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Manuel Alberto Rodrigues
Televisão educativa e atitude
face aos efeitos resultantes da
exposição a mensagens
televisivas
UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA SOBRE O EFEITO DA TERCEIRA-
PESSOA
Lisboa, 2008
2
“....é em torno da televisão, o principal dos media, que o debate público se
encontra menos organizado, mas é substituído por uma extrema ambivalência de
atitudes em relação a ele próprio. Uma cadeia de televisão transforma tudo em
espetáculo e, muitas vezes, procura apenas aumentar a sua quota de mercado,
mas traz também a cada casa, rostos, palavras e gestos que tornam próximos
seres humanos distantes de nós. A comunicação de massas, qualquer que seja o
seu conteúdo, político ou factual, dá por natureza o primado à comunicação e,
portanto, ao impacto em detrimento da mensagem, ideia que McLuhan foi o
primeiro a exprimir e que os profissionais da televisão adotaram claramente,
quer aprovem ou não esta transformação do media no seu próprio fim, nada
permite, porém, crer que o público seja atraído apenas pela violência, pelo
dinheiro e pela estupidez. A sedução dos programas mais fáceis que reduzem os
espectadores a um papel de meros consumidores, não é, felizmente, bastante forte
para eliminar o seu contrário, o efeito de expressão, de revelação daquilo que
nos é distante ou próximo, mas que se nos impõe bruscamente, com o seu peso
de interrogação e de participação.”
Alain Touraine
In Crítica da Modernidade (p. 291-292)
TELEVISÃO OU NÃO
- Desliga a televisão – disse o pai.
- Vai lá para fora e vive a vida.
Fui e à noite vim
com uma abelha na orelha
um rato no sapato
cola na camisola
giz no nariz
gafanhotos nos bolsos rotos
um escaravelho no joelho
uma formiga na barriga
um leão pela mão
e atrás um camelo a puxar-me o cabelo.
- Não vás mais lá para fora – disse o pai.
- Liga a televisão.
Luísa Ducla Soares
In A Gata Tareca e Outros Poemas Levados da Breca
3
RESUMO
Neste estudo faz-se um reposicionamento dos estudos acerca dos efeitos da televisão,
trabalhando sobre o conceito da hipótese da terceira-pessoa, segundo a qual o indivíduo
ao ser questionado sobre os efeitos negativos da televisão, atribui ao outro a possibilidade
de sofrer esses efeitos mais do que ele. O teste empírico da verificação da hipótese foi
efetuado através da aplicação de dois tipos de questionários de atitude do tipo Likert. Os
resultados confirmaram a hipótese do efeito terceira-pessoa através das atitudes dos
inquiridos, embora com valores relativamente baixos. O estudo testou ainda as atitudes
sobre a televisão como auxiliar educativo que se vieram se confirmar muito positivas.
Palavras-Chave:
Atitude, televisão, educação, televisão educativa, terceira-pessoa.
4
1. Introdução.
Este trabalho de investigação teve como ponto de partida uma conferência
efetuada pela jornalista da RTP Fátima Campos Ferreira, subordinada ao tema,
“Telecracia: a Sedução da Televisão”, que conduziu a uma reflecção sobre a problemática
da perceção que temos da televisão e de como consideramos o efeito que causa nos outros.
A poderosa influência persuasiva que os meios audiovisuais exercem sobre as
grandes audiências é um fenómeno que tem transformado a fisionomia do poder político
e da “educação pública”. A televisão é o vetor do marketing da política contemporânea,
sendo uma indústria de transformação da sociedade e da consciência, tornou-se numa
telecracia1
, num superpoder mediático e numa nova globalização da política.
Kerckhove (1997:275), aluno de McLuhan e seu seguidor, afirma que a telecracia
é uma realidade que não é partilhada por todos e é construída em nome de todos. A
telecracia passou a influenciar a própria democracia. Poder-se-á dizer que é a opinião
pública quem determina as posições políticas, e isso já seria grave, porque uma política
autêntica (não apenas do ponto de vista da governação) deve ter um projeto a concretizar
independentemente das opiniões momentâneas. Mas, ainda mais grave, é quando já não
se percebem as diferenças entre factos e opiniões, ou quando, por meio da manipulação
contínua das imagens, as verdades são transformadas em opiniões. É, deste modo, que
um sistema de comunicação de massas, como a televisão, se torna instrumento de poder
aos níveis, político, social e publicitário, favorecendo a instauração de uma conceção
puramente processual de democracia. Apesar dos factos, vence quem conseguir
influenciar o maior número de pessoas.
1
Sistema que pode governar virtualmente milhões de pessoas, formando os seus gostos, condicionando os
seus comportamentoa, formando as suas consciências e as suas mentes.
5
Numa das seis conferências que Italo Calvino preparou para um ano letivo na
Universidade de Harvard, mais tarde publicadas com o título “Seis Propostas para o
Próximo Milénio”2
, a que deu o nome de Visibilidade, referia-se à imaginação e à
imagem, enquanto produto da imaginação. No final desta conferência, alertava para o
perigo de se “perder uma faculdade humana fundamental: o poder de focar visões de olhos
fechados, de fazer brotar cores e formas a partir de um alinhamento de caracteres
alfabéticos negros numa página branca, de pensar por imagens.”. Colocava a questão de
saber se continuaríamos a “ter o poder de evocar imagens numa humanidade cada vez
mais inundada pelo dilúvio das imagens pré-fabricadas.”
A preocupação com o futuro da imaginação, expressa por Italo Calvino, será uma
orientação importante, já que, diversos psicólogos e pedagogos têm colocado questões
semelhantes ao estudarem a relação entre a televisão e a imaginação infantil. Esta relação
é um dos temas de debate social que vem sendo travado desde que a televisão se começou
a estabelecer como foco de ritual doméstico na maior parte do mundo, sendo nesta
dimensão que o fenómeno persuasivo da televisão sai reforçado.
Pensamos ser de primordial importância conhecer a atitude de pais, educadores,
professores e futuros professores face aos efeitos que a televisão exerce sobre eles
próprios e à perceção que têm do efeito sobre os outros, para que se possa determinar a
forma como ensinar a modificar essas atitudes.
Neste contexto, a questão que colocámos no desenvolvimento desta investigação
foi a de saber qual seria a atitude dos telespectadores face aos efeitos da persuasão e
influência que as mensagens televisivas provocam nos outros (denominado efeito da
terceira-pessoa), comparativamente a si próprios, assim como a sua relevância na
2
C. f. Referências bibligráficas
6
educação. Nos “outros” incluem-se não apenas adultos, mas também crianças e jovens
que diariamente consomem horas de televisão.
2. Enquadramento do estudo.
A televisão desempenha um papel insubstituível na formação da opinião sobre os
mais diferentes assuntos da atualidade enquanto mediadora e veículo de informação.
Estando presente em mais de 95% dos lares, trata-se de um veículo que está no cerne da
transmissão de informações, de comportamentos, de valores éticos e morais. O acesso a
canais temáticos documentais, culturais e científicos diversificados, possibilitados pela
televisão por cabo, é uma realidade que não se pode desvalorizar, visto ter registado um
aumento progressivo da taxa de penetração, tendo passado de 9,2% no 4º Trimestre de
2000, para 13,7% no 2º Trimestre de 20073
.
Como reflexo desta participação decisiva da televisão na vida das pessoas,
continua a questionar-se o seu papel na sociedade contemporânea, como elemento de
educação, cultura e inserção social, e o seu impacto na formação de mentalidades e de
comportamentos.
A exposição à televisão tem sido fortemente associada a comportamentos
agressivos (Donnerstein, Slaby e Eron, 2005), conceção do mundo como um lugar
assustador (Gerbner, Groos e Morgan, 1994), obesidade (Reilly, Armstrong, Dorosty, et
al, 2004), diminuição da atenção (Cristakis, Zimmerman, McCarty, 2004),
enfraquecimento dos valores morais (Kcrmar e Curtis, 2003), entre outros. Inversamente
também tem sido associada à aquisição de competências mais rápidas na aquisição da
3
Fonte: ANACOM-Autoridade Nacional de Comunicações.
Considera-se, neste caso, a taxa de penetração como sendo igual ao nº total de aderentes/total da
população.
7
linguagem (Linebarger e Walker, 2005), e aumento do desempenho escolar (Anderson,
Huston, Scmitt e Wright, 2001).
Os media, em especial a televisão, exercem uma forte influência nos sujeitos
consumidores, sendo também certo que essa influência não pode ser compreendida fora
de um quadro mais amplo e complexo dos contextos de vida e das relações sociais dos
sujeitos e dos grupos sociais (Shrum, Wyer e O’Guinn, 1998). Daqui o reconhecimento
da importância, que continua a ser crescente, de estudar o contexto em que decorre
habitual e maioritariamente a receção televisiva, que é o contexto familiar.
2.1. O telespectador como consumidor.
Cada vez mais a informação televisiva é um serviço que se vende (e que vende),
porque ver é acreditar, ideia que, as grandes empresas televisivas através de uma suposta
realidade e transparência, pretendem fazer passar. Nesta perspetiva, o telespectador pode
assistir, como testemunha, a qualquer acontecimento no globo. O discurso televisivo,
especialmente nas emissões em direto, a realidade apresentada é imediatamente
apreendida como se o telespectador estivesse presente no local do acontecimento. Está
perante uma verdade, que, para “ele”, é indiscutível, e que, para os “outros”, também deve
ser, porque se desenrolam à sua frente. É através destas apresentações que lhe surgem
como verdadeiras, que o telespectador tem acesso ao mundo e não através da experiência
ou do conhecimento. Lembremo-nos por exemplo da guerra do Golfo e, relativamente
mais recente a invasão do Iraque, que, ao serem transmitidas, mais pareciam videojogos
com mapas, diagramas, levando a visibilidade ao seu expoente máximo e onde a violência
era exposta em tempo real e o assunto dominava grande parte da programação das
televisões.
Existem várias teorias que procuram compreender e explicar aquelas ações dos
media sobre a sociedade, nomeadamente a partir das noções de “agenda setting”,
8
“priming” e “framing”4
, noções estudadas nas Ciências da Comunicação, e sobre as quais
não nos iremos debruçar, visto saírem fora do âmbito desta investigação. De qualquer
modo, no seu conjunto, aquelas hipóteses são demonstrativas do modo como a
comunicação televisiva pode exercer efeitos sobre os indivíduos.
Com as técnicas de persuasão organizadas, com uma metodologia científica não
apenas nas campanhas eleitorais e nas ações governamentais, mas também na
publicidade, o cidadão tende a ser reduzido a espectador político e a consumidor passivo.
2.2. Intencionalidade e objetivos.
Pensamos ser importante interrogarmo-nos sobre o modo como as pessoas
encaram a televisão em relação aos outros para nos questionarmos sobre os seus efeitos,
reflectir sobre os contextos sociais da receção, as práticas sociais das famílias, a educação
para os média e a mediação entre a família e as crianças. Poderemos associar o modelo
teórico do efeito da terceira-pessoa, proposto por Davison (1983)5
, à perceção que pais e
professores têm de que os programas televisivos têm um maior efeito nas crianças dos
outros do que nas suas. Assim, o nosso primeiro objetivo foi o de pesquisar aspetos
conceptuais em que se baseia o efeito da terceira-pessoa. O segundo objetivo, tentar
conhecer a atitude dos sujeitos face àquele efeito, isto é, verificar se as perceções dos
telespectadores sobre os efeitos da televisão têm mais efeito sobre “os outros” do que
sobre si. O terceiro objetivo, na sequência dos anteriores, centrou-se na perceção sobre
alguns da potencialidade educacional da televisão.
4
“Priming” e “Framing” são dois processos comunicacionais que ajudam a explicar como é que o público
é afectado pelo media. “Priming” (Agendamento), é o processo pelo qual a televisão (ou outro medium)
avisa o telespectador da informação prévia que vão ter naquela abertura ou emissão para estimular mais
atenção. “Framing” (Enquadramento), explica o processo pelo qual o medium tem a habilidade de alterar
o contexto no qual a abertura é vista, acentuando alguns aspectos e ignorando outros. A “Agenda-setting”
tem uma grande influência sobre o público ao determinar o que tem mais interesse informativo e quanto
espaço e importância se lhes deve dar, destacando determinados temas e preterindo outros.
5
Conceito que se irá desenvolver mais adiante.
9
A investigação pode então ser sintetizada de acordo com as seguintes questões
centrais: Que representação e atitudes têm as pessoas dos efeitos da televisão sobre
terceiros e sobre eles próprios? Qual é ou que perceção se tem da televisão relativamente
ao seu contributo no processo educativo e nos seus intervenientes? Poderá a televisão ter
algum potencial educativo?
3. Efeito da terceira-pessoa: perspetiva de atitudes individuais face às mensagens
televisivas.
3.1. Explicitação de conceitos.
Vala e Monteiro (2004) definem atitude como sendo “um mediador entre a forma
de agir e a forma de pensar dos indivíduos”. Partindo desta definição podemos considerar
atitude como uma reação avaliativa, favorável ou desfavorável, face a determinados
objetos significativos, pessoas, grupos, acontecimentos ou símbolos, representada através
das nossas crenças, sentimentos ou comportamentos. No contexto desta investigação, as
atitudes não são crenças sobre a informação que temos disponível sobre um objeto,
manifestadas através de opiniões, mas sim, opiniões sustentadas pela experiência dos
sujeitos e pela sua interação com os outros.
Na ótica da publicidade parte-se do princípio que esta provoca a propensão para
comprar e consumir determinado produto a partir da formação de atitudes, referindo-se
assim a uma predisposição psicológica geral em relação a determinado objeto, ideia ou
afirmação, que, para Gúzman (1993) pode verificar-se em três dimensões: cognitiva
(conhecimentos, crenças e convicções), afetiva (conjunto de sentimentos despertado no
indivíduo por um objeto) e comportamental (predisposição para agir em relação a esse
objeto).
Se analisarmos atentamente o que muito se tem dito e escrito sobre a televisão
verificaremos que esta ganha notoriedade, em especial, com os efeitos nefastos que lhe
10
são atribuídos. Estes, oscilam entre os efeitos fracos, que têm por referência a capacidade
crítica do recetor, isto é, o tipo de relação que este estabelece com o que lhe é apresentado
e os fortes com base na ideia do seu poder avassalador, cuja tónica se encontra no emissor
ao pretender atingir um determinado público-alvo. Estes últimos conduzem-nos à
hipótese do “efeito da terceira- pessoa”, conceito relativamente recente nas ciências
sociais, formulado por Davison (1983), segundo o qual os sujeitos assumem que os meios
de comunicação de massa exercem um forte impacto nos outros, mais do que nos
próprios. Aquele conceito foi apresentado num artigo publicado na revista Public Opinion
Quarterly, sobre os resultados da investigação que Davison conduziu com pequenos
grupos dos seus alunos e alguns adultos, a partir da sua experiência e observação e que
serviu de base para outros estudos posteriores.
O efeito da terceira-pessoa foi, entretanto, relacionado com a “ignorância
pluralística”6
, que, segundo a Teoria da Comparação Social, pressupõe que as atitudes,
capacidades e opiniões de um indivíduo são avaliadas através da comparação de nós
próprios com os outros. Existe sempre um compromisso entre a perceção da norma do
grupo e a sua posição ideal, isto é, a que mais admira. A principal característica da
ignorância pluralística é que cada membro de um grupo atribui às outras pessoas
significados e critérios dos quais ele mesmo (membro do grupo) não compartilha. A
ignorância pluralística, ocorre então, quando a maioria dos indivíduos de um grupo supõe
que a forma de pensar da maioria dos outros elementos é de alguma forma diferente, mas
a verdade é que são mais similares do que pensam.
A televisão tem vindo a ter, ao longo dos anos, um papel acentuado na organização
dos ritmos de vida, na evidência de determinados acontecimentos sociais, no
esquecimento de outros e na construção de atitudes e representações, o que é reforçado
6
O termo ignorância pluralística, foi introduzido por Allport, Floyd, Social Psychology, Bóston,
Houghton Mifflin
11
por estudos experimentais de (Gerbner, 1980; Vala, 1984). Sendo representada como
correspondendo aos gostos, opções e pontos de vista da maioria, a televisão tem
contribuído para uma “espiral do silêncio”, que significa, para Noelle-Neumann
(1995:37), a dificuldade das pessoas expressarem outros pontos de vista que não sejam
os dominantes. As imagens e as representações veiculadas pela televisão têm em si uma
ideia, embora falsa, de consenso e de partilha por uma vasta comunidade. Como meio de
comunicação tem a particularidade de fazer corresponder a cada palavra um rosto e a cada
conceito e ideia uma imagem, levando o telespectador a ter acesso a emoções,
experiências e comportamentos com o mesmo impacto da experiência direta, tornando a
televisão num espaço de vivência de experiências vicariantes (Bandura e Walthers, 1963)
que poderão gerar o efeito da terceira-pessoa.
