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Corpo-máquina, sarado e tatuado
Alexandre Batista Reis
Diretor da Contemplo Cia de Dança [PRONAC 07_0179]
DOUTORANDO EM CIENCIAS DE LA ACTIVIDAD FÍSICA Y DEPORTES/UAM-MADRID-ESPAÑA
Resumo
Este trabalho busca entender a relação que se
estabeleceu na pós-modernidade à luz da pós-
industrialização sobre a condição do corpo, em
especial ao corpo masculino, que tem se reduzido
como corpo-máquina, codificado por tatuagens na
sua pele e que surge como um corpo pleno de
perversidade sexual cibernética. Este corpo-
máquina convive numa intensa problemática que
envolve várias áreas científicas afins, tais como:
filosofia, antropometria, cinema,
neurociência, genética e sexualidade; também
convive com os critérios ambivalentes relacionados à
imagem corporal articulando aspectos do gênero
masculino pela estrutura revelada como máquina
cibernética no mundo atual. Trata-se ainda de uma
crítica com um caráter argumentativo construído por
meio de um levantamento bibliográfico
despretensioso e contemporâneo fundamentado
através de um debate com os textos escolhidos e
com a Fenomenologia da Percepção. Julgamos de
fundamental importância a análise dos movimentos
cibernéticos que incitam o corpo a assumir o
comportamento da máquina, a superar a cura e a
iconografar a pele incondicionalmente como “tábula-
rasa” de sua existência na atual sociedade pós-
moderna, a qual é a mantenedora de uma
emblemática e angustiada vida cibercultural.
Palavras-chave Corpo; Corpo-máquina;
Cibercultura; Pós-modernidade.
Abstract
This study attempts to understand the relationship
established in post-modernity in the light of post-
industrialization on the condition of the body,
particularly the male body, which has been reduced
as body-machine, codified by tattoos on your skin
and it appears as a body full of sexual cybernetics
perversity. This body-machine live in a severe
problem that involves several related scientific areas,
such as: philosophy, anthropometry, movies,
neuroscience, genetics and sexuality; also coexists
with the ambivalent criteria related to body image
articulating aspects of the male as revealed by the
structure machine cybernetics in the world today.
This is still a critical character with an argumentative
built through a bibliographic unpretentious and
contemporary motivated by a discussion with the
texts chosen and the Phenomenology of Perception.
We believe the importance of fundamental analysis
of cyber movements that incite the body to assume
the behavior of the machine, to overcome the
healing and unconditionally iconography of the skin
as a "tabula-rasa" of their existence in the current
post-modern society, which maintains such flagship
and anguished cyber life.
Keywords Body; Body-machine; Ciberculture;
Postmodernity.
Bahia, dezembro de 2008
O corpo é um dos centros temáticos da cultura a partir dos anos setenta. A sua
pretendida liberação por meio de suas mais diferentes práticas físicas e expressivas na
pós-industrialização condicionou-lhe uma ameaça narcisista e um tanto histérica. Na
filosofia o corpo é enfocado como contraditório e ambivalente. No pós-modernismo, ou
como diria Hal Foster “pós-modernismos” (1996:175), a distinção entre estilo e episteme
ainda não reduziu o fenômeno “corpo” numa completa simetria de códigos claramente
representados. O corpo agora é uma máquina cibernética sarada e tatuada, como os
próprios termos o definem em suas formas e conteúdos simbólicos.
O corpo não pode ser considerado sinteticamente dominante, ele se porta como abertura
e entrelaçamento do campo simbólico, ele se torna mesmo “o símbolo de todos os
símbolos existentes ou possíveis”. Michel Bernard (2000:30-31) pode concluir que “o corpo
vivido por nós não é jamais verdadeiramente e totalmente nosso, nem a maneira como
vivemos este corpo.” Ainda que especulativo o estudo da imagem do corpo e da medição
precisa do corpo só foi possível com o surgimento de instrumentos que pudessem registrar
o tempo desse corpo. Além disso, a compreensão da imagem corporal se torna essencial à
percepção do corpo e segundo Rincón B., Cassandra E.:
“possui uma profunda relação com a dinâmica da personalidade, já que
assimila-se com a estrutura que intervém por excelência nas ações
antecipadas, além de ser instrumento para penetrar na essência do que se
percebe.” (1971:145).
A sociedade pós-industrial, com seus métodos de produção mais avançados, agregou a
dispersão pós-modernista à essência humana. Juntas elas passaram a desenvolver uma
série de tecnologias alimentadas pela obstinação por qualidade total e cura ostensiva do
corpo. A cura ostensiva do corpo tem as suas raízes em diversos momentos que
emergiram para alcançar esta reformatação essencial do corpo e que emancipou o homem
no contexto histórico e social da pós-industrialização. Desde o final do século XIX que
percebemos a evolução do corpo a partir das mudanças tecnológicas indicadas por
diversos códigos imagéticos e sensoriais. Ferdinando Martins aponta que:
“Essas mudanças, aliadas ao advento de novas tecnologias e a expansão dos
meios de comunicação de massa, por sua vez, influenciaram a codificação do
corpo – movimento intensificado com a globalização, que exige códigos não
verbais para a internacionalização das mensagens. Configura-se, dessa
forma, a era da imagem, com os corpos tendo que enquadrar, de alguma
forma, em esquemas pré-concebidos.” (2008:2).
