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MEUS 17 ANOS
Um testemunho psicológico do alvorecer da minha maioridade
POR RHEZUS MORENO
Nota de abertura
ESTE LVIRO É UM TESTEMUNHO DE UM JOVEM URBANO DE CLASSE MÉDIA POUCO
ANTES DE COMPLETAR A SUA MAIORIDADE!
Estes escritos são os relatos das vivências de um rapaz por volta dos seus 17 anos oriundo de um
lar relativamente próspero no Brasil e residente em uma metrópole brasileira nos idos dos anos de
2005. Narra principalmente seu último ano do Ensino Médio e são seguidos na maior parte do
tempo de breves comentários dos fatos a luz deste mesmo jovem, mas agora com a consciência
de um adulto de 33 anos.
Sumário
Prelúdio, domingo, 11 de janeiro de 2004........................................................................................................................1
Transição, terça-feira, 13 de janeiro de 2004...................................................................................................................3
Recepcionista Médica, segunda-feira, 29 de novembro de 2004 ....................................................................................4
Meditações Internas, terça-feira, 19 abril 2005 ...............................................................................................................4
Pequenas Filosofias, quinta-feira, 21 de abril de 2005.....................................................................................................7
É o sistema, sábado, 23 de abril de 2005..........................................................................................................................7
Canibalismo, quinta-feira, 05 de maio de 2005................................................................................................................7
Corpo Físico, domingo, 08 de maio de 2005.....................................................................................................................8
Palestra sobre Drogas, sexta-feira, 10 de maio de 2005 ..................................................................................................8
Minha irmã, domingo, 11 de maio de 2005......................................................................................................................9
Competições, sábado, 14 de maio de 2005......................................................................................................................9
Minha Profissão, domingo, 12 de junho de 2005...........................................................................................................10
Meus Valores Morais, segunda-feira, 13 de junho de 2005...........................................................................................11
Socializando, sábado, 18 de junho de 2005....................................................................................................................11
Estado Paralelo, segunda-feira, 27 de junho de 2005 ....................................................................................................12
Carreira, segunda-feira, 4 de julho de 2005 ...................................................................................................................13
Arrependimentos, terça-feira, 7 de julho de 2005 .........................................................................................................14
Desaforo, sexta-feira, 08 de julho de 2005.....................................................................................................................15
Grandiosidade, sábado, 09 de julho de 2005 .................................................................................................................15
PT, quinta-feira, 14 de julho de 2005..............................................................................................................................15
Timidez e Respeito, sexta-feira, 15 de julho de 2005.....................................................................................................16
Contratempo temporal, segunda-feira, 18 de julho de 2005.........................................................................................16
Sofisticação, quinta-feira, 21 de julho de 2005 ..............................................................................................................17
Livros, sexta-feira, 22 de julho de 2005..........................................................................................................................17
Visitas, domingo, 24 de julho de 2005............................................................................................................................18
Dicionário, terça-feira, 26 de julho de 2005 ...................................................................................................................19
Contatinhos, quarta-feira, 27 de julho de 2005..............................................................................................................19
Presente, segunda-feira, 01 de agosto de 2005 .............................................................................................................19
Churrasco, sábado, 06 de agosto de 2005......................................................................................................................19
Grêmio Estudantil, terça-feira, 9 de agosto de 2005......................................................................................................20
Cidade de um Famoso Escritor Mineiro, segunda-feira, 15 agosto de 2005..................................................................21
Dinheiro próprio, terça-feira, 16 agosto de 2005...........................................................................................................21
Injustiça, sexta-feira, 19 agosto 2005 .............................................................................................................................21
Na megalópole, sábado, 20 de agosto de 2005..............................................................................................................23
Depressão menor, quarta-feira, 7 de setembro de 2005 ...............................................................................................25
Participação, quinta-feira, 8 de setembro de 2005 ........................................................................................................25
Documentos, segunda-feira, 19 de setembro de 2005 ..................................................................................................26
Sobrecarregado, sexta-feira, 23 de setembro de 2005 ..................................................................................................26
Corruptela nossa de cada dia, domingo, 25 de setembro de 2005 ................................................................................26
Tô nem aí, quarta-feira, 29 de setembro de 2005..........................................................................................................27
Pecado, Sábado 1 outubro 2005.....................................................................................................................................27
Hormônios, domingo, 2 de outubro 2005 ......................................................................................................................27
Parabéns, terça-feira, 4 de outubro 2005.......................................................................................................................28
Virgem, quarta-feira, 5 de outubro 2005........................................................................................................................28
Lombalgia, sexta-feira, 30 setembro 2005 .....................................................................................................................28
Desistir é não lutar, sábado, 22 outubro 2005 ...............................................................................................................29
Eu mesmo, sexta-feira, 28 outubro 2005 .......................................................................................................................29
Não é quase garantido, sábado, 29 de outubro de 2005 ...............................................................................................30
Gay, sábado, 12 de novembro de 2005 ..........................................................................................................................30
Meditações Internas, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2005.......................................................................................31
O “Vestibular”, domingo, 26 de fevereiro de 2006 ........................................................................................................32
Rotinas, quarta-feira, 12 de abril de 2006......................................................................................................................33
Expectativas, quarta-feira, 15 de novembro de 2006.....................................................................................................34
Pensamentos diversos, segunda-feira, 1º de janeiro de 2007 .......................................................................................34
Tortura, segunda-feira, 19 de março de 2007 ................................................................................................................35
Disciplinado, sexta-feira, 30 de março de 2007..............................................................................................................36
Sofisma, quarta-feira, 27 de agosto de 2008..................................................................................................................36
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Prelúdio, domingo, 11 de janeiro de 2004
Meus escritos de 2004, quando tinha 16 anos já são marcados por uma baixa autoestima, se vê
escrito no começo do meu diário “não pretendo caprichar. Invejo os que conseguem. Minha letra
fora bonita em outros tempos” ... Sinal de que fui um adolescente que tinha baixa autoestima
mesmo, me culpabilizando por não caprichar na escrita de algo tão pessoal quanto meu diário!!!
Também já começo meu diário repetindo a palavra pecado umas três vezes, sendo que nem
religioso sou, como uma concepção desse veio guiar minha vida??
Logo em seguida escrevo “mãe acha que sou burro”, acho que isso aí é um claro pensamento
disfuncional, um conceito que fui ter em minha mente somente lá pelos idos de 2015, em terapia
cognitivo-comportamental. Pensamento disfuncional são crenças que não tem base na realidade,
mas que moldam nossas atitudes e a forma como nos enxergamos...se tornam uma profecia
autorrealizada, por exemplo, ao me julgar que sou incapaz, que vou fracassar em algo, nem ao
menos tento fazer determinada tarefa, e algo que começou no pensamento passa a ser a própria
realidade se retroalimentando infinitamente...
Uma outra coisa que percebo, é que minha mãe parecia querer controlar um indício de
comportamento compulsivo que tinha, pois parece que nos meus 16 anos, eu era bem viciado em
jogos de computadores, e parece que na minha narração nesse dia ela me censurou porque talvez
eu tenha ficada muitas horas na frente do computador. Parece que logo em seguida, devido a minha
2
teimosia, o efeito da punição dela não funciona, pois logo em seguida afirmo que volto a jogar
quando ela sai de cena.
Comportamentos impulsivos são bastante comuns na euforia em uma pessoa bipolar, pois a
condição afeta o juízo moral/crítico e a pessoa fica incapaz de tomar decisões assertivas, precisas
e equilibradas. Claro que exigir de um adolescente autocontrole é muito, mas é uma habilidade que
se desenvolve aos poucos, e lembro que mais tarde, acabei pagando um preço alto por isso. Em
um momento crítico da minha faculdade, preferira ficar navegando na Internet compulsivamente ao
invés de estudar, frutos também claros, da manipulação das empresas de Redes Socais sem
regulação na época que faziam seu público leigo ainda pouco acostumado com a Internet de alta
velocidade ficarem vidrados na tela...
Nesse dia ou semana, eu assisti ao filme “O Último Samurai” com minha família, menos o meu
padrasto, no nosso apartamento em um bairro típico de classe média brasileira, com casas boas
ao lado de alguns barracos (nos mudamos para lá nos idos dos anos 2002). Este pequeno e
aparente irrelevante detalhe pode já apontar um indicador que nossa família não era lá tão unida e
feliz, pois não compartilhou um momento agradável de assistir um filme juntos com todo mundo
reunido (o que se mostrou verdade 20 anos depois com o divórcio de mãe e a descoberta do
desfalque financeiro que foi o casamento de três décadas com uma pessoa que só dividia ao invés
de multiplicar as riquezas) ...
No mais, nessa data relato que joguei um famoso jogo de guerra e estratégia de computador.
Pensei também que escrever diário era coisa de menina, por ser um registro sentimental da vida...
(machismo implícito que homem não pode demonstrar seus sentimentos).
3
Transição, terça-feira, 13 de janeiro de 2004
Só me lembrei de uma coisa, costumava roer unha da 5ª série a 8ª série, só parei por força da
razão quando numa aula de biologia, o professor disse que as mãos concentravam uma gigantesca
quantidade de bactérias e tomei nojo dos meus próprios dedos...
Começo dia 13 de janeiro de 2004 à tarde pensando em como sempre mantive contato físico
afastado da minha irmã, pois nem beijo na bochecha gostava que ela me desse. E ela também não.
Nunca gostei de demonstrações de afeto na família em geral, nem de mãe, nem de irmã...acho que
aqui em casa somos todos frios....
Narro também meu prazer em desenhar figuras geométricas, principalmente cidades e desenhos
de ruas perpendiculares, motivo o qual boa parte da minha adolescência tinha uma certa certeza
que ia cursar Arquitetura e Urbanismo...
Falo também que tenho uma certa dificuldade em lidar com o diferente. Lembro que o fato de eu
ser introspectivo e ter imensa dificuldade de socialização, sofria, hoje diria, de ansiedade social, e
minha vida em ambientes novos, como nova escola, festas, eram bastante desagradáveis para
mim...isso tudo é claro um sintoma de ansiedade, que veio se agravar nessa fase de transição da
vida, entre vida infantil e adulta, momento de incertezas, questionamentos e descobertas que na
vida não há respostas e garantias.
Neste dia também me recordo de ao me mudar para a França com meus pais aos 7 anos, minha
mãe aceitou minha curiosidade de conhecer a cabine do avião e na época, falta de atentados
terrorista, foi possível eu entrar na cabine do piloto e ver um monte de luzinhas dos controles. Não
sei se isso despertou algum desejo em eu ser um dia piloto, creio que não, e hoje sei que isso seria
impossível devido ao meu quadro emocional, nem piloto de avião, nem militar, e até uma terapeuta
4
mais tarde me falaria, nem professor. Nessa viagem de 1995 ganhei um Lego que se tornaria uma
espécie de paixão minha, e até hoje, desenvolvo em mim o gosto de montar quebra-cabeças em
três dimensões.
Em 2004 ia ser o ano da mudança do apartamento que morava na Zona Norte para uma casa no
mesmo bairro e região, mas maior e em uma rua sem asfalto e perto de uma favela que na época
vivia conflitos com tráfico, pois havia tiroteios e mortes todos finais de semana praticamente. Fiquei
sabendo na época que até o vizinho que construía uma casa ao lado foi morto por dívidas com
drogas...
Recepcionista Médica, segunda-feira, 29 de novembro de 2004
Frequentei uma médica especialista em adolescente no ano de 2004 para tratar minhas
instabilidades de humor. Ela me receitou um relaxante muscular e um antidepressivo. Além de ter
conversado sobre minha sexualidade, se minha genitália era normal, suicídio, frustrações, violência
urbana, homossexualidade, indisciplina na escola por parte dos meus colegas, orgulho e vaidades
minhas. A secretária dela era estagiária de psicologia, uma negra que cursava psicologia e que
cheguei a conversar algumas coisas na sala de espera do atendimento. Eu gastei com ela um
pouco dos meus conhecimentos superficiais de psicologia, até porque na época também tinha
curiosidade de frequentar a biblioteca pública da cidade e consultar os grandes filósofos e
pensadores da modernidade. Até achei uma referência de um empréstimo de uma obra de Michel
Foucault em meus cadernos...
Meditações Internas, terça-feira, 19 abril 2005
Algumas anotações de como sentia aflito em eventos sociais, como em um aniversário que fiquei
isolado, alguma briga entre meus pais por causa do jardim, neste ano parece que tínhamos
acabado de nos mudarmos para uma outra casa...
Meu último ano de ensino médio, enxergava meus colegas, principalmente as meninas, como muito
calorosas nas amizades umas com as outras, pois vivam se dando beijos, tendo sorrisos nos
semblantes, falação sem pausas...
Também notei que o professor de História não se animou tanto com tamanha energia da turma, os
alunos em conversas paralelas sem fim, professor suplicando silêncio para a turma, até porque
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uma vez reclamei, já que a escola perguntou para os alunos quais pontos eles queriam que
melhorasse na instituição. Eu falei que a disciplina, silêncio na sala. Lembro numa enquete da
professora de Geografia no 1º ou 2 º ano que achava educação aqui no Brasil era uma algazarra,
principalmente do ponto de vista de quem estudou na França, com aquele esquema hierárquico e
rígido, onde autoridade do professor é indiscutível, como se diz por aí, igual era a educação elitizada
no Brasil nas décadas de 1950...só que lá continuou, enquanto aqui novas pedagogias e não sei,
talvez por influência das mídias, televisão, maior tolerância, não se faz muita questão em pôr ordem
na sala de aula. Esse fato só mudou na época da faculdade, principalmente nas disciplinas de
maior demanda lógica e atenção...
Mesmo assim, uma aparente contradição, por mais que os alunos se mostrem desinteressado em
participar das aulas, imaturidade diriam, o sucesso em geral dos estudantes é majoritário, creio que
não vi nenhum colega da minha escola repetindo de ano ou ficando de recuperação...eu fiquei
umas 3 vezes, mas por depressão..., mas nada que uma prova complementar não garantisse minha
vaga no ano seguinte e no próximo ciclo...
Esta semana, na escola vimos um filme de Biologia sobre uma experiência genética, e um colega
meu ficou brincando com a lanterna do celular no início da sessão...necessidade do jovem de se
autoafirmar e demonstrar que está aí, que existe e que é relevante perante os outros, desafiar a
autoridade e mostrar que é poderoso. Isso era bastante irritante para mim, ainda mais eu que era
muito sensível e alocêntrico demais nessa época, receoso de opinião alheia e com síndrome de
estar sendo observado (desconfiança excessiva, diria hoje) e sentia sendo julgado o tempo todo.
Não ousava, fazia nada por acreditar e ter vergonha de fazer e errar...uma atitude que tive na vida
boa parte da minha adolescência que me fez perder inúmeras experiências, como viajar para o Rio
de Janeiro com o colégio ou ainda me aventurar em namoricos arriscados, pois meu maior medo
era correr risco, pegar uma AIDs, engravidar uma menina! Lembro que antes do colégio, meu maior
medo de namorar era ser soro positivo como se na minha primeira transa eu ia me contaminar!!!
Eu tinha essa tendência de criticar tudo, e uma vez achei ruim a professora de Biologia no segundo
ano ajudar antes da prova fazendo uma revisão de geral do exato conteúdo da avaliação, meio que
forçando que todo mundo fosse aprovado na matéria dela. Achei irreal e depreciativo com quem
estudou o conteúdo em casa...vá saber... me pareceu até antiético! A gente estuda só para prova!
Deu a entender isso com a tal atitude da professora...
Eu estudava na 8ª melhor escola particular da cidade de acordo com ranking do número de
aprovados na melhor universidade da região, uma escola localizada perto de um afluente bairro de
classe média emergente. No primeiro ano ia de ônibus para escola, e gastava cerca de 1h30 para
chegar no meu destino...acordava umas 5h30, e devia ser o único ou um dos poucos que iam de
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ônibus para escola, pois era uma escola de elite, tanto elite que nem tinha inadimplência nas
mensalidades como ouvi em certa palestra da diretoria...No 2º ano passei a ir de carona com meu
padrasto que trabalhava nas redondezas, não sei porque nem sempre foi assim e cheguei algumas
vezes a ir com sobrinho da família dele também, pois ele estudava no centro da cidade...Na seleção
para entrar no colégio falei que ia para escola com meu padrasto já que ele trabalhava perto, mas
isso só se concretizou a partir do segundo ano quando tive depressão, acho que por puro
menosprezo dele mesmo. Lembro que chegava com sono, dores nos olhos na escola, pois o colégio
era uma escola puxada, se aproveitava pouca a aula de tanta conversa paralela, e além do ensino
médio, havia umas 3 ou 4 matérias de ensino técnico em Administração, ou seja, era escola de
manhã e parte da tarde. Chegava por volta das 16 ou 17 horas em casa e ia estudar por umas 3
horas provavelmente todo dia...
Eu tinha uma sensação de ressentimento pois me julgava excluído por meus colegas, mesmo
aqueles que eu tinha algum contato, mesmo que mínimo, no sentido que me sentia estranho até
para ter coragem de despedir deles.
Lembrei de um detalhe importante da primeira aula de Português no colégio. A professora pediu
para os alunos fazer uma lista de vocabulário do português, provavelmente para ilustrar como nossa
língua é rica...eu lembro que o aluno mais precoce e agitado da turma começou disparar
vocabulário, digamos adultos, como orgia, complexo, suruba, incesto...eu anotava tudo na aula,
cheguei em casa para consultar no dicionário e até perguntei para minha mãe e foi um certo
constrangimento...ou seja, tínhamos um colega de 14 anos bastante sexualizado e o pior, sem
muito constrangimento em expor sua libertinagem desta forma para a sala inteira!!!
Em 2005 voltei a fazer natação, e minha rotina era basicamente escola e estudo, e claro,
nadar...além de algum instante, parece que ainda jogava computador, mas com tempo contado por
ter uma pressão significativa com as tarefas escolares. Eu era esforçado, mas minhas notas nunca
passaram de 70% de aproveitamento...mãe certa vez me disse que estudava só para passar...,
mas meio que era algo condicionado, se o que fazia até então era suficiente para aprovação, por
que fazer mais? Ademais, queria fazer faculdade de Arquitetura, e me pareceu que nesse ritmo
seria possível passar no vestibular, mesmo que mais tarde eu acabei comprovando que não queria
passar no vestibular de primeira e ter um ano para refletir e criticar a escola por todo o conteúdo
que ela deixou de passar, justificando assim meu complemento de estudo por meio de
cursinhos...Uma crítica que só prejudicou a mim mesmo ou um exercício de vaidade e orgulho
mesquinho mesmo para postergador a minha entrada na universidade.
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Pequenas Filosofias, quinta-feira, 21 de abril de 2005
Este dia acordei cedo, dormi pouco, comi e a fome não passou com café da manhã...e passei por
um sintoma que passo até hoje na vida adulta...ardência nos olhos, por fatiga da visão ou será um
problema mais ocular (descobri recentemente, idos dos anos 2022, que tenho um nervo óptico
inflamado, um tal de edema que nem na ressonância magnética apontou como algo problemático...
Este dia desenhei uma cidade em uma folha de caderno, fiz cruzamentos, ruas, prédios, casa,
barracos, favelas....
Comento também minhas angústias da época...a saber: consulta no psiquiátrica, prova Enem e
estágio no banco.
Fiz outros desenhos também no meu caderno e anotações querendo representar o fato de não
aceitar as transformações no meu corpo, me sentindo deformado...
É o sistema, sábado, 23 de abril de 2005
Hoje parece que procrastinei, mas também foi um dia pós-feriado, e parece que não resisti a
tentação de ficar jogando computador. Fiz uma pequena reflexão da futilidade da sociedade de
consumo e da escola com seu aspecto funcionalista e utilitário visto pelos alunos e professores,
que se resume em estudar para tirar nota, e trabalhar para pagar as contas da parte dos
professores, sem idealismo, e todo o sistema se retroalimenta assim.
