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A PARÁBOLA DA VINHA NO PROFETA ISAÍAS E SEU USO NO ENSINO DE JESUS
C. Kleber Maia1
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade discorrer sobre a Parábola da Vinha,
presente no livro do profeta Isaías de Jerusalém, apresentada como um oráculo de
condenação à nação de Israel, e o uso deste texto no ensino parabólico de Jesus
Cristo, na Parábola dos Vinhateiros Maus, contra os líderes religiosos do seu povo e
do seu tempo. Busca-se identificar o formato destas parábolas e compreender o
propósito de apresentar-se este oráculo neste formato. Para tal discussão, serão
analisados os textos de Is 5.1-7 e Mt 21.33-46, visando entender a relação entre eles
e conhecer possíveis modificações realizadas no relato cristão, para se atingir o
propósito esperado. Compreende-se que os dois textos revelarão elementos
importantes para melhor se compreender a graça e o juízo divinos, em ambos os
Testamentos.
Palavras-chave: Profetas. Isaías. Jesus. Parábolas. Graça.
Deus chamou homens para serem transmissores da sua palavra, e estes porta-
vozes divinos foram chamados de profetas. Historicamente, a atividade profética
começou bastante cedo; Abraão é chamado de profeta, Arão, Moisés e Miriã são
também chamados a ocupar a função de porta-voz de Deus. Os profetas literários,
que deixaram por escrito as mensagens de Deus, surgiram somente no século VIII
a.C, e ministraram somente por três séculos, mas produziram algumas das obras mais
poderosas das Escrituras (OSBORNE, 2009, p. 330).
Estes profetas podem ser agrupados de acordo com seus períodos históricos:
1) os profetas do 8º século (760 - 700 a.C.): Amós, Oséias, Isaías, Miquéias e Jonas.
2) os profetas dos 7º e 6º séculos (640 - 587 a.C.): Sofonias, Naum, Jeremias,
Habacuque e Ezequiel. 3) os profetas do 6º e 5º séculos (539 - 443 a.C.): Ageu,
Zacarias, Obadias, Daniel, Joel e Malaquias (PETERLEVITZ, 2015, p. 6).
1
Mestre em Teologia (FABAPAR) com ênfase em Estudo e Ensino da Bíblia e Pós-graduado em Teologia do
Novo Testamento Aplicada (FTBP), pastor da Igreja Assembleia de Deus. E-mail: ckmaia@hotmail.com.
Há três principais precursores destes profetas: Moisés foi o “manancial da
tradição profética”, como porta-voz de Deus e mediador entre Iavé e Israel (Osborne
aponta evidências das “ligações linguísticas, estruturais e temáticas entre Moisés e
Isaías); Samuel é o “modelo do papel profético”, como mensageiro à nação e
“guardião da teocracia”; Elias é o modelo dos profetas clássicos, o primeiro dos
“acusadores da aliança” contra o povo (OSBORNE, 2009, p. 331). Por meio deles,
Deus estabeleceu o padrão da função profética: serem mensageiros enviados por
Deus às nações, especialmente Israel, para exortá-los a conhecer ao Senhor e manter
a aliança com Ele.
Um dos primeiros profetas literários a cumprir esta função foi o profeta do
século VIII a.C. Isaías de Jerusalém, filho de Amós, que foi porta-voz de Deus durante
os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá (Is 1.1), e deixou
registradas as suas proclamações no livro que leva o seu nome2.
Um dos gêneros literários mais usados pelos profetas é o oráculo de
condenação, dirigido a um indivíduo ou a uma coletividade (SICRE, 1996, p. 146),
quando se quebra a aliança estabelecida com Deus. Isaías vai apresentar um destes
oráculos na última seção do prefácio do seu livro, na forma de uma parábola que é
apresentada em um cântico, chamada de Parábola da Vinha, ou Cântico do
Vinhateiro.
A Parábola da Vinha em Isaías
O texto da parábola, em forma de canto, apresentado pelo profeta como uma
canção de amor (SICRE, 1996, p. 145), se encontra em Isaías 5.1-7, como segue:
01 ”Agora cantarei ao meu amado o seu cântico a respeito da sua vinha. O
meu amado teve uma vinha numa colina fértil.
02 Ele cavou a terra, tirou as pedras e plantou as melhores mudas de videira.
No meio da vinha ele construiu uma torre e fez também um lagar. Ele
esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas.
03 “E agora, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, peço que julguem
entre mim e a minha vinha.
2
Muitos autores, influenciados pelo racionalismo do século XIX, numa abordagem crítica, sustentam a ideia de
que o livro de Isaías foi escrito por três autores diferentes: o profeta Isaías, de Jerusalém, o deutero-Isaías e o
Trito-Isaías, baseados em considerações de estrutura, estilo e contexto de ideias. Porém, Motyer afirma que
“não há nenhuma autoridade externa nem qualquer manuscrito para supor a existência separada em qualquer
época de alguma das três supostas divisões de Isaías” (2010, p. 35). Para uma maior discussão sobre a autoria
do livro de Isaías, ver MOTYER, 2010, p. 33-35; DILLARD; LONGMAN III, 2006, p. 255-263.
04 Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu não lhe tenha feito? E como,
esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?”
05 “E agora lhes darei a conhecer o que pretendo fazer com a minha vinha:
vou tirar a cerca que está ao redor, para que a vinha sirva de pasto; derrubarei
o seu muro, para que ela seja pisoteada.
06 Farei dela um lugar abandonado; não será podada, nem cavada, mas
crescerão nela espinheiros e ervas daninhas. Também darei ordem às
nuvens para que não derramem chuva sobre ela.”
07 Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens
de Judá são a planta preferida do Senhor. Este esperava retidão, mas eis aí
opressão; esperava justiça, mas eis aí clamor por causa da injustiça. ”
(BÍBLIA, Isaías 5.1-7, 2017, p. 993).
a) Estrutura da parábola
A canção tem uma estrutura que pode ser expressa assim:
a. A vinha é plantada.
b. A vinha é cuidada.
c. O julgamento é requerido.
d. A conclusão é anunciada.
e. A condenação é anunciada.
f. A parábola é explicada.
b) Destaques da parábola
O profeta Isaías, nesta parábola (māšhāl), compara a nação de Israel com uma
vinha infrutífera, “representando os grandes favores que Deus lhes tinha concedido, o
desapontamento das expectativas do Senhor por parte deles, e a destruição que eles
mereceram por isso” (HENRY, 2010, p. 24). O direcionamento desta acusação à
nação, porém, não estará evidente nos primeiros versos da canção, como estratégia
de comunicação do profeta.
A colheita das uvas acontecia na época da festa das cabanas, ocasião na qual
Isaías pode ter convidado o povo a ouvir seu cântico. Nele, o profeta conta que a vinha
desse amigo é muito favorecida tanto pela natureza como pela perícia humana: está
situada em uma encosta ensolarada e em solo fértil, foi cuidada primorosamente,
protegida e recebeu construções necessárias para seu funcionamento pleno. Os
detalhes não são alegorizados, mas “pintam a imagem de uma obra completa, não
deixando nada para fazer” (MOTYER, 2016, p. 88).
Apenas no final da canção, ao dizer que o proprietário ordenará às nuvens que
não façam chover sobre a vinha (v.6), é que o profeta indica que o seu amigo é mais
do que humano, é o Deus de Israel, e a nação é a sua vinha.