O efeito da terceira-pessoa é definido por Perloff (2002:490), como uma
“perceção individual de uma determinada mensagem a qual irá exercer um forte impacto
nos outros e não em si”, o que significa, que tal mensagem não terá grande influência
sobre mim (o “eu”) ou no outro (“tu”) que é uma segunda pessoa, mas nos outros (“ele”
ou “eles”), que são as terceiras pessoas. Assim, o sujeito (o “eu”) subestima os efeitos dos
media, no caso a televisão, mas sobrestima o impacto que pode exercer sobre os outros.
Existe um efeito de distância espacial e cultural ao presumir que os efeitos incidem mais
sobre os sujeitos distantes do observador.
A hipótese do efeito da terceira-pessoa conduz à procura da compreensão dos
efeitos da televisão na sociedade e definição do seu universo de modo a poderem ser
implementadas alterações, para minimizar eventuais danos aos indivíduos. Ainda, e de
acordo com Perlof (2002:495)
“Os efeitos de terceira-pessoa deveriam ser particularmente
evidenciados quando a mensagem é percebida como indesejável – ou
seja, quando as pessoas inferem que ‘essa mensagem não deve ser muito
boa para mim’ ou não é bom admitir que se seja influenciado por esse
tipo de programa”.
12
Para McLeod e Evelend (1999), as mensagens pró-social, vistas do ponto de vista
do sujeito, vão ser percebidas como causando menos efeito nos outros, do que no próprio
sujeito (“eu”). Esta é uma perceção invertida da hipótese da terceira-pessoa, que terá a
ver com a perspetiva da autoestima do sujeito quando argumenta que parece melhor aos
nossos olhos e aos dos outros que as mensagens pró-social tenham mais impacto no
próprio sujeito e menos nos outros. O que continua a persistir é a perceção do efeito
negativo com que a mensagem atua sobre o outro. Contudo, teremos de ter em conta o
problema da avaliação das diferenças na perceção do efeito da terceira-pessoa com base
no distanciamento quer espacial, quer no que se refere ao estatuto social.
A hipótese do efeito da terceira-pessoa, quando se direciona aos mais jovens pode
revestir-se de outro sentido, porque, quando tem impacto na ordem social, a opinião
pública pode impulsionar mudanças legislativas, no sentido do estabelecimento da
censura a conteúdos nocivos, que se traduzem, nas sociedades democráticas, à
penalização do media em substituição de uma censura explícita. O efeito da suposta
influência, consequência da hipótese da terceira-pessoa, traduz-se não no efeito direto,
mas no indireto que é presumido ou imaginado, movimentando a opinião pública a partir
da possibilidade do efeito sobre o outro e sobre a possibilidade desse efeito atingir o
próprio observador (Gunther, at al.,1991).
3.2. Breve relance sobre investigações anteriores.
Têm sido várias as investigações realizadas com vista a explicar o processo do
efeito da terceira-pessoa, analisado nas suas diferentes possibilidades, como sejam, a
experiência pessoal, os atributos da mensagem e a fonte para se determinar a presença ou
ausência daquele fenómeno. Os estudos têm incidindo, de maneira geral, em situações
13
muito específicas como a publicidade, violência, artigos de jornal, a formação da opinião
pública entre outras.
Uma das linhas de pesquisa efetuada por Cohen, Mutz, Price e Gunther (1988)
com estudantes, que foram expostos a uma série de artigos difamatórios, confirmou várias
previsões: os leitores dos artigos (os estudantes submetidos à experiência) calculavam
que os outros seriam mais afetados pelas mensagens difamatórias do que eles próprios; o
efeito foi evidenciado quando os outros se tornaram mais distantes daqueles leitores;
quando a difamação foi atribuída a fontes de influências negativas, o efeito também se
acentuou. Os próprios leitores discutiram a mensagem difamatória, assumindo ao mesmo
tempo que os outros seriam os mais influenciados. Os autores sugeriam então que a
avaliação em audiência de comunicações difamatórias sobre os outros pode ter sido
influenciada pelo efeito da “terceira-pessoa”.
Numa outra investigação, Gunther (1991) sugere que as pessoas sobrestimam
sistematicamente a extensão em que outros são afetados pelas mensagens dos media. Este
foi um projeto experimental que manipulou a fidedignidade da fonte de um artigo
difamatório de jornal, a fim de conhecer o efeito que ele teria sobre outras pessoas, tendo
concluído que as pessoas agem de acordo com as suas próprias estimativas sobre os
eventuais efeitos causados nos outros, explicando o fenómeno com base na teoria da
atribuição causal, segundo a qual as pessoas atribuem uma causa a um acontecimento
com base em poucas informações recorrendo a esquemas causais correspondentes a
crenças e representações sobre a causa dos acontecimentos 7
.
Utilizando também como facto explicativo a teoria da atribuição causal, Hoffner
at al. (2001), através de 253 entrevistas telefónicas aleatórias efetuadas aos residentes de
uma comunidade, investigou o efeito da terceira-pessoa em duas situações em programas
7
Sobre a Teoria da Atribuição Causal c. f. Kelly (1972);Vala e Monteiro, (2004)
14
televisivos: forma de perceção do mundo e agressão. O estudo explorou fatores do efeito
da terceira-pessoa e a sua relação com a exposição à violência na televisão.
Confirmando a tendência das pessoas atribuírem um maior efeito da violência na
televisão sobre terceiros do que sobre elas próprias, Salwen e Dupagne (2001) mostraram
que os resultados para a compreensão do efeito da violência na televisão dependiam do
julgamento e do conhecimento individual (auto-percebido).
Uma pesquisa efetuada com estudantes de duas universidades sobre os “Reality
Show”8
estimou o efeito de três daqueles programas em si próprios e noutras pessoas. Os
estudantes submetidos ao teste (n=640) acharam que aqueles programas afetaram mais os
outros do que a eles próprios, colocando este género de programas na categoria dos
socialmente indesejáveis (Leone, Peek e Bissell, 2006).
A publicidade é um outro fenómeno que raramente é assumido pelas pessoas como
tendo qualquer efeito sobre elas. O efeito da terceira-pessoa, no contexto da publicidade
direcionada ao consumo, foi investigado por Reid, Delorme e Huh (2004) através de 264
questionários passados a adultos e pretendia avaliar as perceções dos efeitos da
publicidade e o apoio que seria dado à sua regulamentação. Os resultados mostraram, que
na publicidade dirigida ao consumidor, o efeito da terceira-pessoa atua segundo um
modelo multidimensional com quatro fatores (efeito adicional negativo, aprendizagem e
envolvimento, interação fornecedor/cliente e desconfiança sobre a informação) e que os
efeitos dos conteúdos negativos em terceiras-pessoas eram maiores que os positivos.
Uma meta-análise efetuada em 31 estudos sobre a hipótese da perceção do efeito
da terceira-pessoa mostrou que o coeficiente de correlação entre os efeitos estimados dos
media no “eu” e no “outro” era r =.50. Dos oito aspetos investigados (fonte, meio,
8
Os “Reality Show” também conhecidos por Reality Television é o nome atribuído a um novo género de
programas televisivos em que se representam pessoas e circunstâncias reais ou próximas da realidade. A
última geração deste tipo de programas foi o “Big Brother”. Por vezes os “Reality Shows” podem apresentar
o formato do documentário social.
15
mensagem, método, amostragem, respondentes, país e desejabilidade), três (amostragem,
respondentes e mensagem) mostraram variações significativas da dimensão do efeito. A
perceção do efeito da terceira-pessoa em amostras não aleatórias de estudantes da
faculdade era significativamente maior do que em amostras aleatórias de estudante do
ensino não superior. Numa perspetiva teórica estes resultados poderiam ser devidos aos
participantes no estudo, que se achavam mais “espertos” do que as outras pessoas. Uma
explicação mais arrojada atribuía os resultados aos investigadores que confiam em
amostras de estudantes (Paul, Salwen e Dupagne, 2000).
Tomando como ponto de partida a televisão como um médium que tem um
potencial poderoso na para a formação da opinião pública, Mutz (1989) efetuou um
estudo sobre a perceção das opiniões e como elas se relacionam com a opinião pública.
Verificou assim que, na formação da opinião pública, a perceção da influência dos media
nos outros era consistentemente maior do que a perceção que cada indivíduo tinha daquela
influência sobre si próprio. As respostas ao questionário mostraram ainda existir maior
disposição para expressar as opiniões publicamente, quando percebiam uma tendência a
favor do seu ponto de vista ou quando havia uma maior probabilidade na obtenção de
sucesso sobre ele, tal como sugere a teoria da espiral do silêncio a que já nos referimos
anteriormente.
Com base na premissa da utilização de argumentos para apoiar a censura quando
se trate de violência na televisão, (Hoffner, Buchanan, Anderson, Hubbs, Kamigaki
Kowalczyk, Pastorek, Plotkine e Silberg, 1999) efetuaram uma investigação em que
colocavam a hipótese “de que os outros são mais afetados pela violência na televisão e
pela exposição a algumas notícias do que o próprio”. O estudo mostrou um apoio à
censura aos programas de violência. Todavia, ao serem examinados separadamente, os
efeitos percebidos no próprio e nos outros, o apoio à censura foi associado à opinião dos
16
inquiridos que afirmavam que o índice de exposição à violência aumentava as tendências
agressivas, o que vem na linha das investigações de Bandura já anteriormente referidas.
4. Procedimentos metodológicos.
4.1. A construção do questionário.
Para se compreender o comportamento humano no contexto das ciências sociais
empíricas, são três os principais caminhos: (a) observar o comportamento que ocorre
naturalmente no âmbito real; (b) criar situações artificiais e observar o comportamento
ante tarefas definidas para essas situações; (c) perguntas efetuadas a grupos sociais sobre
o que fazem (fizeram) e pensam (pensaram), através de inquéritos baseados em amostras.
Optámos neste caso por esta última solução que nos pareceu a mais adequada para o nosso
objeto de estudo. Assim, o questionário foi constituído em três partes distintas sendo a
primeira formada por dados pessoais como a idade, sexo, profissão e curso. A segunda
parte foi constituída por conjuntos de perguntas de escolha múltipla para determinar o
tempo de exposição à televisão, assim como as preferências sobre a apreciação de
conteúdos e tipos de programas. A terceira e última parte era constituída por uma escala
de atitudes que incluiu 38 itens, sendo um posteriormente eliminado devido ao seu
carácter redundante. Os itens da escala de atitudes foram construídos com base em
algumas entrevistas e diálogos prévios com os alunos da instituição no ano letivo de
2006/2007 que tiveram como base os conteúdos e programas da televisão e a televisão
como auxiliar educativo.
Para a construção do questionário de atitudes seguimos algumas regras na
construção da escala designadamente: redação de itens de forma clara, breve e simples;
construção dos itens na primeira pessoa de forma a atenuar a distância psicológica com o
inquirido; simplicidade de preenchimento.
17
Partimos do pressuposto de que a atitude, favorável ou desfavorável, dos
inquiridos seria condicionada em grau mais ou menos elevado pela sua perceção,
enquanto telespectadores. Assim, construímos um conjunto de frases favoráveis e
desfavoráveis em relação ao nosso objeto de estudo que permitissem aos inquiridos
manifestarem opiniões acerca da televisão, posicionando-se face a uma escala de cinco
posições cujos extremos fossem “Concordo Plenamente” e “Discordo Plenamente”. As
respostas foram pontuadas, atribuindo o valor 5 às respostas de “Concordo Plenamente”
e o valor 1 às respostas “Discordo Plenamente”. As frases desfavoráveis ao objeto de
estudo foram pontuadas de forma invertida, isto é, foi atribuído o valor 1 à resposta
“Concordo Plenamente” e o valor 5 às respostas “Discordo Plenamente”.
4.2. Caracterização da amostra.
Para a definição do tamanho amostra não foram contemplados os procedimentos
metodológicos clássicos de uma amostra aleatória com base em estimativas de erro, nem
critérios específicos de aleatoriedade para a seleção dos casos observados. Apesar disso,
não foram fixados critérios de intencionalidade para a seleção, cujos sujeitos foram
selecionados ocasionalmente. O tamanho da amostra foi restritivo, visto que a maior parte
do universo dos inquiridos eram estudantes de uma Escola Superior de Educação9
. No
entanto, tendo em conta o público-alvo a quem se destinou o questionário não esteve
muito distante duma amostra representativa.
A amostra sobre a qual incidiu a investigação era inicialmente composta por 44
sujeitos. Depois de ser efetuada uma análise prévia aos dados recolhidos para tratamento
informático, constatámos que 3 deles omitiram algumas respostas essenciais em relação
ao questionário aplicado, sendo, por isso, retirados da amostra e considerados casos
9
ESEAG – Escola Superior de Educação Almeida Garrett, instituição particular do Grupo Lusófona.
18
omissos. Assim sendo, a nossa amostra passou a ser composta por 41 sujeitos, 7 (17,1%)
do sexo masculino e 34 (82,9%) do sexo feminino, sendo 30
(73,2%) estudantes e 11 (26,8%) não
estudantes. Quanto à formação académica
eram dominantes os cursos de Licenciatura
em Professores do 1º e 2º ciclo e de
Educadores de Infância10
conforme mostra o Quadro 1. As ocupações e profissões foram
variadas, todavia, é de realçar a predominância de estudantes e de outras profissões não
ligadas ao ensino conforme se pode verificar no Quadro 2.
As idades variaram entre os 18 e os
57 anos com uma média de idades de 32
anos, um desvio padrão de 10,43 e a moda
de 26 anos (valor mais frequente). Quanto à
origem geográfica, 53,7% (22) eram do Distrito de Lisboa, 39% (16) do Distrito do Porto
e os restantes 7,3% (3) distribuíam-se por Braga, Coimbra e Açores.
Relativamente aos hábitos diários de ver televisão verificou-se que a maioria dos
inquiridos, 65,9%, veem televisão diariamente, 29,3% aos fins de semana e 4,9% em
outras ocasiões. O tempo de exposição à televisão variou entre 63,4% que veem entre
trinta e sessenta minutos, 29,3% noventa minutos e 7,3% mais de noventa minutos, sendo
a hora dominante após as 19 horas com 92,7%.
Quanto à classificação por preferência dos programas, estas variaram entre os 61%
pelo noticiário, 41,5% pelos documentários e 39,0% para as séries televisivas. Como
menos preferidos foram mencionados os programas religiosos com 58,5%, logo seguidos
pelos concursos e as telenovelas, ambos com 36,6%. Os programas musicais obtiveram
10
A maior parte dos estudantes que participou no inquérito era composta por alunos dos Cursos de
Licenciatura em Professores do 1º Ciclo e em Educadores de Infância.
Quadro 1
Formações Académica Nº %
Cursos de Professores do 1º e 2º Ciclo e
Educadores de Infância
24 58,5
Outro Cursos 7 17,1
N/Identificadas 10 24,4
Totais 41 100
Quadro 2
Ocupação/Profissão Nº %
Professores 7 17,1
Auxiliares de Acão Educativa 7 17,1
N/Identificada/Estudante 12 29,3
Outras 15 36,6
Totais 41 100
19
uma preferência média com 29,3%. As séries televisivas tiveram também alguma
preferência com 26,8%. Os programas desportivos encontravam-se nos 26,8% do grupo
dos menos preferidos e 22% nos mais preferidos.
5. Instrumento de avaliação e procedimentos estatísticos.
5.1. A construção da escala.
De entre as técnicas de construção de escalas de atitudes, optámos pela
metodologia de Likert11
, atendendo à sua simplicidade de construção e de tratamento
estatístico dos resultados. A sua construção foi baseada numa escala de 5 pontos, o que
permite situar os sujeitos segundo uma ordem decrescente correspondente ao somatório
dos pontos em todos os itens da escala em que se atribuíram aos itens os valores 5 → 1
ou 1 → 5, consoante o carácter favorável ou desfavorável dos itens formulados.
O questionário referente à escala de atitudes foi separado em duas partes, que, por
comodidade de exposição, passaremos a designar por Questionário A e por Questionário
B, correspondendo respetivamente ao “Questionário de atitudes sobre efeitos da televisão
em “terceiras-pessoas” e ao “Questionário de atitudes sobre a função educativa da
televisão na educação.
Após o cálculo do somatório dos pontos obtidos em todos os itens em cada um
dos questionários, foi calculada a correlação entre os resultados verificados em todos os
itens e o somatório dos pontos obtidos. O objetivo deste procedimento foi, segundo a
metodologia proposta por Tuckman (1994) e Miller (1991), o de proceder à identificação
dos itens que melhor estão de acordo com o teste, conferindo-lhe um melhor grau de
consistência interna e possibilitando selecionar os melhores itens, isto é, aqueles que
evidenciam o nível mais elevado de acordo com o resultado total. A opção pela aplicação
11
C. f. Vala, Jorge e Monteiro, M. B. (2004), Psicologia Social
20
deste método incidiu sobre o coeficiente de correlação de Pearson12
, visto que, o teste de
Spearman era pouco compatível com a existência de valores iguais que surgiriam, sempre,
em número considerável, tendo em conta a relação entre número de sujeitos (quarenta e
um) e o número de possibilidades de resposta (cinco).