Canibalismo, quinta-feira, 05 de maio de 2005
Breve relato da situação atual. Não sou um negro morador de favela, mas uma pessoa “parda” de
classe média com conforto material e uma família engolida pela rotina da sociedade produtivista.
Igual mais tarde a psicóloga da minha mãe falou para ela, não tem como ser uma mãe presente e
garantir bem-estar emocional e presença na vida dos filhos numa sociedade que exige jornada de
trabalho exaustiva ou banimento ou esquecimento na ascensão da pirâmide social.
8
Corpo Físico, domingo, 08 de maio de 2005
Fiquei magoado por minha mãe falar que tinha queixo parecido com meu avô..., mas parece que o
dia em geral foi bom e animado, tivemos discussões saudáveis em casa, mesmo assim devo ter
finalizado o dia complexado por comentários sobre meu corpo, normal do final da adolescência e
os resquícios de autoaceitação das transformações física de si, e um complexo somado a
problemas de autoestima...
Um comentário importante que percebi nesse dia que registro queixa de dores nas costas. Este
problema me acompanhou mais adiante, de certa forma, junto com uma antiga LER nas mãos de
tanto digitar no teclado do computador durante os jogos de computador. Já o problema das costas
é devido à longa jornadas sentado, tanto na escola, quanto para estudar, e mais para frente, no
meu estágio no banco.
Palestra sobre Drogas, sexta-feira, 10 de maio de 2005
Assistimos o filme “Diários de uma Adolescente” em uma palestra sobre as drogas. A assistente
social que estava lá falou que o filme é exagerado, que ninguém sobrevive tantas overdoses
retratadas no filme. O policial falou que os drogados se tornam violentos e agridem até fisicamente
entes próximos, pois perdem o senso de juízo. E um ex-viciado dá um depoimento falando que a
vida é um jogo e temos de respeitar as regras do jogo da vida. Se não, se não respeitamos as
regras do jogo da vida, a vida acaba com a gente. E parece que as drogas são isso, quebrar as
regras da harmonia social.
9
Minha irmã, domingo, 11 de maio de 2005
Falo mal da minha irmã. Estudiosa, impaciente, ama comidas temperadas, ouve música alta para
se isolar do mundo, na verdade, se desligar da realidade maçante, assim como eu, é egoísta, assim
como eu, cruel...mandona, autoritária, eu também, não dialoga, dá ordens.
Competições, sábado, 14 de maio de 2005
Dia superprodutivo. Prova do estágio obrigatório do curso técnico, uma seleção geral da escola
inteira que tive a felicidade de ser escolhido em quinto ou sexto lugar na colocação geral de 20
vagas oferecidas!...fui de ônibus nesse dia fazer a prova do estágio, sinal que já estava mais
confiante em mim, provavelmente efeito dos cuidados médicos que estava fazendo...
Participei também de um projeto entre jovens universitários de Direito, estudantes secundaristas e
a Assembleia Legislativa do meu estado chamado de “Parlamento Jovem”. O que se propunha era
uma lei sobre algum tema da moda, como legalização do aborto ou algo do gênero, ou ainda
medidas do tipo da redução da maioridade penal. Creio que foi esse tema que venceu no debate
entre as votações das várias escolas participantes. Também fomos preparados a participar de um
debate político em uma Universidade Particular no sentido de nos introduzir a algumas habilidades
cênicas. Um professor perguntou para apresentar um tema de debate e respondi algo acabou
sendo escolhido como tema de encenação. Era o caso de um debate entre alunos jogando futebol
10
e um dos times não deixando os “de fora” entrar e jogar no turno deles. Neste dia também fui ao
oftalmologista fazer exame de rotina e participei de uma competição de natação em que fiquei em
segundo lugar em um famoso clube da minha região. Anoto que devido ao meu estresse parece
que vinha faltando aulas de natação ou nadando bem cansado. Também a noite acabei indo em
uma palestra do Partido dos Trabalhadores, lembro bem desse dia, foi numa fala de um vereador
de BH, inclusive a filha dele estudava na minha escola.
Sobre a prova do estágio, parece que acertei 4/5 questões, e ainda sim fiquei pessimista se ia ser
aprovado!
Vendo hoje rio, mas parece que no dia da prova, uma colega tentou colar minha prova, sinal que
era famoso por ser inteligente né, bom sinal..., mas na época não enxergava assim, mas mais como
desconfiança e falta de ética. Só fui tentar ver o lado positivo das coisas na vida, quero dizer, focar
no aspecto bom das minhas experiências, depois de muita terapia, que nesse caso, eu tinha
adquirido um certo status e fama de rapaz inteligente!...
Finalizei o dia brincando de legislador e fazendo uns artigos jurídicos de como organizar uma casa
para ter harmonia no lar! Muito mais tarde na minha vida em uma consulta de orientação vocacional,
a psicóloga da faculdade me perguntou se eu não queria fazer Direito! Faz sentido...sou muito
sistemático e correto, muito ordeiro e da Lei!
Minha Profissão, domingo, 12 de junho de 2005
17 anos. Cheguei à conclusão nesse dia que o tempo por si só não resolve as coisas. Passei no
estágio do banco e já estava com planos com o dinheiro que ia receber. Pequenas compras
pessoais para meu quarto pelo visto.
Fiz uma pequena lista das expectativas das coisas que esperava aprender no estágio, como
Economia, juros, financiamentos, planos de negócios, investimentos e taxas bancárias...também
nesta época me preocupava em como ia conciliar carga horária de aula, estágio e os estudos, tanto
é que nem pensei muito no vestibular, já estava muito sobrecarregado. Por isso fiquei desanimado
em fazer a seleção para universidade neste ano e não pensei seriamente em começar faculdade
logo depois de formar no colégio, pois não me senti preparado e nem consegui refletir muito que
profissão seguir, mesmo fazendo testes psicológicos na escola, mas veio muita descrença nas
eficácias dessas ferramentas..., mas bom, os testes de orientação vocacional no colégio técnico
me conduziram para tentar Arquitetura...
11
Mas enfim, pensava o clássico, ou era arquitetura, meu sonho de adolescência, ou então Economia,
por influência do estágio no Banco, ou ainda algo de Humanas, como Sociologia, Psicologia ou
Arqueologia, por influência dos relatos dos universitários dessas áreas em uma feira de profissão...
Meus Valores Morais, segunda-feira, 13 de junho de 2005
Fiz uma pequena lista dos meus valores pessoais... sentimento é importante, querer o bem a quem
me quer bem, estudar para aprender, ser culto e íntegro e ser cordial, ser para ter, trinômio “pensar,
refletir, agir”, e ter planos grandes na vida.
Socializando, sábado, 18 de junho de 2005
Gostava de química no colégio. Fiz uma boa prova, tirei nota 8. Conclui que estudando sem pressão
e sem “compulsão”, creio que quis dizer sem ansiedade, desespero”, a coisa rende.
Falo de um plano meu de ir a uma festa à fantasia de colegas do meu ensino fundamental. Tinha
planejado de ir com um colega da minha sala, um falso colega, porque disse que ia me dar carona
e não falou que não ia dar carona não, me deixou esperando inutilmente na rua e inventou uma
desculpa que não sabia o caminho. Eu sabia que o indivíduo não gostava de mim, mas não sei por
que tentei dar uma chance para ele. Hoje sei que ninguém é obrigado a nada e as pessoas têm o
direito de dizer não, apesar de que eu mesmo quase nunca nego nada a ninguém...Um problema
de autoestima que tenho é me colocar em segundo lugar. Infelizmente fui criado na infância a
aceitar autoridade mesmo que vá contra mim e minha própria vontade, talvez esteja aí a raiz do
problema...
Nesse dia também, houve um projeto cultural na escola, uma oficina de origami. Cito também que
meu padrasto não comprou umas coisas que pedi para ele! Descaso?
Mandei um e-mail para um colunista de uma revista famosa de esquerda falando do meu
aborrecimento no estágio, que o banco era uma empresa que não estimulava o trabalho criativo
dos funcionários e que me senti subvalorizado fazendo trabalhos repetitivos e sem sentido. O
colunista da revista respondeu e me falou que eu tinha razão e concordava com minha colocação.
Mas tarde num projeto de uma disciplina de gestão empresarial, fui a uma empresa e alguns
funcionários diziam o mesmo, daí sugeri para o gerente implementar uma rotação de atividades
entre os colaboradores para aumentar a motivação do time!
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Voltando ao tema da festa, de fato, fui à festa do meu colégio do ensino fundamental vestido de
Pirata e um amigo gordinho riu da minha dança na boate. Foi bom. Vi uns colegas e acho que no
geral foi sensacional. Uns colegas negros vomitaram no banheiro. Poucas vezes que gostei de
socializar, possivelmente, eu seria mais socialmente feliz e menos estressado se tivesse feito
colégio da região do meu bairro, com meus vizinhos, com condição socioeconômica mais similar e
proximidade geográfica, mas as experiências e desafios teriam sido menores, assim como as
oportunidades e aprendizados...
Estado Paralelo, segunda-feira, 27 de junho de 2005
Esse dia comecei reclamando de um earworm, uma musiquinha que não saía da minha cabeça, no
caso, um reggae com refrão “minha voz já não para mais”. Dizem que música de certo modo diz
muito como está suas emoções no momento. Talvez neste ano, último ano do colégio, estava
passando por inquietações, afinal, ia fechar um ciclo, do ensino médio... Reclamo também do fato
de eu ter comportamentos compulsivos...já consigo imaginar quais...Lembro que a professora de
Português falou que a adolescência era uma fase de difícil autocontrole, muito hormônio e
mudanças ao mesmo tempo e em curto espaço de tempo. Ela disse que a terapeuta dela falou isso
para explicar a grande agitação que é uma turma de ensino médio...Eu ainda continuo pensando
que tem um fator cultual, não é apenas da biologia e hormonal...não acho que se estivesse em um
colégio na China ou num país islâmico seria a mesma algazarra que temos aqui no Brasil, até a
escola parece um carnaval, como pensava na época. Meus colegas viviam dando gargalhadas e
uma euforia e gasto de energia despropositados e desnecessárias...fruto da idade, da saúde e da
força da juventude. Mas creio que aqui, ainda mais numa escola de negócios, se confundia muito
libertinagem com liberdade, eu acreditava fortemente que meus colegas com suas liberalidades de
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chegar na sala a horas que quisesse, atrapalhar as aulas com conversa paralelas, estavam de fato
comendo a minha liberdade e meu tempo de assistir a aula, pois estavam invadindo meu direito a
aprender em silêncio e em paz. Esse fato foi usado por mim meio que justificativa para não criar
amizade com eles, pois os viam como um grupo egocêntrico e que não estavam na escola só para
estudar, como eu idealizava, mas para interagir socialmente, e julgo eu, até demais, até hoje
imagino, por algum tipo de carência emocional no lar...Tive uma fase depressiva no segundo ano
que justamente pensei em sair do colégio técnico por conta da algazarra na escola, daí voltei no
meu antigo colégio, e quando fui perguntar para um colega meu de lá como era a disciplina na sala,
ele falou que estava organizado, mas a diretora não deixou eu visitar uma sala, daí eu acabei vendo
que eles estava mentindo e acabei ficando no meu colégio mesmo....o problema era generalizado
então e trocar de escola não ia resolver!
Carreira, segunda-feira, 4 de julho de 2005
Teve festa junina no colégio, participei com uma certa felicidade e angústia, fui vestido a caráter,
dancei com um grupo chamado “forró de minas”, conheci uma amiga de um colega da minha sala,
conversei com um “crush” caloura minha que inclusive me chamou para casa dela...depois a
professora de Português veio conversar com meus pais e elogiou meu comportamento e meu
desempenho na escola, além de falar que eu era bonito!
O mês anteiror também foi época do começo do estágio, que gostei bastante, novos desafios e
aprendizagem, otimizei alguns processos gerenciais e de tabulação de dados do banco, tive
treinamento com os veteranos da escola técnica, os mesmo que inclusive chegaria a encontrar três
anos mais tarde na universidade de Economia. Quase perco o horário no primeiro dia de estágio
porque não estava de roupa social e minha professora falou que banco é um ambiente formal, daí
saí correndo para casa no horário de almoço e nem comi este dia. Valeu a pena porque tivemos
uma reunião com a diretoria e estava vestido como todos os meus pares! Falei neste dia que não
pretendia seguir carreira bancária, mas de Arquitetura, praticamente nenhum colega disse que
queria ser bancário! Também, parece que vimos um filme na escola sobre ser diferente, pensar
diferente e buscar a felicidade acima de tudo, mesmo que seja estranho, resumidamente, vimos a
história da criação dos doutores da alegria...
Voltando para mês de julho de 2005, parece que as primeiras dificuldades começaram a aparecer.
Dessa vez uma dor de coluna crônica se manifestou e me sinto sobrecarregado de tarefas, me
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preocupando em fazer mais coisas que daria conta e me cobrando e me tornando cada vez mais
ansioso, por conseguinte.
Me sinto culpado e compulsivo por aliviar minhas tensões por meio de masturbação, uma coisa que
me marcou na vida, durante boa parte da minha vida considerava a sexualidade uma parte perigosa
da humanidade e de difícil controle, daí evitava a todo custo me envolver emocionalmente com
alguém...
Nesse mesmo dia faço um balanço dos aspectos da minha vida no que tange a escola, aos meus
colegas...e continuo tendo um sentimento derrotista, achando que não estou estudando o suficiente
e julgando meus colegas como uns frívolos...
Arrependimentos, terça-feira, 7 de julho de 2005
Um dia, em um almoço no restaurante da escola, a professora de Português falou que alguém que
eu suspeitava estava a fim de mim. Era a colega que mais tarde ganharia o concurso de redação
do colégio, mas que eu não julgava atraente suficiente para me motivar se aproximar dela.
Mas bom, na festa junina do meio do ano foi uma oportunidade de nos conhecermos melhor e vi
que ela realmente estava interessada, mas eu, também, como acabou-se se comprovando mais
tarde por meio da minha terapia, relacionamento é algo sério e que pesa no orçamento. Mesmo na
época eu tendo um salário bom, não me sentia à vontade e capaz de iniciar um relacionamento,
um sentimento derrotista acompanhou boa parte da minha vida, como revelaria um psicólogo meu
mais tarde. Hoje vejo que foi uma oportunidade perdida, pois caso tivesse envolvido com pessoas
positiva, talvez teria dado um empurrão na minha vida para eu trabalha mais cedo, ser mais
independente e me conhecer melhor. Mas é apenas uma conjectura e um tipo de arrependimento
de lágrimas passadas...
Mais uma vez, reclamo do caos da escola...eu creio que tinha um sentido de ordem e uma exigência
de harmonia fora do comum por enxergar tanta imperfeição, mas muitas vezes vazias, por ser
apenas fatos culturais e não decisivo no bom desempenho de uma escola. Afinal, se as notas dos
alunos dependessem só dos professores e das aulas no quadro, aí sim poderíamos dizer que a
escola era um fracasso..., mas aprendi muito com os livros...e estudar é afinal uma atividade
individual, sendo a sala de aula um guia e um norte para dar direção ao objetivo final que é formar....
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Talvez nessa época eu fiquei um pouco mais triste e recolhido, e devo ter evitado por
arrependimento mais tarde, fazer a viagem para o Rio de Janeiro e visitar um porto de comércio
exterior por necessidade minha de isolamento social...
Desaforo, sexta-feira, 08 de julho de 2005
Houve um sábado cultural na escola e participei da Oficina de Origami. Devo ter feito um desenho
3D. Lembro que vi uma colega da outra sala passando no corredor. Foi alguém que fiz amizade na
viagem a São Paulo com a escola. Ela conhecia bem a cidade e tinha um namorado de lá! Que
coisa estranha. Será de igreja ou ela usava já algum bate-papo na Internet para conhecer pessoas
de outra cidade e viajar??
Tive gripe esses dias, com sintomas de ressecamento dos olhos e entupimento das narinas. A
professora de Biologia parece que estava doente também, pois faltou. A professora de Psicologia
abandou os alunos no meio da aula por considerá-los muito afrontosos e indisciplinados. Excesso
de euforia da turma e desaforos perante a autoridade do professor repetidos a exaustão durante o
ano?
Percebi que estava muito focado no negativo e influenciado pela minha saúde não muita boa
nesses dias... foi uma semana difícil pelo visto.
Grandiosidade, sábado, 09 de julho de 2005
Desânimo bateu em mim e com custo consegui lavar o carro. Uma leve depressão, será? Do nada,
uma meta, tirar 10 em matemática e comemorando 1 mês de 17 anos!
PT, quinta-feira, 14 de julho de 2005
Um famoso professor de uma escola de linha libertadora e cidadã esteve no colégio. Uma pessoa
reconhecida internacionalmente por aplicar um método de ensino para alunos considerado perdido
pelo ensino padrão!
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Depois, foi minha mãe e meu padrasto, encontramos com meu professor de Física. Meu padrasto
perguntou se eu era bom aluno, o professor confirmo, mesmo eu tendo ficado de recuperação em
Física no segundo ano!
Outra coisa que me marcou neste dia no auditório foi o palestrante falar que os brasileiros
consideram vergonhoso assumir que não sabem determinado assunto. Isso é postura sábia, saber
que não sabe tudo e aqui no nosso país tendemos a falar de assuntos mesmo que não tenhamos
a mínima ideia.
Também o professor brincou ao passar seu e-mail para a plateia, ele que é português, disse que
seu endereço eletrônico terminava com “P.T.” Foi um trocadilho com o Partido dos Trabalhadores,
pois estávamos na “Era Lula” e foi um momento de relativa prosperidade econômica no Brasil. Mas
o comentário irônico talvez se desse por estarmos num meio burguês que é tradicionalmente contra
políticos de esquerda...
Timidez e Respeito, sexta-feira, 15 de julho de 2005
Fui ao banco na parte da manhã e devo ter lanchado com meu colega de estágio um combo de
sanduíche no fast food mais próximo do meu local de trabalho. Eu e ele competimos quem
conseguia comer mais sanduíche e o mais rápido possível. Este meu colega tinha um certo
desprezo por mim, como a maioria dos meus colegas de sala, por eu ser muito fechado e não
representar o espírito de uma escola que defendia um comportamento de atitude, ousadia,
empreendedorismo e coragem! Lembro que em dos primeiros dias de aula da escola meu professor
falou para este aluno que se dizia tímido que ele ia tirar a timidez dele na aula!!
Contratempo temporal, segunda-feira, 18 de julho de 2005
Arrumei o quarto, na semana passada parece que vi o “Grande Ditador” de Charles Chaplin e este
dia vi o filme “Efeito Borboleta”, que brinca com a concepção do tempo relativa e narra como seria
o mundo se se pudesse voltar no passado para alterar o presente. No final, sempre que mudamos
a linha do tempo, reconfiguramos todo os fatos posteriores e acaba que criamos infinitos tipos de
realidades, nunca o futuro se torna o que de fato desejamos. No final, a intenção inicial de ter
controle sobre nossas vidas por meio do controle do tempo se mostra em vão.
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Comento também sobre minha escrita, que preciso melhorar meu português padrão. Uma
preocupação importante na época de vestibular, pois na redação se conta muito com a correta
ortografia para obter uma boa nota. Hoje vejo isso como uma preocupação ingênua de falsa
perfeição da linguagem. Como aluno de Letras sei que ninguém tem pleno domínio da norma
padrão e que o povo é o soberano da língua, e afinal, a língua é viva e mutável. Gramática é
normativa, nesse sentido mesmo, é uma lei, e muitas vezes, a lei é arbitrária, não científica.
Fiquei sabendo nesse dia que parece que meu pai esteve internado. Acho que meu pai interna no
hospital psiquiátrico uma vez a cada 2 anos. O caso dele é bem grave, mas desconheço qual seja
o diagnóstico. Nunca consegui falar com ele mais de 1 hora por ano!