Deus fez todo o possível por eles. A pergunta: “Que mais se poderia fazer?”
(v.4) é dirigida à consciência divina, não ao seu poder, afirma Motyer (2016, p. 89). A
culpa da produção ruim não estava no proprietário. Diante deste resultado, só lhe
restava trazer juízo para uma vinha sem frutos e transformá-la em refugo. A vinha não
será cuidada, mas tudo ficará em uma condição selvagem, e nada nascerá, exceto
cardos e espinhos, “os produtos do pecado e da maldição (cf. Gn 3.18)” (HENRY,
2010, p. 26). O mesmo Deus que protegia e cuidava da sua vinha, dia a noite (Is 27.2-
4), agora se volta contra ela.
A explicação da parábola (nimšal), no verso 7, mostra que Deus havia lidado
graciosamente com a nação de Israel, e dela esperava retribuições apropriadas: que
exercessem juízo e justiça, que o povo fosse honesto em todas as suas atitudes, e
que os magistrados administrassem justiça com rigidez. Isto podia ser razoavelmente
esperado entre um povo que tinha tão excelentes leis e regras de justiça (Dt 4.8).
Porém, em lugar de justiça, havia a crueldade dos opressores, e em lugar de retidão,
o clamor dos oprimidos. Por isso, Deus traria sobre eles o juízo.
c) Definição de parábola
As parábolas são uma forma de comunicação indireta, que usam uma imagem
tirada da natureza ou da vida comum para esclarecer uma verdade. No dizer de um
poeta, “são jardins imaginários que contém sapos de verdade” (SNODGRASS, 2011,
p. 33). É uma história tomada da vida real (ou uma situação da vida real), da qual se
extrai uma verdade moral ou espiritual (BOICE, 2017, p. 14).
São usadas para atrair os ouvintes, despertar seu raciocínio e estimular uma
ação da pessoa em relação a Deus. Elas usam a comparação entre o conhecido e o
desconhecido, onde “o próprio ouvinte deve descobrir a semelhança (geralmente não
mencionada, a fim de colocar em ação os processos mentais do ouvinte de
compreender, comparar, considerar), chega-se ao ponto essencial da analogia”
(KUNZ, 2018, p. 18).
Elas servem como instrumentos proféticos, sendo “uma ferramenta de uso
especial das pessoas que são portadoras de uma mensagem divina” (SNODGRASS,
2011, p. 34). As parábolas não apenas ilustrações de ideias, mas um modo de
discurso teológico, um sistema de entrega de uma ideia (BAILEY, 2016, p. 282).
d) Classificação da Parábola da Vinha
Esta canção é classificada como uma parábola jurídica (ASSIS, 2006, p. 25),
onde “o profeta extrai do ouvinte uma autocondenação fazendo uso de uma ilustração
(SNODGRASS, 2011, p. 393). A característica marcante deste tipo de parábola é seu
chamariz intencional que provoca o ouvinte para se autocondenar. Estas parábolas
ocultam o suposto acusado, e evocam a autocondenação no ouvinte, com a ajuda de
uma figura.
O ouvinte da parábola é forçado a julgar as circunstâncias, para depois
perceber que julgou a si mesmo. Snodgrass (2011, p. 40) afirma que estas narrativas
são “pensamentos que nos apunhalam pelas costas”.
O propósito do profeta, ao utilizar uma parábola jurídica é conduzir seus
ouvintes com maestria a um ponto que eles “só conseguem proferir uma condenação
e descobrem que acabam de condenar a si mesmos” (MOTYER, 2016, p. 87). O
profeta deixa “que a consciência de seus ouvintes tire essa conclusão” (RIDDERBOS,
1986, p. 89), ao demonstrar que eles não produziram os frutos esperados (v.7),
frustrando as expectativas do dono da vinha, apesar de todo investimento (v.2), pelo
que serão condenados (v.5-6).
Snodgrass afirma que estas parábolas, “quase sempre, e por necessidade,
exigem uma explicação de encerramento” (2011, p. 41), que mostrem àquele que a
ouve, onde está o erro pelo qual está sendo condenado.
e) Formato da parábola
Isaías apresenta essa parábola em forma de cântico para que pudesse ser
“mais comovente e influente, mais facilmente aprendida e lembrada com exatidão, e
melhor transmitida à posteridade. ” (HENRY, 2010, p. 25). A música sempre foi
utilizada, na nação de Israel, para anunciar os feitos de Deus, como nos Salmos, e
eram cantados tradicionalmente pelo povo.
O profeta habilmente constrói rimas em pares (v.7), fazendo um jogo de
palavras (paronomásia): Deus esperava retidão (mišpāt), eles produziram opressão
(miśpāh); esperava justiça (sedāqâ), mas ouviu clamor por causa da injustiça (se’āqâ).
Este recurso também poderia facilitar a fixação da mensagem na memória dos
ouvintes.
f) Conclusão da parábola
O profeta Isaías faz uso desta parábola em forma de canção para pronunciar
seu oráculo de condenação à nação de Israel, por ter quebrado a aliança com Deus,
rebelando-se contra Ele. Em seguida, ele pronuncia seis “ais” que descrevem os
pecados que a nação cometeu e o consequente juízo divino sobre o povo, usando o
exército assírio.
O uso da Parábola da Vinha no ensino de Jesus
O uso de parábolas é uma das grandes marcas do ensino de Jesus Cristo, e a
sua principal forma de exposição dos “mistérios do Reino de Deus” (Mt 13.11), aos
seus discípulos e às multidões que o seguiam. Cerca de um terço do seu ensino foi
apresentado sob esta forma literária (OSBORNE, 2009, p. 372).
Jesus vai contar uma parábola, a parábola dos Vinhateiros Maus, na qual
estarão presentes diversos elementos também encontrados na canção de Isaías. Para
diversos autores, a parábola de Cristo está claramente baseada em Is 5.1-7
(HENDRIKSEN, 2010, p. 344, CARSON, 2010, p. 525; BAILEY, 2016, p. 414).
Alguns autores rejeitam a ideia de que a parábola seja autêntica de Cristo,
alegando que esta tenha sido alegorizada pela comunidade cristã subsequente,
porém Carson argumenta que: a) Não há base metodológica que sustente a rígida
distinção entre “parábola” e “alegoria”; b) Não há motivo histórico para se negar que
Jesus teria feito uso de Is 5 nesta parábola, pois é certo que o Mestre enfrentou
oposição dos líderes religiosos judeus (CARSON, 2010, p. 525). Este autor também
afirma que os vers. 33 e 34 aludem claramente a Is 51-7 e a Salmos 80.6-16. Portanto,
“a parábola de Jesus é um tema antigo com novas variações”. (Idem).
O texto desta parábola, também intitulada de Parábola dos Lavradores Maus,
dos Lavradores Homicidas, Parábola do Nobre Proprietário da Vinha e seu Filho
(BAILEY, 2016, p. 410) ou Parábola do Viticultor e do Herdeiro (LOCKYER, 1999, p.
255), encontra-se em Mt 21.33-46, com relatos paralelos em Mc 12.1-12 e Lc 20.9-19.