Aplicado o cálculo do coeficiente de correlação de Pearson, obtiveram-se as
correlações entre os resultados verificados em todos os itens de cada um dos questionários
e o somatório dos pontos obtidos pelos sujeitos que participaram no inquérito.
Dos 18 itens iniciais do Questionário A, 12 tiveram uma correlação significativa
ao nível de significância 0.05 ou inferior. Para os restantes, cuja correlação se situou num
limiar de significância superior a .05, uma análise qualitativa dos itens da escala
esclareceu-nos do interesse que havia em mantê-los. Atendendo ao carácter em certa
medida redundante da formulação, um deles foi eliminado, permanecendo um total de 17
itens.
Relativamente ao Questionário B, dos 18 itens, 12 tiveram significância igual ou
inferior a .05. Dos restantes, dois foram eliminados, já que o nível de significância não
fora atingido e ainda por se ter verificado sua irrelevância para o estudo. À semelhança
do Questionário A, também houve itens que foram mantidos apesar de registarem fracos
índices de correlação, mas cuja sua inclusão se tornava importante para conhecer a atitude
dos inquiridos sobre a função da televisão na educação e formação das crianças e jovens.
Para determinação do coeficiente de consistência interna de cada um dos
questionários utilizámos o coeficiente Alfa de Cronbach que, variando entre +1 e –1,
pretende avaliar a escala utilizada comparando-a com uma escala hipotética com o mesmo
número de itens, tendo-se obtido para o Questionário A o valor .90 e para o Questionário
12
O tratamento estatístico de análise de correlação é empregue em investigações em que se procura estudar
as relações entre os dados de duas variáveis com o objectivo de procurar qualquer tipo de relação entre
resultados das duas variáveis. C.f. Miller, 1991, Handbook of Research Design and Social Measurement,
Londres, Sage Publication p. 250
21
B, .89, que nos pareceram bastante significativos. Procedeu-se posteriormente ao
recálculo do somatório dos pontos obtidos nos questionários por cada um dos sujeitos.
5.2. Resultados da aplicação da escala de atitudes.
Na sequência da técnica de Likert como meio de construção da escala de atitudes,
a primeira operação a efetuar para o apuramento dos resultados consistiu no cálculo do
somatório de pontos obtidos por cada sujeito.
Atendendo a que, nos dois questionários A e B, as escalas de atitudes são
constituídas por 17 e 16 itens respetivamente, o somatório dos pontos estaria
compreendido, para o Questionário A, entre um mínimo de 17 pontos, correspondente a
respostas do tipo discordo plenamente a todos os itens favoráveis e um máximo de 85
pontos, em caso contrário e para o Questionário B um mínimo de 16 pontos e um máximo
de 80 pontos. O apuramento da escala mostrou-nos que esses valores extremos, em ambos
os questionários, nunca foram atingidos, tendo as respostas ficado compreendidas entre
um mínimo de 46 e um máximo de 71 pontos no Questionário A e um mínimo de 43 e
um máximo de 65 no Questionário B.
Do apuramento dos resultados dos pontos, obtivemos para o Questionário A uma
média de 58,7, variância 27,3, desvio padrão 5,2. Para o Questionário B obtivemos a
média de 56, 8, variância 26,8 e desvio padrão de 5,1.
Calculados os valores percentuais para os quatro tipos de possibilidades de
resposta, e de modo a facilitar a exposição da análise dos dados, optámos por adicionar
para cada um dos questionários os valores das respostas do tipo “Concordo Plenamente”
e “Concordo”, assim como para as respostas do tipo “Discordo” e “Discordo
Plenamente”. Os resultados finais ficaram assim com três tipos: Concordância, Sem
Opinião e Discordância conforme se pode verificar nos quadros dos Anexos I e II.
22
6. O conteúdo da escala e as suas categorias.
Quadro 3 – Categorias do Questionário A
Categorias Função
Itens da
escala de
atitudes
a) Formação de opinião
Pretende determinar o papel da
televisão como veículo da formação
de opiniões, consideradas como
perceção individual acerca de
determinados assuntos.
1
b) Consciencialização social
Aquisição de regras sociais pelos
sujeitos telespectadores, por via do
contributo da programação, dando
sentido à vida social e a uma
consciência social, podendo ou não
contribuir para a sua alteração ou
adulteração
2
c) Efeitos no telespectador
- Associados ao próprio
Verifica a atitude dos sujeitos
quanto ao efeito que determinados
conteúdos televisivos lhes possam
causar enquanto telespectadores.
7, 14, 17
- Associados a terceiras-
pessoas
Avalia a atitude dos sujeitos em
relação aos efeitos dos programas de
televisão sobre outros (terceiras--
pessoas).
3, 4, 5, 6,
10, 15,
16
d) Modificação de atitudes e
comportamentos
Avalia a modificação de atitudes e
comportamentos nos sujeitos
inquiridos e em terceiras-pessoas
induzidos por mensagens
veiculadas, quer através da
programação televisiva, quer
através da publicidade, que tendo
por finalidade despertar a vontade
no telespectador para o consumo de
bens ou serviços, que na maior
parte das vezes não precisa, ou não
quer consumir.
8, 9, 11
e) Efeito persuasão
Pretende conhecer qual o sentido da
atitude relativamente às mensagens
televisivas que possam induzir o
telespectador a tomar determinadas
atitudes.
12, 13
23
Os objetivos da nossa investigação condicionaram, naturalmente, o conteúdo da
escala de atitudes sobre os efeitos da televisão em terceiras pessoas e na educação. Assim,
incluímos os itens em categorias de âmbito mais geral as quais contêm os itens
que se encontram nos Anexos I e II, cujo significado e função se apresentam nos Quadros
3 e 4 a partir e dos quais procedemos à análise do apuramento da pontuação obtida nos
questionários. Compete ainda referir que, por vezes, para facilidade de exposição,
Quadro 4 – Categorias do Questionário B
Categorias Função
Itens da
escala de
atitudes
Efeitos nas crianças e nos jovens
Esta categoria reporta-se a aspetos que
podem constituir fonte de preocupação
para pais e educadores, devido ao
impacto negativo da televisão nas
crianças e jovens.
1, 2, 9
Inibição dos efeitos
O objetivo desta categoria consiste em
localizar a crença ou descrença quanto
aos mecanismos que permitiriam
amenizar os efeitos da media e em
determinar que ações podem
minimizar o impacto negativo da
televisão nas crianças.
3, 4, 5, 6,
16
Sentido crítico
Pretende avaliar as atitudes face à
capacidade de reflexão e de sentido
crítico como potenciais fatores que
podem possibilitar a redução dos
impactos negativos da televisão e para
as subtilezas da manipulação, em que
caímos diariamente, aceitando
tacitamente, o que nos é transmitido
sem qualquer tipo de filtro ou sentido
crítico. Pretende ainda avaliar até que
ponto a religião tem alguma influência
na inibição, ou não, do sentido crítico
dos indivíduos através das suas
intervenções. Não se pretendeu
distinguir qualquer instituição
religiosa em especial, considerámo-las
antes como sendo potencialmente
doutrinadoras, e, segundo algumas
opiniões, limitadoras do sentido crítico
do cidadão.
7, 8, 10
Efeito educativo/formativo
Esta categoria tem como finalidade
avaliar a existência de atitudes
favoráveis ou desfavoráveis sobre os
efeitos educativos da televisão nas
crianças e nos jovens.
11, 12,
13, 14, 15
24
utilizaremos os termos “o próprio” para os sujeitos inquiridos e “os outros”, para
“terceiras-pessoas”.
No Questionário B, apesar de mais direcionado para o papel educativo da televisão
como potenciadora de aprendizagens, está também implícito o efeito da terceira-pessoa,
que, neste caso, são os alunos. Por outro lado, muitos pais e educadores, julgam que os
efeitos negativos da televisão incidem exclusivamente nas outras crianças e não nas que
estão ao seu cuidado, afetando apenas um pequeno número delas.
7. Apuramento dos resultados do Questionário A por categorias.
a) Formação de opinião
O item nº 1 desta categoria, que considera a televisão como a principal formadora
de opinião, os sujeitos inquiridos emitiram uma opinião favorável de 41,4% e
desfavorável de 41,5%. Estes dois resultados, pela pontuação desfavorável que lhes foi
atribuída, poderão, numa primeira análise, demonstrar que a formação de opinião pode
não depender exclusivamente da televisão, mas também de outras fontes de informação,
quer formais, quer informais.
b) Consciencialização social.
Verifica-se relativamente ao item nº 2 uma tendência muito positiva na atitude dos
sujeitos com 97,6% de concordância sobre o papel importante da televisão para a
consciencialização da sociedade. A explicação para este resultado poderá estar no
contributo da televisão para a difusão de valores e regras socais. Todavia,
comparativamente à formação de opinião, esta poderá ter sido entendida como tendo
uma conotação política veiculada por comentaristas, debates políticos e formadores de
opinião.
25
c) Efeitos no telespectador
 Associados ao próprio
Quanto à influência da publicidade passada na televisão no próprio sujeito a que
reporta o item nº 7, 51,2% discordam que a publicidade não tenha qualquer influência sobre
eles e 36,6% concordam que não são influenciados. Uma explicação possível para a atitude
em que a maioria concorda ser influenciada pela televisão, poderá ser dada numa ótica
prospetiva de compra futura em que é assumida uma lógica mais racional e menos emotiva
e com uma potencial identificação com alguns produtos e serviços oferecidos, por empatia
com a marca e a informação constante da mensagem publicitária.
Se quanto ao item nº 7 existe uma atitude discordante em relação à não
influência da publicidade no próprio, relativamente ao item nº 14 verifica-se uma
evidente atitude discordante, 85,4%, sobre o maior efeito que publicidade na televisão
possa causar ao próprio, comparativamente ao causado a terceiras pessoas. Isto é, os
inquiridos acham que a publicidade tem mais influência nas outras pessoas. Já quanto
ao item nº 17, que afirma que os programas televisivos não produzem quaisquer efeitos
negativos ao próprio sujeito, a concordância situa-se nos 53,7% e a discordância em
34,1%. Nestes dois itens já é manifesto o efeito da terceira-pessoa verificando-se uma
tendência para uma atitude que mostra que os próprios não são permeáveis aos efeitos
negativos da televisão.
 Associados a terceiras-pessoas
Na distribuição das respostas ao item nº 3, que indica uma maior influência da
televisão sobre os outros do que sobre o próprio, 36,6% da pontuação revela uma atitude
concordante relativa à maior incidência sobre os outros. Não fica, no entanto, clara a
expressão desta atitude, já que se verifica um valor elevado de respostas sem opinião,
26
39,0% e de 24,4% de discordância. Por outro lado, na distribuição das respostas ao item
nº 4, a influência que a televisão exerce sobre os indivíduos com menos sentido crítico,
mostra-nos um nível de concordância muito elevado, situando-se em 82,9%. Uma
possível explicação para este resultado bastante favorável, poderá ser atribuída à inclusão
do conceito “sentido crítico” na frase mencionada no item. Isto é, para além da influência
da televisão se exercer mais sobre terceiras-pessoas do que “em mim”, ela ainda se exerce
mais sobre os que possuem menos sentido crítico. Verifica-se igualmente uma tendência
positiva na distribuição das respostas ao item nº 5, efeito da violência na televisão sobre
os outros e sobre o próprio, que apresenta uma concordância de 51,2% no sentido de
afetar mais os outros do que o próprio. O item nº 6, que reporta à influência da publicidade
sobre a maior parte das pessoas mostra uma elevada pontuação com 87,8% de
concordância. Este valor elevado estará relacionado com o papel relevante que a
publicidade assumiu na formação de padrões de comportamento nos últimos anos,
disseminados cada vez mais por peças publicitárias televisivas.
Relativamente a alguns programas televisivos, as respostas ao item nº 10 revelam
que existe uma atitude concordante de 58,5% que consideram que os outros são mais
influenciados pelos programas do que os próprios, apesar dos 14,6% de pontuação
discordante e dos 24,8% sem opinião, a atitude que prevalece aponta no sentido de uma
maior influência sobre os outros.
Quanto ao item nº 15, sobre os efeitos causados pela publicidade sobre as outras
pessoas do que no próprio, o nível de concordância situa-se nos 43,9% contra os 22,0%
discordantes, sendo de salientar os 34,1% sem opinião, que pode revelar um certo grau
de incerteza, quanto à atitude revelada nas respostas a este item.
A observação do item nº 16 indica-nos uma atitude relativamente favorável com
41,5% de concordância em relação aos efeitos negativos que os programas de televisão
27
produzem nas outras pessoas e 22% de discordância. No entanto, o valor elevado de
36,6% dos sem opinião pode ser revelador de alguma incerteza e que as respostas a este
item teriam sido dadas, não com base numa perceção pessoal, mas no desconhecimento
sobre o efeito que os programas televisivos possam causar em “terceiras-pessoas”.
d) Modificação de atitudes e comportamentos
Os valores obtidos no item nº 8 mostram uma concordância inequívoca com a
possibilidade de modificação de atitudes e comportamentos dos telespectadores através
do que veem na televisão, tendo-lhe sido atribuídos 87,8% da pontuação. A maioria dos
inquiridos reconhece que a televisão, ao nível da sua programação, se articula com as
instâncias sociais, apresentando modelos de comportamento social, produzindo um
aumento na suscetibilidade nas pessoas para serem influenciadas por aqueles modelos,
modificando o seu estilo de vida, através de uma aprendizagem social, derivada da
observação e não da experiência direta13
. Isto é, a televisão induz modelos de conduta nas
audiências, facilitando a sua aceitação e imitação, transformando-os em padrões de
comportamento social.
As respostas ao item nº 9, que se prende com a possibilidade da não modificação
de comportamentos e atitudes pela televisão nos próprios inquiridos, revelam uma
percentagem de pontuação relativamente elevada de 56,1% concordante com a não
modificação de comportamentos e atitudes nos próprios. Comparativamente ao item nº 8,
prevalece bastante forte a atitude em que o efeito se exerce mais sobre os outros.
À afirmação do item nº 11 dirigida à influência da publicidade com conteúdo
emocional positivo nas pessoas, foi atribuída a pontuação concordante de 80,5%, o que
vai de encontro à pontuação atribuída ao item nº 8, visto que, se o conteúdo da publicidade
13
c. f. Bandura, Albert 1980
28
é mais emocional, é provável que venha a modificar as atitudes e os comportamentos dos
telespectadores.
e) Efeito persuasão
Considerando a persuasão como uma tentativa de mudança de atitudes, o item nº
12 tem a particularidade de salientar uma exposição a mensagens persuasivas, conferindo
uma confirmação ao item nº 8 que aponta para a generalidade do que se vê na televisão.
Convém, neste ponto, clarificarmos alguns aspetos relacionados com as mensagens
persuasivas. Sabemos que estas mensagens, se provenientes de uma fonte menos credível,
têm um efeito negativo na aceitação por parte do recetor, e, como tal, não conducente a
uma mudança de atitude que sofre a influência de fatores endógenos ao indivíduo tais
como, personalidade e autoestima, e exógenos, como a influência do grupo e aceitação
social, entre outros. Alguns indivíduos, através da televisão, devido ao seu prestígio,
competência e capacidade de persuasão, influenciam as atitudes e comportamentos dos
elementos de um grupo, impondo ou conseguindo aprovar o que é a sua vontade e neste
caso, podemos considerar pessoas, publicidade, documentários, etc.. Considerando os
aspetos referidos, a concordância de 75,6% com este item mostra que os “outros” são
mais permeáveis às mensagens persuasivas do que os “próprios”, que atribuíram 61% de
concordância ao item nº 13, que sugeria a modificação das atitudes dos inquiridos. No
entanto, os 34,1% de discordância com a afirmação deste último item revelam, mesmo
assim, um valor relativamente considerável no sentido de os próprios ser menos
influenciados pelas mensagens persuasivas.
8. Apuramento dos resultados das atitudes do Questionário B por categorias.
a) Efeito nas crianças e jovens
Nesta categoria destacam-se duas tendências de desigual peso numérico. Em
primeiro lugar, as respostas ao item nº 1 que reporta aos efeitos negativos que a televisão
29
exerce sobre as crianças, e ao item 9 cuja afirmação refere que alguns programas de
televisão potenciam a violência nas crianças, após a sua visualização, apresentam ambos
uma nítida posição de atitude concordante, com 75,6% das respostas ao item nº 1 e 73,2%
no item nº 9. Esta pequena diferença sugere que os efeitos negativos da televisão andam
associados à violência. Em segundo lugar, as respostas ao item nº 2, que apresenta a
televisão como a causadora da delinquência juvenil já não são tão evidentes visto que as
opiniões se dividiram entre a concordância com 43,9%, mesmo assim em maioria, e a
discordância com pontuação discordante de 34,1%. Com efeito, esta segunda tendência
pode sugerir que não existe na amostra uma atitude negativa no sentido de considerar que
a delinquência juvenil seja no todo motivada pela televisão.
b) Inibição dos efeitos
Na afirmação colocada no item nº 3, segundo a qual os efeitos negativos da
televisão podem ser evitados ou minimizados através do diálogo familiar, a concordância
é dominante em 92,7% da amostra. O que podemos questionar sobre este resultado é o
que terá sido entendido por diálogo familiar ao ser dada resposta a este item, embora este
seja do domínio do senso comum. Qualquer que seja a interpretação do conceito, existe
de facto uma atitude muito favorável para com a importância dada à interação com a
criança em contexto familiar, podendo ser benéfica para inibir os efeitos negativos de
alguns programas televisivos. Os valores apresentados pelo item nº3 estão no mesmo
sentido das respostas dadas ao item nº6 em que há uma concordância de 78,0% no sentido
de ainda haver na sociedade atual espaço para o diálogo familiar. Este ponto pode estar
em contradição com muitas das investigações efetuadas que justificam a falta de diálogo
familiar, como a causadora de muitos dos problemas comportamentais das crianças e
jovens.