Por fim, pus como meta neste dia ler livros e levá-los para doação em uma possível visita a meu
pai no interior, pois ele mora longe da capital.
Sofisticação, quinta-feira, 21 de julho de 2005
Fiz uma viagem para a cidade de São Francisco, no norte de Minas. Fui visitar meu pai com minha
avó. Vi meus meios-irmãos, todos na pré-adolescência ou entrando na adolescência. Minha meia-
irmã gostou muito de mim. Talvez visse um espelho do seu pai, mas mais novo! Senti que meu
meio-irmão ficou um pouco com ciúmes de mim, eu estava nadando com meu pai e ele me desafiou
a cruzar um espelho de água igual o nosso pai fazia, meio que para provar se eu sou filho dele
também, eu devia ser capaz de fazer isso!!
Vi um caramujo no lago e meu pai disse para não se preocupar porque não era o Biomphalaria,
então não tinha risco de doença. Nesses momentos que pude perceber nesse pequeno detalhe e
preciosismo que meu pai teve uma educação sofisticada. Saber nome científico de caramujo? Que
excêntrico. Soube que ele começou medicina, depois engenharia civil, mas por questões pessoais
e de saúde, problemas psiquiátricos mesmo, não pode concluir nenhum desses cursos...
Livros, sexta-feira, 22 de julho de 2005
Parece que agora neste mês de julho me bateu uma certa depressão. Minha mãe me indicou ler o
livro “Zen e a Arte de Manutenção De Bicicleta”. Basicamente é um livro de filosofia Zen narrando
a vida como uma jornada de autoconhecimento e de aproveitamento do instante. O livro tinha uma
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assinatura e dedicatória para meu pai. Provavelmente foi um presente da minha mãe para ele num
momento de difícil que ele passou na vida...
Neste mês também li um livro do vestibular, o “Contos Amazônicos”, que eu me lembre, um livro
muito interessante...tinha a história do boto que seduzia as mulheres nos bailes e as engravidavam!
Visitas, domingo, 24 de julho de 2005
Uns amigos da minha irmã do norte do estado estão aqui na minha cidade. Saí para comprar o café
da manhã e comprei um Nutella. Senti um pouco de remorso e egoísta ao ter que dividir minha
Nutella que paguei com meu trabalho com nossos hóspedes. Que comida temperada a que eles
trouxeram e fizeram! Carne, muita carne regional e uma típica pimenta ardente para completar.
Fomos num jogo de futebol no segundo maior estádio de futebol do país. O time de casa ganhou e
teve toda aquela euforia e explosão de alegria com troca de calores humanos que eu não sou muito
afoito.
Estava mergulhado nos meus estudos de geografia, química e me sentido contido para ter tempo
de conversar com os visitantes. Nessa época eu tinha uma ânsia que não podia perder tempo de
estudo para o vestibular, me socializando por exemplo, e qualquer conversa fútil e banalidade fora
dos estudos me dava repulsa e sensação de perda de tempo.
Por fim, nesse dia refleti na partida de futebol e nas gritarias de palavreado de baixo calão da
torcida. Hoje e talvez num futuro muito próximo isso não será mais tolerado, igual atualmente é,
manifestação racista e jogar objetos das arquibancadas!
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Dicionário, terça-feira, 26 de julho de 2005
Li o livro para o vestibular “Contos Amazônicos” e o livro de autoajuda e filosofia “Zen a Arte de
Manutenção de Motocicletas” ... Nessa época eu lia os livros e anotava na beirada das páginas as
palavras desconhecidas para olhar no dicionário mais tarde...
Contatinhos, quarta-feira, 27 de julho de 2005
Fui ao estágio, pareci bem atarefado, esqueci de ir à natação. Colegas do setor jurídico do banco
vieram me pedir informações e senha de acesso ao sistema da Secretaria da Fazenda do Estado.
Elas eram muito bonitas e até demonstraram interesse em mim, mas não dei muita ideia. Lembro
que tinha até uma colega de setor que encontrei um dia no ônibus e me achou também em rede
social, mas não dei chance para algo a mais.
Presente, segunda-feira, 01 de agosto de 2005
Tivemos visita de um casal de professores universitários franceses em casa. Minha avó os levou
numa loja antiga de pedras preciosas e tradicional no centro da capital para presenteá-los com algo
típico da nossa terra. Foi um presente muito original e valioso, acredito que até marcante e singular.
No dia seguinte parece que fiquei deprimido, dormi o dia inteiro, exausto também talvez, fim de
ano, vestibular, fechando o ensino médio.
Churrasco, sábado, 06 de agosto de 2005
Este dia, sábado, tivemos uma aula experimental de aulas multidisciplinares com vários professores
ao mesmo tempo abordando um dado tema na óptica da Química, Biologia e Física. Foi uma certa
inovação e trabalho em equipe dos professores. Foi uma tentativa de pôr em prática por parte dos
docentes da ideia da fusão entre várias áreas do conhecimento e acabar com a ideia que a ciência
se comporta como compartimentos estanques.
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Fui também pela primeira vez ou uma das raras vezes em um churrasco de um colega. Foi no sul
da cidade, num condomínio fechado e luxuoso. O meu padrasto me levou, e por coincidência o
meu melhor amigo ia numa festa em um bairro vizinho lá perto. Acabamos nos comunicando e fui
com pai dele na verdade. O meu padrasto nos buscou, ele e a mim. O pai de um dos meus melhores
amigos na época ficou um pouco irritado e me deixou na porta do condomínio e tive que chamar
por celular meu colega do colégio para me buscar na portaria. Acho que ele não acreditava que eu
ia no churrasco e não me deu o endereço completo da casa dele!!
Bebi cerveja, umas 5. Meio litro de água e cerca de 1 quilo de carne. Tinha quinze pessoas na festa
e voltei para casa antes da meia noite. Fiquei muito de papo com o churrasqueiro..., mas no dia
seguinte acordei detonado mesmo assim. Festa me cansava na época e me cansa ainda hoje,
ainda mais depois de comer e beber muito.
Grêmio Estudantil, terça-feira, 9 de agosto de 2005
Faço consulta médica há mais ou menos 1 ano, mas dessa vez, decidi por conta própria interromper
o tratamento, primeiro porque a consulta atrasou 30 minutos e eu era muito intolerante com relação
a horários, sou uma pessoa que preza excessivamente pela pontualidade para os padrões
brasileiros. E depois a médica me recomendou tomar antidepressivo e tomei um susto ao ler a bula
e não quis...
Erro grasso, pois, fui desabafar com uma admiradora secreta minha por telefone. Uma ligação de
1 hora que me custou uma pequena fortuna!
Reclamo do caos que percebo ser minha escola pela milésima vez.
Cito no meu caderno que meus colegas parecem estar perdidos, sem saber o que querem da vida.
Eu lembro um professor falando que tem gente que está na escola e nem sabe o motivo...
No terceiro ano houve uma organização, principalmente dos alunos do 2º ano para fundar um
grêmio estudantil. Houve uma mobilização da escola inteira, para votar, fazer estatuto, mas uma
colega minha me disse uns anos depois que o grêmio não foi para frente.
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Cidade de um Famoso Escritor Mineiro, segunda-feira, 15 agosto de 2005
Churrasco dos colegas do banco será? No mais, entrei para o time de futebol do banco, comprei
camisa preta da equipe e até cheguei a emprestar para um colega em um dia que não fui jogar!
Viajei para a cidade de um dos mais famosos escritores do homem de campo brasileiro. Fui com
minha avó, irmã e mãe provavelmente. Amo conversar com minha avó, sobretudo, ela é muito boa
de conversa. Minha mãe, creio que foi dar uma assessoria em museus na cidade em questão, pois
lá estavam sendo organizada a um espaço cultural com exposição e galerias. Mãe deu uma palestra
em que o mestre de cerimônia leu todo seu currículo. Grande currículo com doutorado em Paris.
Dinheiro próprio, terça-feira, 16 agosto de 2005
Dores na coluna. Professor de História reclamou que não ia conseguir cumprir o programa se a
turma não cooperasse e interrompesse a aula tempo todo com conversas paralelas pelo visto.
Estou com alguns pensamentos obsessivos, principalmente ligados a sexo. Estou pagando minha
formatura, vai ser um festão em um dos maiores arranha-céus da maior avenida da cidade e com
banquete completo. Eu que paguei a formatura toda e uma ou duas mensalidades do colégio com
minha bolsa do estágio no banco. Minha vida nesta fase tem sido de muito trabalho.
Injustiça, sexta-feira, 19 agosto 2005
Narração do meu estado aflitivo, incertezas quanto ao meu futuro, contradição entre o discurso de
uma instituição que se propõe ser empreendedora, humana e meus colegas que pensam mais no
momento, aproveitar o instante. Meu padrasto escondeu o sorvete hoje no almoço porque estava
comendo muito... Amiga da minha irmã veio lá em casa e achei ela muito atraente.
Na aula de espanhol vimos um documentário sobre da maior rede de televisão do país, um jornalista
britânico estava falando da manipulação da mídia para controlar o rumo do país e os anseios da
população em épocas de eleições estavam sendo analisados.
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Neste dia reflito sobre meu passado e começo a ter pensamentos de culpa e vergonha de
lembranças da minha infância. Uma vez meu padrasto falou que bati numa filha de uma amiga dele
e me puniu por isso injustamente. Me senti muito mal por isso e foi um ponto da minha vida que
perdi de certo modo e de forma irreversível a confiança que tinha nele. Acreditar numa visita ao
invés do próprio enteado? Abuso né.
Também me recordei uma vez lá pelos anos de 1995, um vizinho veio reclamar que alguém
manchou o carro dele com marcas de mãos e meu padrasto suspeitou que fosse eu e minha irmã
e quis nos testar para ver se era nós mesmo para nos punirmos ao invés de nos defender...
Também lembro quando tinha uns 3 anos, ele me acordou de madrugada para me dar umas
palmadas e eu nem sabia o motivo...
E por fim, a última reminiscência que tenho mais forte desses conflitos foi quando minha tia arrumou
um imbróglio com ele na justiça e tive que fazer um depoimento na Justiça e minha irmã me forçou
a mentir para o conselho tutelar me dando um beliscão e me censurando na hora que eu ia me
manifestar afirmando que ele nos batia, respondendo à pergunta da juíza.
Mudando de assunto, teve um dia que contei para minha médica que estava indo na consulta e
uma criança entrou no ônibus para vender bala e lhe perguntei algo banal e ele respondeu com
palavrão menos não conhecendo-o! Mas a resposta não foi de ofensa, mas de hipérbole, do tipo,
é difícil vender bala? E ele, “pra caralho”.
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Na megalópole, sábado, 20 de agosto de 2005
Reclamo de um zumbido na cabeça, provavelmente alguma música ou barulho que “toca” sem
parar na minha cabeça...
Julguei meu padrasto narcisista nesse dia que fomos almoçar na casa de vó pois ele reclamou que
o som da casa estava muito alta e incomodava-lo pelo visto.
Hoje parece que fomos num show da Orquestra Sinfônica no maior centro de convecção público
do estado.
Nos dias 22 a 25 de junho fiz uma viagem a maior cidade do país com a escola. Eu paguei a vista
pelo visto e fiquei cobrando o recibo dos organizadores do evento que não me entregaram o tal do
recibo nunca e isso me deixou muito invocado, vá que mais tarde a organização fala que não paguei
a viagem!!!
Fomos na sede de uma empresa nacional de franquia de viagens de turismo com o Professor de
Logística. Lembro que fiz uma pergunta sobre como a empresa organizaram a documentação,
notas fiscais, comprovantes de pagamentos, já que era uma empresa grande e havia grande fluxo
de papelada etc., e a resposta que obtive da gerente é que foi um desafio! Frustrante...
Depois fomos na fábrica de uma das maiores fabricantes de cosméticos do planeta. Lugar
sensacional. Tinha um mural das vendedoras com frases motivacionais. Tinha uma creche lá
também. Colega meu cheirou um frasco colorido de líquidos químicos que um farmacêutico estava
carregando no caminho. Visitamos o setor de estoque, todo automatizado e robotizado. Incrível.
Em seguida fomos na mais conhecida avenida do país, na sede de uma associação de
empresários, e assistimos a uma fala de uma secretária do órgão. Eram duas loiras muito lindas e
encorpadas. Nos deram algumas dicas de turismo, como comer um sanduíche típico regional, nos
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falou favoravelmente de um famoso economista da época da ditadura e que era um membro
honorário da associação. Também nas explicações que ela dava sobre a instituição, repetia o
chavão “diabo a quatro”. Tal coisa é diabo a quatro, e este foi um comentário de um colega nossa
na volta da viagem.
A noite fomos numa churrascaria luxuosa, sentei-me do lado do Professor de Gestão Empresarial
e ele me perguntou o que estava achando da viagem e das minhas companhias. Disse que tinha
ido na véspera num show da Orquestra Sinfônica enquanto meus colegas corriam para ver um
show de funk...feminismo empoderado nascendo aí...
Fomos na Bolsa de Valores, numa época que já não havia muito a figura do trader gritando no
balcão. Mas já na Bolsa de Mercadorias e Futuros havia a figura dos corretores. Tivemos uma
palestra sobre investimento. A cultura de investir em ações devia ser ampliado no Brasil, disse a
palestrante. Que a bolsa não é nada de errado ao se especular, que vivemos especulando, que é
simples operação de compra/venda. Um colega nosso nos perguntou sobre a abertura de capital
de uma companhia aérea e porque o preço foi tão inflado. Hoje sei que ele queria saber porque
não existe uma relação direta entre o preço de equilíbrio e o real. A palestrante que era uma
japonesa, simplesmente falou que a bolsa reflete as expectativas do mercado...
A Professora de Recursos Humanos ficou puta com a palestrante japonesa porque ela atrasou
demais o início da apresentação, creio que ela estava esperando o companheiro dela e acho que
minha professora achou isso um tipo de machismo e subordinação inaceitável, ainda mais ela,
alguém acostumado com a lida de organizações corporativas. Mas mercado financeiro é o mais
tradicional de todos né, então, compreensível, e nós erámos meros estudantes menores de
idade!....
Por fim, fomos assistir uma palestra sobre ecologia em um grande banco privado, em que uma
cientista dizia que a água ia acabar. Perguntei como é possível a água acabar no Brasil se temos
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a Amazonia, e ela disse que segundo pesquisas e um instituto famosão lá, há risco de água acabar,
acabou que não convenceu e meus colegas riram da minha pergunta e da minha intervenção no
auditório...A professora que estava nos guiando também reclamou da logística porque o banco
ficava em local meio afastado e de difícil manobra para o ônibus e soltou uma “que parecia
programa de índio”.
Por fim, a viagem terminou a turma indo para um famoso parque de diversões e eu tirando várias
fotos lá, indo no bangue jump com amigos da minha outra turma da escola. Foi uma viagem
agradável. Mais tarde quando fui revelar as fotos descobri que meu filme da máquina fotográfica
estava velho e queimado...não tenho registro de nenhuma foto desta viagem...
Ah...a diretoria falou que não se poderia beber na viagem, mas pessoal bebeu sim e teve até um
dia aí que teve rodada de maconha...
Depressão menor, quarta-feira, 7 de setembro de 2005
Dia da Independência do Brasil, à custa de alguns milhões de libras, melhor que uma guerra, como
foi no caso dos EUA e outras países, ou ainda como no continente africano....
Um pouco depressivo, sem vontade de estudar e com preguiça. Mas isso é até normal, lembro que
um terapeuta anos mais tarde me disse mais tarde que ninguém gosta de estudar, e que se deixar,
as pessoas se tornam cada vez mais acomodadas...
Participação, quinta-feira, 8 de setembro de 2005
Meu padrasto me levou para o colégio e conversou sobre futebol. Enem está marcado para em
breve. Digo que não gosto de conversar nos intervalos das aulas, preferindo ler livro ou ficar preso
nos meus pensamentos, como se diz, sonhando acordado. Lembro que boa parte da minha época
do colégio, sentava eu mais três colegas no meio de pátio e nenhum de nós conversava um com o
outro, ficamos apenas olhando para frente o movimento da escola...
Reclamo do excesso de barulho de novo na volta a aula de espanhol. Brasileiro é um povo
barulhento mesmo. Barulho sempre me irritou. Na aula de espanhol meus colegas não levavam
muita a professora a sério por ela ser muito nova, devia ter uns 20 anos, inclusive teve um dia que
ela teve que falar palavrão para pôr ordem na turma e impor respeito...
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Depois foi a vez de aula de inglês. Só lembro que a professora machucou o pé e estava trabalhando
com uma pantufa.
Na aula de Gestão de Pessoas a Professora leu as notas da turma em voz alta...constrangimento
público, antiético?
Enfim, na aula de Português aprendi uma nova palavra...maquiavélico...parece que esse dia criei
coragem e perguntei em voz alta para professora o que era aquilo!
Documentos, segunda-feira, 19 de setembro de 2005
Na minha época de colégio eu usava pochete. Sempre andei com os documentos, cartão do ônibus
e algum dinheiro para algum imprevisto.
Sobrecarregado, sexta-feira, 23 de setembro de 2005
Ontem teve penni italiano na janta. Hoje, indo ao estágio, almocei no restaurante chines perto do
banco. Vi um filme de comédia, joguei ping pong e estudei. Um colega da sala vai dar uma festa,
mas não vou por conta das tarefas. Várias festas e convites para ir em festas e recusei...Tenho
vários interesses em garotas, mas sinto que seria impossível conciliar um namorico com tanta tarefa
que tenho de fazer na minha escola.
Corruptela nossa de cada dia, domingo, 25 de setembro de 2005
Fiz Enem, devo ter tirado média de 700. Vistas cansadas de tanto ficar acordado lendo. Um detalhe
e uma anedota do Enem. Fiz em um colégio famoso em bairro de classe média tradicional,
relativamente perto da minha casa. No dia da prova, a coordenadora de exame da minha sala
estipulou um prazo de espera maior que o edital, então ao invés de começarmos a prova com
tolerância de 15 minutos de atraso, ficamos mais de 30 minutos esperando possíveis retardatários
e tivemos menos tempo para fazer a prova... corrupção nossa de cada dia e eu não ia esquentar a
cabeça com ela reclamando em pleno exame...
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Tô nem aí, quarta-feira, 29 de setembro de 2005
Hoje refleti que meu estágio é insignificante. Me sinto alienado em fazer trabalhos burocráticos,
tabular dados em planilhas do sistema de informação do banco. Sem motivação e entediado.
Reclamo também que na escola e entre meus colegas parece não haver um incentivo e estímulo
para se estudar. Estudar é visto com algo ruim, negativo, perda de tempo e conhecimento estéril.
Nas aulas, uma bagunça, 90% da turma não participa e nem presta atenção na aula.
Decidi frequentar a biblioteca da escola para fazer leituras que enriqueçam minha bagagem cultural
e meu conhecimento enciclopédico.
Pecado, Sábado 1 outubro 2005
Devo ter masturbado e estou aqui com remorso de tê-lo feito. Um pecado e gasto de energia e um
prazer secreto e incontrolável que me desvia o foco dos estudos. Falta de esclarecimento meu na
época. Sentimento de vergonha e possível sensação de depressão e falta de prazer nas coisas
quotidianas.
Hormônios, domingo, 2 de outubro 2005
Tento controlar meus impulsos sexuais e me prometo que não repetirei meus pensamentos
libidinosos para focar nos estudos e leitura. Certo remorso e vergonha de mim mesmo. Possível
sinal de depressão, sensação de culpa e incompreensão da minha própria natureza biológica.
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Parabéns, terça-feira, 4 de outubro 2005
Fomos em uma famosa e luxuosa Faculdade de Negócios da cidade para fazer um tour nas
instalações, localizada uma das maiores avenida da cidade, e em um dos edifícios mais altos da
região. Acomodação de primeiro mundo, poltronas confortáveis com estofado acolchoado e ar-
condicionado. Fizemos um torneio de negócios onde tínhamos que simular uma empresa de
vendas de alguma coisa, como bicicleta. Decidimos o quanto investir em tecnologia e marketing e
o professor colhia as informações e decidia o vencedor da rodada. Infelizmente a tarefa era em
grupo e minha equipe não ganhou a competição!