Será utilizado, como base, o texto mateano, como a seguir retratado:
33 ”Escutem outra parábola. Havia um homem, dono de terras, que plantou
uma vinha. Pôs uma cerca em volta dela, construiu nela um lagar, edificou
uma torre e arrendou a vinha a uns lavradores. Depois, ausentou-se do país.
34 Quando chegou o tempo da colheita, o dono da vinha mandou os seus
servos aos lavradores, para receber os frutos que cabiam a ele.
35 Mas os lavradores, agarrando os servos, espancaram um, mataram outro
e apedrejaram ainda outro.
36 O dono enviou ainda outros servos em maior número; e os lavradores
fizeram a mesma coisa com eles.
37 Por último, o dono da vinha enviou-lhes o seu próprio filho, pensando: “O
meu filho eles respeitarão.”
38 Mas os lavradores, vendo o filho, disseram uns aos outros: “Este é o
herdeiro; venham, vamos matá-lo e ficar com a herança dele para nós”.
39 E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.
40 Quando, pois, vier o dono da vinha, que fará àqueles lavradores?
41 Eles responderam: — Fará perecer horrivelmente aqueles malvados e
arrendará a vinha a outros lavradores que lhe entregarão os frutos no tempo
certo.
42 Então Jesus perguntou: — Vocês nunca leram nas Escrituras: “A pedra que
os construtores rejeitaram, essa veio a ser a pedra angular. Isto procede do
Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos”?
43 — Portanto, eu lhes digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e
entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos.
44 Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem
ela cair ficará reduzido a pó.
45 Os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas parábolas,
entenderam que Jesus falava a respeito deles;
46 e, embora quisessem prendê-lo, tinham medo das multidões, porque estas
o consideravam como profeta. ” (BÍBLIA, s
u
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Esta parábola faz parte de uma seção homogênea onde encontramos mais
duas parábolas: a parábola dos dois filhos (Mt 21.28-32) e a do banquete de
casamento (Mt 22.1-14), todas elas foram apresentadas no ministério de Jesus em
Jerusalém, e estão relacionadas a um intenso conflito com as autoridades judaicas,
nas quais o Senhor denunciará seus pecados e promulgará a sua inevitável
condenação.
a) Propósitos das parábolas
As parábolas levam os ouvintes a enxergarem a sua própria realidade e leva-
os a tomar uma decisão: acolher Jesus e sua Palavra, ou recusá-lo e persegui-lo
(KUNZ, 2018, p. 30,31). Joachim Jeremias (1986, p. 15) destaca que cada parábola
exige uma resposta concreta e imediata ao ensino nela revelado. Kistemaker (1992,
p. XXIV) afirma que as parábolas chamam o homem à ação.
Kunz (2014, p. 18) destaca, entre as características das parábolas, a evocação
de resposta: que elas “funcionam como um meio para evocar respostas por parte do
ouvinte. São contadas para dirigir-se aos ouvintes e cativá-los, a fim de fazê-los parar
e pensar acerca das suas próprias ações, ou de leva-los a dar alguma resposta a
Jesus e ao Seu ministério”.
Snodgrass (2011, p. 47) também descreve as características das parábolas de
Jesus, e afirma que “o seu principal objetivo é instigar as pessoas a uma reação”.
Ainda destaca que “a intenção das parábolas é forçar as pessoas ao raciocínio,
normalmente a uma ideia nova e inusitada, para que elas se aprofundem nessa nova
ideia e reajam de acordo com ela” (2011, p. 48).
Dodd igualmente afirma que a parábola convida o ouvinte a julgar sobre a
situação descrita, desafiando-o, diretamente ou de forma implícita, a aplicar esse juízo
a si mesmo (Kunz, 2014).
A mensagem das parábolas de Jesus penetra nos corações e mentes de
algumas pessoas, de forma que as instiga à uma reflexão que produz mudança de
vida, mas não de outras as pessoas. Osborne (2009, p. 376) explica que as parábolas
são um “mecanismo de confrontação” e que elas funcionam de modos diferentes
dependendo do público. Àqueles que têm ouvidos para ouvir, as parábolas trazem um
entendimento mais profundo das coisas de Deus, mas àqueles que não têm ouvidos
para ouvir, as parábolas são instrumentos para ocultar e obscurecer o mistério do
reino de Deus (Mt 13.10-17; Mc 4.10-12; Lc 8.8-10).
Kistemaker (1992) discorre sobre esta diferença na forma de recebimento do
ensino parabólico de Jesus e seu resultado:
O contraste que Jesus apresenta, consequentemente, é entre aqueles que
acreditavam e os que não acreditavam, entre seguidores e oponentes, entre
os que aceitavam e os que rejeitavam a revelação de Deus. Os que fazem a
vontade de Deus recebem a mensagem das parábolas, porque pertencem à
família de Jesus (Mc 3.35). Os que tentam destruir Jesus (Mc 3.6) não
conhecem a salvação, por causa da dureza de seus corações. É uma questão
de fé e descrença. Os que acreditam ouvem as parábolas e as recebem com
fé e entendimento, mesmo que a completa compreensão venha, apenas,
gradualmente. Os incrédulos rejeitam as parábolas porque elas são
estranhas à sua maneira de pensar. Recusam-se a perceber e entender a
verdade de Deus. Assim, por causa de seus olhos cegos e seus ouvidos
surdos, privam a si mesmos da salvação proclamada por Jesus, e trazem
sobre si mesmos o julgamento de Deus. (KISTEMAKER, 1992, p. 20).
b) Estrutura da parábola
A composição da parábola é circular, e pode ser expressa da seguinte forma
(cf. BAILEY, 2016, p. 411):
a. A vinha é arrendada
b. Os servos são enviados, e os vinhateiros os tratam muito mal.
c. O proprietário reage enviando seu filho, sozinho e desarmado.
d. O filho é visto e os vinhateiros o matam.
e. A vinha é dada (arrendada) a outros.
c) Destaques da parábola
Nesta parábola (māšhāl), Jesus usa elementos conhecidos dos seus ouvintes,
tirados da clássica parábola de Isaías, com uma adaptação: o dono da vinha plantou-
a e ausentou-se. Isto permite a Jesus inserir novas personagens na parábola: os
vinhateiros (os acusados). O proprietário esperava receber o fruto da sua vinha, mas
é frustrado, pois os vinhateiros, em lugar de prestar contas do que estava sob seus
cuidados, espancam os servos e mandam-nos de volta de mãos vazias.
O proprietário compassivo, agindo com extrema nobreza, faz uma última
tentativa: em vez de enviar alguém para prender ou castigar estes homens, envia seu
filho, sozinho e desarmado, preferindo a vulnerabilidade à ira gerada pela injustiça.
Jesus retrata um Deus “que ama além da medida e é compassivo quando tem todo o
direito de ser severo” (KUNZ, 2014, p. 178).
Os arrendatários da vinha, porém, reagem com desprezo, violência e cobiça
(querem a herança para si), levam o filho para fora da vinha, para o sangue não
contaminar as uvas (BAILEY, 2016, p. 419), e ali o matam.
Na conclusão da parábola, Jesus não pergunta: “Que podia ser feito?’, mas
lança a questão para seus ouvintes: “Que fará o dono da vinha àqueles lavradores?”.
