Pierre Lévy é um filósofo francês que estudou as culturas digitais e a internet. Seu livro Cibercultura argumenta que a internet permite novas formas de comunicação global e compartilhamento de conhecimento através de comunidades virtuais, embora o acesso seja desigual. Ele vê potencial para democratizar o acesso ao saber, mas também riscos se a cultura escrita desaparecer.
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
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1. Pierre Lévy é um filósofo e sociólogo francês especialista em internet e culturas tecnológicas
digitais. O seu livro Cibercultura decorre de um Relatório apresentado ao Conselho da Europa
no âmbito do Projeto ‘Novas Tecnologias: Cooperação Cultural e Comunicação’. Nesta obra o
autor pretende "pensar a cibercultura", mostrando-se otimista pelas potencialidades
oferecidas pala internet, nomeadamente o crescimento do ciberespaço e o que denomina de
"um novo espaço de comunicação".
Considera a comunicação digital uma nova forma de comunicação e partilha assente na
"interconexão mundial", que nos dá acesso a um "universo oceânico de informação",
considerando que este vasto leque de informação é "alimentado" pelas pessoas que navegam
na internet. Associado ao conceito de interconexão, faz um paralelo entre o contexto cultural
das "sociedades orais" e a formação de comunidades virtuais, sendo que nestas últimas
predomina "uma renovação permanente". Esta sistemática e constante atualização de
conteúdos conduz-nos ao conceito de "inteligência e criação coletivas", em que o
conhecimento é partilhado entre todos os utilizadores deste "universo oceânico de
informação". Entende o autor que o desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e
comunicação provoca mudanças qualitativas e significativas na esfera social e cultural,
transformações na relação com o saber e consequentemente na educação e formação. No
entanto, refere que o ciberespaço não está acessível a todos da mesma forma, devido a
assimetrias de várias ordens: regionais, sociais, culturais, religiosas, económicas ou politicas, o
que não nos impede de reconhecer as suas potencialidades. Considera a internet como uma
ferramenta potenciadora da democratização do saber, pelo não se pode conceber a educação
sem a internet, o que implica a reorientação do papel do professor que deixará de ter "o
monopólio da criação e transmissão do conhecimento".
Existem muitos exemplos decorrentes da evolução do ciberespaço (Blogs, Messenger,
Facebook, Twitter, Instangram, LinkedIn, Youtube, Soundcloud, plataformas de online gaming,
flicKr, msn, wikipédia, Dropbox, entre outros), os quais se organizam em comunidades virtuais,
permitem não só o acesso, partilha e construção de conhecimento, como também a
comunicação digital, o acesso à informação e também disponibilizam espaços de
armazenamento do conhecimento.
A propósito de educação, alguns exemplos de "novas possibilidades de criação coletiva
distribuídas, aprendizagem cooperativa e colaboração em rede pelo ciberespaço" são as
diferentes plataformas e repositórios das universidades, bibliotecas e museus (alguns
exemplos: ALMA MATER - Biblioteca Digital de Fundo Antigo da Universidade de Coimbra;
Biblioteca Digital Da Faculdade De Letras Do Porto; Mosteiro dos Jerónimos). Relativamente às
"ameaças" do mundo digital, Lévy considera que a digitalização não conduz ao
desaparecimento da cultura escrita, apenas a melhorias na democratização do acesso à
cultura. Neste campo, temos plataformas de acesso a obras literáriasem formato digital com a
possibilidade de "download" gratuito ou a preços mais acessíveis, tais como: Mojo;
Bibliotrónica Portuguesa; Project Gutenberg.
Com efeito, tal como afirma Lévy, o ciberespaço e a cibercultura são parte integrante da
sociedade atual, possibilitando o acesso à informação, "a comunicação entre indivíduos", são "
2. um lugar virtual no qual as comunidades ajudam os seus membros a aprender o
que querem saber".
Lévy, Pierre (2000), Cibercultura – Relatório para o Conselho da Europa noquadro do Projecto
«Novas tecnologias: cooperação cultural e comunicação», Col. Epistemologia e Sociedade,
nº138, Lisboa: Instituto Piaget.