No dandismo do início do século XX notava-se a valorização da sofisticação delicada e
gestual, expressando a intelectualidade masculina de forma frívola no corpo; a Segunda
Guerra mundial trouxe consigo uma hipervalorização do corpo masculino disciplinado e
eugênico em detrimento aos outros corpos, considerados impuros e inumanos. Por este
motivo, foram condenados ao degredo judeus, homossexuais, exilados, comunistas, entre
outros inseridos num contexto conflituoso por mais trinta anos deste século.
O advento da AIDS, que trouxe consigo a noção da imune fragilidade e morbidez ao corpo
contaminado (em especial aos homens que praticavam sexo com homens) incitando a
procura de uma cura irrevogável para a doença. Cura que ainda está em processo de
descoberta e sustentada pelo coquetel retroviral medicamentoso do final deste século. As
ciências médicas e o estudo da fisiologia humana são paradoxais. Significa dizer que
nenhum corpo é integralmente idêntico e o tempo do corpo é infinito para a sua lógica
funcional: forma e/ou função. A incerteza que envolve o estudo da fisionomia e da
fisiogenia se deve ao fato de que na antropometria pouco ainda se fez para justificar
cientificamente a compleição imagética do corpo e suas interações neurofisiológicas e
neurocomportamentais. Segundo apurado por Jacques Leenhardt :
“essa ciência, incerta porque, como notava Kant, sem regras, tentava fazer
corresponder imagens a tipos de comportamento, partindo da hipótese que
as características físicas do corpo constituem uma semiótica dos caracteres”.
(2007:4).
Tendo em vista a sua interface com as novas tecnologias e com outras ciências devemos
notar que a antropometria não pode ser considerada uma ciência pautada em meras
questões matemáticas e dispositivas. São essas interfaces que, talvez ainda, proporcionem
o caráter empírico ao que Kant se referia, acusando-a como ciência sem regras e
meramente hipotética. A antropometria pode ser definida como um ramo da ciência que
se ocupa da medição da estrutura corporal, assim como suas aplicações e técnicas de
estudo. Nesta disciplina concorre uma série de outros conhecimentos relacionados:
Anatomia, Matemática, Física, Estatística e Informática. Aparentemente simples, porém
exigirá um extraordinário rigor por parte daquele que a realiza. Seja na forma de medir o
corpo (precisão), bem como, na correta escolha do método (exatidão). O registro
fotográfico é responsável pela sustentação periódica do corpo. E de fato muitos autores
frisam a importância dela na reorganização da imagem corporal na modernidade e
afirmam a sua importância como único e primeiro suporte sustentável de representação
da imagem do corpo. Segundo Barbosa, Barbara C. de O.:
“a imagem técnica surge com a fotografia, desenvolve-se com o cinema e
culmina com a expansão da televisão. É, porém coroada pelo constante fluxo
imagético da era cibercultural.” (2008:60).
O corpo perdeu os apelos modernistas em que ele era o suporte de muitas projeções
humanas meramente formais no século passado. Com a fotografia presente na realidade
pós-moderna há uma importante observação do corpo no sentido do desejo e da sedução.
Ainda com relação à imagem, Barbosa, Barbara C. de O. (2008) complementa que a
“natureza da imagem doravante permite não somente a contemplação, mas a inserção e a
interferência na imagem.” A imagem corporal aparente da fotografia corresponde ao
momento histórico em que o corpo se situa no mundo, por este motivo a redução do
corpo é temporal e não somente espacial, ele ocupa um tempo no mundo. A interferência
da imagem corporal no mundo depende da capacidade de perceber e analisar cada vez
mais os planos complexos do estar no mundo. Rincón B., Cassandra E. (1971) afirma que
“neste aspecto vemos como o corpo se percebe como um objeto; o sujeito emergiu do
mundo dos objetos tendo como instrumento seu próprio corpo.”
A imagem concebe ao corpo um individualismo instantâneo que é fruto de
desenvolvimento próprio do produto pronto, acabado, entrópico e que as estruturas
sociais contemporâneas lançam em direção ao futuro. Nesse corpo e máquina ao mesmo
tempo o design das formas simbólicas é cada vez mais técnico.