Seus interlocutores, sem cuidar que falava deles mesmos, dão a sentença da sua
autocondenação: “Fará perecer horrivelmente aqueles malvados e arrendará a vinha
a outros lavradores que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
Na explicação da parábola (nimšal), Cristo revela quem são os verdadeiros
acusados, os líderes religiosos de Israel. Depois, Jesus proclamará diversos “ais”,
anunciando os erros cometidos por estes religiosos, que os levaram à condenação
anunciada na parábola (Mt 23.13-36).
d) A reação dos ouvintes da parábola
Ao ouvir a parábola contada por Jesus, os líderes judeus rejeitaram seu ensino.
Em lugar de reagirem com reconhecimento do seu erro e responderem com
arrependimento, sua reação é acirrar a perseguição ao Mestre, desejando prendê-lo
(v.46), formulando questões com o objetivo de apanhá-lo em alguma palavra (Mt
22.15, 35).
Relações entre as Parábola de Isaías e de Jesus
Há diversas equivalências metafóricas nas duas parábolas: o dono da vinha é
Deus, e a vinha é a nação de Israel (CARSON, 2010, p. 525). Há, em ambas as
narrativas, uma expectativa de se ter os frutos da vinha, mas este intento é frustrado
e traz condenação sobre aqueles que não atenderam à expectativa do dono da vinha.
Podemos observar um quadro comparativo dos símbolos utilizados em ambas
as parábolas (adaptado de BAILEY, 2016, p. 414):
Símbolos Parábola de Isaías Parábola de Jesus
Proprietário O Senhor dos Exércitos Deus
Vinha Casa de Israel Israel
Videiras Homens de Judá -
Benefícios esperados Da Vinha Dos vinhateiros
Expectativas Uvas boas (retidão e
justiça
Parte da colheita
Rendimento Uvas bravas (opressão,
derramamento de sangue
e clamor pela injustiça)
Não há frutos, mas
espancamentos, insultos
e derramamento de
sangue.
Consequência A vinha será destruída Os vinhateiros serão
substituídos.
A parábola de Isaías mostra que Deus tratou Israel com graça abundante:
cuidou, protegeu, deu-lhes tudo o que era necessário para que eles correspondessem
favoravelmente, praticando a justiça que Ele requeria. Na parábola de Cristo, há uma
graça ainda mais abundante sendo revelada, no amor e na longanimidade de Deus
em enviar Seu Filho, em vulnerabilidade, em lugar de aplicar imediatamente o castigo
requerido por sua justiça. “No Cântico da Vinha, Isaías predisse a destruição da vinha
bem antes de Jerusalém cair. Mas a parábola de Jesus é muito mais suave que seu
protótipo” (BAILEY, 2016, p. 422).
A profecia de Isaías é contra a nação; a de Jesus é contra a liderança religiosa,
que, além de não atender às expectativas de Deus quanto ao seu fruto (que devem
ser os mesmos de Isaías), rejeitam o Filho enviado pelo Senhor. Jesus oferece graça,
mas também juízo, como o faz também em outras parábolas (Lc 14.24; 19.27; 13.9).
As duas parábolas classificam-se como jurídicas, onde os próprios ouvintes
interagem com o cantador ou contador da história, condenando a si mesmos, pelos
seus pecados, que será descrito em seguida, na forma de “ais”. Estas parábolas
provocaram em seus ouvintes uma avaliação negativa das suas próprias ações.
Ambas as narrativas mostram graça e juízo, confiança e responsabilidade,
iniciativa graciosa por parte de Deus e a necessidade de prestação de contas por parte
dos homens.
Isaías, em seu texto, fala do amor do Senhor dos Exércitos por Israel. A
parábola de Mateus apresenta o amor de Deus por todo o mundo, revelado na morte
de Cristo.
Considerações finais
Jesus utiliza-se do texto do profeta Isaías de Jerusalém, um oráculo de
condenação que era, certamente, conhecido de seus interlocutores. As parábolas em
questão, embora separadas por centenas de anos em sua proclamação, revelam
elementos que exprimem características e expectativas semelhantes do Deus que
mostra sua graça, tanto no Antigo como no Novo Testamento, mas que também revela
o juízo correspondente à rejeição e rebeldia contra o Dono da vinha.
O Mestre das Parábolas, Jesus, conta a mesma história de Isaías, mas lhe dá
nova forma. Ele transforma certos elementos de Isaías 5.1-7, e introduz fatos novos,
de acordo com a necessidade do momento. A essência jurídica do Cântico da Vinha
é ressoada inteiramente em Mateus; a acusação, originalmente apontada para casa
de Israel, é agora alterada estilisticamente para a liderança religiosa de seu tempo.
Cabe aos leitores modernos destas parábolas analisar a sua própria vida, à luz
dos oráculos destes profetas, para verificar se se encaixam no perfil dos acusados por
eles, e se irão reagir favoravelmente, corrigindo-se, convertendo-se e renovando a
aliança e o compromisso com o Senhor da Vinha. Amém.
REFERÊNCIAS
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luz das ressonâncias de Isaías 5,1-7. 2006. 160 f. Dissertação (Mestrado em
Teologia). Pontífica Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2006.
BAILEY, Kenneth E. As Parábolas de Lucas. 3ª ed. Traduzida por Adiel Almeida de
Oliveira. São Paulo: Vida Nova, 1995.
BAILEY, Kenneth E. Jesus Pela Ótica do Oriente Médio – estudos culturais sobre os
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BÍBLIA SAGRADA. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Edição Revista e
Atualizada no Brasil, 3ª ed. (Nova Almeida Atualizada). Barueri, SP: Sociedade Bíblica
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BOICE, James Montgomery. Las Parábolas de Jesus. Traduzida por Editorial Patmos.
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CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. Traduzida por Lena e Regina Aranha. São
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DILLARD, Raymond B.; LONGMAN III, Tremper. Introdução ao Antigo Testamento.
Traduzida por Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006.
HENDRIKSEN, William. Mateus. Vol. 2. Comentário do Novo Testamento. Traduzida
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HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Isaías a Malaquias.
Traduzida por Valdemar Kroker, Haroldo Janzen e Degmar Ribas Júnior. Rio de
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JEREMIAS, Joachim. As Parábolas de Jesus. Traduzida por João Rezenda Costa.
São Paulo: Paulus, 1986.
KISTEMAKER, Simon J. As Parábolas de Jesus. Traduzida por: Eunice Pereira de
Souza. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992.
KUNZ, Claiton André. Ações Parabólicas de Jesus no Evangelho de Marcos. Curitiba:
A. D. Santos, 2018.
KUNZ, Claiton André. As Parábolas de Jesus e seu Ensino Sobre o Reino de Deus –
desvendando o mistério das 42 parábolas muito além do óbvio. Curitiba: A. D. Santos,
2014.
MOTYER, J. Alec. O Comentário de Isaías. Traduzida por Regina Aranha e Helena
Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2016.
PETERLEVITZ, Luciano R. Introdução ao Profetismo. Revista Theos - Revista de
Reflexão Teológica da Faculdade Teológica Batista de Campinas. Campinas / SP, v.4,
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RIDDERBOS, J. Isaías: Introdução e comentário. Traduzida por Adriel Almeida de
Oliveira. São Paulo: Vida Nova, 1986.
SICRE, José Luis. Profetismo em Israel: o profeta, os profetas, a mensagem.
