é que liquidou até mesmo estatais que Resta saber se quem interpreta o Esta- da empresa passaram oito anos sem ter
mais possível. Não há tapete suficien- davam lucro e um processo de concen- do Mínimo como uma perversidade ine- reajuste, nem da inflação. A gestão atual
te para acobertar tanto lixo. O Brasil, tração de renda que desempregou 30% ficaz — aqui ou em qualquer outro lugar da Petrobras conseguiu aumentar o nú-
que escondeu a escravidão e ainda ocul- da população ativa, Carlos Menen vi- — está disposto a fazer valer sua condi- mero de trabalhadores para cerca de 70
ta a barbárie de suas ditaduras, não po- rou sinônimo de azar. Na Argentina, as ção cidadã e exigir da Polícia, do Fisco, mil e repôs as perdas salariais.
de negar aos brasileiros a evisceração da pessoas dizem “Mendéz” para não pro- do Ministério Público e da Justiça que De acordo com Sérgio Motta, um dos
privataria. Quem for inocente que seja nunciar seu nome receando uma catás- cumpram a sua parte. homens fortes do governo FHC, a gestão
inocentado, quem for culpado que ex- trofe. No Peru, após aprovar sua se- Se jogar uma luz sobre este passado tucana tinha o objetivo de desmontar a
pie sua culpa. gunda reeleição, Alberto Fujimori eva- ainda imerso nas sombras, este livro, Petrobras “osso por osso”. Os tucanos
Se isso não acontecer, isto é, se a me- diu-se do país sob acusação de surru- que termina aqui, terá cumprido a sua chegaram a mudar o nome da empre-
mória do saque não se tornar um patri- piar 15 milhões de dólares do erário e parte. E tudo o que houve terá valido a sa para “Petrobrax”, para tornar a mar-
mônio dos brasileiros, o país poderá re- de autorizar a execução de dissidentes. pena. (Epílogo do livro A Privataria Tu- ca mais “atrativa” para o mercado inter-
petir esta história, mais cedo ou mais Condenado a 25 anos de prisão, Fuji- cana, de Amaury Ribeiro Jr.) nacional.
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4. 4 junho de 2012 especial privataria tucana
A ofensiva neoliberal e o Políticos também
exigem apuração
desmonte do Estado brasileiro “ Sou totalmente a favor de uma CPI que
investigue, escarafunche, destrinche todo o
vergonhoso processo das privatizações em
nosso país. Hoje, temos aí mais uma CPI, a do
PRIVATARIA Para o jurista cional (FMI), Fernando Collor iniciou o afirmou que a gestão tucana planejava
Cachoeira. É mais uma CPI para divertir (des-
processo de desestatização. Porém, o au- desmontar a petroleira “osso por osso”.
Fábio Konder Comparato, viar do que interessa) o Congresso, a mídia e
ge da política privatista se deu sob o co- O nome da empresa chegou a ser muda- a opinião pública. Afinal, nada mais corrupto
mando de Fernando Henrique Cardoso do para “Petrobrax”, para tornar a mar-
a submissão do país (1995-2002). ca mais atrativa para uma possível ven-
que as privatizações Wilson Dias/Abr
que desmantelaram
ao estrangeiro é um Os anos de governo de Fernando Hen- da. Após as críticas dos petroleiros e da parte importante do
rique Cardoso (FHC) foram marcados sociedade, o governo voltou atrás. Estado Brasileiro.
crime de consequências por vendas de empresas estatais a pre- Mas, sinceramente,
ços abaixo do mercado. Logo no início quem quer a CPI
incalculáveis. É do governo, FHC nomeou o seu minis- Os anos de governo de Fernando da Privataria? Ou
tro, José Serra (PSDB), para a função vocês acham que
indispensável que todos de chefe do Programa Nacional de De- Henrique Cardoso (FHC) foram exista uma diferen-
estes homens sejam sestatização, que comandou a venda de ça essencial entre
empresas estatais ao capital privado es-
marcados por vendas de empresas privatizar a Vale e
processados perante trangeiro. estatais a preços abaixo do mercado entregar, através de leilões, reservas fantásticas
”
do petróleo brasileiro?
Ao todo, dez empresas brasileiras fo-
um tribunal popular e ram vendidas. Somadas as empresas pri- Roberto Requião, senador do Paraná (PMDB).
condenados à vatizadas em parceria com governos es-
indignidade nacional
taduais pró-FHC, foram mais de 25 de-
sestatizações.