Na Alemanha de 1920, período de grande
mudança tecnológica e industrial, Fritz
Khan escrevia e desenhava sobre o
homem-máquina. O corpo era visto na
época como um elemento funcional e até
mesmo irrelevante na máquina social,
seus movimentos eram exclusivamente
calculados para o trabalho. Para Fritz
Kahn o corpo era uma fábrica complexa e
ele o concebeu utilizando metáforas da
vida industrial moderna. O fenômeno
corpo-máquina foi enfatizado também no
cinema com o primeiro filme
expressionista de que se tem notícia: “O
Gabinete do Dr. Caligari”. Nele, o corpo
do herói, Cesare, é uma espécie de
máquina hipnotizada que obedece
incondicionalmente aos desejos caóticos
de seu manipulador, o Dr. Caligari. A
estética do corpo-máquina culmina nos
anos 60 com a filmografia do cineasta
canadense David Cronenberg o qual,
segundo Eliska Altmann (2007), “ já
demonstrava obstinação pelo híbrido
corpo-máquina”.
Altmann, afirma que:
“Nessa espécie de ambivalência, porém, os comportamentos e as funções
corporais parecem estar, ao mesmo tempo, para além de uma construção
social, pois excedem os limites de controle na medida em que experimentam
transformações imanentes às pulsões. Estas, apesar de estarem interligadas
às forças de dominação e poder social, têm uma potencialidade sobre-
humana.” (2007:46).
A vida cotidiana fragmentou essas projeções humanas, a expressividade manifesta-se em
práticas multimidiáticas sobre-humanas ou até mesmo pós-humanas. O corpo procura por
mais liberdade, seja por meio destas plataformas em que a tecnologia pós-industrial
reflete a sua noese¹, seja por meio do senso de liberdade que está registrado como
Ilustração 1: The workings of the nervous system,
Fritz Kahn. Copyright © The British Library Board
noema² de nosso sistema neurofuncional e que caracteriza a nossa atitude moral pelas
sensações somestésicas de bem-estar. Essa subjetividade pós-industrial é o paradoxo da
forma e da função do corpo em si, muitas vezes ela é trazida ao nível da consciência pela
imaginação criativa e, quando possível, se torna um brinquedo concupiscente para
interagir no “vir-a-ser” do corpo. A subjetividade pós-industrial se equilibra como ‘tábula-
rasa’ do corpo-máquina, num possível tempo e espaço cibernético, onde ele (corpo) vai
expor a sua implacável robustez imaginária mediante a mínima energia. O fenômeno
corpo é apontado cada vez mais flexível, pleno de destrezas, excitante, autônomo e
transgressor de regras tradicionais. Isso representa uma resignificação do desejo
direcionado ao corpo em movimento, e utilizando a conjectura de Barbosa, Barbara C. de
O. veremos que:
“(...) com efeito, as tecnologias de tele-ação além de afetarem o ‘corpo
territorial’, atingiram a natureza do indivíduo e do seu ‘corpo animal’ (...) pois
as transmissões nos meios comunicacionais, paradoxalmente, implicariam
em uma ‘inércia-crescente’, uma vez que o indivíduo para estar tele-presente
não precisaria se locomover.” (2008: 31).
De fato se estabelece uma prioridade territorial e social tendo em consideração o ponto da
central de distribuição das conexões, dali sobrevive uma rede rizomática. Entretanto, a
importância do núcleo geográfico e operacional não pode ainda ser completamente
descartada. Na locomoção o corpo é transportado, ou melhor, transmitido de ponto a
ponto. Na linguagem da cibercultura ele é “roteado” por uma central para onde todos os
corpos convergem antes de alcançarem o seu destino final ainda que a trajetória seja
próxima demais entre todos. A cibercultura é um fenômeno transpolítico e isso pode ser
percebido pelo resultado das eleições estadunidenses que elegeram Barack Obama
presidente em 2009. Além de gravar muitas mensagens na página da internet relativa à
transição de governo, lançou-se no You Tube afim de comunicar-se diretamente com a
população americana. Especialistas consideram este modelo de campanha, apoiada na
web, extremamente inovador. Em tempos presentes, o valor dos acordos tende a se
reorganizar pelo vínculo estabelecido não apenas pela renitência do protagonista e de
seus corpos, o vínculo está estabelecido pelo uso que se faz deste corpo. O atual fluxo
imagético cibercultural determina mais do que nunca a ansiedade da pós-modernidade em
capsular o humano aliado à tecnologia. A natureza incansável do homem pós-industrial
para projetar, acessar e transmitir não se deve somente à plasticidade cibernética, mas
também por conta da recente segurança de suas infinitas conexões. O que dizer da
conectividade deste corpo, mediante uma prática informacional presente na atualidade?
Ela é ligada somente à necessidade de instrumentos cada vez mais eficientes e velozes?