Meu padrasto fez um discurso de paternidade comigo. Provavelmente era forma de aumentar o
ego dele por ter um enteado que formou em uma escola de elite e que ele contribuiu para tudo isso
desde que nasci...Não dei a mínima para fala, apenas abanei a cabeça e fingi que concordava,
nunca tive plena confiança nele.
Virgem, quarta-feira, 5 de outubro 2005
Reflexões sobre as garotas que se interessam por mim no colégio. Uma média de uma e meia por
ano e eu na minha covardia, medo e ansiedade não tive coragem de abordar nenhuma e perdi a
chance de na minha adolescência namorar.
Lombalgia, sexta-feira, 30 setembro 2005
Dores na lombar. Falei com a fisioterapeuta do banco e ela me pediu para encaminhar a demanda
de uma cadeira ergonômica para o setor de manutenção do banco. Meu pedido nunca foi atendido
e nunca obtive resposta. A fisioterapeuta foi até simpática comigo e me deu o nome do responsável.
Estou pagando os anos que fiquei sentando-se na frente do computador jogando por horas a fio
videogames e até alta madrugada com menor produtividade no meu estágio...
29
Desistir é não lutar, sábado, 22 outubro 2005
Viver é lutar, dureza, muito sacrifício, vejo um peso enorme. Mãe sempre falou que a vida é difícil,
mas para mim só é um pouco mais difícil, mas não impossível. Reclamo de novo de dores nos
olhos.
Eu mesmo, sexta-feira, 28 outubro 2005
Sarau literário na escola. Ensaie uma peça de teatro com o tema “Construção”, uma homenagem
a Chico Buarque, com o colega da minha sala que nutria mais antipatia por mim. No fim, meus
colegas que tinha uma visão preconceituosa a meu respeito foram me admirando, pois ganhei
concurso de poema, passei na seleção do estágio mais concorrido da escola e só faltou ser
aprovado em uma grande universidade de prestígio ainda no final do ano!
Um professor meu falou que adulto enfrenta seus problemas, já o adolescente posterga. Mais tarde
uma terapeuta minha falou muito isso, que diante dos problemas eu paralisava, reclamava,
resmungava, ao invés de encarar e confrontar, não ficar passivo...como se diz, comportamento
aprendido, não me perguntem de quem e por convivência de quem...
Na escola me sentia muito oprimido e desrespeitado, porque eu entendia a educação
empreendedora e cidadão como um desejo e proposito de a escola engajarem os alunos a terem
tolerância uns com outros, participarem dos projetos, respeitarem os professores, perguntarem
ativamente nas aulas. Mas eu, com baixa autoestima, não externalizava isso e guardava para mim
o rancor e inimizade com meus companheiros de classe.
Tinha uma sensação de vergonha, também advindo dos meus desejos sexuais...eu tinha uma
fixação de acanhamento pelo próprio afloramento da minha sexualidade e uma contínua negação
que eu era um ser sexuado.
Listei uma série de características minha e me impressiona hoje com a precisão das descrições,
concordo com quase tudo hoje, 15 anos depois e creio que alcancei boa parte das minhas
pretensões de desenvolvimento pessoal. Dizia eu na época que era educado, pontual, esforçado,
perfeccionista, ouvinte, observador, frio, exigente, idealista, estudioso, silencioso, acanhado,
ansioso, amargoso e queria me tornar mais comunicativo, sociável, prático...
30
Não é quase garantido, sábado, 29 de outubro de 2005
Reclamo de dor de cabeça. Deve-se por causa de ficar 4 horas por dia numa tela de tubo de raios
catódicos no banco e extremamente focado...Tenho pensamentos obsessivos e invasivos que na
época julgava ser alucinações. Sintomas de TOC? Culpava meu consumo que julgava exagerado
de pornografia na época...
Tenho ótimas recordações de um professor de Química que ensinava de forma contextualizada e
com uma didática relacionada ao cotidiano dos alunos...
Me proponho trocar meu tempo que considero morto por tempo de leitura, uma atividade que
considerava mais nobre e evoluída.
Penso no como é bom sentir atração sexual por alguém, mas ao mesmo tempo angustiante diante
da dúvida de ser ou não correspondido, ou seja, tinha um forte medo de rejeição e me arriscar em
um relacionamento!
Gay, sábado, 12 de novembro de 2005
Discuto meu tesão por mulheres e como é incontrolável, mesmo assim seguro racionalmente meus
desejos e mostra externamente ser alguém sem atração sexual.
Hoje lembrei uma das últimas vezes que abracei meu avô e não sei por que perguntei quando ele
ia embora e ele falou que vovô nunca morre.
Ficou passando um filme de todas as meninas que já tive atração, desde a 1ª série, ou até antes,
pré escola, mas claro, nada sexual, mas uma admiração pela beleza do ser do sexo oposto.
Faço a contagem de todas as garotas que eu tive afinidade, uma 10, mas nunca tive nenhum
contato íntimo com nenhuma, fui bem orientado a não invadir corpo de ninguém e ter pudor da
propriedade corporal.
Mais recente, teve uma festa de uma colega aqui no bairro. Por coincidência encontrei uma colega
bonita de uma antiga escola minha e a garota que estava a fim de minha do meu colégio atual
estava lá também. Me morri de medo e fingi estar interessado e ser íntimo da garota do meu antigo
colégio e assim escapar de manobras de meus colegas de tentar aproximar eu do meu cupido
atual. Consegui com proeza evitar um potencial contato...Um amigo da minha escola falou que a
31
garotinha da outra sala do meu colégio técnico estava a fim de mim e porque eu não chegava, fiquei
sem resposta e ele me disse, você é gay né...
Meditações Internas, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2005.
Agradeço por ter um lugar para estudar e ter certa motivação em querer me dedicar tempo para
leitura e aprimoramento dos meus conhecimentos. Mas creio que escrevi isso com algum ódio
porque na verdade devia estar pensando em como sou facilmente distraído pelas cantorias da
minha irmã, os latidos dos cachorros dos vizinhos e as festas surpresas que sou obrigador a ir com
minha família só para marcar presença...
A solução que achei neste ano foi comprar um tampão de ouvido, pois de fato, minha irmã ouve
música alta na rádio e meu quarto é do lado dela. Não há isolamento acústico na casa, dá para
ouvir os barulhos da rua, as janelas são muito frágeis e até os pulos que minha irmã dá no quarto
eu ouço quando ela dança. Preciso de silêncio para estudar e me concentrar, sou assim,
extremamente irritável e sensível.
Me culpo por me masturbar e ter impulsos sexuais e fico no limbo por não ter ninguém com quem
discutir isso ou ler a respeito.
Nessa época, um livro que me ajudava a tirar muitas dúvidas existenciais, era o livro de Filosofia
do primeiro ano do colégio. Era um manual que abordava várias questões que afligiam o ser
humano, como conhecimento, ética, política, estética...
32
O “Vestibular”, domingo, 26 de fevereiro de 2006
A escolha da faculdade se dá pela busca das áreas de interesse. Hoje acrescentaria que o que
gosta também. No terceiro ano me interessei por Sociologia, Antropologia, Filosofia, Geografia,
Biologia, Literatura. Descarto Música, por falta de conhecimento prévio. Na época descartei Letras,
por não me julgar um bom comunicador. Algo que envolvesse Psicologia, História, e que
demandasse reflexão teria um ponto ao meu favor.
Artes Visuais, Desenho, Escultura, Gravura, Cinema, me julgava muito iniciante nisso.
Teatro, me julgava muito tímido para ser ator.
Turismo, via como pouca perspectiva financeira trabalhar como guia turístico e não me chamou
muita atenção, falando grosseiramente.
Geografia, trabalho de campo, sei não.
Até aí, o que julgava que seria um curso bom para mim seria Física, Química, Filosofia, História...,
sou mais a fim da área de Humanas, nada muito prático, muito menos Matemática, ou algo que
envolvesse tarefas muito sociais. O que para mim parecia algo decisivo era a grade obrigatória
para decidir o curso.
Direito, muita leitura...
Jornalismo, cai na mesma da área de comunicação.
Estatística e exatas em geral... sou mediano com números.
Contabilidade, não tive uma boa experiência no colégio...
33
Arquitetura era uma opção. Assim como me pareceu Administração. Filosofia também pareceu uma
boa ou quem sabe Psicologia também...
Resumindo, nesta data o que me chamava atenção era Economia Brasileira, Urbanismo,
Antropologia, Filosofia, Psicologia, Robótica, Neurociências...assuntos em voga nas palestras das
mostras das profissões da universidade.
Rotinas, quarta-feira, 12 de abril de 2006
Comecei a fazer um pré-vestibular. Matriculei por um ano. Foi um ato meio que de rebeldia porque
tinha certeza de que meu colégio não respeitou todo o programa do MEC para educação de ensino
médio. Assim como foi no meu ensino fundamental em que tive de complementar meus estudos
com cursinho para tentar passar em seleções de escolas técnicas de segundo grau. Senti traído
pela escola por não passar todo conteúdo básico que o Ministério da Educação exigia...
Acordei cedo para estudar mais, mas o sono foi maior. Sono é crucial para funcionamento da mente
e da saúde...Acordei, comi o tradicional sucrilho com leite, lavei os pratos... minha função na casa.
Ainda estou usando pochete e calço um tênis velho, um jeans e óculos de grau. Fui de ônibus para
o cursinho. Fiquei aflito em saber se o trocador ia me dar o troco certo da passagem, uma
insegurança que carrego comigo em questionar erros ou malandragens alheias por falta de
confiança em mim mesmo, ou até autoestima, diriam alguns...
Coloquei o tampão no ouvido porque o ônibus é muito barulhento e fui estudando sentado no
caminho até o centro da cidade. Li uma revista de viés de esquerda. Desci correndo do ônibus,
olhei para uma mulher linda e ruiva lá com um olhar constrito.
Tirei o tampão ao pisar na rua e aquela barulheira estridente dos ônibus do centro da cidade.
Qualidade de vida passa longe no nosso país. Muita poluição sonora. Depois em ritmo frenético fui
até o cursinho, desci perto da praça mais central e movimentada cidade e caminhei por uns 15
minutos até o local do curso preparatório.
Aula de hoje foi de Química e houve algum quebra-gelo entre alunos e professores. A diferença
aqui é gritante com relação ao colégio. Todos focados em estudar e prestar atenção na
aula...Acabei o dia me masturbando...
No mais, faço uma pequena reflexão sobre minha autoaceitação, menos medo, ser mais sincero
comigo, ter mais amor-próprio, agir mais na vida ou tomar mais atitude, menos receios de falar e
de me expor....
34
Expectativas, quarta-feira, 15 de novembro de 2006
Li uma coleção de livros sobre erotismo, finalmente depois de algum tempo sem entender meus
impulsos sexuais. Porém, se por um lado me explicou que desejo sexual é natural, por outro, não
respondeu à questão do amor nem da atração por outras pessoas...afinal o que é amor é uma
questão bem complexa. Falta 45 dias para o vestibular de 2007 na principal universidade da minha
cidade e minhas maiores ânsias é ir bem em Literatura e Geografia.
Nesses últimos dia naveguei no site de uma escola de educação alternativa, uma escola que busca
formar ser humanos, não técnicos nem empreendedores...
Minha libido tem diminuído e tenho me interessado por Filosofias de Esquerda, como Marxismo e
pensadores Progressistas, como Rubem Alves.
Quero entender mais de Arte e estou animado com minha entrada na faculdade, sem eu saber
naquela época que o mais difícil era formar e não começar a faculdade.
Reclamo da minha família, julgo minha irmã uma patricinha, meu padrasto um gordo e minha mãe
uma ególatra...pensamentos de percepções por meio de minhas sensações e sentimentos, nada
muito elaborado e justificado.
Sobre a formatura de 2005 no colégio técnico: a oradora falou que a vida começa agora e que é
um absurdo termos um país em que a classe média fica trancada em suas casas enquanto os
bandidos estão a soltos na rua e há corrupção por todo lado...
Pensamentos diversos, segunda-feira, 1º de janeiro de 2007
Lá vem eu me culpando de novo por minha libido alta...
Hoje parei para refletir que não tenho amigos. Um colega meu me disse isso uma vez no segundo
ano, que eu não tinha amigos, além de ser boca-virgem, ou seja, me detestava, ou foi grosseiro ou
foi honesto e cruel comigo ao mesmo tempo...
Idealizo que meus colegas e amigos deveriam ser pessoas super escolarizadas para me
entenderem e terem papo comigo.
35
Decido que serei marxista, não sei exatamente por que, mas gostei do Marxismo e a proposta de
distribuir riqueza e de todo os homens serem iguais e satisfeitos em suas vidas. Pregar o bem,
quase uma pregação de Jesus modernizada.
Também coloco como meta adquirir bastante cultura, pois desenvolver meu intelecto é minha
prioridade.
Tenho uns pensamentos catastrofista, de fim do mundo, com a crise final do capitalismo, o fim do
petróleo...uma certa herança do milenar pensamento apocalíptico do ser humano e dos fins dos
tempos...
Meu tio falou que os imóveis da minha avó me davam prejuízo, vindo dele, um famoso picareta,
talvez ele tenha dado algum golpe e tenha posto a culpa na sogra...
Uma prima chamou minha irmã de patricinha...uma pessoa próxima da minha infância me olhou
com certo pesar ao não ter expectativa em fazer faculdade numa federal. Dei para ela todas minhas
apostilas do cursinho para ajudá-lo. Nunca soube se ela fez proveito do material... Assim como dei
um livro do Monteiro Lobato para uma amiga estimada de infância e nunca tive oportunidade de
discutir com ela sobre o livro...
Me bateu uma certa desesperança nesse dia, sensação de fim de mundo e uma certa dificuldade
para dormir. Vontade de me isolar socialmente.
Comemorei internamente a vitória do presidente Chaves na Venezuela, sem saber o caos que este
país vinte anos mais tarde estaria advinda das políticas voluntarista deste mesmo político. Vi um
documentário sobre a redistribuição forçada da riqueza na Venezuela sem reforma das estruturas
sociais daquele país. Uma receita para a derrocada econômico, político e social.
Tortura, segunda-feira, 19 de março de 2007
Entrei na maior universidade federal do país, no curso de Economia. O comportamento da minha
turma é exatamente o mesmo dos meus colegas do meu colégio de negócios. Também o perfil é o
mesmo. Classe média e média alta oriunda das melhores escolas particulares da zona sul da minha
cidade.
Infelizmente, o curso é muita matemática, uma escolha infeliz. Pensei que a grade com dois anos
de obrigatória fosse tolerável, mas o curso é muito puxado e estou estudando mais que na época
do cursinho, temos que tomar muito café e estudando a tarde até 22h da noite todo dia. Minhas
férias e feriados são usados para antecipar ou repor conteúdos de estudos atrasados. É um curso
36
inumano, insano. Somos alunos monges, só estudamos e fazemos mais nada, não tenho tempo
para lazer de tanta pressão para cumprir meta de tarefas e leituras da faculdade. Ainda no primeiro
semestre não podia ainda dizer que a escolha de Economia se deu por prestígio e orgulho. Mais
tarde se revelou uma opção pelo sofrimento, não bastasse meu quadro de ansiedade e depressão
que veio a se intensificar e florescer mais tarde no meu intercâmbio acadêmico nos anos finais da
minha graduação. Estou fazendo a disciplina de Cálculo e parece que só existem duas notas, ou
um ou zero.
Agora reflito que na vida, grande parte é esforço e uma parcela mínima é vocação...nota é
resultado, como me disseram no cursinho preparatório para entrar nas escolas técnicas anos atrás.
Nessa época acreditava fortemente no critério meritocrático e dispensava algumas variáveis
culturais, sociais e materiais. Acreditava que todo mundo poderia ser o que quisesse. Nessa época
me pus como meta estudar 2 horas por dia de matemática...
Disciplinado, sexta-feira, 30 de março de 2007
Cansaço. Meus colegas são uns burgueses. Também, escola de Economia com perfil de alunos da
zona rica da cidade, não ia ter operário e filhos de domésticas, apesar de eu ter visto pelo menos
um aluno negro e um outro de lar mais simples...
Meus colegas conversam sobre reality shows, logo eu que não dou a mínima para voyeurismo
televisivo, churrasco, festas, bebidas, narração de embriaguez como se fosse o suprassumo da
felicidade. Juventude despolitizada, preocupada com a próxima festividade, futebol ou então como
ganhar dinheiro, fazer concurso após formar, entrar para o Banco Central, como uma colega minha
estudiosa me disse no começo da faculdade. Já tive uma colega que no final do semestre vai mudar
para o curso de Letras. Ela me falou que gostava da parte exata e de línguas também. Me fez umas
perguntas em francês. Meu foco são os estudos e não darei a mínima para socialização, não vou
em festas, assim como fiz boa parte do colégio, escola é para estudar, não para fazer amigos, era
meu lema...
Sofisma, quarta-feira, 27 de agosto de 2008
No segundo semestre do curso de Economia já tinha decidido internamente a mudar de curso.
Achei o curso frustrante e muito exaustivo e não via muita perspectiva ou para onde a graduação
37
de Economia poderia me levar...Fiz o vestibular para Filosofia, em uma espécie de resgate dos
meus interesses com base em meu perfil e histórico de indagações que sempre fiz a respeito do
mundo. Fiz a prova de Língua Estrangeira de Francês. Lembro que a aplicadora da prova era uma
loira no dia. Mas por algum motivo, desisti de entrar no curso de Filosofia ou fazer a prova final de
redação em Filosofia. Nem sei se tinha me preparado para tal e estudado. Sei que fiz isso meio
que escondido e nem avisei direito minha mãe. Considerava na época que o curso de Economia
era muito acrítico e que na Filosofia eu poderia pensar de forma mais lógica, pois na Economia se
resumia em construir modelos econômicos baseado nos agentes racionais iguais programas de
computador. Uma premissa logicamente falha e sem dúvida muito irreal, até diria enganadora.
Como fundar uma ciência moderna com base em premissas sabidamente falsas? E o pior, como
se ensina isso oficialmente em pleno ano de 2005? Todo o avanço da Psicologia no século XX e
de estudo da racionalidade humana e seus limites e eu aqui, numa universidade que
sistematicamente ignora isso por amor a ideologia do dinheiro?
Este ano me envolvi com muitas leituras na Internet, principalmente de jornais de esquerda mais
extremista sobre a crítica da sociedade capitalista. Eram leituras viciantes e até prazerosas. Me
dava felicidade em saber que o mundo ia acabar. Nutria também uma esperança que a sociedade
ia mudar por si só, porque o capitalismo é um sistema falido. Jogava todas minhas frustrações no
sistema.
Finalizo o ano, repensando em mudar minha relação com minha mãe, como melhorar, como haver
mais comunicação. Também penso em dar uma chance para desenvolver amizades e por fim
resolver minha questão de ter uma namorada, o lado afetivo, sexual. Fecho meu diário de forma
bem conservadora, pondo como meta formar em Filosofia e seguir carreira diplomática, coisa que
minha irmã mais tarde tentaria e meu orientador de monografia na Economia igualmente afirmaria
anos mais tarde.
FIM
38
Sobre autor....