30
As respostas ao item nº 4 relativas à educação formal proporcionada pela escola
como inibidora dos efeitos negativos da televisão na sociedade, obtiveram 61,0% da
pontuação, o que reflete uma maioria muito significativa de concordância. A escola pode
ser, de facto, um facto importante, através de uma educação para os media, para
minimizar os efeitos da televisão sobretudo nas crianças. A escola, entra no processo
como um lugar de tematização e discussão dos conteúdos e das formas mediáticas. O
professor, tem um papel central nessa relação dialógica entre a oferta mediática e o
contexto escolar.
A atitude dos inquiridos quanto à contribuição da formação religiosa como
inibidora dos efeitos negativos da televisão formalizada através do item nº 5 não é muito
clara. Contrariamente à família, o resultado mostra uma descrença quanto ao contributo
da religião para inibição dos efeitos da televisão, com apenas 39,0% de respostas
concordantes, quase ao mesmo nível das respostas sem opinião com 36,6%.
As respostas de concordância ao item nº 16 com 87,8% de pontuação, em que o
acompanhamento das crianças quando vêm televisão diminui as influências que lhes
possa causar, vêm confirmar o que afirmámos anteriormente. Mais do que a escola, os
encarregados de educação encontram-se numa forte posição para controlar, limitar e
partilhar hábitos de utilização da televisão contribuindo ao mesmo tempo para uma
educação e literacia para o médium televisão.
c) Sentido crítico
A quase totalidade das respostas aos itens nº 7 e nº 10 que relacionam a religião
com o sentido crítico face à televisão mostraram tendências extremadas em ambos os
itens. Assim, as respostas ao item nº 7, que sugere que a religião pode contribuir para a
alienação do indivíduo, e consequentemente pode inibir o sentido crítico do indivíduo,
mostram uma significativa tendência para atitudes de indiferença, ou desconhecimento,
31
perante aquela afirmação, atingindo o valor de 46,6% sem opinião. As atitudes
discordantes atingiram 31,7% contra os 22% de concordância com a afirmação. O mesmo
se verificou nas respostas ao item nº 10, cujo sentido é oposto e que sugere que a religião
torna o indivíduo mais crítico, apresentando uma pontuação para concordância de 39,9%
e de 26,8% para discordância, sendo o valor para os sem opinião relativamente elevada
com 34,1%. A inexistência de uma atitude evidente quanto à intervenção da religião
contribuindo para estimular o sentido crítico do indivíduo pode ser explicada pelo facto
de as instituições religiosas não terem uma presença constante nos media. Os programas
religiosos são escassos e, quando existem, apenas emitem opiniões genéricas sobre os
problemas sociais sem se comprometerem com qualquer tomada de posição, definindo
condutas sem discussão e estímulo ao sentido crítico. Como facto explicativo podemos
ainda colocar a hipótese do desconhecimento quanto à capacidade interventiva e crítica
da religião sobre a televisão e a sua implicação na sociedade.
d) Efeito educativo
Reconhecer a televisão como tendo grande potencial como auxiliar dos
professores nas suas funções de ensino como é referido no item nº 11 recolheu 90,2% de
atitudes concordantes, assim como a quase totalidade dos inquiridos. 95,1%, mostrou uma
atitude concordante relativamente ao item nº 12, cujo sentido das respostas reflete, sem
dúvida, que a televisão pode ter um efeito positivo na aprendizagem dos alunos desde que
devidamente orientados. De facto, escolhendo os conteúdos mais adequados, e desde que
haja um acompanhamento, a televisão pode ser um importante auxiliar educativo.
Aqueles valores não se afastam muito dum estudo efetuado em 1997 pela Corporation for
Public Broadcasting, tendo apurado que, em 92% dos professores, a televisão os auxiliava
com mais eficácia nas suas tarefas no ensino básico e secundário14
.
14
Dado obtido a partir de Dirr, Peter J., 2001, “Gateway to Educational Resources for Development at
All Ages” in Hanbook Children, Sage Publications
32
Em sentido oposto ao anterior, o item nº 13 mostra-nos uma pontuação
concordante de apenas 12,2% com a não utilização da televisão como auxiliar educativo
devido os seus efeitos negativos nas crianças, em contraste com 70,7% de atitudes
discordantes com a afirmação. De acordo com as respostas dos inquiridos, há uma atitude
significativamente concordante com a utilização da televisão pelos docentes como
auxiliar educativo, como nos mostra o item nº 15, em que 70,7% de atitudes são positivas.
As respostas ao item nº 14 que refere que as crianças podem aprender com a
televisão são fortemente concordantes, apresentando uma pontuação 87,8% de atitudes
positivas. Verificamos pela análise global desta categoria que existem evidentes atitudes
positivas em relação à televisão como um auxiliar educativo, devendo, contudo, ser
utilizada com orientação e preparação prévia em sintonia com os professores.
9. Conclusões.
Propusemo-nos, neste trabalho exploratório, proceder, numa primeira fase, a um
estudo das atitudes em relação à perceção do efeito da terceira-pessoa, e numa segunda
fase, conhecer do ponto de vista educacional as atitudes dos efeitos da televisão sobre as
crianças e jovens, considerados também como terceiras-pessoas. Não pretendemos
apresentar causas explicativas para os resultados, excetuando alguns casos pontuais para
os quais avançámos algumas hipóteses explicativas.
Pusemos em prática este projeto, através da realização de um inquérito que nos
permitiu verificar o efeito da terceira-pessoa em relação à televisão. Para mais perfeito
enquadramento dos itens da escala de atitudes e para mais adequada análise do conteúdo
dos questionários, recorremos a cinco categorias para o primeiro questionário e a quatro
categorias para o segundo.
33
O apuramento da escala de atitudes permitiu-nos destacar, como mais
significativas, as conclusões que a seguir apresentamos.
No que respeita, em primeiro lugar às categorias formação de opinião e
consciencialização social do Questionário A, verificámos que relativamente à primeira,
não é evidente que a televisão seja considerada como formadora de opinião, mas é um
importante veículo de consciencialização. A distribuição equitativa, concordante e
discordante das respostas sobre a formação de opinião levanta-nos algumas dúvidas, visto
que alguns estudos têm demonstrado a influência dos media na opinião pública que é
formada, por um lado ao nível individual do processamento da informação (cognitivo), e
por outro, ao nível do processo da comunicação e organização social (Price, 1988). Em
relação à categoria efeitos no telespectador, associados ao próprio, pelas respostas ao
questionário, ficou acentuado que os programas televisivos não os afetam. O apuramento
da escala de atitudes, relativamente à categoria efeitos no telespectador associado a
terceiras-pessoas revelou, apesar de algumas flutuações, uma atitude concordante no
sentido dos efeitos da televisão terem mais efeito sobre terceiras-pessoas. Contudo, tendo
em conta a existência de pontuações significativas na atitude sem opinião em alguns dos
itens desta categoria, impõe-se alguma prudência na análise dos resultados desta
categoria.
Relativamente à categoria modificação de atitudes e comportamentos, retivemos,
como resultados mais significativos, quanto à escala de atitudes, a concordância
significativa sobre a modificação de comportamentos devido à exposição a programas
televisivos, nomeadamente os publicitários. A categoria efeito persuasão permitiu
verificar, relativamente à amostra inquirida, que a televisão tem um grande efeito
persuasivo sobre os espectadores, quer no próprio, quer nos outros.
34
A análise dos resultados do Questionário B, que reporta ao efeito da televisão na
educação de crianças e jovens, de acordo com o conceito de terceira-pessoa, mostrou que
na categoria efeito nas crianças e jovens, a televisão tem efeitos negativos e que a
delinquência e a violência são reforçadas pela exposição à televisão.
A categoria inibição dos efeitos, permitiu verificar que o diálogo familiar, a
educação fornecida pela escola, o acompanhamento das crianças enquanto veem televisão
e, com menos evidência a formação religiosa, podem minimizar ou inibir os efeitos
negativos da televisão. A formação para o sentido crítico não evidenciou resultados
significativos no que respeita à intervenção religiosa, mas mostrou a existência de uma
atitude concordante em mais de 50% em relação à escola atual como estimuladora do
sentido crítico das crianças.
Quanto à categoria efeito educativo/formativo, mostrou que o potencial da
televisão pode ser um auxiliar dos professores na função ensino, tendo efeitos positivos
nas aprendizagens desde que haja uma orientação na visualização dos programas,
podendo ser um meio com potencial para fornecer aprendizagens. De acordo com o
apuramento da escala de atitudes, a televisão deveria ser mais utilizada como auxiliar
educativo.
O estudo a que procedemos demonstrou a existência em grau moderado do efeito
da terceira-pessoa em relação aos adultos no que respeita aos programas televisivos. O
mesmo não se verificou quanto aos seus efeitos educativos enquanto auxiliar didático,
sendo evidente a atitude positiva no efeito nas crianças (terceira-pessoa) quando se trata
de aprendizagens.
10. Sugestões.
35
Os resultados sugerem que a utilização educacional da televisão pode, em algumas
circunstâncias, ser um bom auxiliar educativo, devendo os pais e educadores ser
encorajados a utilizá-la, acompanhando, dentro do possível os seus filhos e educandos.
Será importante em contexto familiar e frente a um programa educativo da televisão
mostrar que o que é importante para as crianças também o é para os pais.
Para os professores, atualmente em exercício nas escolas, e para os que iremos ter
nos próximos anos, é uma prioridade estar à altura dos desafios que a comunicação
audiovisual e multimédia, no seu mais amplo sentido representa, já que a convergência
tecnológica da televisão com os computadores e o serviço móvel de televisão já são uma
realidade.
Como as atitudes mudam, se ensinam e se transformam, as Escolas Superiores de
Educação, como entidades responsáveis pela formação de professores, deveriam
estabelecer planos de estudos e projetos de formação, de modo a que os futuros
professores assumam uma atitude face àquelas mudanças, preparando-os para lidar com
os potenciais efeitos da televisão, que podem traduzir-se na educação através de
influências nas atitudes e comportamentos por ela potenciados.
Anexo I
DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DAS RESPOSTAS AOS ITENS DO QUESTIONÁRIO A
Itens das Questões Colocadas C SO D
36
1. A televisão é a principal formadora de opinião. 41,4 17,1 41,5
2. A Televisão, ao dar informação tem um papel importante na consciencialização da
sociedade.
97,6 2,4 0,0
3. Acho que os outros são mais influenciados pela televisão do que eu. 36,6 39,0 24,4
4. Acredito na influência negativa da televisão sobre os indivíduos com menos sentido
crítico.
82,9 12,2 4,9
5. A violência na televisão é um problema que afeta os outros mais do que a mim. 51,2 24,4 24,4
6. A publicidade da televisão influencia a maior parte das pessoas 87,8 4,9 7,3
7. Não sou influenciado(a) por qualquer publicidade que passa na televisão 36,6 12,2 51,2
8. O que se vê na televisão pode modificar as atitudes e comportamentos dos espectadores 87,8 9,8 2,4
9. O que vejo na televisão em nada contribui para modificar os meus comportamentos e
atitudes
56,1 4,9 39,0
10. Há programas televisivos que têm mais influência nos outros do que em mim próprio 58,5 26,8 14,6
11. As pessoas são mais influenciadas por publicidade com conteúdo emocional positivo do
que outros que sejam neutros
80,5 12,2 7,3
12. A exposição às mensagens persuasivas da televisão podem modificar as atitudes das
outras pessoas
75,6 19,5 4,9
13. A exposição às mensagens persuasivas da televisão não modifica as minhas atitudes 61,0 4,9 34,1
14. Sou influenciado mais do que as outras pessoas pela publicidade que passa na televisão 2,4 12,2 85,4
15. Acho que as outras pessoas são mais influenciadas pela publicidade da televisão do que
eu.
43,9 34,1 22,0
16. Os programas de televisão produzem nas outras pessoas efeito negativos. 41,5 36,6 22,0
17. Os programas de televisão não produzem em mim quaisquer efeitos negativos. 53,7 12,2 34,1
C – Concordância; SO – Sem Opinião; D – Discordância
Anexo II
DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DAS RESPOSTAS AOS ITENS DO QUESTIONÁRIO B
37
Itens das Questões Colocadas C SO D
1. A infância está a sofrer efeitos negativos da Televisão. 75,6 12,2 12,2
2. A delinquência juvenil é motivada pela Televisão. 43,9 22,0 34,1
3. O diálogo familiar pode inibir os efeitos negativos da Televisão na sociedade 92,7 2,4 4,9
4. A educação formal oferecida pela escola pode inibir os efeitos negativos da
Televisão na sociedade
61,0 19,5 19,5
5. A formação religiosa pode inibir os efeitos negativos da Televisão na
sociedade
39,0 36,6 24,4
6. Na sociedade atual ainda há espaço para o diálogo familiar. 78,0 9,8 12,2
7. Relativamente ao senso crítico sobre a televisão, a religião contribui para
alienar o indivíduo.
22,0 46,3 31,7
8. Existe uma potencial formação do senso crítico das crianças no atual sistema
escolar
51,2 22,0 26,8
9. Após verem alguns programas de televisão as crianças tornam-se mais
violentas
73,2 12,2 14,6
10. Relativamente ao senso crítico sobre a televisão a religião torna o indivíduo
mais crítico.
39,0 34,1 26,8
11. A televisão tem um potencial muito grande podendo auxiliar os professores na
sua função educativa e de ensino
90,2 2,4 7,3
12. A televisão pode ter um efeito positivo na aprendizagem dos alunos deste que
estes sejam orientados e preparados para a ver
95,1 2,4 2,4
13. A televisão tem um efeito negativo nas crianças e jovens pelo que não deverá
ser utilizada como auxiliar educativo
12,2 17,1 70,7
14. As crianças podem aprender a partir da televisão 87,8 7,3 4,9
15. Se fosse docente utilizaria a televisão como auxiliar educativo 70,7 22,0 7,3
16. Desde que acompanhadas a ver televisão, as crianças, estão menos sujeitas às
influências que lhes pode causar.
87,8 2,4 9,8
C – Concordância; SO – Sem Opinião; D – Discordância
Referências
38
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Dina L. G. Borzekowski
Janice L. Liebhart
Katherine L. Weber
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University of Wisconsin-Madison
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Vala, J.; Monteiro, M. B. (2004) Psicologia Social, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian
Contacto com o autor: (malbe.rodrigues@netcabo.pt)

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Televisão e atitude face aos efeitos

  • 1. Manuel Alberto Rodrigues Televisão educativa e atitude face aos efeitos resultantes da exposição a mensagens televisivas UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA SOBRE O EFEITO DA TERCEIRA- PESSOA Lisboa, 2008
  • 2. 2 “....é em torno da televisão, o principal dos media, que o debate público se encontra menos organizado, mas é substituído por uma extrema ambivalência de atitudes em relação a ele próprio. Uma cadeia de televisão transforma tudo em espetáculo e, muitas vezes, procura apenas aumentar a sua quota de mercado, mas traz também a cada casa, rostos, palavras e gestos que tornam próximos seres humanos distantes de nós. A comunicação de massas, qualquer que seja o seu conteúdo, político ou factual, dá por natureza o primado à comunicação e, portanto, ao impacto em detrimento da mensagem, ideia que McLuhan foi o primeiro a exprimir e que os profissionais da televisão adotaram claramente, quer aprovem ou não esta transformação do media no seu próprio fim, nada permite, porém, crer que o público seja atraído apenas pela violência, pelo dinheiro e pela estupidez. A sedução dos programas mais fáceis que reduzem os espectadores a um papel de meros consumidores, não é, felizmente, bastante forte para eliminar o seu contrário, o efeito de expressão, de revelação daquilo que nos é distante ou próximo, mas que se nos impõe bruscamente, com o seu peso de interrogação e de participação.” Alain Touraine In Crítica da Modernidade (p. 291-292) TELEVISÃO OU NÃO - Desliga a televisão – disse o pai. - Vai lá para fora e vive a vida. Fui e à noite vim com uma abelha na orelha um rato no sapato cola na camisola giz no nariz gafanhotos nos bolsos rotos um escaravelho no joelho uma formiga na barriga um leão pela mão e atrás um camelo a puxar-me o cabelo. - Não vás mais lá para fora – disse o pai. - Liga a televisão. Luísa Ducla Soares In A Gata Tareca e Outros Poemas Levados da Breca
  • 3. 3 RESUMO Neste estudo faz-se um reposicionamento dos estudos acerca dos efeitos da televisão, trabalhando sobre o conceito da hipótese da terceira-pessoa, segundo a qual o indivíduo ao ser questionado sobre os efeitos negativos da televisão, atribui ao outro a possibilidade de sofrer esses efeitos mais do que ele. O teste empírico da verificação da hipótese foi efetuado através da aplicação de dois tipos de questionários de atitude do tipo Likert. Os resultados confirmaram a hipótese do efeito terceira-pessoa através das atitudes dos inquiridos, embora com valores relativamente baixos. O estudo testou ainda as atitudes sobre a televisão como auxiliar educativo que se vieram se confirmar muito positivas. Palavras-Chave: Atitude, televisão, educação, televisão educativa, terceira-pessoa.