Traduzida por João Luís Baraúna. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
SNODGRASS, Klyne. Compreendendo Todas as Parábolas de Jesus. Traduzida por
Marcelo S. Gonçalves. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, vol. IV,
Proféticos. Traduzida por Suzana E. Klassen. Santo André / SP: Geográfica, 2006.

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A Parábola da Vinha em Isaías e seu uso por Jesus

  • 1. A PARÁBOLA DA VINHA NO PROFETA ISAÍAS E SEU USO NO ENSINO DE JESUS C. Kleber Maia1 RESUMO O presente artigo tem como finalidade discorrer sobre a Parábola da Vinha, presente no livro do profeta Isaías de Jerusalém, apresentada como um oráculo de condenação à nação de Israel, e o uso deste texto no ensino parabólico de Jesus Cristo, na Parábola dos Vinhateiros Maus, contra os líderes religiosos do seu povo e do seu tempo. Busca-se identificar o formato destas parábolas e compreender o propósito de apresentar-se este oráculo neste formato. Para tal discussão, serão analisados os textos de Is 5.1-7 e Mt 21.33-46, visando entender a relação entre eles e conhecer possíveis modificações realizadas no relato cristão, para se atingir o propósito esperado. Compreende-se que os dois textos revelarão elementos importantes para melhor se compreender a graça e o juízo divinos, em ambos os Testamentos. Palavras-chave: Profetas. Isaías. Jesus. Parábolas. Graça. Deus chamou homens para serem transmissores da sua palavra, e estes porta- vozes divinos foram chamados de profetas. Historicamente, a atividade profética começou bastante cedo; Abraão é chamado de profeta, Arão, Moisés e Miriã são também chamados a ocupar a função de porta-voz de Deus. Os profetas literários, que deixaram por escrito as mensagens de Deus, surgiram somente no século VIII a.C, e ministraram somente por três séculos, mas produziram algumas das obras mais poderosas das Escrituras (OSBORNE, 2009, p. 330). Estes profetas podem ser agrupados de acordo com seus períodos históricos: 1) os profetas do 8º século (760 - 700 a.C.): Amós, Oséias, Isaías, Miquéias e Jonas. 2) os profetas dos 7º e 6º séculos (640 - 587 a.C.): Sofonias, Naum, Jeremias, Habacuque e Ezequiel. 3) os profetas do 6º e 5º séculos (539 - 443 a.C.): Ageu, Zacarias, Obadias, Daniel, Joel e Malaquias (PETERLEVITZ, 2015, p. 6). 1 Mestre em Teologia (FABAPAR) com ênfase em Estudo e Ensino da Bíblia e Pós-graduado em Teologia do Novo Testamento Aplicada (FTBP), pastor da Igreja Assembleia de Deus. E-mail: ckmaia@hotmail.com.
  • 2. Há três principais precursores destes profetas: Moisés foi o “manancial da tradição profética”, como porta-voz de Deus e mediador entre Iavé e Israel (Osborne aponta evidências das “ligações linguísticas, estruturais e temáticas entre Moisés e Isaías); Samuel é o “modelo do papel profético”, como mensageiro à nação e “guardião da teocracia”; Elias é o modelo dos profetas clássicos, o primeiro dos “acusadores da aliança” contra o povo (OSBORNE, 2009, p. 331). Por meio deles, Deus estabeleceu o padrão da função profética: serem mensageiros enviados por Deus às nações, especialmente Israel, para exortá-los a conhecer ao Senhor e manter a aliança com Ele. Um dos primeiros profetas literários a cumprir esta função foi o profeta do século VIII a.C. Isaías de Jerusalém, filho de Amós, que foi porta-voz de Deus durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá (Is 1.1), e deixou registradas as suas proclamações no livro que leva o seu nome2. Um dos gêneros literários mais usados pelos profetas é o oráculo de condenação, dirigido a um indivíduo ou a uma coletividade (SICRE, 1996, p. 146), quando se quebra a aliança estabelecida com Deus. Isaías vai apresentar um destes oráculos na última seção do prefácio do seu livro, na forma de uma parábola que é apresentada em um cântico, chamada de Parábola da Vinha, ou Cântico do Vinhateiro. A Parábola da Vinha em Isaías O texto da parábola, em forma de canto, apresentado pelo profeta como uma canção de amor (SICRE, 1996, p. 145), se encontra em Isaías 5.1-7, como segue: 01 ”Agora cantarei ao meu amado o seu cântico a respeito da sua vinha. O meu amado teve uma vinha numa colina fértil. 02 Ele cavou a terra, tirou as pedras e plantou as melhores mudas de videira. No meio da vinha ele construiu uma torre e fez também um lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. 03 “E agora, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, peço que julguem entre mim e a minha vinha. 2 Muitos autores, influenciados pelo racionalismo do século XIX, numa abordagem crítica, sustentam a ideia de que o livro de Isaías foi escrito por três autores diferentes: o profeta Isaías, de Jerusalém, o deutero-Isaías e o Trito-Isaías, baseados em considerações de estrutura, estilo e contexto de ideias. Porém, Motyer afirma que “não há nenhuma autoridade externa nem qualquer manuscrito para supor a existência separada em qualquer época de alguma das três supostas divisões de Isaías” (2010, p. 35). Para uma maior discussão sobre a autoria do livro de Isaías, ver MOTYER, 2010, p. 33-35; DILLARD; LONGMAN III, 2006, p. 255-263.