Rhezus Moreno é um pseudônimo de um aspirante a escritor mineiro e morador da capital deste
mesmo estado. O autor prefere manter o anonimato para não causar muito com sua obra! Mas
adiantando e desvendando alguns mistérios, ele é um universitário em último ano de graduação do
curso de Letras, quase conclui o curso de Economia e tem formação em Gestão de Negócio em
uma escola técnica da cidade onde reside. Morou na França por meia década, em um momento
crítico da sua vida, pois acabou sendo alfabetizado no exterior e forjando em sua personalidade a
imagem de uma cultura amada pelos brasileiros, mas ao mesmo tempo demasiada glamourificada,
segundo o próprio autor. É uma pessoa séria, focada e enfrenta questões de saúde mental desde
a adolescência e por isso almeja tornar explícito em seu livro a possibilidade de uma pessoa com
quadro de ansiedade e depressão e até mesmo euforia, vencer tais limitações e ter uma vida
produtiva e funcional, mesmo com grandes dificuldades e adversidades, como é a vida para todos
nós! Espero que você tenha uma ótima experiência com meus escritos. Um forte abraço!

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Meus 17 anos

  • 1. 1
  • 2.
  • 3. MEUS 17 ANOS Um testemunho psicológico do alvorecer da minha maioridade POR RHEZUS MORENO
  • 4. Nota de abertura ESTE LVIRO É UM TESTEMUNHO DE UM JOVEM URBANO DE CLASSE MÉDIA POUCO ANTES DE COMPLETAR A SUA MAIORIDADE! Estes escritos são os relatos das vivências de um rapaz por volta dos seus 17 anos oriundo de um lar relativamente próspero no Brasil e residente em uma metrópole brasileira nos idos dos anos de 2005. Narra principalmente seu último ano do Ensino Médio e são seguidos na maior parte do tempo de breves comentários dos fatos a luz deste mesmo jovem, mas agora com a consciência de um adulto de 33 anos.
  • 5. Sumário Prelúdio, domingo, 11 de janeiro de 2004........................................................................................................................1 Transição, terça-feira, 13 de janeiro de 2004...................................................................................................................3 Recepcionista Médica, segunda-feira, 29 de novembro de 2004 ....................................................................................4 Meditações Internas, terça-feira, 19 abril 2005 ...............................................................................................................4 Pequenas Filosofias, quinta-feira, 21 de abril de 2005.....................................................................................................7 É o sistema, sábado, 23 de abril de 2005..........................................................................................................................7 Canibalismo, quinta-feira, 05 de maio de 2005................................................................................................................7 Corpo Físico, domingo, 08 de maio de 2005.....................................................................................................................8 Palestra sobre Drogas, sexta-feira, 10 de maio de 2005 ..................................................................................................8 Minha irmã, domingo, 11 de maio de 2005......................................................................................................................9 Competições, sábado, 14 de maio de 2005......................................................................................................................9 Minha Profissão, domingo, 12 de junho de 2005...........................................................................................................10 Meus Valores Morais, segunda-feira, 13 de junho de 2005...........................................................................................11 Socializando, sábado, 18 de junho de 2005....................................................................................................................11 Estado Paralelo, segunda-feira, 27 de junho de 2005 ....................................................................................................12 Carreira, segunda-feira, 4 de julho de 2005 ...................................................................................................................13 Arrependimentos, terça-feira, 7 de julho de 2005 .........................................................................................................14 Desaforo, sexta-feira, 08 de julho de 2005.....................................................................................................................15 Grandiosidade, sábado, 09 de julho de 2005 .................................................................................................................15 PT, quinta-feira, 14 de julho de 2005..............................................................................................................................15 Timidez e Respeito, sexta-feira, 15 de julho de 2005.....................................................................................................16 Contratempo temporal, segunda-feira, 18 de julho de 2005.........................................................................................16 Sofisticação, quinta-feira, 21 de julho de 2005 ..............................................................................................................17 Livros, sexta-feira, 22 de julho de 2005..........................................................................................................................17 Visitas, domingo, 24 de julho de 2005............................................................................................................................18 Dicionário, terça-feira, 26 de julho de 2005 ...................................................................................................................19 Contatinhos, quarta-feira, 27 de julho de 2005..............................................................................................................19 Presente, segunda-feira, 01 de agosto de 2005 .............................................................................................................19 Churrasco, sábado, 06 de agosto de 2005......................................................................................................................19 Grêmio Estudantil, terça-feira, 9 de agosto de 2005......................................................................................................20 Cidade de um Famoso Escritor Mineiro, segunda-feira, 15 agosto de 2005..................................................................21 Dinheiro próprio, terça-feira, 16 agosto de 2005...........................................................................................................21 Injustiça, sexta-feira, 19 agosto 2005 .............................................................................................................................21 Na megalópole, sábado, 20 de agosto de 2005..............................................................................................................23 Depressão menor, quarta-feira, 7 de setembro de 2005 ...............................................................................................25
  • 6. Participação, quinta-feira, 8 de setembro de 2005 ........................................................................................................25 Documentos, segunda-feira, 19 de setembro de 2005 ..................................................................................................26 Sobrecarregado, sexta-feira, 23 de setembro de 2005 ..................................................................................................26 Corruptela nossa de cada dia, domingo, 25 de setembro de 2005 ................................................................................26 Tô nem aí, quarta-feira, 29 de setembro de 2005..........................................................................................................27 Pecado, Sábado 1 outubro 2005.....................................................................................................................................27 Hormônios, domingo, 2 de outubro 2005 ......................................................................................................................27 Parabéns, terça-feira, 4 de outubro 2005.......................................................................................................................28 Virgem, quarta-feira, 5 de outubro 2005........................................................................................................................28 Lombalgia, sexta-feira, 30 setembro 2005 .....................................................................................................................28 Desistir é não lutar, sábado, 22 outubro 2005 ...............................................................................................................29 Eu mesmo, sexta-feira, 28 outubro 2005 .......................................................................................................................29 Não é quase garantido, sábado, 29 de outubro de 2005 ...............................................................................................30 Gay, sábado, 12 de novembro de 2005 ..........................................................................................................................30 Meditações Internas, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2005.......................................................................................31 O “Vestibular”, domingo, 26 de fevereiro de 2006 ........................................................................................................32 Rotinas, quarta-feira, 12 de abril de 2006......................................................................................................................33 Expectativas, quarta-feira, 15 de novembro de 2006.....................................................................................................34 Pensamentos diversos, segunda-feira, 1º de janeiro de 2007 .......................................................................................34 Tortura, segunda-feira, 19 de março de 2007 ................................................................................................................35 Disciplinado, sexta-feira, 30 de março de 2007..............................................................................................................36 Sofisma, quarta-feira, 27 de agosto de 2008..................................................................................................................36
  • 7.
  • 8. 1 Prelúdio, domingo, 11 de janeiro de 2004 Meus escritos de 2004, quando tinha 16 anos já são marcados por uma baixa autoestima, se vê escrito no começo do meu diário “não pretendo caprichar. Invejo os que conseguem. Minha letra fora bonita em outros tempos” ... Sinal de que fui um adolescente que tinha baixa autoestima mesmo, me culpabilizando por não caprichar na escrita de algo tão pessoal quanto meu diário!!! Também já começo meu diário repetindo a palavra pecado umas três vezes, sendo que nem religioso sou, como uma concepção desse veio guiar minha vida?? Logo em seguida escrevo “mãe acha que sou burro”, acho que isso aí é um claro pensamento disfuncional, um conceito que fui ter em minha mente somente lá pelos idos de 2015, em terapia cognitivo-comportamental. Pensamento disfuncional são crenças que não tem base na realidade, mas que moldam nossas atitudes e a forma como nos enxergamos...se tornam uma profecia autorrealizada, por exemplo, ao me julgar que sou incapaz, que vou fracassar em algo, nem ao menos tento fazer determinada tarefa, e algo que começou no pensamento passa a ser a própria realidade se retroalimentando infinitamente... Uma outra coisa que percebo, é que minha mãe parecia querer controlar um indício de comportamento compulsivo que tinha, pois parece que nos meus 16 anos, eu era bem viciado em jogos de computadores, e parece que na minha narração nesse dia ela me censurou porque talvez eu tenha ficada muitas horas na frente do computador. Parece que logo em seguida, devido a minha
  • 9. 2 teimosia, o efeito da punição dela não funciona, pois logo em seguida afirmo que volto a jogar quando ela sai de cena. Comportamentos impulsivos são bastante comuns na euforia em uma pessoa bipolar, pois a condição afeta o juízo moral/crítico e a pessoa fica incapaz de tomar decisões assertivas, precisas e equilibradas. Claro que exigir de um adolescente autocontrole é muito, mas é uma habilidade que se desenvolve aos poucos, e lembro que mais tarde, acabei pagando um preço alto por isso. Em um momento crítico da minha faculdade, preferira ficar navegando na Internet compulsivamente ao invés de estudar, frutos também claros, da manipulação das empresas de Redes Socais sem regulação na época que faziam seu público leigo ainda pouco acostumado com a Internet de alta velocidade ficarem vidrados na tela... Nesse dia ou semana, eu assisti ao filme “O Último Samurai” com minha família, menos o meu padrasto, no nosso apartamento em um bairro típico de classe média brasileira, com casas boas ao lado de alguns barracos (nos mudamos para lá nos idos dos anos 2002). Este pequeno e aparente irrelevante detalhe pode já apontar um indicador que nossa família não era lá tão unida e feliz, pois não compartilhou um momento agradável de assistir um filme juntos com todo mundo reunido (o que se mostrou verdade 20 anos depois com o divórcio de mãe e a descoberta do desfalque financeiro que foi o casamento de três décadas com uma pessoa que só dividia ao invés de multiplicar as riquezas) ... No mais, nessa data relato que joguei um famoso jogo de guerra e estratégia de computador. Pensei também que escrever diário era coisa de menina, por ser um registro sentimental da vida... (machismo implícito que homem não pode demonstrar seus sentimentos).
  • 10. 3 Transição, terça-feira, 13 de janeiro de 2004 Só me lembrei de uma coisa, costumava roer unha da 5ª série a 8ª série, só parei por força da razão quando numa aula de biologia, o professor disse que as mãos concentravam uma gigantesca quantidade de bactérias e tomei nojo dos meus próprios dedos... Começo dia 13 de janeiro de 2004 à tarde pensando em como sempre mantive contato físico afastado da minha irmã, pois nem beijo na bochecha gostava que ela me desse. E ela também não. Nunca gostei de demonstrações de afeto na família em geral, nem de mãe, nem de irmã...acho que aqui em casa somos todos frios.... Narro também meu prazer em desenhar figuras geométricas, principalmente cidades e desenhos de ruas perpendiculares, motivo o qual boa parte da minha adolescência tinha uma certa certeza que ia cursar Arquitetura e Urbanismo... Falo também que tenho uma certa dificuldade em lidar com o diferente. Lembro que o fato de eu ser introspectivo e ter imensa dificuldade de socialização, sofria, hoje diria, de ansiedade social, e minha vida em ambientes novos, como nova escola, festas, eram bastante desagradáveis para mim...isso tudo é claro um sintoma de ansiedade, que veio se agravar nessa fase de transição da vida, entre vida infantil e adulta, momento de incertezas, questionamentos e descobertas que na vida não há respostas e garantias. Neste dia também me recordo de ao me mudar para a França com meus pais aos 7 anos, minha mãe aceitou minha curiosidade de conhecer a cabine do avião e na época, falta de atentados terrorista, foi possível eu entrar na cabine do piloto e ver um monte de luzinhas dos controles. Não sei se isso despertou algum desejo em eu ser um dia piloto, creio que não, e hoje sei que isso seria impossível devido ao meu quadro emocional, nem piloto de avião, nem militar, e até uma terapeuta
  • 11. 4 mais tarde me falaria, nem professor. Nessa viagem de 1995 ganhei um Lego que se tornaria uma espécie de paixão minha, e até hoje, desenvolvo em mim o gosto de montar quebra-cabeças em três dimensões. Em 2004 ia ser o ano da mudança do apartamento que morava na Zona Norte para uma casa no mesmo bairro e região, mas maior e em uma rua sem asfalto e perto de uma favela que na época vivia conflitos com tráfico, pois havia tiroteios e mortes todos finais de semana praticamente. Fiquei sabendo na época que até o vizinho que construía uma casa ao lado foi morto por dívidas com drogas... Recepcionista Médica, segunda-feira, 29 de novembro de 2004 Frequentei uma médica especialista em adolescente no ano de 2004 para tratar minhas instabilidades de humor. Ela me receitou um relaxante muscular e um antidepressivo. Além de ter conversado sobre minha sexualidade, se minha genitália era normal, suicídio, frustrações, violência urbana, homossexualidade, indisciplina na escola por parte dos meus colegas, orgulho e vaidades minhas. A secretária dela era estagiária de psicologia, uma negra que cursava psicologia e que cheguei a conversar algumas coisas na sala de espera do atendimento. Eu gastei com ela um pouco dos meus conhecimentos superficiais de psicologia, até porque na época também tinha curiosidade de frequentar a biblioteca pública da cidade e consultar os grandes filósofos e pensadores da modernidade. Até achei uma referência de um empréstimo de uma obra de Michel Foucault em meus cadernos... Meditações Internas, terça-feira, 19 abril 2005 Algumas anotações de como sentia aflito em eventos sociais, como em um aniversário que fiquei isolado, alguma briga entre meus pais por causa do jardim, neste ano parece que tínhamos acabado de nos mudarmos para uma outra casa... Meu último ano de ensino médio, enxergava meus colegas, principalmente as meninas, como muito calorosas nas amizades umas com as outras, pois vivam se dando beijos, tendo sorrisos nos semblantes, falação sem pausas... Também notei que o professor de História não se animou tanto com tamanha energia da turma, os alunos em conversas paralelas sem fim, professor suplicando silêncio para a turma, até porque
  • 12. 5 uma vez reclamei, já que a escola perguntou para os alunos quais pontos eles queriam que melhorasse na instituição. Eu falei que a disciplina, silêncio na sala. Lembro numa enquete da professora de Geografia no 1º ou 2 º ano que achava educação aqui no Brasil era uma algazarra, principalmente do ponto de vista de quem estudou na França, com aquele esquema hierárquico e rígido, onde autoridade do professor é indiscutível, como se diz por aí, igual era a educação elitizada no Brasil nas décadas de 1950...só que lá continuou, enquanto aqui novas pedagogias e não sei, talvez por influência das mídias, televisão, maior tolerância, não se faz muita questão em pôr ordem na sala de aula. Esse fato só mudou na época da faculdade, principalmente nas disciplinas de maior demanda lógica e atenção... Mesmo assim, uma aparente contradição, por mais que os alunos se mostrem desinteressado em participar das aulas, imaturidade diriam, o sucesso em geral dos estudantes é majoritário, creio que não vi nenhum colega da minha escola repetindo de ano ou ficando de recuperação...eu fiquei umas 3 vezes, mas por depressão..., mas nada que uma prova complementar não garantisse minha vaga no ano seguinte e no próximo ciclo... Esta semana, na escola vimos um filme de Biologia sobre uma experiência genética, e um colega meu ficou brincando com a lanterna do celular no início da sessão...necessidade do jovem de se autoafirmar e demonstrar que está aí, que existe e que é relevante perante os outros, desafiar a autoridade e mostrar que é poderoso. Isso era bastante irritante para mim, ainda mais eu que era muito sensível e alocêntrico demais nessa época, receoso de opinião alheia e com síndrome de estar sendo observado (desconfiança excessiva, diria hoje) e sentia sendo julgado o tempo todo. Não ousava, fazia nada por acreditar e ter vergonha de fazer e errar...uma atitude que tive na vida boa parte da minha adolescência que me fez perder inúmeras experiências, como viajar para o Rio de Janeiro com o colégio ou ainda me aventurar em namoricos arriscados, pois meu maior medo era correr risco, pegar uma AIDs, engravidar uma menina! Lembro que antes do colégio, meu maior medo de namorar era ser soro positivo como se na minha primeira transa eu ia me contaminar!!! Eu tinha essa tendência de criticar tudo, e uma vez achei ruim a professora de Biologia no segundo ano ajudar antes da prova fazendo uma revisão de geral do exato conteúdo da avaliação, meio que forçando que todo mundo fosse aprovado na matéria dela. Achei irreal e depreciativo com quem estudou o conteúdo em casa...vá saber... me pareceu até antiético! A gente estuda só para prova! Deu a entender isso com a tal atitude da professora... Eu estudava na 8ª melhor escola particular da cidade de acordo com ranking do número de aprovados na melhor universidade da região, uma escola localizada perto de um afluente bairro de classe média emergente. No primeiro ano ia de ônibus para escola, e gastava cerca de 1h30 para chegar no meu destino...acordava umas 5h30, e devia ser o único ou um dos poucos que iam de
  • 13. 6 ônibus para escola, pois era uma escola de elite, tanto elite que nem tinha inadimplência nas mensalidades como ouvi em certa palestra da diretoria...No 2º ano passei a ir de carona com meu padrasto que trabalhava nas redondezas, não sei porque nem sempre foi assim e cheguei algumas vezes a ir com sobrinho da família dele também, pois ele estudava no centro da cidade...Na seleção para entrar no colégio falei que ia para escola com meu padrasto já que ele trabalhava perto, mas isso só se concretizou a partir do segundo ano quando tive depressão, acho que por puro menosprezo dele mesmo. Lembro que chegava com sono, dores nos olhos na escola, pois o colégio era uma escola puxada, se aproveitava pouca a aula de tanta conversa paralela, e além do ensino médio, havia umas 3 ou 4 matérias de ensino técnico em Administração, ou seja, era escola de manhã e parte da tarde. Chegava por volta das 16 ou 17 horas em casa e ia estudar por umas 3 horas provavelmente todo dia... Eu tinha uma sensação de ressentimento pois me julgava excluído por meus colegas, mesmo aqueles que eu tinha algum contato, mesmo que mínimo, no sentido que me sentia estranho até para ter coragem de despedir deles. Lembrei de um detalhe importante da primeira aula de Português no colégio. A professora pediu para os alunos fazer uma lista de vocabulário do português, provavelmente para ilustrar como nossa língua é rica...eu lembro que o aluno mais precoce e agitado da turma começou disparar vocabulário, digamos adultos, como orgia, complexo, suruba, incesto...eu anotava tudo na aula, cheguei em casa para consultar no dicionário e até perguntei para minha mãe e foi um certo constrangimento...ou seja, tínhamos um colega de 14 anos bastante sexualizado e o pior, sem muito constrangimento em expor sua libertinagem desta forma para a sala inteira!!! Em 2005 voltei a fazer natação, e minha rotina era basicamente escola e estudo, e claro, nadar...além de algum instante, parece que ainda jogava computador, mas com tempo contado por ter uma pressão significativa com as tarefas escolares. Eu era esforçado, mas minhas notas nunca passaram de 70% de aproveitamento...mãe certa vez me disse que estudava só para passar..., mas meio que era algo condicionado, se o que fazia até então era suficiente para aprovação, por que fazer mais? Ademais, queria fazer faculdade de Arquitetura, e me pareceu que nesse ritmo seria possível passar no vestibular, mesmo que mais tarde eu acabei comprovando que não queria passar no vestibular de primeira e ter um ano para refletir e criticar a escola por todo o conteúdo que ela deixou de passar, justificando assim meu complemento de estudo por meio de cursinhos...Uma crítica que só prejudicou a mim mesmo ou um exercício de vaidade e orgulho mesquinho mesmo para postergador a minha entrada na universidade.