  • 4. 4 1. Introdução. Este trabalho de investigação teve como ponto de partida uma conferência efetuada pela jornalista da RTP Fátima Campos Ferreira, subordinada ao tema, “Telecracia: a Sedução da Televisão”, que conduziu a uma reflecção sobre a problemática da perceção que temos da televisão e de como consideramos o efeito que causa nos outros. A poderosa influência persuasiva que os meios audiovisuais exercem sobre as grandes audiências é um fenómeno que tem transformado a fisionomia do poder político e da “educação pública”. A televisão é o vetor do marketing da política contemporânea, sendo uma indústria de transformação da sociedade e da consciência, tornou-se numa telecracia1 , num superpoder mediático e numa nova globalização da política. Kerckhove (1997:275), aluno de McLuhan e seu seguidor, afirma que a telecracia é uma realidade que não é partilhada por todos e é construída em nome de todos. A telecracia passou a influenciar a própria democracia. Poder-se-á dizer que é a opinião pública quem determina as posições políticas, e isso já seria grave, porque uma política autêntica (não apenas do ponto de vista da governação) deve ter um projeto a concretizar independentemente das opiniões momentâneas. Mas, ainda mais grave, é quando já não se percebem as diferenças entre factos e opiniões, ou quando, por meio da manipulação contínua das imagens, as verdades são transformadas em opiniões. É, deste modo, que um sistema de comunicação de massas, como a televisão, se torna instrumento de poder aos níveis, político, social e publicitário, favorecendo a instauração de uma conceção puramente processual de democracia. Apesar dos factos, vence quem conseguir influenciar o maior número de pessoas. 1 Sistema que pode governar virtualmente milhões de pessoas, formando os seus gostos, condicionando os seus comportamentoa, formando as suas consciências e as suas mentes.
  • 5. 5 Numa das seis conferências que Italo Calvino preparou para um ano letivo na Universidade de Harvard, mais tarde publicadas com o título “Seis Propostas para o Próximo Milénio”2 , a que deu o nome de Visibilidade, referia-se à imaginação e à imagem, enquanto produto da imaginação. No final desta conferência, alertava para o perigo de se “perder uma faculdade humana fundamental: o poder de focar visões de olhos fechados, de fazer brotar cores e formas a partir de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros numa página branca, de pensar por imagens.”. Colocava a questão de saber se continuaríamos a “ter o poder de evocar imagens numa humanidade cada vez mais inundada pelo dilúvio das imagens pré-fabricadas.” A preocupação com o futuro da imaginação, expressa por Italo Calvino, será uma orientação importante, já que, diversos psicólogos e pedagogos têm colocado questões semelhantes ao estudarem a relação entre a televisão e a imaginação infantil. Esta relação é um dos temas de debate social que vem sendo travado desde que a televisão se começou a estabelecer como foco de ritual doméstico na maior parte do mundo, sendo nesta dimensão que o fenómeno persuasivo da televisão sai reforçado. Pensamos ser de primordial importância conhecer a atitude de pais, educadores, professores e futuros professores face aos efeitos que a televisão exerce sobre eles próprios e à perceção que têm do efeito sobre os outros, para que se possa determinar a forma como ensinar a modificar essas atitudes. Neste contexto, a questão que colocámos no desenvolvimento desta investigação foi a de saber qual seria a atitude dos telespectadores face aos efeitos da persuasão e influência que as mensagens televisivas provocam nos outros (denominado efeito da terceira-pessoa), comparativamente a si próprios, assim como a sua relevância na 2 C. f. Referências bibligráficas
  • 6. 6 educação. Nos “outros” incluem-se não apenas adultos, mas também crianças e jovens que diariamente consomem horas de televisão. 2. Enquadramento do estudo. A televisão desempenha um papel insubstituível na formação da opinião sobre os mais diferentes assuntos da atualidade enquanto mediadora e veículo de informação. Estando presente em mais de 95% dos lares, trata-se de um veículo que está no cerne da transmissão de informações, de comportamentos, de valores éticos e morais. O acesso a canais temáticos documentais, culturais e científicos diversificados, possibilitados pela televisão por cabo, é uma realidade que não se pode desvalorizar, visto ter registado um aumento progressivo da taxa de penetração, tendo passado de 9,2% no 4º Trimestre de 2000, para 13,7% no 2º Trimestre de 20073 . Como reflexo desta participação decisiva da televisão na vida das pessoas, continua a questionar-se o seu papel na sociedade contemporânea, como elemento de educação, cultura e inserção social, e o seu impacto na formação de mentalidades e de comportamentos. A exposição à televisão tem sido fortemente associada a comportamentos agressivos (Donnerstein, Slaby e Eron, 2005), conceção do mundo como um lugar assustador (Gerbner, Groos e Morgan, 1994), obesidade (Reilly, Armstrong, Dorosty, et al, 2004), diminuição da atenção (Cristakis, Zimmerman, McCarty, 2004), enfraquecimento dos valores morais (Kcrmar e Curtis, 2003), entre outros. Inversamente também tem sido associada à aquisição de competências mais rápidas na aquisição da 3 Fonte: ANACOM-Autoridade Nacional de Comunicações. Considera-se, neste caso, a taxa de penetração como sendo igual ao nº total de aderentes/total da população.
  • 7. 7 linguagem (Linebarger e Walker, 2005), e aumento do desempenho escolar (Anderson, Huston, Scmitt e Wright, 2001). Os media, em especial a televisão, exercem uma forte influência nos sujeitos consumidores, sendo também certo que essa influência não pode ser compreendida fora de um quadro mais amplo e complexo dos contextos de vida e das relações sociais dos sujeitos e dos grupos sociais (Shrum, Wyer e O’Guinn, 1998). Daqui o reconhecimento da importância, que continua a ser crescente, de estudar o contexto em que decorre habitual e maioritariamente a receção televisiva, que é o contexto familiar. 2.1. O telespectador como consumidor. Cada vez mais a informação televisiva é um serviço que se vende (e que vende), porque ver é acreditar, ideia que, as grandes empresas televisivas através de uma suposta realidade e transparência, pretendem fazer passar. Nesta perspetiva, o telespectador pode assistir, como testemunha, a qualquer acontecimento no globo. O discurso televisivo, especialmente nas emissões em direto, a realidade apresentada é imediatamente apreendida como se o telespectador estivesse presente no local do acontecimento. Está perante uma verdade, que, para “ele”, é indiscutível, e que, para os “outros”, também deve ser, porque se desenrolam à sua frente. É através destas apresentações que lhe surgem como verdadeiras, que o telespectador tem acesso ao mundo e não através da experiência ou do conhecimento. Lembremo-nos por exemplo da guerra do Golfo e, relativamente mais recente a invasão do Iraque, que, ao serem transmitidas, mais pareciam videojogos com mapas, diagramas, levando a visibilidade ao seu expoente máximo e onde a violência era exposta em tempo real e o assunto dominava grande parte da programação das televisões. Existem várias teorias que procuram compreender e explicar aquelas ações dos media sobre a sociedade, nomeadamente a partir das noções de “agenda setting”,
  • 8. 8 “priming” e “framing”4 , noções estudadas nas Ciências da Comunicação, e sobre as quais não nos iremos debruçar, visto saírem fora do âmbito desta investigação. De qualquer modo, no seu conjunto, aquelas hipóteses são demonstrativas do modo como a comunicação televisiva pode exercer efeitos sobre os indivíduos. Com as técnicas de persuasão organizadas, com uma metodologia científica não apenas nas campanhas eleitorais e nas ações governamentais, mas também na publicidade, o cidadão tende a ser reduzido a espectador político e a consumidor passivo. 2.2. Intencionalidade e objetivos. Pensamos ser importante interrogarmo-nos sobre o modo como as pessoas encaram a televisão em relação aos outros para nos questionarmos sobre os seus efeitos, reflectir sobre os contextos sociais da receção, as práticas sociais das famílias, a educação para os média e a mediação entre a família e as crianças. Poderemos associar o modelo teórico do efeito da terceira-pessoa, proposto por Davison (1983)5 , à perceção que pais e professores têm de que os programas televisivos têm um maior efeito nas crianças dos outros do que nas suas. Assim, o nosso primeiro objetivo foi o de pesquisar aspetos conceptuais em que se baseia o efeito da terceira-pessoa. O segundo objetivo, tentar conhecer a atitude dos sujeitos face àquele efeito, isto é, verificar se as perceções dos telespectadores sobre os efeitos da televisão têm mais efeito sobre “os outros” do que sobre si. O terceiro objetivo, na sequência dos anteriores, centrou-se na perceção sobre alguns da potencialidade educacional da televisão. 4 “Priming” e “Framing” são dois processos comunicacionais que ajudam a explicar como é que o público é afectado pelo media. “Priming” (Agendamento), é o processo pelo qual a televisão (ou outro medium) avisa o telespectador da informação prévia que vão ter naquela abertura ou emissão para estimular mais atenção. “Framing” (Enquadramento), explica o processo pelo qual o medium tem a habilidade de alterar o contexto no qual a abertura é vista, acentuando alguns aspectos e ignorando outros. A “Agenda-setting” tem uma grande influência sobre o público ao determinar o que tem mais interesse informativo e quanto espaço e importância se lhes deve dar, destacando determinados temas e preterindo outros. 5 Conceito que se irá desenvolver mais adiante.
  • 9. 9 A investigação pode então ser sintetizada de acordo com as seguintes questões centrais: Que representação e atitudes têm as pessoas dos efeitos da televisão sobre terceiros e sobre eles próprios? Qual é ou que perceção se tem da televisão relativamente ao seu contributo no processo educativo e nos seus intervenientes? Poderá a televisão ter algum potencial educativo? 3. Efeito da terceira-pessoa: perspetiva de atitudes individuais face às mensagens televisivas. 3.1. Explicitação de conceitos. Vala e Monteiro (2004) definem atitude como sendo “um mediador entre a forma de agir e a forma de pensar dos indivíduos”. Partindo desta definição podemos considerar atitude como uma reação avaliativa, favorável ou desfavorável, face a determinados objetos significativos, pessoas, grupos, acontecimentos ou símbolos, representada através das nossas crenças, sentimentos ou comportamentos. No contexto desta investigação, as atitudes não são crenças sobre a informação que temos disponível sobre um objeto, manifestadas através de opiniões, mas sim, opiniões sustentadas pela experiência dos sujeitos e pela sua interação com os outros. Na ótica da publicidade parte-se do princípio que esta provoca a propensão para comprar e consumir determinado produto a partir da formação de atitudes, referindo-se assim a uma predisposição psicológica geral em relação a determinado objeto, ideia ou afirmação, que, para Gúzman (1993) pode verificar-se em três dimensões: cognitiva (conhecimentos, crenças e convicções), afetiva (conjunto de sentimentos despertado no indivíduo por um objeto) e comportamental (predisposição para agir em relação a esse objeto). Se analisarmos atentamente o que muito se tem dito e escrito sobre a televisão verificaremos que esta ganha notoriedade, em especial, com os efeitos nefastos que lhe
  • 10. 10 são atribuídos. Estes, oscilam entre os efeitos fracos, que têm por referência a capacidade crítica do recetor, isto é, o tipo de relação que este estabelece com o que lhe é apresentado e os fortes com base na ideia do seu poder avassalador, cuja tónica se encontra no emissor ao pretender atingir um determinado público-alvo. Estes últimos conduzem-nos à hipótese do “efeito da terceira- pessoa”, conceito relativamente recente nas ciências sociais, formulado por Davison (1983), segundo o qual os sujeitos assumem que os meios de comunicação de massa exercem um forte impacto nos outros, mais do que nos próprios. Aquele conceito foi apresentado num artigo publicado na revista Public Opinion Quarterly, sobre os resultados da investigação que Davison conduziu com pequenos grupos dos seus alunos e alguns adultos, a partir da sua experiência e observação e que serviu de base para outros estudos posteriores. O efeito da terceira-pessoa foi, entretanto, relacionado com a “ignorância pluralística”6 , que, segundo a Teoria da Comparação Social, pressupõe que as atitudes, capacidades e opiniões de um indivíduo são avaliadas através da comparação de nós próprios com os outros. Existe sempre um compromisso entre a perceção da norma do grupo e a sua posição ideal, isto é, a que mais admira. A principal característica da ignorância pluralística é que cada membro de um grupo atribui às outras pessoas significados e critérios dos quais ele mesmo (membro do grupo) não compartilha. A ignorância pluralística, ocorre então, quando a maioria dos indivíduos de um grupo supõe que a forma de pensar da maioria dos outros elementos é de alguma forma diferente, mas a verdade é que são mais similares do que pensam. A televisão tem vindo a ter, ao longo dos anos, um papel acentuado na organização dos ritmos de vida, na evidência de determinados acontecimentos sociais, no esquecimento de outros e na construção de atitudes e representações, o que é reforçado 6 O termo ignorância pluralística, foi introduzido por Allport, Floyd, Social Psychology, Bóston, Houghton Mifflin
  • 11. 11 por estudos experimentais de (Gerbner, 1980; Vala, 1984). Sendo representada como correspondendo aos gostos, opções e pontos de vista da maioria, a televisão tem contribuído para uma “espiral do silêncio”, que significa, para Noelle-Neumann (1995:37), a dificuldade das pessoas expressarem outros pontos de vista que não sejam os dominantes. As imagens e as representações veiculadas pela televisão têm em si uma ideia, embora falsa, de consenso e de partilha por uma vasta comunidade. Como meio de comunicação tem a particularidade de fazer corresponder a cada palavra um rosto e a cada conceito e ideia uma imagem, levando o telespectador a ter acesso a emoções, experiências e comportamentos com o mesmo impacto da experiência direta, tornando a televisão num espaço de vivência de experiências vicariantes (Bandura e Walthers, 1963) que poderão gerar o efeito da terceira-pessoa. O efeito da terceira-pessoa é definido por Perloff (2002:490), como uma “perceção individual de uma determinada mensagem a qual irá exercer um forte impacto nos outros e não em si”, o que significa, que tal mensagem não terá grande influência sobre mim (o “eu”) ou no outro (“tu”) que é uma segunda pessoa, mas nos outros (“ele” ou “eles”), que são as terceiras pessoas. Assim, o sujeito (o “eu”) subestima os efeitos dos media, no caso a televisão, mas sobrestima o impacto que pode exercer sobre os outros. Existe um efeito de distância espacial e cultural ao presumir que os efeitos incidem mais sobre os sujeitos distantes do observador. A hipótese do efeito da terceira-pessoa conduz à procura da compreensão dos efeitos da televisão na sociedade e definição do seu universo de modo a poderem ser implementadas alterações, para minimizar eventuais danos aos indivíduos. Ainda, e de acordo com Perlof (2002:495) “Os efeitos de terceira-pessoa deveriam ser particularmente evidenciados quando a mensagem é percebida como indesejável – ou seja, quando as pessoas inferem que ‘essa mensagem não deve ser muito boa para mim’ ou não é bom admitir que se seja influenciado por esse tipo de programa”.