Para o jurista e professor da Universi-
dade de São Paulo, Fábio Konder Com-
“ Leonel Brizola classificou o processo das
privatizações como o maior crime de lesa
pátria da história brasileira. Agora, a gente
A Companhia Vale do Rio Doce, por parato, os tucanos deveriam responder pode concluir que além de um crime de lesa
exemplo, foi vendida em 1997 por 3,3 judicialmente pelas privatizações que pátria, que alienou o patrimônio público, esse
bilhões de dólares, em um leilão marca- realizaram. “A grande responsabilidade também foi o maior
Renato Godoy de Toledo do por obscuridades e questionamentos do governo FHC não é ter levado a uma crime de corrupção.
Fabio Rodrigues Pozzebom/Abr
de São Paulo (SP) na Justiça. Os compradores ainda con- piora da situação econômica e social do O livro do jornalista
taram com empréstimos do Banco Na- país. Outros governos, no passado, tam- Amaury Ribeiro Jr.
A PARTIR DA DÉCADA de 1990, o Bra- cional do Desenvolvimento Econômico bém fizeram isso. O que é imperdoável é vem amplamente
sil iniciou o processo de diminuição do e Social (BNDES). a entrega do país ao estrangeiro, de pés documentado. À
papel do Estado na economia. O plano Os movimentos sociais denunciam e mãos atados. Esta é uma ação infinita- Camara dos Deputa-
de privatizações foi a principal marca do que a venda da mineradora foi feita por mente mais danosa do que todas as cor- dos, cabe apurar as
período, inspirado fortemente nas ações um valor muito abaixo do que o mer- rupções. A alienação, a submissão do denúncias. Assinei
o pedido de CPI e
da dupla Ronald Reagan (presidente dos cado estima. Atualmente, calcula-se país ao estrangeiro é um crime de conse- convoco todos os
EUA entre 1984 e 1988) e Margareth Ta- que o valor da empresa seja de quase quências incalculáveis. É indispensável deputados a apoiar, para ir a fundo nas inves-
tcher (primeira-ministra da Inglaterra 200 bilhões de dólares. que todos estes homens sejam processa- tigações e desvendar o processo de privatiza-
entre 1979 e 1990). O governo FHC também sinalizou que dos perante um tribunal popular e con-
”
ção da era tucana.
Com o predomínio de governos con- pretendia privatizar a Petrobras. O en- denados à indignidade nacional”, disse o Brizola Neto, atual ministro do Trabalho (PDT),
servadores na América Latina, alinhados tão ministro das Comunicações e ho- jurista em entrevista ao jornalista Nilton em discurso no plenário da Câmara dos Deputados
às políticas do Fundo Monetário Interna- mem forte do governo, Sérgio Motta, Viana, na época do governo FHC. quando era deputado federal, em dezembro de 2011.
“ As privatizações da era Fernando Henrique
Cardoso significaram as dilapidações do pa-
trimônio público, transferindo para as mãos
“O caminho foi investigar o
do capital privado Marcello Casal Jr/Abr
empresas estatais
estratégicas. Por
pouco não entre-
garam o Banco do
percurso do dinheiro”
Brasil, a Caixa
Econômica Federal
e a Petrobras. Esse
programa neoliberal
levou o estado brasi-
leiro a perder o pa-
Maringoni pel de indutor do desenvolvimento, recuperado
”
por Lula e agora por Dilma Rousseff.
ENTREVISTA O jornalista Rui Falcão, deputado estadual e presidente na-
e escritor Amaury Ribeiro cional do PT.
Jr., autor do livro A
Privataria Tucana, afirma
“ A privatização no setor estratégico, a pri-
vataria que foi feita
no sistema Telebrás
Beto Oliveira/Agência Câmara
foi um crime contra
que resolveu investigar o interesse público
e nacional. Na era
para comprovar as Fernando Henrique
Cardoso entregaram
denúncias de que havia setores importantís-
simos, como a Vale
corrupção em todo o do Rio Doce, para a
iniciativa privada;
processo de privatizações isso representou um retrocesso para nosso
”
país.
de FHC Ivan Valente, deputado federal (PSOL).
Luiz Felipe Albuquerque
de São Paulo (SP)
“ A privataria tucana, símbolo das privatiza-
ções no Brasil na época do governo neoliberal
do PSDB, causou um grande prejuízo à nação
e levou o país a essa esteira de corrupção e de
desmando e fragilidade dos poderes da Repú-
APÓS A PUBLICAÇÃO, Amaury Ribeiro blica. Temos sentimento de que fomos engana-
Jr. percorreu todo o país ao ser convida- dos no passado. Nossa resposta a isso, a essa
do a participar de debates, fóruns e pa- trama, tem que ser José Cruz/Abr
lestras para compartilhar todo o proces- dada tratando esse
so que resultou no livro A Privataria Tu- assunto no Congres-
cana. Em entrevista ao Brasil de Fato, o so Nacional, em uma
autor fala sobre o significado do livro, co- profunda investiga-
mo se deram as investigações, e a reper- ção para identificar
cussão que teve. os culpados e, sobre-
tudo, recuperação
Brasil de Fato – Por que você do dinheiro público
desviado em razão
resolveu escrever o livro?