  • 3. 04 Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu não lhe tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?” 05 “E agora lhes darei a conhecer o que pretendo fazer com a minha vinha: vou tirar a cerca que está ao redor, para que a vinha sirva de pasto; derrubarei o seu muro, para que ela seja pisoteada. 06 Farei dela um lugar abandonado; não será podada, nem cavada, mas crescerão nela espinheiros e ervas daninhas. Também darei ordem às nuvens para que não derramem chuva sobre ela.” 07 Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta preferida do Senhor. Este esperava retidão, mas eis aí opressão; esperava justiça, mas eis aí clamor por causa da injustiça. ” (BÍBLIA, Isaías 5.1-7, 2017, p. 993). a) Estrutura da parábola A canção tem uma estrutura que pode ser expressa assim: a. A vinha é plantada. b. A vinha é cuidada. c. O julgamento é requerido. d. A conclusão é anunciada. e. A condenação é anunciada. f. A parábola é explicada. b) Destaques da parábola O profeta Isaías, nesta parábola (māšhāl), compara a nação de Israel com uma vinha infrutífera, “representando os grandes favores que Deus lhes tinha concedido, o desapontamento das expectativas do Senhor por parte deles, e a destruição que eles mereceram por isso” (HENRY, 2010, p. 24). O direcionamento desta acusação à nação, porém, não estará evidente nos primeiros versos da canção, como estratégia de comunicação do profeta. A colheita das uvas acontecia na época da festa das cabanas, ocasião na qual Isaías pode ter convidado o povo a ouvir seu cântico. Nele, o profeta conta que a vinha desse amigo é muito favorecida tanto pela natureza como pela perícia humana: está situada em uma encosta ensolarada e em solo fértil, foi cuidada primorosamente, protegida e recebeu construções necessárias para seu funcionamento pleno. Os
  • 4. detalhes não são alegorizados, mas “pintam a imagem de uma obra completa, não deixando nada para fazer” (MOTYER, 2016, p. 88). Apenas no final da canção, ao dizer que o proprietário ordenará às nuvens que não façam chover sobre a vinha (v.6), é que o profeta indica que o seu amigo é mais do que humano, é o Deus de Israel, e a nação é a sua vinha. Deus fez todo o possível por eles. A pergunta: “Que mais se poderia fazer?” (v.4) é dirigida à consciência divina, não ao seu poder, afirma Motyer (2016, p. 89). A culpa da produção ruim não estava no proprietário. Diante deste resultado, só lhe restava trazer juízo para uma vinha sem frutos e transformá-la em refugo. A vinha não será cuidada, mas tudo ficará em uma condição selvagem, e nada nascerá, exceto cardos e espinhos, “os produtos do pecado e da maldição (cf. Gn 3.18)” (HENRY, 2010, p. 26). O mesmo Deus que protegia e cuidava da sua vinha, dia a noite (Is 27.2- 4), agora se volta contra ela. A explicação da parábola (nimšal), no verso 7, mostra que Deus havia lidado graciosamente com a nação de Israel, e dela esperava retribuições apropriadas: que exercessem juízo e justiça, que o povo fosse honesto em todas as suas atitudes, e que os magistrados administrassem justiça com rigidez. Isto podia ser razoavelmente esperado entre um povo que tinha tão excelentes leis e regras de justiça (Dt 4.8). Porém, em lugar de justiça, havia a crueldade dos opressores, e em lugar de retidão, o clamor dos oprimidos. Por isso, Deus traria sobre eles o juízo. c) Definição de parábola As parábolas são uma forma de comunicação indireta, que usam uma imagem tirada da natureza ou da vida comum para esclarecer uma verdade. No dizer de um poeta, “são jardins imaginários que contém sapos de verdade” (SNODGRASS, 2011, p. 33). É uma história tomada da vida real (ou uma situação da vida real), da qual se extrai uma verdade moral ou espiritual (BOICE, 2017, p. 14). São usadas para atrair os ouvintes, despertar seu raciocínio e estimular uma ação da pessoa em relação a Deus. Elas usam a comparação entre o conhecido e o desconhecido, onde “o próprio ouvinte deve descobrir a semelhança (geralmente não mencionada, a fim de colocar em ação os processos mentais do ouvinte de compreender, comparar, considerar), chega-se ao ponto essencial da analogia” (KUNZ, 2018, p. 18).
  • 5. Elas servem como instrumentos proféticos, sendo “uma ferramenta de uso especial das pessoas que são portadoras de uma mensagem divina” (SNODGRASS, 2011, p. 34). As parábolas não apenas ilustrações de ideias, mas um modo de discurso teológico, um sistema de entrega de uma ideia (BAILEY, 2016, p. 282). d) Classificação da Parábola da Vinha Esta canção é classificada como uma parábola jurídica (ASSIS, 2006, p. 25), onde “o profeta extrai do ouvinte uma autocondenação fazendo uso de uma ilustração (SNODGRASS, 2011, p. 393). A característica marcante deste tipo de parábola é seu chamariz intencional que provoca o ouvinte para se autocondenar. Estas parábolas ocultam o suposto acusado, e evocam a autocondenação no ouvinte, com a ajuda de uma figura. O ouvinte da parábola é forçado a julgar as circunstâncias, para depois perceber que julgou a si mesmo. Snodgrass (2011, p. 40) afirma que estas narrativas são “pensamentos que nos apunhalam pelas costas”. O propósito do profeta, ao utilizar uma parábola jurídica é conduzir seus ouvintes com maestria a um ponto que eles “só conseguem proferir uma condenação e descobrem que acabam de condenar a si mesmos” (MOTYER, 2016, p. 87). O profeta deixa “que a consciência de seus ouvintes tire essa conclusão” (RIDDERBOS, 1986, p. 89), ao demonstrar que eles não produziram os frutos esperados (v.7), frustrando as expectativas do dono da vinha, apesar de todo investimento (v.2), pelo que serão condenados (v.5-6). Snodgrass afirma que estas parábolas, “quase sempre, e por necessidade, exigem uma explicação de encerramento” (2011, p. 41), que mostrem àquele que a ouve, onde está o erro pelo qual está sendo condenado. e) Formato da parábola Isaías apresenta essa parábola em forma de cântico para que pudesse ser “mais comovente e influente, mais facilmente aprendida e lembrada com exatidão, e melhor transmitida à posteridade. ” (HENRY, 2010, p. 25). A música sempre foi utilizada, na nação de Israel, para anunciar os feitos de Deus, como nos Salmos, e eram cantados tradicionalmente pelo povo.
  • 6. O profeta habilmente constrói rimas em pares (v.7), fazendo um jogo de palavras (paronomásia): Deus esperava retidão (mišpāt), eles produziram opressão (miśpāh); esperava justiça (sedāqâ), mas ouviu clamor por causa da injustiça (se’āqâ). Este recurso também poderia facilitar a fixação da mensagem na memória dos ouvintes. f) Conclusão da parábola O profeta Isaías faz uso desta parábola em forma de canção para pronunciar seu oráculo de condenação à nação de Israel, por ter quebrado a aliança com Deus, rebelando-se contra Ele. Em seguida, ele pronuncia seis “ais” que descrevem os pecados que a nação cometeu e o consequente juízo divino sobre o povo, usando o exército assírio. O uso da Parábola da Vinha no ensino de Jesus O uso de parábolas é uma das grandes marcas do ensino de Jesus Cristo, e a sua principal forma de exposição dos “mistérios do Reino de Deus” (Mt 13.11), aos seus discípulos e às multidões que o seguiam. Cerca de um terço do seu ensino foi apresentado sob esta forma literária (OSBORNE, 2009, p. 372). Jesus vai contar uma parábola, a parábola dos Vinhateiros Maus, na qual estarão presentes diversos elementos também encontrados na canção de Isaías. Para diversos autores, a parábola de Cristo está claramente baseada em Is 5.1-7 (HENDRIKSEN, 2010, p. 344, CARSON, 2010, p. 525; BAILEY, 2016, p. 414). Alguns autores rejeitam a ideia de que a parábola seja autêntica de Cristo, alegando que esta tenha sido alegorizada pela comunidade cristã subsequente, porém Carson argumenta que: a) Não há base metodológica que sustente a rígida distinção entre “parábola” e “alegoria”; b) Não há motivo histórico para se negar que Jesus teria feito uso de Is 5 nesta parábola, pois é certo que o Mestre enfrentou oposição dos líderes religiosos judeus (CARSON, 2010, p. 525). Este autor também afirma que os vers. 33 e 34 aludem claramente a Is 51-7 e a Salmos 80.6-16. Portanto, “a parábola de Jesus é um tema antigo com novas variações”. (Idem). O texto desta parábola, também intitulada de Parábola dos Lavradores Maus, dos Lavradores Homicidas, Parábola do Nobre Proprietário da Vinha e seu Filho