  • 12. 12 Para McLeod e Evelend (1999), as mensagens pró-social, vistas do ponto de vista do sujeito, vão ser percebidas como causando menos efeito nos outros, do que no próprio sujeito (“eu”). Esta é uma perceção invertida da hipótese da terceira-pessoa, que terá a ver com a perspetiva da autoestima do sujeito quando argumenta que parece melhor aos nossos olhos e aos dos outros que as mensagens pró-social tenham mais impacto no próprio sujeito e menos nos outros. O que continua a persistir é a perceção do efeito negativo com que a mensagem atua sobre o outro. Contudo, teremos de ter em conta o problema da avaliação das diferenças na perceção do efeito da terceira-pessoa com base no distanciamento quer espacial, quer no que se refere ao estatuto social. A hipótese do efeito da terceira-pessoa, quando se direciona aos mais jovens pode revestir-se de outro sentido, porque, quando tem impacto na ordem social, a opinião pública pode impulsionar mudanças legislativas, no sentido do estabelecimento da censura a conteúdos nocivos, que se traduzem, nas sociedades democráticas, à penalização do media em substituição de uma censura explícita. O efeito da suposta influência, consequência da hipótese da terceira-pessoa, traduz-se não no efeito direto, mas no indireto que é presumido ou imaginado, movimentando a opinião pública a partir da possibilidade do efeito sobre o outro e sobre a possibilidade desse efeito atingir o próprio observador (Gunther, at al.,1991). 3.2. Breve relance sobre investigações anteriores. Têm sido várias as investigações realizadas com vista a explicar o processo do efeito da terceira-pessoa, analisado nas suas diferentes possibilidades, como sejam, a experiência pessoal, os atributos da mensagem e a fonte para se determinar a presença ou ausência daquele fenómeno. Os estudos têm incidindo, de maneira geral, em situações
  • 13. 13 muito específicas como a publicidade, violência, artigos de jornal, a formação da opinião pública entre outras. Uma das linhas de pesquisa efetuada por Cohen, Mutz, Price e Gunther (1988) com estudantes, que foram expostos a uma série de artigos difamatórios, confirmou várias previsões: os leitores dos artigos (os estudantes submetidos à experiência) calculavam que os outros seriam mais afetados pelas mensagens difamatórias do que eles próprios; o efeito foi evidenciado quando os outros se tornaram mais distantes daqueles leitores; quando a difamação foi atribuída a fontes de influências negativas, o efeito também se acentuou. Os próprios leitores discutiram a mensagem difamatória, assumindo ao mesmo tempo que os outros seriam os mais influenciados. Os autores sugeriam então que a avaliação em audiência de comunicações difamatórias sobre os outros pode ter sido influenciada pelo efeito da “terceira-pessoa”. Numa outra investigação, Gunther (1991) sugere que as pessoas sobrestimam sistematicamente a extensão em que outros são afetados pelas mensagens dos media. Este foi um projeto experimental que manipulou a fidedignidade da fonte de um artigo difamatório de jornal, a fim de conhecer o efeito que ele teria sobre outras pessoas, tendo concluído que as pessoas agem de acordo com as suas próprias estimativas sobre os eventuais efeitos causados nos outros, explicando o fenómeno com base na teoria da atribuição causal, segundo a qual as pessoas atribuem uma causa a um acontecimento com base em poucas informações recorrendo a esquemas causais correspondentes a crenças e representações sobre a causa dos acontecimentos 7 . Utilizando também como facto explicativo a teoria da atribuição causal, Hoffner at al. (2001), através de 253 entrevistas telefónicas aleatórias efetuadas aos residentes de uma comunidade, investigou o efeito da terceira-pessoa em duas situações em programas 7 Sobre a Teoria da Atribuição Causal c. f. Kelly (1972);Vala e Monteiro, (2004)
  • 14. 14 televisivos: forma de perceção do mundo e agressão. O estudo explorou fatores do efeito da terceira-pessoa e a sua relação com a exposição à violência na televisão. Confirmando a tendência das pessoas atribuírem um maior efeito da violência na televisão sobre terceiros do que sobre elas próprias, Salwen e Dupagne (2001) mostraram que os resultados para a compreensão do efeito da violência na televisão dependiam do julgamento e do conhecimento individual (auto-percebido). Uma pesquisa efetuada com estudantes de duas universidades sobre os “Reality Show”8 estimou o efeito de três daqueles programas em si próprios e noutras pessoas. Os estudantes submetidos ao teste (n=640) acharam que aqueles programas afetaram mais os outros do que a eles próprios, colocando este género de programas na categoria dos socialmente indesejáveis (Leone, Peek e Bissell, 2006). A publicidade é um outro fenómeno que raramente é assumido pelas pessoas como tendo qualquer efeito sobre elas. O efeito da terceira-pessoa, no contexto da publicidade direcionada ao consumo, foi investigado por Reid, Delorme e Huh (2004) através de 264 questionários passados a adultos e pretendia avaliar as perceções dos efeitos da publicidade e o apoio que seria dado à sua regulamentação. Os resultados mostraram, que na publicidade dirigida ao consumidor, o efeito da terceira-pessoa atua segundo um modelo multidimensional com quatro fatores (efeito adicional negativo, aprendizagem e envolvimento, interação fornecedor/cliente e desconfiança sobre a informação) e que os efeitos dos conteúdos negativos em terceiras-pessoas eram maiores que os positivos. Uma meta-análise efetuada em 31 estudos sobre a hipótese da perceção do efeito da terceira-pessoa mostrou que o coeficiente de correlação entre os efeitos estimados dos media no “eu” e no “outro” era r =.50. Dos oito aspetos investigados (fonte, meio, 8 Os “Reality Show” também conhecidos por Reality Television é o nome atribuído a um novo género de programas televisivos em que se representam pessoas e circunstâncias reais ou próximas da realidade. A última geração deste tipo de programas foi o “Big Brother”. Por vezes os “Reality Shows” podem apresentar o formato do documentário social.
  • 15. 15 mensagem, método, amostragem, respondentes, país e desejabilidade), três (amostragem, respondentes e mensagem) mostraram variações significativas da dimensão do efeito. A perceção do efeito da terceira-pessoa em amostras não aleatórias de estudantes da faculdade era significativamente maior do que em amostras aleatórias de estudante do ensino não superior. Numa perspetiva teórica estes resultados poderiam ser devidos aos participantes no estudo, que se achavam mais “espertos” do que as outras pessoas. Uma explicação mais arrojada atribuía os resultados aos investigadores que confiam em amostras de estudantes (Paul, Salwen e Dupagne, 2000). Tomando como ponto de partida a televisão como um médium que tem um potencial poderoso na para a formação da opinião pública, Mutz (1989) efetuou um estudo sobre a perceção das opiniões e como elas se relacionam com a opinião pública. Verificou assim que, na formação da opinião pública, a perceção da influência dos media nos outros era consistentemente maior do que a perceção que cada indivíduo tinha daquela influência sobre si próprio. As respostas ao questionário mostraram ainda existir maior disposição para expressar as opiniões publicamente, quando percebiam uma tendência a favor do seu ponto de vista ou quando havia uma maior probabilidade na obtenção de sucesso sobre ele, tal como sugere a teoria da espiral do silêncio a que já nos referimos anteriormente. Com base na premissa da utilização de argumentos para apoiar a censura quando se trate de violência na televisão, (Hoffner, Buchanan, Anderson, Hubbs, Kamigaki Kowalczyk, Pastorek, Plotkine e Silberg, 1999) efetuaram uma investigação em que colocavam a hipótese “de que os outros são mais afetados pela violência na televisão e pela exposição a algumas notícias do que o próprio”. O estudo mostrou um apoio à censura aos programas de violência. Todavia, ao serem examinados separadamente, os efeitos percebidos no próprio e nos outros, o apoio à censura foi associado à opinião dos
  • 16. 16 inquiridos que afirmavam que o índice de exposição à violência aumentava as tendências agressivas, o que vem na linha das investigações de Bandura já anteriormente referidas. 4. Procedimentos metodológicos. 4.1. A construção do questionário. Para se compreender o comportamento humano no contexto das ciências sociais empíricas, são três os principais caminhos: (a) observar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real; (b) criar situações artificiais e observar o comportamento ante tarefas definidas para essas situações; (c) perguntas efetuadas a grupos sociais sobre o que fazem (fizeram) e pensam (pensaram), através de inquéritos baseados em amostras. Optámos neste caso por esta última solução que nos pareceu a mais adequada para o nosso objeto de estudo. Assim, o questionário foi constituído em três partes distintas sendo a primeira formada por dados pessoais como a idade, sexo, profissão e curso. A segunda parte foi constituída por conjuntos de perguntas de escolha múltipla para determinar o tempo de exposição à televisão, assim como as preferências sobre a apreciação de conteúdos e tipos de programas. A terceira e última parte era constituída por uma escala de atitudes que incluiu 38 itens, sendo um posteriormente eliminado devido ao seu carácter redundante. Os itens da escala de atitudes foram construídos com base em algumas entrevistas e diálogos prévios com os alunos da instituição no ano letivo de 2006/2007 que tiveram como base os conteúdos e programas da televisão e a televisão como auxiliar educativo. Para a construção do questionário de atitudes seguimos algumas regras na construção da escala designadamente: redação de itens de forma clara, breve e simples; construção dos itens na primeira pessoa de forma a atenuar a distância psicológica com o inquirido; simplicidade de preenchimento.
  • 17. 17 Partimos do pressuposto de que a atitude, favorável ou desfavorável, dos inquiridos seria condicionada em grau mais ou menos elevado pela sua perceção, enquanto telespectadores. Assim, construímos um conjunto de frases favoráveis e desfavoráveis em relação ao nosso objeto de estudo que permitissem aos inquiridos manifestarem opiniões acerca da televisão, posicionando-se face a uma escala de cinco posições cujos extremos fossem “Concordo Plenamente” e “Discordo Plenamente”. As respostas foram pontuadas, atribuindo o valor 5 às respostas de “Concordo Plenamente” e o valor 1 às respostas “Discordo Plenamente”. As frases desfavoráveis ao objeto de estudo foram pontuadas de forma invertida, isto é, foi atribuído o valor 1 à resposta “Concordo Plenamente” e o valor 5 às respostas “Discordo Plenamente”. 4.2. Caracterização da amostra. Para a definição do tamanho amostra não foram contemplados os procedimentos metodológicos clássicos de uma amostra aleatória com base em estimativas de erro, nem critérios específicos de aleatoriedade para a seleção dos casos observados. Apesar disso, não foram fixados critérios de intencionalidade para a seleção, cujos sujeitos foram selecionados ocasionalmente. O tamanho da amostra foi restritivo, visto que a maior parte do universo dos inquiridos eram estudantes de uma Escola Superior de Educação9 . No entanto, tendo em conta o público-alvo a quem se destinou o questionário não esteve muito distante duma amostra representativa. A amostra sobre a qual incidiu a investigação era inicialmente composta por 44 sujeitos. Depois de ser efetuada uma análise prévia aos dados recolhidos para tratamento informático, constatámos que 3 deles omitiram algumas respostas essenciais em relação ao questionário aplicado, sendo, por isso, retirados da amostra e considerados casos 9 ESEAG – Escola Superior de Educação Almeida Garrett, instituição particular do Grupo Lusófona.
  • 18. 18 omissos. Assim sendo, a nossa amostra passou a ser composta por 41 sujeitos, 7 (17,1%) do sexo masculino e 34 (82,9%) do sexo feminino, sendo 30 (73,2%) estudantes e 11 (26,8%) não estudantes. Quanto à formação académica eram dominantes os cursos de Licenciatura em Professores do 1º e 2º ciclo e de Educadores de Infância10 conforme mostra o Quadro 1. As ocupações e profissões foram variadas, todavia, é de realçar a predominância de estudantes e de outras profissões não ligadas ao ensino conforme se pode verificar no Quadro 2. As idades variaram entre os 18 e os 57 anos com uma média de idades de 32 anos, um desvio padrão de 10,43 e a moda de 26 anos (valor mais frequente). Quanto à origem geográfica, 53,7% (22) eram do Distrito de Lisboa, 39% (16) do Distrito do Porto e os restantes 7,3% (3) distribuíam-se por Braga, Coimbra e Açores. Relativamente aos hábitos diários de ver televisão verificou-se que a maioria dos inquiridos, 65,9%, veem televisão diariamente, 29,3% aos fins de semana e 4,9% em outras ocasiões. O tempo de exposição à televisão variou entre 63,4% que veem entre trinta e sessenta minutos, 29,3% noventa minutos e 7,3% mais de noventa minutos, sendo a hora dominante após as 19 horas com 92,7%. Quanto à classificação por preferência dos programas, estas variaram entre os 61% pelo noticiário, 41,5% pelos documentários e 39,0% para as séries televisivas. Como menos preferidos foram mencionados os programas religiosos com 58,5%, logo seguidos pelos concursos e as telenovelas, ambos com 36,6%. Os programas musicais obtiveram 10 A maior parte dos estudantes que participou no inquérito era composta por alunos dos Cursos de Licenciatura em Professores do 1º Ciclo e em Educadores de Infância. Quadro 1 Formações Académica Nº % Cursos de Professores do 1º e 2º Ciclo e Educadores de Infância 24 58,5 Outro Cursos 7 17,1 N/Identificadas 10 24,4 Totais 41 100 Quadro 2 Ocupação/Profissão Nº % Professores 7 17,1 Auxiliares de Acão Educativa 7 17,1 N/Identificada/Estudante 12 29,3 Outras 15 36,6 Totais 41 100
  • 19. 19 uma preferência média com 29,3%. As séries televisivas tiveram também alguma preferência com 26,8%. Os programas desportivos encontravam-se nos 26,8% do grupo dos menos preferidos e 22% nos mais preferidos. 5. Instrumento de avaliação e procedimentos estatísticos. 5.1. A construção da escala. De entre as técnicas de construção de escalas de atitudes, optámos pela metodologia de Likert11 , atendendo à sua simplicidade de construção e de tratamento estatístico dos resultados. A sua construção foi baseada numa escala de 5 pontos, o que permite situar os sujeitos segundo uma ordem decrescente correspondente ao somatório dos pontos em todos os itens da escala em que se atribuíram aos itens os valores 5 → 1 ou 1 → 5, consoante o carácter favorável ou desfavorável dos itens formulados. O questionário referente à escala de atitudes foi separado em duas partes, que, por comodidade de exposição, passaremos a designar por Questionário A e por Questionário B, correspondendo respetivamente ao “Questionário de atitudes sobre efeitos da televisão em “terceiras-pessoas” e ao “Questionário de atitudes sobre a função educativa da televisão na educação. Após o cálculo do somatório dos pontos obtidos em todos os itens em cada um dos questionários, foi calculada a correlação entre os resultados verificados em todos os itens e o somatório dos pontos obtidos. O objetivo deste procedimento foi, segundo a metodologia proposta por Tuckman (1994) e Miller (1991), o de proceder à identificação dos itens que melhor estão de acordo com o teste, conferindo-lhe um melhor grau de consistência interna e possibilitando selecionar os melhores itens, isto é, aqueles que evidenciam o nível mais elevado de acordo com o resultado total. A opção pela aplicação 11 C. f. Vala, Jorge e Monteiro, M. B. (2004), Psicologia Social
  • 20. 20 deste método incidiu sobre o coeficiente de correlação de Pearson12 , visto que, o teste de Spearman era pouco compatível com a existência de valores iguais que surgiriam, sempre, em número considerável, tendo em conta a relação entre número de sujeitos (quarenta e um) e o número de possibilidades de resposta (cinco). Aplicado o cálculo do coeficiente de correlação de Pearson, obtiveram-se as correlações entre os resultados verificados em todos os itens de cada um dos questionários e o somatório dos pontos obtidos pelos sujeitos que participaram no inquérito. Dos 18 itens iniciais do Questionário A, 12 tiveram uma correlação significativa ao nível de significância 0.05 ou inferior. Para os restantes, cuja correlação se situou num limiar de significância superior a .05, uma análise qualitativa dos itens da escala esclareceu-nos do interesse que havia em mantê-los. Atendendo ao carácter em certa medida redundante da formulação, um deles foi eliminado, permanecendo um total de 17 itens. Relativamente ao Questionário B, dos 18 itens, 12 tiveram significância igual ou inferior a .05. Dos restantes, dois foram eliminados, já que o nível de significância não fora atingido e ainda por se ter verificado sua irrelevância para o estudo. À semelhança do Questionário A, também houve itens que foram mantidos apesar de registarem fracos índices de correlação, mas cuja sua inclusão se tornava importante para conhecer a atitude dos inquiridos sobre a função da televisão na educação e formação das crianças e jovens. Para determinação do coeficiente de consistência interna de cada um dos questionários utilizámos o coeficiente Alfa de Cronbach que, variando entre +1 e –1, pretende avaliar a escala utilizada comparando-a com uma escala hipotética com o mesmo número de itens, tendo-se obtido para o Questionário A o valor .90 e para o Questionário 12 O tratamento estatístico de análise de correlação é empregue em investigações em que se procura estudar as relações entre os dados de duas variáveis com o objectivo de procurar qualquer tipo de relação entre resultados das duas variáveis. C.f. Miller, 1991, Handbook of Research Design and Social Measurement, Londres, Sage Publication p. 250
  • 21. 21 B, .89, que nos pareceram bastante significativos. Procedeu-se posteriormente ao recálculo do somatório dos pontos obtidos nos questionários por cada um dos sujeitos. 5.2. Resultados da aplicação da escala de atitudes. Na sequência da técnica de Likert como meio de construção da escala de atitudes, a primeira operação a efetuar para o apuramento dos resultados consistiu no cálculo do somatório de pontos obtidos por cada sujeito. Atendendo a que, nos dois questionários A e B, as escalas de atitudes são constituídas por 17 e 16 itens respetivamente, o somatório dos pontos estaria compreendido, para o Questionário A, entre um mínimo de 17 pontos, correspondente a respostas do tipo discordo plenamente a todos os itens favoráveis e um máximo de 85 pontos, em caso contrário e para o Questionário B um mínimo de 16 pontos e um máximo de 80 pontos. O apuramento da escala mostrou-nos que esses valores extremos, em ambos os questionários, nunca foram atingidos, tendo as respostas ficado compreendidas entre um mínimo de 46 e um máximo de 71 pontos no Questionário A e um mínimo de 43 e um máximo de 65 no Questionário B. Do apuramento dos resultados dos pontos, obtivemos para o Questionário A uma média de 58,7, variância 27,3, desvio padrão 5,2. Para o Questionário B obtivemos a média de 56, 8, variância 26,8 e desvio padrão de 5,1. Calculados os valores percentuais para os quatro tipos de possibilidades de resposta, e de modo a facilitar a exposição da análise dos dados, optámos por adicionar para cada um dos questionários os valores das respostas do tipo “Concordo Plenamente” e “Concordo”, assim como para as respostas do tipo “Discordo” e “Discordo Plenamente”. Os resultados finais ficaram assim com três tipos: Concordância, Sem Opinião e Discordância conforme se pode verificar nos quadros dos Anexos I e II.