  • 14. 7 Pequenas Filosofias, quinta-feira, 21 de abril de 2005 Este dia acordei cedo, dormi pouco, comi e a fome não passou com café da manhã...e passei por um sintoma que passo até hoje na vida adulta...ardência nos olhos, por fatiga da visão ou será um problema mais ocular (descobri recentemente, idos dos anos 2022, que tenho um nervo óptico inflamado, um tal de edema que nem na ressonância magnética apontou como algo problemático... Este dia desenhei uma cidade em uma folha de caderno, fiz cruzamentos, ruas, prédios, casa, barracos, favelas.... Comento também minhas angústias da época...a saber: consulta no psiquiátrica, prova Enem e estágio no banco. Fiz outros desenhos também no meu caderno e anotações querendo representar o fato de não aceitar as transformações no meu corpo, me sentindo deformado... É o sistema, sábado, 23 de abril de 2005 Hoje parece que procrastinei, mas também foi um dia pós-feriado, e parece que não resisti a tentação de ficar jogando computador. Fiz uma pequena reflexão da futilidade da sociedade de consumo e da escola com seu aspecto funcionalista e utilitário visto pelos alunos e professores, que se resume em estudar para tirar nota, e trabalhar para pagar as contas da parte dos professores, sem idealismo, e todo o sistema se retroalimenta assim. Canibalismo, quinta-feira, 05 de maio de 2005 Breve relato da situação atual. Não sou um negro morador de favela, mas uma pessoa “parda” de classe média com conforto material e uma família engolida pela rotina da sociedade produtivista. Igual mais tarde a psicóloga da minha mãe falou para ela, não tem como ser uma mãe presente e garantir bem-estar emocional e presença na vida dos filhos numa sociedade que exige jornada de trabalho exaustiva ou banimento ou esquecimento na ascensão da pirâmide social.
  • 15. 8 Corpo Físico, domingo, 08 de maio de 2005 Fiquei magoado por minha mãe falar que tinha queixo parecido com meu avô..., mas parece que o dia em geral foi bom e animado, tivemos discussões saudáveis em casa, mesmo assim devo ter finalizado o dia complexado por comentários sobre meu corpo, normal do final da adolescência e os resquícios de autoaceitação das transformações física de si, e um complexo somado a problemas de autoestima... Um comentário importante que percebi nesse dia que registro queixa de dores nas costas. Este problema me acompanhou mais adiante, de certa forma, junto com uma antiga LER nas mãos de tanto digitar no teclado do computador durante os jogos de computador. Já o problema das costas é devido à longa jornadas sentado, tanto na escola, quanto para estudar, e mais para frente, no meu estágio no banco. Palestra sobre Drogas, sexta-feira, 10 de maio de 2005 Assistimos o filme “Diários de uma Adolescente” em uma palestra sobre as drogas. A assistente social que estava lá falou que o filme é exagerado, que ninguém sobrevive tantas overdoses retratadas no filme. O policial falou que os drogados se tornam violentos e agridem até fisicamente entes próximos, pois perdem o senso de juízo. E um ex-viciado dá um depoimento falando que a vida é um jogo e temos de respeitar as regras do jogo da vida. Se não, se não respeitamos as regras do jogo da vida, a vida acaba com a gente. E parece que as drogas são isso, quebrar as regras da harmonia social.
  • 16. 9 Minha irmã, domingo, 11 de maio de 2005 Falo mal da minha irmã. Estudiosa, impaciente, ama comidas temperadas, ouve música alta para se isolar do mundo, na verdade, se desligar da realidade maçante, assim como eu, é egoísta, assim como eu, cruel...mandona, autoritária, eu também, não dialoga, dá ordens. Competições, sábado, 14 de maio de 2005 Dia superprodutivo. Prova do estágio obrigatório do curso técnico, uma seleção geral da escola inteira que tive a felicidade de ser escolhido em quinto ou sexto lugar na colocação geral de 20 vagas oferecidas!...fui de ônibus nesse dia fazer a prova do estágio, sinal que já estava mais confiante em mim, provavelmente efeito dos cuidados médicos que estava fazendo... Participei também de um projeto entre jovens universitários de Direito, estudantes secundaristas e a Assembleia Legislativa do meu estado chamado de “Parlamento Jovem”. O que se propunha era uma lei sobre algum tema da moda, como legalização do aborto ou algo do gênero, ou ainda medidas do tipo da redução da maioridade penal. Creio que foi esse tema que venceu no debate entre as votações das várias escolas participantes. Também fomos preparados a participar de um debate político em uma Universidade Particular no sentido de nos introduzir a algumas habilidades cênicas. Um professor perguntou para apresentar um tema de debate e respondi algo acabou sendo escolhido como tema de encenação. Era o caso de um debate entre alunos jogando futebol
  • 17. 10 e um dos times não deixando os “de fora” entrar e jogar no turno deles. Neste dia também fui ao oftalmologista fazer exame de rotina e participei de uma competição de natação em que fiquei em segundo lugar em um famoso clube da minha região. Anoto que devido ao meu estresse parece que vinha faltando aulas de natação ou nadando bem cansado. Também a noite acabei indo em uma palestra do Partido dos Trabalhadores, lembro bem desse dia, foi numa fala de um vereador de BH, inclusive a filha dele estudava na minha escola. Sobre a prova do estágio, parece que acertei 4/5 questões, e ainda sim fiquei pessimista se ia ser aprovado! Vendo hoje rio, mas parece que no dia da prova, uma colega tentou colar minha prova, sinal que era famoso por ser inteligente né, bom sinal..., mas na época não enxergava assim, mas mais como desconfiança e falta de ética. Só fui tentar ver o lado positivo das coisas na vida, quero dizer, focar no aspecto bom das minhas experiências, depois de muita terapia, que nesse caso, eu tinha adquirido um certo status e fama de rapaz inteligente!... Finalizei o dia brincando de legislador e fazendo uns artigos jurídicos de como organizar uma casa para ter harmonia no lar! Muito mais tarde na minha vida em uma consulta de orientação vocacional, a psicóloga da faculdade me perguntou se eu não queria fazer Direito! Faz sentido...sou muito sistemático e correto, muito ordeiro e da Lei! Minha Profissão, domingo, 12 de junho de 2005 17 anos. Cheguei à conclusão nesse dia que o tempo por si só não resolve as coisas. Passei no estágio do banco e já estava com planos com o dinheiro que ia receber. Pequenas compras pessoais para meu quarto pelo visto. Fiz uma pequena lista das expectativas das coisas que esperava aprender no estágio, como Economia, juros, financiamentos, planos de negócios, investimentos e taxas bancárias...também nesta época me preocupava em como ia conciliar carga horária de aula, estágio e os estudos, tanto é que nem pensei muito no vestibular, já estava muito sobrecarregado. Por isso fiquei desanimado em fazer a seleção para universidade neste ano e não pensei seriamente em começar faculdade logo depois de formar no colégio, pois não me senti preparado e nem consegui refletir muito que profissão seguir, mesmo fazendo testes psicológicos na escola, mas veio muita descrença nas eficácias dessas ferramentas..., mas bom, os testes de orientação vocacional no colégio técnico me conduziram para tentar Arquitetura...
  • 18. 11 Mas enfim, pensava o clássico, ou era arquitetura, meu sonho de adolescência, ou então Economia, por influência do estágio no Banco, ou ainda algo de Humanas, como Sociologia, Psicologia ou Arqueologia, por influência dos relatos dos universitários dessas áreas em uma feira de profissão... Meus Valores Morais, segunda-feira, 13 de junho de 2005 Fiz uma pequena lista dos meus valores pessoais... sentimento é importante, querer o bem a quem me quer bem, estudar para aprender, ser culto e íntegro e ser cordial, ser para ter, trinômio “pensar, refletir, agir”, e ter planos grandes na vida. Socializando, sábado, 18 de junho de 2005 Gostava de química no colégio. Fiz uma boa prova, tirei nota 8. Conclui que estudando sem pressão e sem “compulsão”, creio que quis dizer sem ansiedade, desespero”, a coisa rende. Falo de um plano meu de ir a uma festa à fantasia de colegas do meu ensino fundamental. Tinha planejado de ir com um colega da minha sala, um falso colega, porque disse que ia me dar carona e não falou que não ia dar carona não, me deixou esperando inutilmente na rua e inventou uma desculpa que não sabia o caminho. Eu sabia que o indivíduo não gostava de mim, mas não sei por que tentei dar uma chance para ele. Hoje sei que ninguém é obrigado a nada e as pessoas têm o direito de dizer não, apesar de que eu mesmo quase nunca nego nada a ninguém...Um problema de autoestima que tenho é me colocar em segundo lugar. Infelizmente fui criado na infância a aceitar autoridade mesmo que vá contra mim e minha própria vontade, talvez esteja aí a raiz do problema... Nesse dia também, houve um projeto cultural na escola, uma oficina de origami. Cito também que meu padrasto não comprou umas coisas que pedi para ele! Descaso? Mandei um e-mail para um colunista de uma revista famosa de esquerda falando do meu aborrecimento no estágio, que o banco era uma empresa que não estimulava o trabalho criativo dos funcionários e que me senti subvalorizado fazendo trabalhos repetitivos e sem sentido. O colunista da revista respondeu e me falou que eu tinha razão e concordava com minha colocação. Mas tarde num projeto de uma disciplina de gestão empresarial, fui a uma empresa e alguns funcionários diziam o mesmo, daí sugeri para o gerente implementar uma rotação de atividades entre os colaboradores para aumentar a motivação do time!
  • 19. 12 Voltando ao tema da festa, de fato, fui à festa do meu colégio do ensino fundamental vestido de Pirata e um amigo gordinho riu da minha dança na boate. Foi bom. Vi uns colegas e acho que no geral foi sensacional. Uns colegas negros vomitaram no banheiro. Poucas vezes que gostei de socializar, possivelmente, eu seria mais socialmente feliz e menos estressado se tivesse feito colégio da região do meu bairro, com meus vizinhos, com condição socioeconômica mais similar e proximidade geográfica, mas as experiências e desafios teriam sido menores, assim como as oportunidades e aprendizados... Estado Paralelo, segunda-feira, 27 de junho de 2005 Esse dia comecei reclamando de um earworm, uma musiquinha que não saía da minha cabeça, no caso, um reggae com refrão “minha voz já não para mais”. Dizem que música de certo modo diz muito como está suas emoções no momento. Talvez neste ano, último ano do colégio, estava passando por inquietações, afinal, ia fechar um ciclo, do ensino médio... Reclamo também do fato de eu ter comportamentos compulsivos...já consigo imaginar quais...Lembro que a professora de Português falou que a adolescência era uma fase de difícil autocontrole, muito hormônio e mudanças ao mesmo tempo e em curto espaço de tempo. Ela disse que a terapeuta dela falou isso para explicar a grande agitação que é uma turma de ensino médio...Eu ainda continuo pensando que tem um fator cultual, não é apenas da biologia e hormonal...não acho que se estivesse em um colégio na China ou num país islâmico seria a mesma algazarra que temos aqui no Brasil, até a escola parece um carnaval, como pensava na época. Meus colegas viviam dando gargalhadas e uma euforia e gasto de energia despropositados e desnecessárias...fruto da idade, da saúde e da força da juventude. Mas creio que aqui, ainda mais numa escola de negócios, se confundia muito libertinagem com liberdade, eu acreditava fortemente que meus colegas com suas liberalidades de
  • 20. 13 chegar na sala a horas que quisesse, atrapalhar as aulas com conversa paralelas, estavam de fato comendo a minha liberdade e meu tempo de assistir a aula, pois estavam invadindo meu direito a aprender em silêncio e em paz. Esse fato foi usado por mim meio que justificativa para não criar amizade com eles, pois os viam como um grupo egocêntrico e que não estavam na escola só para estudar, como eu idealizava, mas para interagir socialmente, e julgo eu, até demais, até hoje imagino, por algum tipo de carência emocional no lar...Tive uma fase depressiva no segundo ano que justamente pensei em sair do colégio técnico por conta da algazarra na escola, daí voltei no meu antigo colégio, e quando fui perguntar para um colega meu de lá como era a disciplina na sala, ele falou que estava organizado, mas a diretora não deixou eu visitar uma sala, daí eu acabei vendo que eles estava mentindo e acabei ficando no meu colégio mesmo....o problema era generalizado então e trocar de escola não ia resolver! Carreira, segunda-feira, 4 de julho de 2005 Teve festa junina no colégio, participei com uma certa felicidade e angústia, fui vestido a caráter, dancei com um grupo chamado “forró de minas”, conheci uma amiga de um colega da minha sala, conversei com um “crush” caloura minha que inclusive me chamou para casa dela...depois a professora de Português veio conversar com meus pais e elogiou meu comportamento e meu desempenho na escola, além de falar que eu era bonito! O mês anteiror também foi época do começo do estágio, que gostei bastante, novos desafios e aprendizagem, otimizei alguns processos gerenciais e de tabulação de dados do banco, tive treinamento com os veteranos da escola técnica, os mesmo que inclusive chegaria a encontrar três anos mais tarde na universidade de Economia. Quase perco o horário no primeiro dia de estágio porque não estava de roupa social e minha professora falou que banco é um ambiente formal, daí saí correndo para casa no horário de almoço e nem comi este dia. Valeu a pena porque tivemos uma reunião com a diretoria e estava vestido como todos os meus pares! Falei neste dia que não pretendia seguir carreira bancária, mas de Arquitetura, praticamente nenhum colega disse que queria ser bancário! Também, parece que vimos um filme na escola sobre ser diferente, pensar diferente e buscar a felicidade acima de tudo, mesmo que seja estranho, resumidamente, vimos a história da criação dos doutores da alegria... Voltando para mês de julho de 2005, parece que as primeiras dificuldades começaram a aparecer. Dessa vez uma dor de coluna crônica se manifestou e me sinto sobrecarregado de tarefas, me
  • 21. 14 preocupando em fazer mais coisas que daria conta e me cobrando e me tornando cada vez mais ansioso, por conseguinte. Me sinto culpado e compulsivo por aliviar minhas tensões por meio de masturbação, uma coisa que me marcou na vida, durante boa parte da minha vida considerava a sexualidade uma parte perigosa da humanidade e de difícil controle, daí evitava a todo custo me envolver emocionalmente com alguém... Nesse mesmo dia faço um balanço dos aspectos da minha vida no que tange a escola, aos meus colegas...e continuo tendo um sentimento derrotista, achando que não estou estudando o suficiente e julgando meus colegas como uns frívolos... Arrependimentos, terça-feira, 7 de julho de 2005 Um dia, em um almoço no restaurante da escola, a professora de Português falou que alguém que eu suspeitava estava a fim de mim. Era a colega que mais tarde ganharia o concurso de redação do colégio, mas que eu não julgava atraente suficiente para me motivar se aproximar dela. Mas bom, na festa junina do meio do ano foi uma oportunidade de nos conhecermos melhor e vi que ela realmente estava interessada, mas eu, também, como acabou-se se comprovando mais tarde por meio da minha terapia, relacionamento é algo sério e que pesa no orçamento. Mesmo na época eu tendo um salário bom, não me sentia à vontade e capaz de iniciar um relacionamento, um sentimento derrotista acompanhou boa parte da minha vida, como revelaria um psicólogo meu mais tarde. Hoje vejo que foi uma oportunidade perdida, pois caso tivesse envolvido com pessoas positiva, talvez teria dado um empurrão na minha vida para eu trabalha mais cedo, ser mais independente e me conhecer melhor. Mas é apenas uma conjectura e um tipo de arrependimento de lágrimas passadas... Mais uma vez, reclamo do caos da escola...eu creio que tinha um sentido de ordem e uma exigência de harmonia fora do comum por enxergar tanta imperfeição, mas muitas vezes vazias, por ser apenas fatos culturais e não decisivo no bom desempenho de uma escola. Afinal, se as notas dos alunos dependessem só dos professores e das aulas no quadro, aí sim poderíamos dizer que a escola era um fracasso..., mas aprendi muito com os livros...e estudar é afinal uma atividade individual, sendo a sala de aula um guia e um norte para dar direção ao objetivo final que é formar....
  • 22. 15 Talvez nessa época eu fiquei um pouco mais triste e recolhido, e devo ter evitado por arrependimento mais tarde, fazer a viagem para o Rio de Janeiro e visitar um porto de comércio exterior por necessidade minha de isolamento social... Desaforo, sexta-feira, 08 de julho de 2005 Houve um sábado cultural na escola e participei da Oficina de Origami. Devo ter feito um desenho 3D. Lembro que vi uma colega da outra sala passando no corredor. Foi alguém que fiz amizade na viagem a São Paulo com a escola. Ela conhecia bem a cidade e tinha um namorado de lá! Que coisa estranha. Será de igreja ou ela usava já algum bate-papo na Internet para conhecer pessoas de outra cidade e viajar?? Tive gripe esses dias, com sintomas de ressecamento dos olhos e entupimento das narinas. A professora de Biologia parece que estava doente também, pois faltou. A professora de Psicologia abandou os alunos no meio da aula por considerá-los muito afrontosos e indisciplinados. Excesso de euforia da turma e desaforos perante a autoridade do professor repetidos a exaustão durante o ano? Percebi que estava muito focado no negativo e influenciado pela minha saúde não muita boa nesses dias... foi uma semana difícil pelo visto. Grandiosidade, sábado, 09 de julho de 2005 Desânimo bateu em mim e com custo consegui lavar o carro. Uma leve depressão, será? Do nada, uma meta, tirar 10 em matemática e comemorando 1 mês de 17 anos! PT, quinta-feira, 14 de julho de 2005 Um famoso professor de uma escola de linha libertadora e cidadã esteve no colégio. Uma pessoa reconhecida internacionalmente por aplicar um método de ensino para alunos considerado perdido pelo ensino padrão!
  • 23. 16 Depois, foi minha mãe e meu padrasto, encontramos com meu professor de Física. Meu padrasto perguntou se eu era bom aluno, o professor confirmo, mesmo eu tendo ficado de recuperação em Física no segundo ano! Outra coisa que me marcou neste dia no auditório foi o palestrante falar que os brasileiros consideram vergonhoso assumir que não sabem determinado assunto. Isso é postura sábia, saber que não sabe tudo e aqui no nosso país tendemos a falar de assuntos mesmo que não tenhamos a mínima ideia. Também o professor brincou ao passar seu e-mail para a plateia, ele que é português, disse que seu endereço eletrônico terminava com “P.T.” Foi um trocadilho com o Partido dos Trabalhadores, pois estávamos na “Era Lula” e foi um momento de relativa prosperidade econômica no Brasil. Mas o comentário irônico talvez se desse por estarmos num meio burguês que é tradicionalmente contra políticos de esquerda... Timidez e Respeito, sexta-feira, 15 de julho de 2005 Fui ao banco na parte da manhã e devo ter lanchado com meu colega de estágio um combo de sanduíche no fast food mais próximo do meu local de trabalho. Eu e ele competimos quem conseguia comer mais sanduíche e o mais rápido possível. Este meu colega tinha um certo desprezo por mim, como a maioria dos meus colegas de sala, por eu ser muito fechado e não representar o espírito de uma escola que defendia um comportamento de atitude, ousadia, empreendedorismo e coragem! Lembro que em dos primeiros dias de aula da escola meu professor falou para este aluno que se dizia tímido que ele ia tirar a timidez dele na aula!! Contratempo temporal, segunda-feira, 18 de julho de 2005 Arrumei o quarto, na semana passada parece que vi o “Grande Ditador” de Charles Chaplin e este dia vi o filme “Efeito Borboleta”, que brinca com a concepção do tempo relativa e narra como seria o mundo se se pudesse voltar no passado para alterar o presente. No final, sempre que mudamos a linha do tempo, reconfiguramos todo os fatos posteriores e acaba que criamos infinitos tipos de realidades, nunca o futuro se torna o que de fato desejamos. No final, a intenção inicial de ter controle sobre nossas vidas por meio do controle do tempo se mostra em vão.