  • 7. (BAILEY, 2016, p. 410) ou Parábola do Viticultor e do Herdeiro (LOCKYER, 1999, p. 255), encontra-se em Mt 21.33-46, com relatos paralelos em Mc 12.1-12 e Lc 20.9-19. Será utilizado, como base, o texto mateano, como a seguir retratado: 33 ”Escutem outra parábola. Havia um homem, dono de terras, que plantou uma vinha. Pôs uma cerca em volta dela, construiu nela um lagar, edificou uma torre e arrendou a vinha a uns lavradores. Depois, ausentou-se do país. 34 Quando chegou o tempo da colheita, o dono da vinha mandou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que cabiam a ele. 35 Mas os lavradores, agarrando os servos, espancaram um, mataram outro e apedrejaram ainda outro. 36 O dono enviou ainda outros servos em maior número; e os lavradores fizeram a mesma coisa com eles. 37 Por último, o dono da vinha enviou-lhes o seu próprio filho, pensando: “O meu filho eles respeitarão.” 38 Mas os lavradores, vendo o filho, disseram uns aos outros: “Este é o herdeiro; venham, vamos matá-lo e ficar com a herança dele para nós”. 39 E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram. 40 Quando, pois, vier o dono da vinha, que fará àqueles lavradores? 41 Eles responderam: — Fará perecer horrivelmente aqueles malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe entregarão os frutos no tempo certo. 42 Então Jesus perguntou: — Vocês nunca leram nas Escrituras: “A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a pedra angular. Isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos”? 43 — Portanto, eu lhes digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos. 44 Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó. 45 Os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas parábolas, entenderam que Jesus falava a respeito deles; 46 e, embora quisessem prendê-lo, tinham medo das multidões, porque estas o consideravam como profeta. ” (BÍBLIA, s u e t a M . ) 4 1 4 1 . p , 7 1 0 2 , 6 4 - 3 3 . 1 2 Esta parábola faz parte de uma seção homogênea onde encontramos mais duas parábolas: a parábola dos dois filhos (Mt 21.28-32) e a do banquete de casamento (Mt 22.1-14), todas elas foram apresentadas no ministério de Jesus em Jerusalém, e estão relacionadas a um intenso conflito com as autoridades judaicas, nas quais o Senhor denunciará seus pecados e promulgará a sua inevitável condenação. a) Propósitos das parábolas As parábolas levam os ouvintes a enxergarem a sua própria realidade e leva- os a tomar uma decisão: acolher Jesus e sua Palavra, ou recusá-lo e persegui-lo (KUNZ, 2018, p. 30,31). Joachim Jeremias (1986, p. 15) destaca que cada parábola
  • 8. exige uma resposta concreta e imediata ao ensino nela revelado. Kistemaker (1992, p. XXIV) afirma que as parábolas chamam o homem à ação. Kunz (2014, p. 18) destaca, entre as características das parábolas, a evocação de resposta: que elas “funcionam como um meio para evocar respostas por parte do ouvinte. São contadas para dirigir-se aos ouvintes e cativá-los, a fim de fazê-los parar e pensar acerca das suas próprias ações, ou de leva-los a dar alguma resposta a Jesus e ao Seu ministério”. Snodgrass (2011, p. 47) também descreve as características das parábolas de Jesus, e afirma que “o seu principal objetivo é instigar as pessoas a uma reação”. Ainda destaca que “a intenção das parábolas é forçar as pessoas ao raciocínio, normalmente a uma ideia nova e inusitada, para que elas se aprofundem nessa nova ideia e reajam de acordo com ela” (2011, p. 48). Dodd igualmente afirma que a parábola convida o ouvinte a julgar sobre a situação descrita, desafiando-o, diretamente ou de forma implícita, a aplicar esse juízo a si mesmo (Kunz, 2014). A mensagem das parábolas de Jesus penetra nos corações e mentes de algumas pessoas, de forma que as instiga à uma reflexão que produz mudança de vida, mas não de outras as pessoas. Osborne (2009, p. 376) explica que as parábolas são um “mecanismo de confrontação” e que elas funcionam de modos diferentes dependendo do público. Àqueles que têm ouvidos para ouvir, as parábolas trazem um entendimento mais profundo das coisas de Deus, mas àqueles que não têm ouvidos para ouvir, as parábolas são instrumentos para ocultar e obscurecer o mistério do reino de Deus (Mt 13.10-17; Mc 4.10-12; Lc 8.8-10). Kistemaker (1992) discorre sobre esta diferença na forma de recebimento do ensino parabólico de Jesus e seu resultado: O contraste que Jesus apresenta, consequentemente, é entre aqueles que acreditavam e os que não acreditavam, entre seguidores e oponentes, entre os que aceitavam e os que rejeitavam a revelação de Deus. Os que fazem a vontade de Deus recebem a mensagem das parábolas, porque pertencem à família de Jesus (Mc 3.35). Os que tentam destruir Jesus (Mc 3.6) não conhecem a salvação, por causa da dureza de seus corações. É uma questão de fé e descrença. Os que acreditam ouvem as parábolas e as recebem com fé e entendimento, mesmo que a completa compreensão venha, apenas, gradualmente. Os incrédulos rejeitam as parábolas porque elas são estranhas à sua maneira de pensar. Recusam-se a perceber e entender a verdade de Deus. Assim, por causa de seus olhos cegos e seus ouvidos surdos, privam a si mesmos da salvação proclamada por Jesus, e trazem sobre si mesmos o julgamento de Deus. (KISTEMAKER, 1992, p. 20).
  • 9. b) Estrutura da parábola A composição da parábola é circular, e pode ser expressa da seguinte forma (cf. BAILEY, 2016, p. 411): a. A vinha é arrendada b. Os servos são enviados, e os vinhateiros os tratam muito mal. c. O proprietário reage enviando seu filho, sozinho e desarmado. d. O filho é visto e os vinhateiros o matam. e. A vinha é dada (arrendada) a outros. c) Destaques da parábola Nesta parábola (māšhāl), Jesus usa elementos conhecidos dos seus ouvintes, tirados da clássica parábola de Isaías, com uma adaptação: o dono da vinha plantou- a e ausentou-se. Isto permite a Jesus inserir novas personagens na parábola: os vinhateiros (os acusados). O proprietário esperava receber o fruto da sua vinha, mas é frustrado, pois os vinhateiros, em lugar de prestar contas do que estava sob seus cuidados, espancam os servos e mandam-nos de volta de mãos vazias. O proprietário compassivo, agindo com extrema nobreza, faz uma última tentativa: em vez de enviar alguém para prender ou castigar estes homens, envia seu filho, sozinho e desarmado, preferindo a vulnerabilidade à ira gerada pela injustiça. Jesus retrata um Deus “que ama além da medida e é compassivo quando tem todo o direito de ser severo” (KUNZ, 2014, p. 178). Os arrendatários da vinha, porém, reagem com desprezo, violência e cobiça (querem a herança para si), levam o filho para fora da vinha, para o sangue não contaminar as uvas (BAILEY, 2016, p. 419), e ali o matam. Na conclusão da parábola, Jesus não pergunta: “Que podia ser feito?’, mas lança a questão para seus ouvintes: “Que fará o dono da vinha àqueles lavradores?”. Seus interlocutores, sem cuidar que falava deles mesmos, dão a sentença da sua autocondenação: “Fará perecer horrivelmente aqueles malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. Na explicação da parábola (nimšal), Cristo revela quem são os verdadeiros acusados, os líderes religiosos de Israel. Depois, Jesus proclamará diversos “ais”,
  • 10. anunciando os erros cometidos por estes religiosos, que os levaram à condenação anunciada na parábola (Mt 23.13-36). d) A reação dos ouvintes da parábola Ao ouvir a parábola contada por Jesus, os líderes judeus rejeitaram seu ensino. Em lugar de reagirem com reconhecimento do seu erro e responderem com arrependimento, sua reação é acirrar a perseguição ao Mestre, desejando prendê-lo (v.46), formulando questões com o objetivo de apanhá-lo em alguma palavra (Mt 22.15, 35). Relações entre as Parábola de Isaías e de Jesus Há diversas equivalências metafóricas nas duas parábolas: o dono da vinha é Deus, e a vinha é a nação de Israel (CARSON, 2010, p. 525). Há, em ambas as narrativas, uma expectativa de se ter os frutos da vinha, mas este intento é frustrado e traz condenação sobre aqueles que não atenderam à expectativa do dono da vinha. Podemos observar um quadro comparativo dos símbolos utilizados em ambas as parábolas (adaptado de BAILEY, 2016, p. 414): Símbolos Parábola de Isaías Parábola de Jesus Proprietário O Senhor dos Exércitos Deus Vinha Casa de Israel Israel Videiras Homens de Judá - Benefícios esperados Da Vinha Dos vinhateiros Expectativas Uvas boas (retidão e justiça Parte da colheita Rendimento Uvas bravas (opressão, derramamento de sangue e clamor pela injustiça) Não há frutos, mas espancamentos, insultos e derramamento de sangue. Consequência A vinha será destruída Os vinhateiros serão substituídos.