  • 22. 22 6. O conteúdo da escala e as suas categorias. Quadro 3 – Categorias do Questionário A Categorias Função Itens da escala de atitudes a) Formação de opinião Pretende determinar o papel da televisão como veículo da formação de opiniões, consideradas como perceção individual acerca de determinados assuntos. 1 b) Consciencialização social Aquisição de regras sociais pelos sujeitos telespectadores, por via do contributo da programação, dando sentido à vida social e a uma consciência social, podendo ou não contribuir para a sua alteração ou adulteração 2 c) Efeitos no telespectador - Associados ao próprio Verifica a atitude dos sujeitos quanto ao efeito que determinados conteúdos televisivos lhes possam causar enquanto telespectadores. 7, 14, 17 - Associados a terceiras- pessoas Avalia a atitude dos sujeitos em relação aos efeitos dos programas de televisão sobre outros (terceiras-- pessoas). 3, 4, 5, 6, 10, 15, 16 d) Modificação de atitudes e comportamentos Avalia a modificação de atitudes e comportamentos nos sujeitos inquiridos e em terceiras-pessoas induzidos por mensagens veiculadas, quer através da programação televisiva, quer através da publicidade, que tendo por finalidade despertar a vontade no telespectador para o consumo de bens ou serviços, que na maior parte das vezes não precisa, ou não quer consumir. 8, 9, 11 e) Efeito persuasão Pretende conhecer qual o sentido da atitude relativamente às mensagens televisivas que possam induzir o telespectador a tomar determinadas atitudes. 12, 13
  • 23. 23 Os objetivos da nossa investigação condicionaram, naturalmente, o conteúdo da escala de atitudes sobre os efeitos da televisão em terceiras pessoas e na educação. Assim, incluímos os itens em categorias de âmbito mais geral as quais contêm os itens que se encontram nos Anexos I e II, cujo significado e função se apresentam nos Quadros 3 e 4 a partir e dos quais procedemos à análise do apuramento da pontuação obtida nos questionários. Compete ainda referir que, por vezes, para facilidade de exposição, Quadro 4 – Categorias do Questionário B Categorias Função Itens da escala de atitudes Efeitos nas crianças e nos jovens Esta categoria reporta-se a aspetos que podem constituir fonte de preocupação para pais e educadores, devido ao impacto negativo da televisão nas crianças e jovens. 1, 2, 9 Inibição dos efeitos O objetivo desta categoria consiste em localizar a crença ou descrença quanto aos mecanismos que permitiriam amenizar os efeitos da media e em determinar que ações podem minimizar o impacto negativo da televisão nas crianças. 3, 4, 5, 6, 16 Sentido crítico Pretende avaliar as atitudes face à capacidade de reflexão e de sentido crítico como potenciais fatores que podem possibilitar a redução dos impactos negativos da televisão e para as subtilezas da manipulação, em que caímos diariamente, aceitando tacitamente, o que nos é transmitido sem qualquer tipo de filtro ou sentido crítico. Pretende ainda avaliar até que ponto a religião tem alguma influência na inibição, ou não, do sentido crítico dos indivíduos através das suas intervenções. Não se pretendeu distinguir qualquer instituição religiosa em especial, considerámo-las antes como sendo potencialmente doutrinadoras, e, segundo algumas opiniões, limitadoras do sentido crítico do cidadão. 7, 8, 10 Efeito educativo/formativo Esta categoria tem como finalidade avaliar a existência de atitudes favoráveis ou desfavoráveis sobre os efeitos educativos da televisão nas crianças e nos jovens. 11, 12, 13, 14, 15
  • 24. 24 utilizaremos os termos “o próprio” para os sujeitos inquiridos e “os outros”, para “terceiras-pessoas”. No Questionário B, apesar de mais direcionado para o papel educativo da televisão como potenciadora de aprendizagens, está também implícito o efeito da terceira-pessoa, que, neste caso, são os alunos. Por outro lado, muitos pais e educadores, julgam que os efeitos negativos da televisão incidem exclusivamente nas outras crianças e não nas que estão ao seu cuidado, afetando apenas um pequeno número delas. 7. Apuramento dos resultados do Questionário A por categorias. a) Formação de opinião O item nº 1 desta categoria, que considera a televisão como a principal formadora de opinião, os sujeitos inquiridos emitiram uma opinião favorável de 41,4% e desfavorável de 41,5%. Estes dois resultados, pela pontuação desfavorável que lhes foi atribuída, poderão, numa primeira análise, demonstrar que a formação de opinião pode não depender exclusivamente da televisão, mas também de outras fontes de informação, quer formais, quer informais. b) Consciencialização social. Verifica-se relativamente ao item nº 2 uma tendência muito positiva na atitude dos sujeitos com 97,6% de concordância sobre o papel importante da televisão para a consciencialização da sociedade. A explicação para este resultado poderá estar no contributo da televisão para a difusão de valores e regras socais. Todavia, comparativamente à formação de opinião, esta poderá ter sido entendida como tendo uma conotação política veiculada por comentaristas, debates políticos e formadores de opinião.
  • 25. 25 c) Efeitos no telespectador  Associados ao próprio Quanto à influência da publicidade passada na televisão no próprio sujeito a que reporta o item nº 7, 51,2% discordam que a publicidade não tenha qualquer influência sobre eles e 36,6% concordam que não são influenciados. Uma explicação possível para a atitude em que a maioria concorda ser influenciada pela televisão, poderá ser dada numa ótica prospetiva de compra futura em que é assumida uma lógica mais racional e menos emotiva e com uma potencial identificação com alguns produtos e serviços oferecidos, por empatia com a marca e a informação constante da mensagem publicitária. Se quanto ao item nº 7 existe uma atitude discordante em relação à não influência da publicidade no próprio, relativamente ao item nº 14 verifica-se uma evidente atitude discordante, 85,4%, sobre o maior efeito que publicidade na televisão possa causar ao próprio, comparativamente ao causado a terceiras pessoas. Isto é, os inquiridos acham que a publicidade tem mais influência nas outras pessoas. Já quanto ao item nº 17, que afirma que os programas televisivos não produzem quaisquer efeitos negativos ao próprio sujeito, a concordância situa-se nos 53,7% e a discordância em 34,1%. Nestes dois itens já é manifesto o efeito da terceira-pessoa verificando-se uma tendência para uma atitude que mostra que os próprios não são permeáveis aos efeitos negativos da televisão.  Associados a terceiras-pessoas Na distribuição das respostas ao item nº 3, que indica uma maior influência da televisão sobre os outros do que sobre o próprio, 36,6% da pontuação revela uma atitude concordante relativa à maior incidência sobre os outros. Não fica, no entanto, clara a expressão desta atitude, já que se verifica um valor elevado de respostas sem opinião,
  • 26. 26 39,0% e de 24,4% de discordância. Por outro lado, na distribuição das respostas ao item nº 4, a influência que a televisão exerce sobre os indivíduos com menos sentido crítico, mostra-nos um nível de concordância muito elevado, situando-se em 82,9%. Uma possível explicação para este resultado bastante favorável, poderá ser atribuída à inclusão do conceito “sentido crítico” na frase mencionada no item. Isto é, para além da influência da televisão se exercer mais sobre terceiras-pessoas do que “em mim”, ela ainda se exerce mais sobre os que possuem menos sentido crítico. Verifica-se igualmente uma tendência positiva na distribuição das respostas ao item nº 5, efeito da violência na televisão sobre os outros e sobre o próprio, que apresenta uma concordância de 51,2% no sentido de afetar mais os outros do que o próprio. O item nº 6, que reporta à influência da publicidade sobre a maior parte das pessoas mostra uma elevada pontuação com 87,8% de concordância. Este valor elevado estará relacionado com o papel relevante que a publicidade assumiu na formação de padrões de comportamento nos últimos anos, disseminados cada vez mais por peças publicitárias televisivas. Relativamente a alguns programas televisivos, as respostas ao item nº 10 revelam que existe uma atitude concordante de 58,5% que consideram que os outros são mais influenciados pelos programas do que os próprios, apesar dos 14,6% de pontuação discordante e dos 24,8% sem opinião, a atitude que prevalece aponta no sentido de uma maior influência sobre os outros. Quanto ao item nº 15, sobre os efeitos causados pela publicidade sobre as outras pessoas do que no próprio, o nível de concordância situa-se nos 43,9% contra os 22,0% discordantes, sendo de salientar os 34,1% sem opinião, que pode revelar um certo grau de incerteza, quanto à atitude revelada nas respostas a este item. A observação do item nº 16 indica-nos uma atitude relativamente favorável com 41,5% de concordância em relação aos efeitos negativos que os programas de televisão
  • 27. 27 produzem nas outras pessoas e 22% de discordância. No entanto, o valor elevado de 36,6% dos sem opinião pode ser revelador de alguma incerteza e que as respostas a este item teriam sido dadas, não com base numa perceção pessoal, mas no desconhecimento sobre o efeito que os programas televisivos possam causar em “terceiras-pessoas”. d) Modificação de atitudes e comportamentos Os valores obtidos no item nº 8 mostram uma concordância inequívoca com a possibilidade de modificação de atitudes e comportamentos dos telespectadores através do que veem na televisão, tendo-lhe sido atribuídos 87,8% da pontuação. A maioria dos inquiridos reconhece que a televisão, ao nível da sua programação, se articula com as instâncias sociais, apresentando modelos de comportamento social, produzindo um aumento na suscetibilidade nas pessoas para serem influenciadas por aqueles modelos, modificando o seu estilo de vida, através de uma aprendizagem social, derivada da observação e não da experiência direta13 . Isto é, a televisão induz modelos de conduta nas audiências, facilitando a sua aceitação e imitação, transformando-os em padrões de comportamento social. As respostas ao item nº 9, que se prende com a possibilidade da não modificação de comportamentos e atitudes pela televisão nos próprios inquiridos, revelam uma percentagem de pontuação relativamente elevada de 56,1% concordante com a não modificação de comportamentos e atitudes nos próprios. Comparativamente ao item nº 8, prevalece bastante forte a atitude em que o efeito se exerce mais sobre os outros. À afirmação do item nº 11 dirigida à influência da publicidade com conteúdo emocional positivo nas pessoas, foi atribuída a pontuação concordante de 80,5%, o que vai de encontro à pontuação atribuída ao item nº 8, visto que, se o conteúdo da publicidade 13 c. f. Bandura, Albert 1980
  • 28. 28 é mais emocional, é provável que venha a modificar as atitudes e os comportamentos dos telespectadores. e) Efeito persuasão Considerando a persuasão como uma tentativa de mudança de atitudes, o item nº 12 tem a particularidade de salientar uma exposição a mensagens persuasivas, conferindo uma confirmação ao item nº 8 que aponta para a generalidade do que se vê na televisão. Convém, neste ponto, clarificarmos alguns aspetos relacionados com as mensagens persuasivas. Sabemos que estas mensagens, se provenientes de uma fonte menos credível, têm um efeito negativo na aceitação por parte do recetor, e, como tal, não conducente a uma mudança de atitude que sofre a influência de fatores endógenos ao indivíduo tais como, personalidade e autoestima, e exógenos, como a influência do grupo e aceitação social, entre outros. Alguns indivíduos, através da televisão, devido ao seu prestígio, competência e capacidade de persuasão, influenciam as atitudes e comportamentos dos elementos de um grupo, impondo ou conseguindo aprovar o que é a sua vontade e neste caso, podemos considerar pessoas, publicidade, documentários, etc.. Considerando os aspetos referidos, a concordância de 75,6% com este item mostra que os “outros” são mais permeáveis às mensagens persuasivas do que os “próprios”, que atribuíram 61% de concordância ao item nº 13, que sugeria a modificação das atitudes dos inquiridos. No entanto, os 34,1% de discordância com a afirmação deste último item revelam, mesmo assim, um valor relativamente considerável no sentido de os próprios ser menos influenciados pelas mensagens persuasivas. 8. Apuramento dos resultados das atitudes do Questionário B por categorias. a) Efeito nas crianças e jovens Nesta categoria destacam-se duas tendências de desigual peso numérico. Em primeiro lugar, as respostas ao item nº 1 que reporta aos efeitos negativos que a televisão
  • 29. 29 exerce sobre as crianças, e ao item 9 cuja afirmação refere que alguns programas de televisão potenciam a violência nas crianças, após a sua visualização, apresentam ambos uma nítida posição de atitude concordante, com 75,6% das respostas ao item nº 1 e 73,2% no item nº 9. Esta pequena diferença sugere que os efeitos negativos da televisão andam associados à violência. Em segundo lugar, as respostas ao item nº 2, que apresenta a televisão como a causadora da delinquência juvenil já não são tão evidentes visto que as opiniões se dividiram entre a concordância com 43,9%, mesmo assim em maioria, e a discordância com pontuação discordante de 34,1%. Com efeito, esta segunda tendência pode sugerir que não existe na amostra uma atitude negativa no sentido de considerar que a delinquência juvenil seja no todo motivada pela televisão. b) Inibição dos efeitos Na afirmação colocada no item nº 3, segundo a qual os efeitos negativos da televisão podem ser evitados ou minimizados através do diálogo familiar, a concordância é dominante em 92,7% da amostra. O que podemos questionar sobre este resultado é o que terá sido entendido por diálogo familiar ao ser dada resposta a este item, embora este seja do domínio do senso comum. Qualquer que seja a interpretação do conceito, existe de facto uma atitude muito favorável para com a importância dada à interação com a criança em contexto familiar, podendo ser benéfica para inibir os efeitos negativos de alguns programas televisivos. Os valores apresentados pelo item nº3 estão no mesmo sentido das respostas dadas ao item nº6 em que há uma concordância de 78,0% no sentido de ainda haver na sociedade atual espaço para o diálogo familiar. Este ponto pode estar em contradição com muitas das investigações efetuadas que justificam a falta de diálogo familiar, como a causadora de muitos dos problemas comportamentais das crianças e jovens.