O corpo demanda ansiedade para resolver ‘a tempo’ todas as suas infinitas conexões com
o presente e isso despersonaliza o emissor, que embora preparado para a tecnologia,
tornar-se-á inerente a ela. A customização está presente não somente nas marcas, mas
também nos corpos que a liberdade expressa na pós-industrialização. No suporte gráfico e
sarado da aparência fundamentam-se os objetivos dessa representação plena. Entretanto,
é a percepção da plenitude no ideal vigoroso e absolutamente consciente que traz consigo
uma condição apta e voraz almejada, porém esta é uma condição volúvel em essência por
conta desse desdobramento. Alcançar a plenitude na relação homem e máquina significa
presumir uma prontidão do corpo. Significa uma purificação instantânea de nossa
percepção tardia de si e do outro, cada vez mais estamos diante de um espaço corporal
que se dedica ao deleite e ao encontro de seu avatar, ou seja, o encontro de sua redenção
perceptiva tardia de si e do outro. São essas concepções de imagens corporais concebidas
no exterior de si e no ambiente virtual da cibercultura pós-industrial que estimulam a
epistemologia do prazer. Hoje somos manipuláveis pelos programas computacionais e/ou
econômicos. Nossa plasticidade pode ser percebida, digitalizada e telemidiatizada em prol
da ambivalência retração/atração de nossa imagem corporal. A imagem do corpo alcança
cada vez mais o âmago essencial e imaginário. A imagem do corpo propõe uma nova
moral, uma nova episteme do prazer e uma recente pós-modernidade humanizante e
paradoxal no corpo industrializante de si. Se representado na pintura, por exemplo, a
imagem do corpo passou a assumir com o tempo, em especial ao corpo masculino, uma
reencarnação do mito e da alma elevando-o para esferas transcendentais antes
inimagináveis, e alcançadas, com os avanços científicos e tecnológicos:
“a tradição ocidental costumava ver uma unidade humana constituída de
duas entidades chamadas de alma e corpo, separando o espiritual e o físico
para melhor reuni-los no mito do Deus-Homem, do Espírito encarnado que é
Cristo, a ciência racionalista, moderna, que se organizará pouco a pouco a
partir do Renascimento em torno ao pensamento de Descartes, separou os
órgãos e as funções. Dessa maneira, ela esperava conhecer e analisar
melhor o funcionamento do corpo, tratando-o como uma máquina que
responde às leis da mecânica.” (Leenhardt., J., 2007:1-2).
De fato, em milhares de anos, muitas espécies selecionaram os indivíduos mais resistentes
e fortes. No desenvolvimento neurocomportamental o corpo mantém-se como suporte da
totalidade e da virtude. Sua imagem é a concretude da vida e de nossos comportamentos,
mesmo abstrata ela está concebida no interior de nosso sistema neurofisiológico e está
correlacionada aos aspectos libidinal e pulsional. Identificar a programação neurálgica dos
sistemas multimidiáticos amplia as condições de autonomia e de excelência na relação
corpo-máquina. Entretanto, a sociedade apregoa uma pós-industrialização fundamentada
em tratados demasiadamente prolixos, angustiantes e descartáveis. Essa condição
ambígua de pretensa liberdade precisa ser amenizada em novas relações de
interdependência e cooperação para a manutenção do fenômeno corpo-máquina. E, não
somente, pelo aspecto híbrido da conjunção corpo-máquina, pois a sua condição saudável
ultrapassa o equilíbrio neurofisiológico. Mais além do corpo-máquina é o sobre-humano
que se estabelece. Ele consolida um modelo corporal robótico ou magnético e
eminentemente fluído na sociedade pós-industrial. E, ele pretende surgir exatamente
sincronizado com o nosso sistema neurocomportamental pós-modernista. Este “sobre-
humano” se exprime de diferentes formas. Por exemplo, hoje existem próteses que
procuram dialogar com a capacidade neurocomportamental do corpo. Além disso, o prazer
instantâneo que a máquina proporciona ao ser humano evidencia sua imagem e o induz
cada vez mais ao vigor e à velocidade, trata-se assim de uma relação homem e máquina
de infinita ambivalência e ansiedade. Indiscutível interface entre a cibernética e
ambivalência do corpo e da máquina neste movimento pós-modernista, é nele que o corpo
se encontrará codificado geneticamente e somestesicamente “sarado”, e esta somática é
entendida como fragmentável em órgãos de função específica e clonáveis como bem
soube definir Leenhardt., J. quando explica-nos que:
“a tecnociência contemporânea levou essa lógica dos órgãos às suas
extremas conseqüências com a criação de bancos de órgãos. O corpo torna-
se semelhante a um automóvel, um conjunto de peças destacadas,
organizadas de acordo com as leis da funcionalidade.” (2007:2).