  • 11. A parábola de Isaías mostra que Deus tratou Israel com graça abundante: cuidou, protegeu, deu-lhes tudo o que era necessário para que eles correspondessem favoravelmente, praticando a justiça que Ele requeria. Na parábola de Cristo, há uma graça ainda mais abundante sendo revelada, no amor e na longanimidade de Deus em enviar Seu Filho, em vulnerabilidade, em lugar de aplicar imediatamente o castigo requerido por sua justiça. “No Cântico da Vinha, Isaías predisse a destruição da vinha bem antes de Jerusalém cair. Mas a parábola de Jesus é muito mais suave que seu protótipo” (BAILEY, 2016, p. 422). A profecia de Isaías é contra a nação; a de Jesus é contra a liderança religiosa, que, além de não atender às expectativas de Deus quanto ao seu fruto (que devem ser os mesmos de Isaías), rejeitam o Filho enviado pelo Senhor. Jesus oferece graça, mas também juízo, como o faz também em outras parábolas (Lc 14.24; 19.27; 13.9). As duas parábolas classificam-se como jurídicas, onde os próprios ouvintes interagem com o cantador ou contador da história, condenando a si mesmos, pelos seus pecados, que será descrito em seguida, na forma de “ais”. Estas parábolas provocaram em seus ouvintes uma avaliação negativa das suas próprias ações. Ambas as narrativas mostram graça e juízo, confiança e responsabilidade, iniciativa graciosa por parte de Deus e a necessidade de prestação de contas por parte dos homens. Isaías, em seu texto, fala do amor do Senhor dos Exércitos por Israel. A parábola de Mateus apresenta o amor de Deus por todo o mundo, revelado na morte de Cristo. Considerações finais Jesus utiliza-se do texto do profeta Isaías de Jerusalém, um oráculo de condenação que era, certamente, conhecido de seus interlocutores. As parábolas em questão, embora separadas por centenas de anos em sua proclamação, revelam elementos que exprimem características e expectativas semelhantes do Deus que mostra sua graça, tanto no Antigo como no Novo Testamento, mas que também revela o juízo correspondente à rejeição e rebeldia contra o Dono da vinha. O Mestre das Parábolas, Jesus, conta a mesma história de Isaías, mas lhe dá nova forma. Ele transforma certos elementos de Isaías 5.1-7, e introduz fatos novos, de acordo com a necessidade do momento. A essência jurídica do Cântico da Vinha
  • 12. é ressoada inteiramente em Mateus; a acusação, originalmente apontada para casa de Israel, é agora alterada estilisticamente para a liderança religiosa de seu tempo. Cabe aos leitores modernos destas parábolas analisar a sua própria vida, à luz dos oráculos destes profetas, para verificar se se encaixam no perfil dos acusados por eles, e se irão reagir favoravelmente, corrigindo-se, convertendo-se e renovando a aliança e o compromisso com o Senhor da Vinha. Amém. REFERÊNCIAS ASSIS, Eliezer Alves de. A parábola dos vinhateiros homicidas de Mateus 21,33-46 à luz das ressonâncias de Isaías 5,1-7. 2006. 160 f. Dissertação (Mestrado em Teologia). Pontífica Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2006. BAILEY, Kenneth E. As Parábolas de Lucas. 3ª ed. Traduzida por Adiel Almeida de Oliveira. São Paulo: Vida Nova, 1995. BAILEY, Kenneth E. Jesus Pela Ótica do Oriente Médio – estudos culturais sobre os evangelhos. Traduzida por Carlos E. S. Lopes. São Paulo: Vida Nova, 2016. BÍBLIA SAGRADA. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Atualizada no Brasil, 3ª ed. (Nova Almeida Atualizada). Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. BOICE, James Montgomery. Las Parábolas de Jesus. Traduzida por Editorial Patmos. Grand Rapids, Michigan: Editorial Portavoz, 2017. CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. Traduzida por Lena e Regina Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2010. DILLARD, Raymond B.; LONGMAN III, Tremper. Introdução ao Antigo Testamento. Traduzida por Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006. HENDRIKSEN, William. Mateus. Vol. 2. Comentário do Novo Testamento. Traduzida por Valter G. Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Isaías a Malaquias. Traduzida por Valdemar Kroker, Haroldo Janzen e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. JEREMIAS, Joachim. As Parábolas de Jesus. Traduzida por João Rezenda Costa. São Paulo: Paulus, 1986. KISTEMAKER, Simon J. As Parábolas de Jesus. Traduzida por: Eunice Pereira de Souza. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992. KUNZ, Claiton André. Ações Parabólicas de Jesus no Evangelho de Marcos. Curitiba: A. D. Santos, 2018.
  • 13. KUNZ, Claiton André. As Parábolas de Jesus e seu Ensino Sobre o Reino de Deus – desvendando o mistério das 42 parábolas muito além do óbvio. Curitiba: A. D. Santos, 2014. MOTYER, J. Alec. O Comentário de Isaías. Traduzida por Regina Aranha e Helena Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2016. PETERLEVITZ, Luciano R. Introdução ao Profetismo. Revista Theos - Revista de Reflexão Teológica da Faculdade Teológica Batista de Campinas. Campinas / SP, v.4, n.1, p. 1-14. Jun/2008. Disponível em http://www.revistatheos.com.br/Artigos/Artigo_05_02.pdf. Acesso em 29/10/2018. RIDDERBOS, J. Isaías: Introdução e comentário. Traduzida por Adriel Almeida de Oliveira. São Paulo: Vida Nova, 1986. SICRE, José Luis. Profetismo em Israel: o profeta, os profetas, a mensagem. Traduzida por João Luís Baraúna. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. SNODGRASS, Klyne. Compreendendo Todas as Parábolas de Jesus. Traduzida por Marcelo S. Gonçalves. Rio de Janeiro: CPAD, 2011. WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, vol. IV, Proféticos. Traduzida por Suzana E. Klassen. Santo André / SP: Geográfica, 2006.