da venda das nossas
Amaury Ribeiro Jr. – Quando co-
”
riquezas naturais e bem e serviços.
meçou a surgir na imprensa na década Protógenes Queiroz, deputado federal (PCdoB).
de 2000, tinha-se a suspeita de que ha-
via propina nos processos de privatiza-
ção e que foram bancados pela corrup-
ção. Sempre apontou isso. Era uma coisa
das pessoas que sofreram com todo es-
se processo de privatização. Muita gen-
te enlouqueceu, ficou doida. Muitas pes-
ouvir histórias de quem sofreu com isso.
Quando se fala sobre um assunto des-
ses parece que é questão só de macroe-
“ O processo de privatização na era FHC só
não foi mais profundo em razão da resistência
das forças progressistas. Mas a hegemonia
que era errada desde o início e resolvi in- soas – funcionários dessas empresas es- conomia, mas não é. Não é só uma políti- neoliberal dos anos UJC-Curitiba
vestigar para comprovar as primeiras de- tatais – que eram obrigadas a entrar nes- ca de governo, afetou a vida das pessoas, de 1990 não nos
núncias de que existia propina, corrup- ses planos de demissão voluntária. Em é uma coisa muito mais ampla que tem a permitiu impedir
ção dentro de todo esse processo. cada história, em cada estado que viajei ver com o dia a dia das pessoas. a vergonhosa pri-
de norte a sul, via uma história de tragé- vatização da Vale,
comprada a preço
dia e o tanto que essas privatizações fi- E o que se espera com o livro? de banana. Esta-
“Tem setores da imprensa que zeram mal para a elas. Tenho visto que Esperamos que os mesmo erros não mos de acordo com
o livro tem se tornado um consolo, uma se repitam. Que sirva de lição para que o uma CPI sobre este
se beneficiaram desse processo bandeira para essas pessoas. país caminhe para frente e não se inspi- escândalo, mas não
e que até hoje sonham com o re nesse modelo. Tem setores da impren- podemos abando-
Como você vê o significado sa que se beneficiaram desse processo e nar a luta contra a privatização, que agora se
retorno desse modelo neoliberal político do conteúdo do livro? que até hoje sonham com o retorno desse dá de forma mais sutil e mitigada. E a CPI é
Politicamente demonstra que o modelo modelo neoliberal dos tucanos. Mas acho uma luta num espaço majoritariamente bur-
dos tucanos” deles, o neoliberal, que ocorreu em toda que o livro serviu para enterrar de vez es- guês; precisamos trazer de volta esta luta para
”
a América Latina é errado. É um mode- se projeto e mostrar o que era a verdadei- as ruas!
lo que nasceu falido e que só serviu pa- ra política econômica do PSDB. Ivan Pinheiro, secretário-geral do PCB.
ra enriquecer gente. Vejam só: eles que-
E como se deu esse processo de
investigação?
riam privatizar o Banco do Brasil, a Cai-
xa Econômica Federal e a Petrobrás. Ho-
Fale um pouco sobre o próximo
livro que está escrevendo, A “ É fundamental investigarmos com profun-
didade as falcatruas que foram praticadas no
processo de pri-
Foi basicamente levantamento de do- je esses dois bancos fazem um papel im- Privataria Tucana II. PSTU
vatização na era
cumentos em cartórios, juntas comer- portante, demonstram a importância de Ainda estamos olhando os documen-
Fernando Henrique
ciais e em paraísos fiscais. O caminho foi se ter um banco estatal forte, baixando as tos, temos que analisá-los para con- Cardoso. Também é
investigar o percurso do dinheiro. Inves- taxas de juros. cluir, mas chegaremos lá. Estamos tra- importante continu-
tigar como as pessoas e empresas envol- balhando outros meios também, como armos a luta contra
vidas se enriqueceram dentro do proces- E como foi esse processo de que a imprensa e outros setores tam- a privatização do
so das privatizações. divulgação do livro? bém se beneficiaram disso. Por que a patrimônio público
Conheci muito mais o livro depois da imprensa toda apoia esse modelo? Por- do nosso país que
O que esse livro representa? publicação, porque em cada estado vía- que se beneficiou. Mas estamos na bus- lamentavelmente
Quando lancei o livro achava que não mos uma situação, uma história de so- ca de documentos, porque precisa estar segue acontecendo
”
representava muita coisa. Só depois é frimento dessas pessoas vítimas da pri- muito embasado para escrever um livro nesse governo, como no caso dos aeroportos.
que fui ver a força. Virou uma bandeira vatização. O que me chamou atenção foi desses. Zé Maria, dirigente do PSTU.