O corpo assume a máquina como redução fenomenológica de sua capacidade evolutiva,
ele interage com a ambivalência de sua condição pós-moderna. E nesse sentido ele
aperfeiçoa sua imagem corporal nos ambientes onde ele transita, seja este espaço
cibernético ou real. Portanto, aqui comparado ao automóvel, qual espaço real tem sido
dedicado a forjar este corpo no contexto pós-industrial, ou melhor, onde fica essa “oficina
do corpo”?
Ela é a academia de musculação, criada início do século XX e espalhada em todos os
bairros das cidades pós-industriais. A academia de musculação, entendida aqui como
objeto arquitetônico pós-moderno, proliferou-se como objeto de comunicação do corpo
que busca um culto ao corpo como acontecimento. Nela se concentra a eternidade do
corpo-máquina e ela associa a proliferação do corpo como máquina (de culto), e Maffesoli,
M. explica que este processo acontece com todos os outros objetos de culto, tendo que:
“eles são objetos de um verdadeiro culto, e, sobretudo, fornecem uma
multiplicidade de cultos comuns. Quer seja a televisão, o videotexto, a
micro-informática e outra telecópia, todos encurtam o tempo, aniquilam o
futuro e são promotores de um instante eterno.” (1996:194).
De acordo com Maffesoli, M. (1996) podemos ainda associar que a academia de
musculação é um objeto de comunicação do corpo-máquina e que nela “o urbanismo
barroco recorre à sensação (ambiente), procede por sedução (aparência) e dispõe efeitos
(acontecimento).”
Na academia de musculação pós-modernista a variação imagética e objetal deve propor a
nova busca da imagem corporal. Nela deverá ser proposto um estilo para “sentir” o corpo.
Não distante apenas do prazer que exaspera-se com o cenário social que se apresenta ou
com o ambiente de uma percepção velada do outro e de seu corpo. A academia de
musculação pode ser considerada como espaço de uma sensação sutil para o ‘status quo’
ambiental da pós-industrialização. Ela (re)cria a relação emblemática de transpiração e
esforço em perfeita simbiose com a “oficina” onde se projeta o corpo, ou seja, neste caso,
com a aparelhagem e o maquinário presente. Na crista da evolução do homem pós-
industrial, a academia de musculação é capaz de reduzir e manipular o fenômeno corpo-
máquina. Por este motivo o corpo-máquina é pleno de causalidade e espacialidade. O
homem está cada vez mais modelando seu próprio corpo, sua própria imagem,
coincidindo-a com a imagem dos objetos cibernéticos. Ao ingressar nesta “oficina” o corpo
se sente máquina. A sensação de (re)construção do corpo com aparelhos vai associar este
maquinário ao símbolo idealizado do mundo multimidiático pós-industrial. Na academia de
musculação a aparelhagem convive com o corpo, modulando-o e modelando-o numa
vivenciada, próxima e acessível tonicidade. Entretanto, sua redenção completa se dá pela
exposição e projeção cibernética dos músculos expressivos. Assim, o computador assume
o fenômeno com velocidade e transmutação e, estas duas, são características marcantes
da pós-modernidade no corpo. A imagem do corpo sarado permanece à venda também na
televisão. Ela tornou-se a imagem ideal do corpo em si. Nesta fábula o corpo é um
produto e como tal deve receber seu valor e deve ser consumido.
Ilustração 2: Gogo Boy em apresentação
na boate Blue Space de Brasília. Coleção
particular do autor - 2007
O vigor e a forma alcançaram a consciência da pós-fabricação do corpo por meio de seus
incríveis mecanismos de modelagem física disponíveis nas mídias. A ambivalência dos
corpos atuais, após quase um século de industrialização cultural americana, sucumbe às
formas mais angustiadas e definidas de corpo masculino sincronizado pela TV e seus
consumidores. São disponibilizados aparelhos cada vez mais modulares, plenos de design,
protético-anatômicos e com uma eficiência e eficácia indiscutível de treinamento para o
corpo sob qualquer condição: física, temporal, social ou arquitetônica. Nem todos os
homens possuem estes corpos tele-midiatizados, suas mutações não dependem somente
de um projeto pós-fabricado ou de um modelo de corpo exibido nos mecanismos
multimidiáticos. As mutações corporais estão acontecendo, de fato, no ambiente da
imagem autônoma e individual do corpo em si. Elas apelam para uma autonomia que
Leenhardt. J. (2007) determina de “autonomia enquanto máquina”. E concede uma
“autonomia técnica crescente a um corpo tratado, cuidado e transformado pelas técnicas
medicinais cada vez mais sofisticadas”. O corpo tem que ser sarado, hiper cuidado e
extremamente mesurado. Veicula-se a cura a qualquer custo, a imunidade, a autonomia e
os outros valores qualitativos que são também muito enfatizados na pós-industrialização
ou na era hiper industrial como aponta Bernard Stiegler (2008), bem como a sua
desconstrução espaço-temporal que aproxima o corpo da máquina instantânea e eficiente.