  • 30. 30 As respostas ao item nº 4 relativas à educação formal proporcionada pela escola como inibidora dos efeitos negativos da televisão na sociedade, obtiveram 61,0% da pontuação, o que reflete uma maioria muito significativa de concordância. A escola pode ser, de facto, um facto importante, através de uma educação para os media, para minimizar os efeitos da televisão sobretudo nas crianças. A escola, entra no processo como um lugar de tematização e discussão dos conteúdos e das formas mediáticas. O professor, tem um papel central nessa relação dialógica entre a oferta mediática e o contexto escolar. A atitude dos inquiridos quanto à contribuição da formação religiosa como inibidora dos efeitos negativos da televisão formalizada através do item nº 5 não é muito clara. Contrariamente à família, o resultado mostra uma descrença quanto ao contributo da religião para inibição dos efeitos da televisão, com apenas 39,0% de respostas concordantes, quase ao mesmo nível das respostas sem opinião com 36,6%. As respostas de concordância ao item nº 16 com 87,8% de pontuação, em que o acompanhamento das crianças quando vêm televisão diminui as influências que lhes possa causar, vêm confirmar o que afirmámos anteriormente. Mais do que a escola, os encarregados de educação encontram-se numa forte posição para controlar, limitar e partilhar hábitos de utilização da televisão contribuindo ao mesmo tempo para uma educação e literacia para o médium televisão. c) Sentido crítico A quase totalidade das respostas aos itens nº 7 e nº 10 que relacionam a religião com o sentido crítico face à televisão mostraram tendências extremadas em ambos os itens. Assim, as respostas ao item nº 7, que sugere que a religião pode contribuir para a alienação do indivíduo, e consequentemente pode inibir o sentido crítico do indivíduo, mostram uma significativa tendência para atitudes de indiferença, ou desconhecimento,
  • 31. 31 perante aquela afirmação, atingindo o valor de 46,6% sem opinião. As atitudes discordantes atingiram 31,7% contra os 22% de concordância com a afirmação. O mesmo se verificou nas respostas ao item nº 10, cujo sentido é oposto e que sugere que a religião torna o indivíduo mais crítico, apresentando uma pontuação para concordância de 39,9% e de 26,8% para discordância, sendo o valor para os sem opinião relativamente elevada com 34,1%. A inexistência de uma atitude evidente quanto à intervenção da religião contribuindo para estimular o sentido crítico do indivíduo pode ser explicada pelo facto de as instituições religiosas não terem uma presença constante nos media. Os programas religiosos são escassos e, quando existem, apenas emitem opiniões genéricas sobre os problemas sociais sem se comprometerem com qualquer tomada de posição, definindo condutas sem discussão e estímulo ao sentido crítico. Como facto explicativo podemos ainda colocar a hipótese do desconhecimento quanto à capacidade interventiva e crítica da religião sobre a televisão e a sua implicação na sociedade. d) Efeito educativo Reconhecer a televisão como tendo grande potencial como auxiliar dos professores nas suas funções de ensino como é referido no item nº 11 recolheu 90,2% de atitudes concordantes, assim como a quase totalidade dos inquiridos. 95,1%, mostrou uma atitude concordante relativamente ao item nº 12, cujo sentido das respostas reflete, sem dúvida, que a televisão pode ter um efeito positivo na aprendizagem dos alunos desde que devidamente orientados. De facto, escolhendo os conteúdos mais adequados, e desde que haja um acompanhamento, a televisão pode ser um importante auxiliar educativo. Aqueles valores não se afastam muito dum estudo efetuado em 1997 pela Corporation for Public Broadcasting, tendo apurado que, em 92% dos professores, a televisão os auxiliava com mais eficácia nas suas tarefas no ensino básico e secundário14 . 14 Dado obtido a partir de Dirr, Peter J., 2001, “Gateway to Educational Resources for Development at All Ages” in Hanbook Children, Sage Publications
  • 32. 32 Em sentido oposto ao anterior, o item nº 13 mostra-nos uma pontuação concordante de apenas 12,2% com a não utilização da televisão como auxiliar educativo devido os seus efeitos negativos nas crianças, em contraste com 70,7% de atitudes discordantes com a afirmação. De acordo com as respostas dos inquiridos, há uma atitude significativamente concordante com a utilização da televisão pelos docentes como auxiliar educativo, como nos mostra o item nº 15, em que 70,7% de atitudes são positivas. As respostas ao item nº 14 que refere que as crianças podem aprender com a televisão são fortemente concordantes, apresentando uma pontuação 87,8% de atitudes positivas. Verificamos pela análise global desta categoria que existem evidentes atitudes positivas em relação à televisão como um auxiliar educativo, devendo, contudo, ser utilizada com orientação e preparação prévia em sintonia com os professores. 9. Conclusões. Propusemo-nos, neste trabalho exploratório, proceder, numa primeira fase, a um estudo das atitudes em relação à perceção do efeito da terceira-pessoa, e numa segunda fase, conhecer do ponto de vista educacional as atitudes dos efeitos da televisão sobre as crianças e jovens, considerados também como terceiras-pessoas. Não pretendemos apresentar causas explicativas para os resultados, excetuando alguns casos pontuais para os quais avançámos algumas hipóteses explicativas. Pusemos em prática este projeto, através da realização de um inquérito que nos permitiu verificar o efeito da terceira-pessoa em relação à televisão. Para mais perfeito enquadramento dos itens da escala de atitudes e para mais adequada análise do conteúdo dos questionários, recorremos a cinco categorias para o primeiro questionário e a quatro categorias para o segundo.
  • 33. 33 O apuramento da escala de atitudes permitiu-nos destacar, como mais significativas, as conclusões que a seguir apresentamos. No que respeita, em primeiro lugar às categorias formação de opinião e consciencialização social do Questionário A, verificámos que relativamente à primeira, não é evidente que a televisão seja considerada como formadora de opinião, mas é um importante veículo de consciencialização. A distribuição equitativa, concordante e discordante das respostas sobre a formação de opinião levanta-nos algumas dúvidas, visto que alguns estudos têm demonstrado a influência dos media na opinião pública que é formada, por um lado ao nível individual do processamento da informação (cognitivo), e por outro, ao nível do processo da comunicação e organização social (Price, 1988). Em relação à categoria efeitos no telespectador, associados ao próprio, pelas respostas ao questionário, ficou acentuado que os programas televisivos não os afetam. O apuramento da escala de atitudes, relativamente à categoria efeitos no telespectador associado a terceiras-pessoas revelou, apesar de algumas flutuações, uma atitude concordante no sentido dos efeitos da televisão terem mais efeito sobre terceiras-pessoas. Contudo, tendo em conta a existência de pontuações significativas na atitude sem opinião em alguns dos itens desta categoria, impõe-se alguma prudência na análise dos resultados desta categoria. Relativamente à categoria modificação de atitudes e comportamentos, retivemos, como resultados mais significativos, quanto à escala de atitudes, a concordância significativa sobre a modificação de comportamentos devido à exposição a programas televisivos, nomeadamente os publicitários. A categoria efeito persuasão permitiu verificar, relativamente à amostra inquirida, que a televisão tem um grande efeito persuasivo sobre os espectadores, quer no próprio, quer nos outros.
  • 34. 34 A análise dos resultados do Questionário B, que reporta ao efeito da televisão na educação de crianças e jovens, de acordo com o conceito de terceira-pessoa, mostrou que na categoria efeito nas crianças e jovens, a televisão tem efeitos negativos e que a delinquência e a violência são reforçadas pela exposição à televisão. A categoria inibição dos efeitos, permitiu verificar que o diálogo familiar, a educação fornecida pela escola, o acompanhamento das crianças enquanto veem televisão e, com menos evidência a formação religiosa, podem minimizar ou inibir os efeitos negativos da televisão. A formação para o sentido crítico não evidenciou resultados significativos no que respeita à intervenção religiosa, mas mostrou a existência de uma atitude concordante em mais de 50% em relação à escola atual como estimuladora do sentido crítico das crianças. Quanto à categoria efeito educativo/formativo, mostrou que o potencial da televisão pode ser um auxiliar dos professores na função ensino, tendo efeitos positivos nas aprendizagens desde que haja uma orientação na visualização dos programas, podendo ser um meio com potencial para fornecer aprendizagens. De acordo com o apuramento da escala de atitudes, a televisão deveria ser mais utilizada como auxiliar educativo. O estudo a que procedemos demonstrou a existência em grau moderado do efeito da terceira-pessoa em relação aos adultos no que respeita aos programas televisivos. O mesmo não se verificou quanto aos seus efeitos educativos enquanto auxiliar didático, sendo evidente a atitude positiva no efeito nas crianças (terceira-pessoa) quando se trata de aprendizagens. 10. Sugestões.
  • 35. 35 Os resultados sugerem que a utilização educacional da televisão pode, em algumas circunstâncias, ser um bom auxiliar educativo, devendo os pais e educadores ser encorajados a utilizá-la, acompanhando, dentro do possível os seus filhos e educandos. Será importante em contexto familiar e frente a um programa educativo da televisão mostrar que o que é importante para as crianças também o é para os pais. Para os professores, atualmente em exercício nas escolas, e para os que iremos ter nos próximos anos, é uma prioridade estar à altura dos desafios que a comunicação audiovisual e multimédia, no seu mais amplo sentido representa, já que a convergência tecnológica da televisão com os computadores e o serviço móvel de televisão já são uma realidade. Como as atitudes mudam, se ensinam e se transformam, as Escolas Superiores de Educação, como entidades responsáveis pela formação de professores, deveriam estabelecer planos de estudos e projetos de formação, de modo a que os futuros professores assumam uma atitude face àquelas mudanças, preparando-os para lidar com os potenciais efeitos da televisão, que podem traduzir-se na educação através de influências nas atitudes e comportamentos por ela potenciados. Anexo I DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DAS RESPOSTAS AOS ITENS DO QUESTIONÁRIO A Itens das Questões Colocadas C SO D
  • 36. 36 1. A televisão é a principal formadora de opinião. 41,4 17,1 41,5 2. A Televisão, ao dar informação tem um papel importante na consciencialização da sociedade. 97,6 2,4 0,0 3. Acho que os outros são mais influenciados pela televisão do que eu. 36,6 39,0 24,4 4. Acredito na influência negativa da televisão sobre os indivíduos com menos sentido crítico. 82,9 12,2 4,9 5. A violência na televisão é um problema que afeta os outros mais do que a mim. 51,2 24,4 24,4 6. A publicidade da televisão influencia a maior parte das pessoas 87,8 4,9 7,3 7. Não sou influenciado(a) por qualquer publicidade que passa na televisão 36,6 12,2 51,2 8. O que se vê na televisão pode modificar as atitudes e comportamentos dos espectadores 87,8 9,8 2,4 9. O que vejo na televisão em nada contribui para modificar os meus comportamentos e atitudes 56,1 4,9 39,0 10. Há programas televisivos que têm mais influência nos outros do que em mim próprio 58,5 26,8 14,6 11. As pessoas são mais influenciadas por publicidade com conteúdo emocional positivo do que outros que sejam neutros 80,5 12,2 7,3 12. A exposição às mensagens persuasivas da televisão podem modificar as atitudes das outras pessoas 75,6 19,5 4,9 13. A exposição às mensagens persuasivas da televisão não modifica as minhas atitudes 61,0 4,9 34,1 14. Sou influenciado mais do que as outras pessoas pela publicidade que passa na televisão 2,4 12,2 85,4 15. Acho que as outras pessoas são mais influenciadas pela publicidade da televisão do que eu. 43,9 34,1 22,0 16. Os programas de televisão produzem nas outras pessoas efeito negativos. 41,5 36,6 22,0 17. Os programas de televisão não produzem em mim quaisquer efeitos negativos. 53,7 12,2 34,1 C – Concordância; SO – Sem Opinião; D – Discordância Anexo II DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DAS RESPOSTAS AOS ITENS DO QUESTIONÁRIO B
  • 37. 37 Itens das Questões Colocadas C SO D 1. A infância está a sofrer efeitos negativos da Televisão. 75,6 12,2 12,2 2. A delinquência juvenil é motivada pela Televisão. 43,9 22,0 34,1 3. O diálogo familiar pode inibir os efeitos negativos da Televisão na sociedade 92,7 2,4 4,9 4. A educação formal oferecida pela escola pode inibir os efeitos negativos da Televisão na sociedade 61,0 19,5 19,5 5. A formação religiosa pode inibir os efeitos negativos da Televisão na sociedade 39,0 36,6 24,4 6. Na sociedade atual ainda há espaço para o diálogo familiar. 78,0 9,8 12,2 7. Relativamente ao senso crítico sobre a televisão, a religião contribui para alienar o indivíduo. 22,0 46,3 31,7 8. Existe uma potencial formação do senso crítico das crianças no atual sistema escolar 51,2 22,0 26,8 9. Após verem alguns programas de televisão as crianças tornam-se mais violentas 73,2 12,2 14,6 10. Relativamente ao senso crítico sobre a televisão a religião torna o indivíduo mais crítico. 39,0 34,1 26,8 11. A televisão tem um potencial muito grande podendo auxiliar os professores na sua função educativa e de ensino 90,2 2,4 7,3 12. A televisão pode ter um efeito positivo na aprendizagem dos alunos deste que estes sejam orientados e preparados para a ver 95,1 2,4 2,4 13. A televisão tem um efeito negativo nas crianças e jovens pelo que não deverá ser utilizada como auxiliar educativo 12,2 17,1 70,7 14. As crianças podem aprender a partir da televisão 87,8 7,3 4,9 15. Se fosse docente utilizaria a televisão como auxiliar educativo 70,7 22,0 7,3 16. Desde que acompanhadas a ver televisão, as crianças, estão menos sujeitas às influências que lhes pode causar. 87,8 2,4 9,8 C – Concordância; SO – Sem Opinião; D – Discordância Referências
  • 38. 38 Albert C. Gunther Dina L. G. Borzekowski Janice L. Liebhart Katherine L. Weber Presumed Influence: How Mass Media Indirectly Affect Adolescent, Dept. of Life Sciences Communication, University of Wisconsin-Madison Bandura, A; Walthers, R. H. (1996) Social learning and personality development, Nova York, Holt Bandura, Albert (1980) L’Apprentissage Social, Bruxelas, Pierre Mardaga Editeur Bardin, Laurence (1977) Análise de Conteúdo, Lisboa, Edições 70 Calvino, Italo (1994) Seis Propostas para o Próximo Milénio, Lisboa, Teorema Christakis, D. A., Zimmerman, F. J., et al. (2004) Early Television Exposure and Attentional Problems in Children, Pediatrics (113) Cohen, J.; Mutz, D.; Price, V.; Gunther, A. (1988) Perceived Impact of Defamation: An Experiment on Third-Person Effects, The Public Opinion Quarterly, Vol. 52, Nº. 2, pp. 161-173 Davison, P. W. (1983) The third-person effect in communication. Public Opinion Quarterly, 47(1), 1-15 Dias, A. Figueiredo (1995), White Book on Education and Training for the XXI Century, Eurydice, The Education Information Network in the European Unit, July 1995 Donnerstein, E., Slaby, R., Eron, L.D. (1994) Violence and Youth: Psychologys’s Response. Washington, American Psychological Assiciation, Vol, 2 Fonseca, Pedro Entrevista a Figueiredo Dias ao Expresso XXI Nº 1294, de 5 de Outubro de 1996 Gerbner, G. at al. (1980) The "Mainstreaming" of America: Violence Profile No.11 Journal of Communication 30 (3), p.10–29. Gerbner, G., Gross, L., Morgan, M., (1994) Growing upwith Television: the cultivation perspective, New Jersey, Erlbaum Assiciates. Gunther, A. (1991) What We Think Others Think Cause and Consequence in the Third-Person Effect, Communication Research, Vol. 18, Nº 3, 355-372 Gúzman, (1993) Teoria de la Publicidad. Madrid, Editorial Tecnos
  • 39. 39 Hoffner, C.at al. (1999) Support for Censorship of Television Violence: The Role of the Third-Person Effect and News Exposure, Communication Research, Vol. 26, Nº 6, 726-742 Jodelet, D. (1989) Les Représentations Sociales, Paris, PUF Kcrmar. M., Curtis, S. (2003) Mental Models: understanding the effect of fantasy violence on children’s reasoning, Journal Communication Vol. 53, p460 Kelley H. H. (1972) Causal Schemata and atribuition process. In EE. Jonews,, D. E. Kanouse, H.H. Kelley at al. (Orgs.), Attribuition: Perceiving the Causes of Behavior (151-174). Morristown, New Jersey, General Learning Press Kerckhove, Derrick (1997) A Pele da Cultura, Lisboa, Relógio d’Água Leone, R,; Peek, W. C.; Bissell, K. L. (2006) Reality Television and Third-Person Perception. Journal of Broadcasting & Electronic Media 50:2, 253-269 Miller, Delbert (1991) Handbook of Research Design and Social Measurement, Londres, Sage Publication Moscovici, S. (1984) The phenomenon of social representations. In R. M. Farr and S. Moscovici (eds.), Social Representations. Cambridge, England: Cambridge University Press. Mutz, Diana (1989) The Influence of Perceptions of Media Influence: Third Person Effects and the Public Expression of Opinions International Journal of Opinion Research 1, Nº 1, 3-23. Noelle-Neumann, E. (1995) La Espiral del Silencio : opinión pública - Nuestra Piel Social, Madrid, Piados Paul, Bryant; Salwen, M. B. ; Dupagne, M. (2000) The Third-Person Effect: A Meta-Analysis of the Perceptual Hypothesis, Mass Communication & Society, Vol. 3, Nº 1, 57-85 Perlof, Richard M. (2002) The third-person effect. In: BRYANT, J.; ZILMANN, D. (org.) Media effects: advances in theory and research. New Jersey: Lawrence Erlbaum Postman, Neil, (1985) Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business, Nova York, Penguin Books Price, Vicent (1989) On Public Aspects of Opinion: Linking Levels of Analysis in Public Opinion Research, Communication Research (Dez 1988), 15(6) (p. 659)
  • 40. 40 Reid, L.; Delorme, D.; Huh, J. (2004) The Third-Person Effect and its Influence on Behavioral Outcomes in a Product Advertising Context: The Case of Direct-to-Consumer Prescription Drug Advertising, Communication Research, Vol. 31, No. 5, 568-599 Reilly, J., Armstrong, J., et al. 2005, Early Life Risk Factores for Obesity in Childhood, BMJ, Maio, 2005; p.330 Salwen, M.; Dupagne, M. (2001) Third_Person Perception of Television Violence: Ehe Role of Self_Perceived Knowledge, Media Psychology, Vol. 3, nº3, 211-236 Shrum, L. J., Wyer Jr., Robert, O’Guinn, Thomas (1998) The Effect of Television Consumption on Social Perceptions: The Use of Priming Procedures to Investigate Psychological Process. Journal of Consumer Research, Mar 1998; 24 (4) Tuckman, B. (1994) Conducting, Educational Research, New York, Harcourt Brace College Publishers Vala, J. (1984) La production sociale de la violence : représentations et comportements, Tese de Doutoramento, Louvaina, U. Católica Vala, J.; Monteiro, M. B. (2004) Psicologia Social, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian Contacto com o autor: (malbe.rodrigues@netcabo.pt)