  • 24. 17 Comento também sobre minha escrita, que preciso melhorar meu português padrão. Uma preocupação importante na época de vestibular, pois na redação se conta muito com a correta ortografia para obter uma boa nota. Hoje vejo isso como uma preocupação ingênua de falsa perfeição da linguagem. Como aluno de Letras sei que ninguém tem pleno domínio da norma padrão e que o povo é o soberano da língua, e afinal, a língua é viva e mutável. Gramática é normativa, nesse sentido mesmo, é uma lei, e muitas vezes, a lei é arbitrária, não científica. Fiquei sabendo nesse dia que parece que meu pai esteve internado. Acho que meu pai interna no hospital psiquiátrico uma vez a cada 2 anos. O caso dele é bem grave, mas desconheço qual seja o diagnóstico. Nunca consegui falar com ele mais de 1 hora por ano! Por fim, pus como meta neste dia ler livros e levá-los para doação em uma possível visita a meu pai no interior, pois ele mora longe da capital. Sofisticação, quinta-feira, 21 de julho de 2005 Fiz uma viagem para a cidade de São Francisco, no norte de Minas. Fui visitar meu pai com minha avó. Vi meus meios-irmãos, todos na pré-adolescência ou entrando na adolescência. Minha meia- irmã gostou muito de mim. Talvez visse um espelho do seu pai, mas mais novo! Senti que meu meio-irmão ficou um pouco com ciúmes de mim, eu estava nadando com meu pai e ele me desafiou a cruzar um espelho de água igual o nosso pai fazia, meio que para provar se eu sou filho dele também, eu devia ser capaz de fazer isso!! Vi um caramujo no lago e meu pai disse para não se preocupar porque não era o Biomphalaria, então não tinha risco de doença. Nesses momentos que pude perceber nesse pequeno detalhe e preciosismo que meu pai teve uma educação sofisticada. Saber nome científico de caramujo? Que excêntrico. Soube que ele começou medicina, depois engenharia civil, mas por questões pessoais e de saúde, problemas psiquiátricos mesmo, não pode concluir nenhum desses cursos... Livros, sexta-feira, 22 de julho de 2005 Parece que agora neste mês de julho me bateu uma certa depressão. Minha mãe me indicou ler o livro “Zen e a Arte de Manutenção De Bicicleta”. Basicamente é um livro de filosofia Zen narrando a vida como uma jornada de autoconhecimento e de aproveitamento do instante. O livro tinha uma
  • 25. 18 assinatura e dedicatória para meu pai. Provavelmente foi um presente da minha mãe para ele num momento de difícil que ele passou na vida... Neste mês também li um livro do vestibular, o “Contos Amazônicos”, que eu me lembre, um livro muito interessante...tinha a história do boto que seduzia as mulheres nos bailes e as engravidavam! Visitas, domingo, 24 de julho de 2005 Uns amigos da minha irmã do norte do estado estão aqui na minha cidade. Saí para comprar o café da manhã e comprei um Nutella. Senti um pouco de remorso e egoísta ao ter que dividir minha Nutella que paguei com meu trabalho com nossos hóspedes. Que comida temperada a que eles trouxeram e fizeram! Carne, muita carne regional e uma típica pimenta ardente para completar. Fomos num jogo de futebol no segundo maior estádio de futebol do país. O time de casa ganhou e teve toda aquela euforia e explosão de alegria com troca de calores humanos que eu não sou muito afoito. Estava mergulhado nos meus estudos de geografia, química e me sentido contido para ter tempo de conversar com os visitantes. Nessa época eu tinha uma ânsia que não podia perder tempo de estudo para o vestibular, me socializando por exemplo, e qualquer conversa fútil e banalidade fora dos estudos me dava repulsa e sensação de perda de tempo. Por fim, nesse dia refleti na partida de futebol e nas gritarias de palavreado de baixo calão da torcida. Hoje e talvez num futuro muito próximo isso não será mais tolerado, igual atualmente é, manifestação racista e jogar objetos das arquibancadas!
  • 26. 19 Dicionário, terça-feira, 26 de julho de 2005 Li o livro para o vestibular “Contos Amazônicos” e o livro de autoajuda e filosofia “Zen a Arte de Manutenção de Motocicletas” ... Nessa época eu lia os livros e anotava na beirada das páginas as palavras desconhecidas para olhar no dicionário mais tarde... Contatinhos, quarta-feira, 27 de julho de 2005 Fui ao estágio, pareci bem atarefado, esqueci de ir à natação. Colegas do setor jurídico do banco vieram me pedir informações e senha de acesso ao sistema da Secretaria da Fazenda do Estado. Elas eram muito bonitas e até demonstraram interesse em mim, mas não dei muita ideia. Lembro que tinha até uma colega de setor que encontrei um dia no ônibus e me achou também em rede social, mas não dei chance para algo a mais. Presente, segunda-feira, 01 de agosto de 2005 Tivemos visita de um casal de professores universitários franceses em casa. Minha avó os levou numa loja antiga de pedras preciosas e tradicional no centro da capital para presenteá-los com algo típico da nossa terra. Foi um presente muito original e valioso, acredito que até marcante e singular. No dia seguinte parece que fiquei deprimido, dormi o dia inteiro, exausto também talvez, fim de ano, vestibular, fechando o ensino médio. Churrasco, sábado, 06 de agosto de 2005 Este dia, sábado, tivemos uma aula experimental de aulas multidisciplinares com vários professores ao mesmo tempo abordando um dado tema na óptica da Química, Biologia e Física. Foi uma certa inovação e trabalho em equipe dos professores. Foi uma tentativa de pôr em prática por parte dos docentes da ideia da fusão entre várias áreas do conhecimento e acabar com a ideia que a ciência se comporta como compartimentos estanques.
  • 27. 20 Fui também pela primeira vez ou uma das raras vezes em um churrasco de um colega. Foi no sul da cidade, num condomínio fechado e luxuoso. O meu padrasto me levou, e por coincidência o meu melhor amigo ia numa festa em um bairro vizinho lá perto. Acabamos nos comunicando e fui com pai dele na verdade. O meu padrasto nos buscou, ele e a mim. O pai de um dos meus melhores amigos na época ficou um pouco irritado e me deixou na porta do condomínio e tive que chamar por celular meu colega do colégio para me buscar na portaria. Acho que ele não acreditava que eu ia no churrasco e não me deu o endereço completo da casa dele!! Bebi cerveja, umas 5. Meio litro de água e cerca de 1 quilo de carne. Tinha quinze pessoas na festa e voltei para casa antes da meia noite. Fiquei muito de papo com o churrasqueiro..., mas no dia seguinte acordei detonado mesmo assim. Festa me cansava na época e me cansa ainda hoje, ainda mais depois de comer e beber muito. Grêmio Estudantil, terça-feira, 9 de agosto de 2005 Faço consulta médica há mais ou menos 1 ano, mas dessa vez, decidi por conta própria interromper o tratamento, primeiro porque a consulta atrasou 30 minutos e eu era muito intolerante com relação a horários, sou uma pessoa que preza excessivamente pela pontualidade para os padrões brasileiros. E depois a médica me recomendou tomar antidepressivo e tomei um susto ao ler a bula e não quis... Erro grasso, pois, fui desabafar com uma admiradora secreta minha por telefone. Uma ligação de 1 hora que me custou uma pequena fortuna! Reclamo do caos que percebo ser minha escola pela milésima vez. Cito no meu caderno que meus colegas parecem estar perdidos, sem saber o que querem da vida. Eu lembro um professor falando que tem gente que está na escola e nem sabe o motivo... No terceiro ano houve uma organização, principalmente dos alunos do 2º ano para fundar um grêmio estudantil. Houve uma mobilização da escola inteira, para votar, fazer estatuto, mas uma colega minha me disse uns anos depois que o grêmio não foi para frente.
  • 28. 21 Cidade de um Famoso Escritor Mineiro, segunda-feira, 15 agosto de 2005 Churrasco dos colegas do banco será? No mais, entrei para o time de futebol do banco, comprei camisa preta da equipe e até cheguei a emprestar para um colega em um dia que não fui jogar! Viajei para a cidade de um dos mais famosos escritores do homem de campo brasileiro. Fui com minha avó, irmã e mãe provavelmente. Amo conversar com minha avó, sobretudo, ela é muito boa de conversa. Minha mãe, creio que foi dar uma assessoria em museus na cidade em questão, pois lá estavam sendo organizada a um espaço cultural com exposição e galerias. Mãe deu uma palestra em que o mestre de cerimônia leu todo seu currículo. Grande currículo com doutorado em Paris. Dinheiro próprio, terça-feira, 16 agosto de 2005 Dores na coluna. Professor de História reclamou que não ia conseguir cumprir o programa se a turma não cooperasse e interrompesse a aula tempo todo com conversas paralelas pelo visto. Estou com alguns pensamentos obsessivos, principalmente ligados a sexo. Estou pagando minha formatura, vai ser um festão em um dos maiores arranha-céus da maior avenida da cidade e com banquete completo. Eu que paguei a formatura toda e uma ou duas mensalidades do colégio com minha bolsa do estágio no banco. Minha vida nesta fase tem sido de muito trabalho. Injustiça, sexta-feira, 19 agosto 2005 Narração do meu estado aflitivo, incertezas quanto ao meu futuro, contradição entre o discurso de uma instituição que se propõe ser empreendedora, humana e meus colegas que pensam mais no momento, aproveitar o instante. Meu padrasto escondeu o sorvete hoje no almoço porque estava comendo muito... Amiga da minha irmã veio lá em casa e achei ela muito atraente. Na aula de espanhol vimos um documentário sobre da maior rede de televisão do país, um jornalista britânico estava falando da manipulação da mídia para controlar o rumo do país e os anseios da população em épocas de eleições estavam sendo analisados.
  • 29. 22 Neste dia reflito sobre meu passado e começo a ter pensamentos de culpa e vergonha de lembranças da minha infância. Uma vez meu padrasto falou que bati numa filha de uma amiga dele e me puniu por isso injustamente. Me senti muito mal por isso e foi um ponto da minha vida que perdi de certo modo e de forma irreversível a confiança que tinha nele. Acreditar numa visita ao invés do próprio enteado? Abuso né. Também me recordei uma vez lá pelos anos de 1995, um vizinho veio reclamar que alguém manchou o carro dele com marcas de mãos e meu padrasto suspeitou que fosse eu e minha irmã e quis nos testar para ver se era nós mesmo para nos punirmos ao invés de nos defender... Também lembro quando tinha uns 3 anos, ele me acordou de madrugada para me dar umas palmadas e eu nem sabia o motivo... E por fim, a última reminiscência que tenho mais forte desses conflitos foi quando minha tia arrumou um imbróglio com ele na justiça e tive que fazer um depoimento na Justiça e minha irmã me forçou a mentir para o conselho tutelar me dando um beliscão e me censurando na hora que eu ia me manifestar afirmando que ele nos batia, respondendo à pergunta da juíza. Mudando de assunto, teve um dia que contei para minha médica que estava indo na consulta e uma criança entrou no ônibus para vender bala e lhe perguntei algo banal e ele respondeu com palavrão menos não conhecendo-o! Mas a resposta não foi de ofensa, mas de hipérbole, do tipo, é difícil vender bala? E ele, “pra caralho”.
  • 30. 23 Na megalópole, sábado, 20 de agosto de 2005 Reclamo de um zumbido na cabeça, provavelmente alguma música ou barulho que “toca” sem parar na minha cabeça... Julguei meu padrasto narcisista nesse dia que fomos almoçar na casa de vó pois ele reclamou que o som da casa estava muito alta e incomodava-lo pelo visto. Hoje parece que fomos num show da Orquestra Sinfônica no maior centro de convecção público do estado. Nos dias 22 a 25 de junho fiz uma viagem a maior cidade do país com a escola. Eu paguei a vista pelo visto e fiquei cobrando o recibo dos organizadores do evento que não me entregaram o tal do recibo nunca e isso me deixou muito invocado, vá que mais tarde a organização fala que não paguei a viagem!!! Fomos na sede de uma empresa nacional de franquia de viagens de turismo com o Professor de Logística. Lembro que fiz uma pergunta sobre como a empresa organizaram a documentação, notas fiscais, comprovantes de pagamentos, já que era uma empresa grande e havia grande fluxo de papelada etc., e a resposta que obtive da gerente é que foi um desafio! Frustrante... Depois fomos na fábrica de uma das maiores fabricantes de cosméticos do planeta. Lugar sensacional. Tinha um mural das vendedoras com frases motivacionais. Tinha uma creche lá também. Colega meu cheirou um frasco colorido de líquidos químicos que um farmacêutico estava carregando no caminho. Visitamos o setor de estoque, todo automatizado e robotizado. Incrível. Em seguida fomos na mais conhecida avenida do país, na sede de uma associação de empresários, e assistimos a uma fala de uma secretária do órgão. Eram duas loiras muito lindas e encorpadas. Nos deram algumas dicas de turismo, como comer um sanduíche típico regional, nos
  • 31. 24 falou favoravelmente de um famoso economista da época da ditadura e que era um membro honorário da associação. Também nas explicações que ela dava sobre a instituição, repetia o chavão “diabo a quatro”. Tal coisa é diabo a quatro, e este foi um comentário de um colega nossa na volta da viagem. A noite fomos numa churrascaria luxuosa, sentei-me do lado do Professor de Gestão Empresarial e ele me perguntou o que estava achando da viagem e das minhas companhias. Disse que tinha ido na véspera num show da Orquestra Sinfônica enquanto meus colegas corriam para ver um show de funk...feminismo empoderado nascendo aí... Fomos na Bolsa de Valores, numa época que já não havia muito a figura do trader gritando no balcão. Mas já na Bolsa de Mercadorias e Futuros havia a figura dos corretores. Tivemos uma palestra sobre investimento. A cultura de investir em ações devia ser ampliado no Brasil, disse a palestrante. Que a bolsa não é nada de errado ao se especular, que vivemos especulando, que é simples operação de compra/venda. Um colega nosso nos perguntou sobre a abertura de capital de uma companhia aérea e porque o preço foi tão inflado. Hoje sei que ele queria saber porque não existe uma relação direta entre o preço de equilíbrio e o real. A palestrante que era uma japonesa, simplesmente falou que a bolsa reflete as expectativas do mercado... A Professora de Recursos Humanos ficou puta com a palestrante japonesa porque ela atrasou demais o início da apresentação, creio que ela estava esperando o companheiro dela e acho que minha professora achou isso um tipo de machismo e subordinação inaceitável, ainda mais ela, alguém acostumado com a lida de organizações corporativas. Mas mercado financeiro é o mais tradicional de todos né, então, compreensível, e nós erámos meros estudantes menores de idade!.... Por fim, fomos assistir uma palestra sobre ecologia em um grande banco privado, em que uma cientista dizia que a água ia acabar. Perguntei como é possível a água acabar no Brasil se temos
  • 32. 25 a Amazonia, e ela disse que segundo pesquisas e um instituto famosão lá, há risco de água acabar, acabou que não convenceu e meus colegas riram da minha pergunta e da minha intervenção no auditório...A professora que estava nos guiando também reclamou da logística porque o banco ficava em local meio afastado e de difícil manobra para o ônibus e soltou uma “que parecia programa de índio”. Por fim, a viagem terminou a turma indo para um famoso parque de diversões e eu tirando várias fotos lá, indo no bangue jump com amigos da minha outra turma da escola. Foi uma viagem agradável. Mais tarde quando fui revelar as fotos descobri que meu filme da máquina fotográfica estava velho e queimado...não tenho registro de nenhuma foto desta viagem... Ah...a diretoria falou que não se poderia beber na viagem, mas pessoal bebeu sim e teve até um dia aí que teve rodada de maconha... Depressão menor, quarta-feira, 7 de setembro de 2005 Dia da Independência do Brasil, à custa de alguns milhões de libras, melhor que uma guerra, como foi no caso dos EUA e outras países, ou ainda como no continente africano.... Um pouco depressivo, sem vontade de estudar e com preguiça. Mas isso é até normal, lembro que um terapeuta anos mais tarde me disse mais tarde que ninguém gosta de estudar, e que se deixar, as pessoas se tornam cada vez mais acomodadas... Participação, quinta-feira, 8 de setembro de 2005 Meu padrasto me levou para o colégio e conversou sobre futebol. Enem está marcado para em breve. Digo que não gosto de conversar nos intervalos das aulas, preferindo ler livro ou ficar preso nos meus pensamentos, como se diz, sonhando acordado. Lembro que boa parte da minha época do colégio, sentava eu mais três colegas no meio de pátio e nenhum de nós conversava um com o outro, ficamos apenas olhando para frente o movimento da escola... Reclamo do excesso de barulho de novo na volta a aula de espanhol. Brasileiro é um povo barulhento mesmo. Barulho sempre me irritou. Na aula de espanhol meus colegas não levavam muita a professora a sério por ela ser muito nova, devia ter uns 20 anos, inclusive teve um dia que ela teve que falar palavrão para pôr ordem na turma e impor respeito...
  • 33. 26 Depois foi a vez de aula de inglês. Só lembro que a professora machucou o pé e estava trabalhando com uma pantufa. Na aula de Gestão de Pessoas a Professora leu as notas da turma em voz alta...constrangimento público, antiético? Enfim, na aula de Português aprendi uma nova palavra...maquiavélico...parece que esse dia criei coragem e perguntei em voz alta para professora o que era aquilo! Documentos, segunda-feira, 19 de setembro de 2005 Na minha época de colégio eu usava pochete. Sempre andei com os documentos, cartão do ônibus e algum dinheiro para algum imprevisto. Sobrecarregado, sexta-feira, 23 de setembro de 2005 Ontem teve penni italiano na janta. Hoje, indo ao estágio, almocei no restaurante chines perto do banco. Vi um filme de comédia, joguei ping pong e estudei. Um colega da sala vai dar uma festa, mas não vou por conta das tarefas. Várias festas e convites para ir em festas e recusei...Tenho vários interesses em garotas, mas sinto que seria impossível conciliar um namorico com tanta tarefa que tenho de fazer na minha escola. Corruptela nossa de cada dia, domingo, 25 de setembro de 2005 Fiz Enem, devo ter tirado média de 700. Vistas cansadas de tanto ficar acordado lendo. Um detalhe e uma anedota do Enem. Fiz em um colégio famoso em bairro de classe média tradicional, relativamente perto da minha casa. No dia da prova, a coordenadora de exame da minha sala estipulou um prazo de espera maior que o edital, então ao invés de começarmos a prova com tolerância de 15 minutos de atraso, ficamos mais de 30 minutos esperando possíveis retardatários e tivemos menos tempo para fazer a prova... corrupção nossa de cada dia e eu não ia esquentar a cabeça com ela reclamando em pleno exame...
  • 34. 27 Tô nem aí, quarta-feira, 29 de setembro de 2005 Hoje refleti que meu estágio é insignificante. Me sinto alienado em fazer trabalhos burocráticos, tabular dados em planilhas do sistema de informação do banco. Sem motivação e entediado. Reclamo também que na escola e entre meus colegas parece não haver um incentivo e estímulo para se estudar. Estudar é visto com algo ruim, negativo, perda de tempo e conhecimento estéril. Nas aulas, uma bagunça, 90% da turma não participa e nem presta atenção na aula. Decidi frequentar a biblioteca da escola para fazer leituras que enriqueçam minha bagagem cultural e meu conhecimento enciclopédico. Pecado, Sábado 1 outubro 2005 Devo ter masturbado e estou aqui com remorso de tê-lo feito. Um pecado e gasto de energia e um prazer secreto e incontrolável que me desvia o foco dos estudos. Falta de esclarecimento meu na época. Sentimento de vergonha e possível sensação de depressão e falta de prazer nas coisas quotidianas. Hormônios, domingo, 2 de outubro 2005 Tento controlar meus impulsos sexuais e me prometo que não repetirei meus pensamentos libidinosos para focar nos estudos e leitura. Certo remorso e vergonha de mim mesmo. Possível sinal de depressão, sensação de culpa e incompreensão da minha própria natureza biológica.