A máquina pode ser reciclada infinitas vezes e ela, tal qual máquina, reorganizada traz
consigo a mesma somestesia de bem-estar para o corpo que a utiliza. O corpo pós-
industrial dialoga com a pós-modernidade no sentido de obedecer uma outra lógica, a
lógica da máquina. Há evidências dos limites temporais e espaciais no fenômeno corpo-
máquina e quem esclarece isso é Glenberg, A. (2008), citando bases neurocientíficas,
onde o corpo possui um panorama cognitivo completamente distinto e que ele só
deslancha com uma “cognição incorporada”. Mas, será mesmo que a liberdade cognitiva
impele essa nossa cognição incorporada? Questionarei tal posição no momento em que os
valores se confundem à massificação dos símbolos corpóreos. Glenberg, A. (2008)
confirma que a cognição é o que rege a importante expansão do corpo no mundo. E, que,
os nossos pensamentos são compelidos e influenciados por detalhes de nosso corpo. Essa
teoria de cognição incorporada denota o quão imbricado vivemos enquanto mente e
corpo. É provável que os nossos códigos genéticos estejam representados em bases muito
mais complexas do que os inúmeros eletrólitos que compõem as máquinas mais
avançadas.
Presume-se então, que surgirão novas tecnologias que aproximem mais ainda o nosso
corpo da máquina. Mas antes que elas cheguem impávidas melhor perscrutar a semiótica
do corpo, pois todos os avanços que o corpo assumiu consolidaram-se de uma
ILUSTRAÇÃO 3: O CÓDIGO GENÉTICO
reversibilidade do próprio corpo em seu tempo. Para comunicar-se imanentemente consigo
mesmo e com os outros, os corpos têm o músculo entendido como objeto e mecanismo
de poder. Desde a antiguidade e em infinitas culturas o homem reveste seu corpo de
códigos visíveis e invisíveis de poder. Então, qual é o melhor código para o corpo? O
genético ou o pictórico?
Isso significa que o corpo desta máquina cognitiva não será meramente revestido pela
superfície. Mais do que nunca nas superfícies cibernéticas pós-modernas o design da
embalagem é uma condição eloqüente à vanguarda deste objeto. A epiderme é a nossa
representação fenomenológica de corpo mais superficial, ela ocupa o espaço do tempo
que o corpo transita. A demarcação e a diferenciação com relação ao outro é feita por
meios iconográficos, sejam estes códigos meramente formais ou estéticos. Entre a pele e
a moda pode existir uma criptografia iconográfica no corpo e, mais precisamente, refiro-
me a tatuagem. A tatuagem é entendida como código híbrido do corpo com a máquina.
Ela busca sua inserção como fragmento arquetípico individual ou tribal e, justamente, dá
mais sentido cibernético ao corpo. Nos sistemas operacionais e multimidiáticos essa
distinção existe por meio de softwares, transistores, chips, códigos criptografados e
senhas que regem o mundo cibernético. Neste jogo de formas fragmentadas soube
Maffesoli, M. (1996) caracterizá-lo como “aparência da parte significante”, no qual a
ordem dos fatores não altera a coerência de cada fragmento. Demonstramos o quão
barroco ainda somos com o nosso corpo pós-modernista configurado numa segmentação
cada vez mais comparada aos seus inúmeros desdobramentos de nosso tempo. Aproprio
os fragmentos tatuados em epidermes corpóreas, e situo Maffesoli, M. apontando que:
“É esta a lição essencial da forma. É isto que faz da frívola aparência um
elemento de escolha para compreender um conjunto social. Pois suas
diversas modulações por aglomeração, por sedimentação, vão, num certo
momento determinar o ambiente da época. Insistindo nessa expressão,
trata-se de ressaltar que ela é também feita de sensações, sentimentos,
emoções coletivas. Coisas que constituem a carga imaginária, ou o que
Cassirer chamava de “pregnância simbólica” , e que não se pode mais
reduzir ao patológico ou ao infrateórico.“ (1996:141).
O sentido barroco da tatuagem se confunde com a imensa possibilidade iconográfica do
corpo em si. Respeitando as condições mínimas de manutenção epidérmica onde essa
aparência do ícone é inserida como suporte e adereço do corpo. Iconografia da pele, ou
seja, a tatuagem representa a liberdade da cibercultura no corpo. Com ela o sentido de
perversão se expande em inúmeros e infinitos códigos que a virtude modernista propôs.
Pérez, Andrea L. (2006) diz que se trata de uma liberdade condicionada ao tempo
presente, que seja, pós-moderno e que:
“esta mudança é bastante complexa, em razão da longa tradição de
desprestígio e condenação da prática da tatuagem, e se faz evidente na
série de valores “negativos” com os quais ela é relacionada, como aquilo que
é sujo, podre, perigoso, proibido e contaminado.” (2006:183).
A tatuagem assume com a pós-modernidade uma “nova” admiração do corpo, que além
de máquina pode conter um código específico o qual o classifica ainda mais como produto
industrializado e consumível. Esta mudança está estreitamente relacionada ao processo de
comercialização da prática da tatuagem. Hoje ela pode inclusive ser invisível (Black Light
Tattoos)³ para aqueles que desejam, porém não podem tê-las na pele por diversas razões.
Interessante observar também a invisibilidade de nosso código genético como portador de
noema e noese de nossa existência. A concomitância entre o genético e o pictórico
ultrapassa a visibilidade e identifica o corpo. Poderíamos então associar a invisibilidade de
nosso código genético como sendo a nossa tatuagem única “per se”. Ou seja, estas
associações “invisíveis” são desencadeadas também ao nosso código genético que ainda
não pode ser identificado a olho nu ou por meio de instrumento banal; esses códigos
passam por constantes avaliações científicas, éticas e morais em prol de uma bioética
meticulosa e não, meramente, comercializável. Para além da imagem pictórica e aparente
no corpo, a tatuagem é uma decisão irrevogável desse corpo. Revestir o corpo com um
símbolo gráfico visível ou invisível representa dar liberdade ao rito que a aparência evoca
no corpo do outro. Estabelece-se assim uma identificação imediata como também
acontece na cibercultura, com seus caracteres iconográficos imanentes e conectivos.
Mesmo que o ícone não seja o mesmo admitido pela tribo, ainda assim, uma vez tatuado,
o corpo assume essa condição significante. Sabino, César e Luz, Madel T. (2006) afirmam
que a maioria dos(as) tatuados(as) das academias pesquisadas escolhe seus desenhos
após uma decisão pessoal.
“Tatuando-se, buscam singularizar suas figuras, sempre lhes conferindo uma
característica diferencial, um detalhe específico; alguns até mesmo
“inventam” seus desenhos ou “carregam” no estilo do mesmo ao se dirigirem
ao tatuador. Toda essa atitude é engendrada na busca de uma
individualidade relacionada à concepção de livre arbítrio (...)” (2006:252).
Qualquer contradição não tem espaço no âmbito da aparência. Uma vez tatuado este
corpo descreverá por si o signo circunscrito na epiderme. A tatuagem o transportará
independentemente da forma exterior e da força interior, individualmente ao “lócus”
cibernético. Embora o livre-arbítrio do corpo tatuado almeje estar na condição de controle
da forma identitária escolhida ele passará a viver na categoria formista por mais
inconformista que possa transparecer. A categoria cultural do corpo “impuro”
simbolicamente condenou a tatuagem durante muitos anos. Maffesoli, M. (1996) trouxe
uma abordagem aparente que propõe uma redenção sublime da pele pelo seu
pavoneamento. Esse autor apresenta a seguinte questão:
“(...) o que há de mais frágil, de mais cambiante do que a pele de um
indivíduo; sensível às variações das estações, às temperaturas, aos diversos
avatares exteriores, ela se modifica segundo as idades da vida. E ao mesmo
tempo não é ela que dá coerência a esse conjunto complexo que se chama
corpo?” (1996:128)
No conjunto que se faz corpo, sendo a pele a superfície que nos identifica essencialmente
no mundo pós-moderno, a tatuagem questiona a coerência do tempo e do espaço em que
estamos inseridos historicamente. A pele tatuada agrega valores que são identificados
também para as questões de gênero, onde o corpo do homem suportou mais este
fenômeno. Sobre essa supremacia de gênero Pérez, Andrea L. (2006) afirma que:
“(...) é importante lembrar que, do ponto de vista histórico, a prática da
tatuagem era basicamente restrita ao setor masculino-marinheiro, presos,
motoqueiros, etc, e como tal, vinculada a valores associados culturalmente à
masculinidade: como coragem, agressividade, força, entre outros.” (2006:
191).
O homem, como suporte sarado da tatuagem é o melhor símbolo do vigor que a pós-
modernidade propõe ao corpo. O fenômeno adquire uma deliciosa observação de sua
corajosa intensidade e com ele o corpo conquista definitivamente a máquina. O corpo
masculino assume a lógica pós-industrial pela estrutura radical da perfeição absoluta,
insere um registro tatuado aclamado pela estética pós-moderna e avança no sentido de
dar-lhe visibilidade pela invisibilidade de seu registro (aqui entendido também como
código genético residente na célula).
O protótipo de beleza masculina vem alcançando uma fisiogenia cada vez mais robusta
nos grupos de rapazes jovens de classe média e alta. Até os anos 90 o ideal atlético
avança irrestritamente à exposição destas imagens de corpo nas academias de
musculação e nos concursos de bodybuilding. Essa permissiva expressividade provocou
reações contrárias e até punitivas em determinados grupos que consideravam este tipo de
comportamento demasiadamente arriscado e ameaçador de certa tendência homossexual.