  • 35. 28 Parabéns, terça-feira, 4 de outubro 2005 Fomos em uma famosa e luxuosa Faculdade de Negócios da cidade para fazer um tour nas instalações, localizada uma das maiores avenida da cidade, e em um dos edifícios mais altos da região. Acomodação de primeiro mundo, poltronas confortáveis com estofado acolchoado e ar- condicionado. Fizemos um torneio de negócios onde tínhamos que simular uma empresa de vendas de alguma coisa, como bicicleta. Decidimos o quanto investir em tecnologia e marketing e o professor colhia as informações e decidia o vencedor da rodada. Infelizmente a tarefa era em grupo e minha equipe não ganhou a competição! Meu padrasto fez um discurso de paternidade comigo. Provavelmente era forma de aumentar o ego dele por ter um enteado que formou em uma escola de elite e que ele contribuiu para tudo isso desde que nasci...Não dei a mínima para fala, apenas abanei a cabeça e fingi que concordava, nunca tive plena confiança nele. Virgem, quarta-feira, 5 de outubro 2005 Reflexões sobre as garotas que se interessam por mim no colégio. Uma média de uma e meia por ano e eu na minha covardia, medo e ansiedade não tive coragem de abordar nenhuma e perdi a chance de na minha adolescência namorar. Lombalgia, sexta-feira, 30 setembro 2005 Dores na lombar. Falei com a fisioterapeuta do banco e ela me pediu para encaminhar a demanda de uma cadeira ergonômica para o setor de manutenção do banco. Meu pedido nunca foi atendido e nunca obtive resposta. A fisioterapeuta foi até simpática comigo e me deu o nome do responsável. Estou pagando os anos que fiquei sentando-se na frente do computador jogando por horas a fio videogames e até alta madrugada com menor produtividade no meu estágio...
  • 36. 29 Desistir é não lutar, sábado, 22 outubro 2005 Viver é lutar, dureza, muito sacrifício, vejo um peso enorme. Mãe sempre falou que a vida é difícil, mas para mim só é um pouco mais difícil, mas não impossível. Reclamo de novo de dores nos olhos. Eu mesmo, sexta-feira, 28 outubro 2005 Sarau literário na escola. Ensaie uma peça de teatro com o tema “Construção”, uma homenagem a Chico Buarque, com o colega da minha sala que nutria mais antipatia por mim. No fim, meus colegas que tinha uma visão preconceituosa a meu respeito foram me admirando, pois ganhei concurso de poema, passei na seleção do estágio mais concorrido da escola e só faltou ser aprovado em uma grande universidade de prestígio ainda no final do ano! Um professor meu falou que adulto enfrenta seus problemas, já o adolescente posterga. Mais tarde uma terapeuta minha falou muito isso, que diante dos problemas eu paralisava, reclamava, resmungava, ao invés de encarar e confrontar, não ficar passivo...como se diz, comportamento aprendido, não me perguntem de quem e por convivência de quem... Na escola me sentia muito oprimido e desrespeitado, porque eu entendia a educação empreendedora e cidadão como um desejo e proposito de a escola engajarem os alunos a terem tolerância uns com outros, participarem dos projetos, respeitarem os professores, perguntarem ativamente nas aulas. Mas eu, com baixa autoestima, não externalizava isso e guardava para mim o rancor e inimizade com meus companheiros de classe. Tinha uma sensação de vergonha, também advindo dos meus desejos sexuais...eu tinha uma fixação de acanhamento pelo próprio afloramento da minha sexualidade e uma contínua negação que eu era um ser sexuado. Listei uma série de características minha e me impressiona hoje com a precisão das descrições, concordo com quase tudo hoje, 15 anos depois e creio que alcancei boa parte das minhas pretensões de desenvolvimento pessoal. Dizia eu na época que era educado, pontual, esforçado, perfeccionista, ouvinte, observador, frio, exigente, idealista, estudioso, silencioso, acanhado, ansioso, amargoso e queria me tornar mais comunicativo, sociável, prático...
  • 37. 30 Não é quase garantido, sábado, 29 de outubro de 2005 Reclamo de dor de cabeça. Deve-se por causa de ficar 4 horas por dia numa tela de tubo de raios catódicos no banco e extremamente focado...Tenho pensamentos obsessivos e invasivos que na época julgava ser alucinações. Sintomas de TOC? Culpava meu consumo que julgava exagerado de pornografia na época... Tenho ótimas recordações de um professor de Química que ensinava de forma contextualizada e com uma didática relacionada ao cotidiano dos alunos... Me proponho trocar meu tempo que considero morto por tempo de leitura, uma atividade que considerava mais nobre e evoluída. Penso no como é bom sentir atração sexual por alguém, mas ao mesmo tempo angustiante diante da dúvida de ser ou não correspondido, ou seja, tinha um forte medo de rejeição e me arriscar em um relacionamento! Gay, sábado, 12 de novembro de 2005 Discuto meu tesão por mulheres e como é incontrolável, mesmo assim seguro racionalmente meus desejos e mostra externamente ser alguém sem atração sexual. Hoje lembrei uma das últimas vezes que abracei meu avô e não sei por que perguntei quando ele ia embora e ele falou que vovô nunca morre. Ficou passando um filme de todas as meninas que já tive atração, desde a 1ª série, ou até antes, pré escola, mas claro, nada sexual, mas uma admiração pela beleza do ser do sexo oposto. Faço a contagem de todas as garotas que eu tive afinidade, uma 10, mas nunca tive nenhum contato íntimo com nenhuma, fui bem orientado a não invadir corpo de ninguém e ter pudor da propriedade corporal. Mais recente, teve uma festa de uma colega aqui no bairro. Por coincidência encontrei uma colega bonita de uma antiga escola minha e a garota que estava a fim de minha do meu colégio atual estava lá também. Me morri de medo e fingi estar interessado e ser íntimo da garota do meu antigo colégio e assim escapar de manobras de meus colegas de tentar aproximar eu do meu cupido atual. Consegui com proeza evitar um potencial contato...Um amigo da minha escola falou que a
  • 38. 31 garotinha da outra sala do meu colégio técnico estava a fim de mim e porque eu não chegava, fiquei sem resposta e ele me disse, você é gay né... Meditações Internas, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2005. Agradeço por ter um lugar para estudar e ter certa motivação em querer me dedicar tempo para leitura e aprimoramento dos meus conhecimentos. Mas creio que escrevi isso com algum ódio porque na verdade devia estar pensando em como sou facilmente distraído pelas cantorias da minha irmã, os latidos dos cachorros dos vizinhos e as festas surpresas que sou obrigador a ir com minha família só para marcar presença... A solução que achei neste ano foi comprar um tampão de ouvido, pois de fato, minha irmã ouve música alta na rádio e meu quarto é do lado dela. Não há isolamento acústico na casa, dá para ouvir os barulhos da rua, as janelas são muito frágeis e até os pulos que minha irmã dá no quarto eu ouço quando ela dança. Preciso de silêncio para estudar e me concentrar, sou assim, extremamente irritável e sensível. Me culpo por me masturbar e ter impulsos sexuais e fico no limbo por não ter ninguém com quem discutir isso ou ler a respeito. Nessa época, um livro que me ajudava a tirar muitas dúvidas existenciais, era o livro de Filosofia do primeiro ano do colégio. Era um manual que abordava várias questões que afligiam o ser humano, como conhecimento, ética, política, estética...
  • 39. 32 O “Vestibular”, domingo, 26 de fevereiro de 2006 A escolha da faculdade se dá pela busca das áreas de interesse. Hoje acrescentaria que o que gosta também. No terceiro ano me interessei por Sociologia, Antropologia, Filosofia, Geografia, Biologia, Literatura. Descarto Música, por falta de conhecimento prévio. Na época descartei Letras, por não me julgar um bom comunicador. Algo que envolvesse Psicologia, História, e que demandasse reflexão teria um ponto ao meu favor. Artes Visuais, Desenho, Escultura, Gravura, Cinema, me julgava muito iniciante nisso. Teatro, me julgava muito tímido para ser ator. Turismo, via como pouca perspectiva financeira trabalhar como guia turístico e não me chamou muita atenção, falando grosseiramente. Geografia, trabalho de campo, sei não. Até aí, o que julgava que seria um curso bom para mim seria Física, Química, Filosofia, História..., sou mais a fim da área de Humanas, nada muito prático, muito menos Matemática, ou algo que envolvesse tarefas muito sociais. O que para mim parecia algo decisivo era a grade obrigatória para decidir o curso. Direito, muita leitura... Jornalismo, cai na mesma da área de comunicação. Estatística e exatas em geral... sou mediano com números. Contabilidade, não tive uma boa experiência no colégio...
  • 40. 33 Arquitetura era uma opção. Assim como me pareceu Administração. Filosofia também pareceu uma boa ou quem sabe Psicologia também... Resumindo, nesta data o que me chamava atenção era Economia Brasileira, Urbanismo, Antropologia, Filosofia, Psicologia, Robótica, Neurociências...assuntos em voga nas palestras das mostras das profissões da universidade. Rotinas, quarta-feira, 12 de abril de 2006 Comecei a fazer um pré-vestibular. Matriculei por um ano. Foi um ato meio que de rebeldia porque tinha certeza de que meu colégio não respeitou todo o programa do MEC para educação de ensino médio. Assim como foi no meu ensino fundamental em que tive de complementar meus estudos com cursinho para tentar passar em seleções de escolas técnicas de segundo grau. Senti traído pela escola por não passar todo conteúdo básico que o Ministério da Educação exigia... Acordei cedo para estudar mais, mas o sono foi maior. Sono é crucial para funcionamento da mente e da saúde...Acordei, comi o tradicional sucrilho com leite, lavei os pratos... minha função na casa. Ainda estou usando pochete e calço um tênis velho, um jeans e óculos de grau. Fui de ônibus para o cursinho. Fiquei aflito em saber se o trocador ia me dar o troco certo da passagem, uma insegurança que carrego comigo em questionar erros ou malandragens alheias por falta de confiança em mim mesmo, ou até autoestima, diriam alguns... Coloquei o tampão no ouvido porque o ônibus é muito barulhento e fui estudando sentado no caminho até o centro da cidade. Li uma revista de viés de esquerda. Desci correndo do ônibus, olhei para uma mulher linda e ruiva lá com um olhar constrito. Tirei o tampão ao pisar na rua e aquela barulheira estridente dos ônibus do centro da cidade. Qualidade de vida passa longe no nosso país. Muita poluição sonora. Depois em ritmo frenético fui até o cursinho, desci perto da praça mais central e movimentada cidade e caminhei por uns 15 minutos até o local do curso preparatório. Aula de hoje foi de Química e houve algum quebra-gelo entre alunos e professores. A diferença aqui é gritante com relação ao colégio. Todos focados em estudar e prestar atenção na aula...Acabei o dia me masturbando... No mais, faço uma pequena reflexão sobre minha autoaceitação, menos medo, ser mais sincero comigo, ter mais amor-próprio, agir mais na vida ou tomar mais atitude, menos receios de falar e de me expor....
  • 41. 34 Expectativas, quarta-feira, 15 de novembro de 2006 Li uma coleção de livros sobre erotismo, finalmente depois de algum tempo sem entender meus impulsos sexuais. Porém, se por um lado me explicou que desejo sexual é natural, por outro, não respondeu à questão do amor nem da atração por outras pessoas...afinal o que é amor é uma questão bem complexa. Falta 45 dias para o vestibular de 2007 na principal universidade da minha cidade e minhas maiores ânsias é ir bem em Literatura e Geografia. Nesses últimos dia naveguei no site de uma escola de educação alternativa, uma escola que busca formar ser humanos, não técnicos nem empreendedores... Minha libido tem diminuído e tenho me interessado por Filosofias de Esquerda, como Marxismo e pensadores Progressistas, como Rubem Alves. Quero entender mais de Arte e estou animado com minha entrada na faculdade, sem eu saber naquela época que o mais difícil era formar e não começar a faculdade. Reclamo da minha família, julgo minha irmã uma patricinha, meu padrasto um gordo e minha mãe uma ególatra...pensamentos de percepções por meio de minhas sensações e sentimentos, nada muito elaborado e justificado. Sobre a formatura de 2005 no colégio técnico: a oradora falou que a vida começa agora e que é um absurdo termos um país em que a classe média fica trancada em suas casas enquanto os bandidos estão a soltos na rua e há corrupção por todo lado... Pensamentos diversos, segunda-feira, 1º de janeiro de 2007 Lá vem eu me culpando de novo por minha libido alta... Hoje parei para refletir que não tenho amigos. Um colega meu me disse isso uma vez no segundo ano, que eu não tinha amigos, além de ser boca-virgem, ou seja, me detestava, ou foi grosseiro ou foi honesto e cruel comigo ao mesmo tempo... Idealizo que meus colegas e amigos deveriam ser pessoas super escolarizadas para me entenderem e terem papo comigo.
  • 42. 35 Decido que serei marxista, não sei exatamente por que, mas gostei do Marxismo e a proposta de distribuir riqueza e de todo os homens serem iguais e satisfeitos em suas vidas. Pregar o bem, quase uma pregação de Jesus modernizada. Também coloco como meta adquirir bastante cultura, pois desenvolver meu intelecto é minha prioridade. Tenho uns pensamentos catastrofista, de fim do mundo, com a crise final do capitalismo, o fim do petróleo...uma certa herança do milenar pensamento apocalíptico do ser humano e dos fins dos tempos... Meu tio falou que os imóveis da minha avó me davam prejuízo, vindo dele, um famoso picareta, talvez ele tenha dado algum golpe e tenha posto a culpa na sogra... Uma prima chamou minha irmã de patricinha...uma pessoa próxima da minha infância me olhou com certo pesar ao não ter expectativa em fazer faculdade numa federal. Dei para ela todas minhas apostilas do cursinho para ajudá-lo. Nunca soube se ela fez proveito do material... Assim como dei um livro do Monteiro Lobato para uma amiga estimada de infância e nunca tive oportunidade de discutir com ela sobre o livro... Me bateu uma certa desesperança nesse dia, sensação de fim de mundo e uma certa dificuldade para dormir. Vontade de me isolar socialmente. Comemorei internamente a vitória do presidente Chaves na Venezuela, sem saber o caos que este país vinte anos mais tarde estaria advinda das políticas voluntarista deste mesmo político. Vi um documentário sobre a redistribuição forçada da riqueza na Venezuela sem reforma das estruturas sociais daquele país. Uma receita para a derrocada econômico, político e social. Tortura, segunda-feira, 19 de março de 2007 Entrei na maior universidade federal do país, no curso de Economia. O comportamento da minha turma é exatamente o mesmo dos meus colegas do meu colégio de negócios. Também o perfil é o mesmo. Classe média e média alta oriunda das melhores escolas particulares da zona sul da minha cidade. Infelizmente, o curso é muita matemática, uma escolha infeliz. Pensei que a grade com dois anos de obrigatória fosse tolerável, mas o curso é muito puxado e estou estudando mais que na época do cursinho, temos que tomar muito café e estudando a tarde até 22h da noite todo dia. Minhas férias e feriados são usados para antecipar ou repor conteúdos de estudos atrasados. É um curso
  • 43. 36 inumano, insano. Somos alunos monges, só estudamos e fazemos mais nada, não tenho tempo para lazer de tanta pressão para cumprir meta de tarefas e leituras da faculdade. Ainda no primeiro semestre não podia ainda dizer que a escolha de Economia se deu por prestígio e orgulho. Mais tarde se revelou uma opção pelo sofrimento, não bastasse meu quadro de ansiedade e depressão que veio a se intensificar e florescer mais tarde no meu intercâmbio acadêmico nos anos finais da minha graduação. Estou fazendo a disciplina de Cálculo e parece que só existem duas notas, ou um ou zero. Agora reflito que na vida, grande parte é esforço e uma parcela mínima é vocação...nota é resultado, como me disseram no cursinho preparatório para entrar nas escolas técnicas anos atrás. Nessa época acreditava fortemente no critério meritocrático e dispensava algumas variáveis culturais, sociais e materiais. Acreditava que todo mundo poderia ser o que quisesse. Nessa época me pus como meta estudar 2 horas por dia de matemática... Disciplinado, sexta-feira, 30 de março de 2007 Cansaço. Meus colegas são uns burgueses. Também, escola de Economia com perfil de alunos da zona rica da cidade, não ia ter operário e filhos de domésticas, apesar de eu ter visto pelo menos um aluno negro e um outro de lar mais simples... Meus colegas conversam sobre reality shows, logo eu que não dou a mínima para voyeurismo televisivo, churrasco, festas, bebidas, narração de embriaguez como se fosse o suprassumo da felicidade. Juventude despolitizada, preocupada com a próxima festividade, futebol ou então como ganhar dinheiro, fazer concurso após formar, entrar para o Banco Central, como uma colega minha estudiosa me disse no começo da faculdade. Já tive uma colega que no final do semestre vai mudar para o curso de Letras. Ela me falou que gostava da parte exata e de línguas também. Me fez umas perguntas em francês. Meu foco são os estudos e não darei a mínima para socialização, não vou em festas, assim como fiz boa parte do colégio, escola é para estudar, não para fazer amigos, era meu lema... Sofisma, quarta-feira, 27 de agosto de 2008 No segundo semestre do curso de Economia já tinha decidido internamente a mudar de curso. Achei o curso frustrante e muito exaustivo e não via muita perspectiva ou para onde a graduação
  • 44. 37 de Economia poderia me levar...Fiz o vestibular para Filosofia, em uma espécie de resgate dos meus interesses com base em meu perfil e histórico de indagações que sempre fiz a respeito do mundo. Fiz a prova de Língua Estrangeira de Francês. Lembro que a aplicadora da prova era uma loira no dia. Mas por algum motivo, desisti de entrar no curso de Filosofia ou fazer a prova final de redação em Filosofia. Nem sei se tinha me preparado para tal e estudado. Sei que fiz isso meio que escondido e nem avisei direito minha mãe. Considerava na época que o curso de Economia era muito acrítico e que na Filosofia eu poderia pensar de forma mais lógica, pois na Economia se resumia em construir modelos econômicos baseado nos agentes racionais iguais programas de computador. Uma premissa logicamente falha e sem dúvida muito irreal, até diria enganadora. Como fundar uma ciência moderna com base em premissas sabidamente falsas? E o pior, como se ensina isso oficialmente em pleno ano de 2005? Todo o avanço da Psicologia no século XX e de estudo da racionalidade humana e seus limites e eu aqui, numa universidade que sistematicamente ignora isso por amor a ideologia do dinheiro? Este ano me envolvi com muitas leituras na Internet, principalmente de jornais de esquerda mais extremista sobre a crítica da sociedade capitalista. Eram leituras viciantes e até prazerosas. Me dava felicidade em saber que o mundo ia acabar. Nutria também uma esperança que a sociedade ia mudar por si só, porque o capitalismo é um sistema falido. Jogava todas minhas frustrações no sistema. Finalizo o ano, repensando em mudar minha relação com minha mãe, como melhorar, como haver mais comunicação. Também penso em dar uma chance para desenvolver amizades e por fim resolver minha questão de ter uma namorada, o lado afetivo, sexual. Fecho meu diário de forma bem conservadora, pondo como meta formar em Filosofia e seguir carreira diplomática, coisa que minha irmã mais tarde tentaria e meu orientador de monografia na Economia igualmente afirmaria anos mais tarde. FIM
  • 45. 38 Sobre autor.... Rhezus Moreno é um pseudônimo de um aspirante a escritor mineiro e morador da capital deste mesmo estado. O autor prefere manter o anonimato para não causar muito com sua obra! Mas adiantando e desvendando alguns mistérios, ele é um universitário em último ano de graduação do curso de Letras, quase conclui o curso de Economia e tem formação em Gestão de Negócio em uma escola técnica da cidade onde reside. Morou na França por meia década, em um momento crítico da sua vida, pois acabou sendo alfabetizado no exterior e forjando em sua personalidade a imagem de uma cultura amada pelos brasileiros, mas ao mesmo tempo demasiada glamourificada, segundo o próprio autor. É uma pessoa séria, focada e enfrenta questões de saúde mental desde a adolescência e por isso almeja tornar explícito em seu livro a possibilidade de uma pessoa com quadro de ansiedade e depressão e até mesmo euforia, vencer tais limitações e ter uma vida produtiva e funcional, mesmo com grandes dificuldades e adversidades, como é a vida para todos nós! Espero que você tenha uma ótima experiência com meus escritos. Um forte abraço!