Houve uma dissociação músculo/movimento e nos anos 80 e 90 com a corrida pelo
sucesso e pela auto-realização o corpo “sarado” projetou-se na pós-modernidade; esta
insistente projeção gerou uma consciência corpórea da necessidade de robustez nestes
corpos jovens dos profissionais urbanos. A crise deste físico se dividiu em duas vertentes
na sociedade tecnológica e, mais além, ela pode segmentar nitidamente o corpo
masculino num ardor pelo corpo aparentemente indestrutível, auto-suficiente e autônomo.
A aparência deste corpo não corresponde exatamente à imagem corporal idealizada na
estética diacrônica e neurocomportamental humana. E ela não está livre dos artifícios
médicos ou cibernéticos.
Essa crise identitária gerou o sentido do mergulho na imagem corporal do corpo-máquina,
sarado e tatuado. O momento do corpo masculino culmina hoje com uma nova fórmula de
corpo próximo da máquina. Elaborado e almejado desde os anos 90 e consolidado por
intermédio de sua relação pós-industrial e cibernética com o mundo. O corpo-máquina
representa o máximo de eficiência, cada vez mais informacional e midiatizado; e eis o
desafio da máquina pós-moderna, o de justamente manter-se entre máxima robustez e
insignificante desgaste energético com incrível rendimento. Por este motivo é que a
tatuagem no corpo de ombros largos, peitorais desenvolvidos, abdome definido como o de
um jacaré, cintura fina, coxas grossas, nádegas bem torneadas assume um valor estético
futurista para a autonomia completa do corpo cibercultural. A construção do corpo
masculino será muito mais do que malhar o corpo na academia de musculação, também
existe uma relação de mundo além, mundo cibernético, onde a intangibilidade do corpo se
edifica em cada “download” de imagem corporal. Essa experiência de anonimato considera
e apropria uma nova expressão do corpo e para Barbosa, Barbara C. de O. isso vai
significar que:
“o outro como ‘espectro’, por meio do acesso glocal parece menos
ameaçador que no contato direto, incluindo a possibilidade das pessoas
expressarem, com maior facilidade, o que realmente desejam dizer.”
(2008:64).
O outro corpo não precisa ser visto. Em inúmeras situações as redes multimidiáticas
integram a imagem técnica ao critério humano que venha a existir no corpo. Essa
indeterminação perversa é muito enfatizada nas relações eróticas e, talvez, um tanto
histéricas experimentadas pelo corpo-máquina cibercultural. Essa experiência é então
condicionada aos ‘movimentos perversos’ da pós-modernidade, isso significa dizer que o
tempo para a contemplação ingênua do próprio corpo e para o corpo do outro vem sendo
substituído pelos efeitos anódinos da cibercultura. Espera-se que neste ritmo as
experiências afetivo-sexuais do corpo-máquina, sarado e tatuado sejam cada vez mais
precoces e instantâneas. Mesmo que este desvio seja já discriminado por legislações
específicas e considerado como movimento perverso na sociedade, a relação homem-
máquina concilia a cibernética aos ritos de passagem do corpo masculino ainda sem
muitos cuidados preventivos. E, sob este aspecto Peixoto da Mota, Murilo (1998) já
advertia que a intrínseca relação preventiva entre AIDS e erotismo. A perversidade sexual
cibernética alcança níveis mais sutis de comportamentos desviantes e posso associar esta,
particularmente, ao parâmetro pós-moderno humano.
“para uma reflexão específica: o modelo de prevenção deve levar em conta
as sutilezas do universo sexual, no qual às classificações públicas sobre o
sexo podem corresponder, no mundo da experiência erótica, condutas
contraditórias: o comportamento ‘desviante’, por exemplo, pode ser encarado
como um estilo, aspecto das regras do jogo (da diferença) ou o próprio
modelo que expressa um ‘rito de passagem’. “ (1998:148).
Isso não significa dizer, sob nenhuma hipótese, que este ‘rito de passagem’ ou melhor, que
esta ‘perversidade cibercultural’ proposta também como inerente ao corpo-máquina,
sarado e tatuado tenha mais valia na construção da identidade masculina. Entretanto, é
na contradição erótica e na satisfação libidinal do desejo que tem sido resolvida
entropicamente e momentaneamente a profunda solidão do corpo pós-moderno
cibercultural. A utopia está presente em todos os mecanismos ciberculturais de satisfação
do corpo, seja nos links que oferecem todo tipo de sexualidade, seja na liberdade
aparente das inúmeras imagens de corpo, disponíveis enfim, como valor utópico da
comunicação e responsabilizando-se pela angustiada e perversa relação que se
desenvolveu nesse sentido de estar no mundo. A pós-modernidade polemizada por
Foster, H. (1996) prevê um colapso “esquizofrênico” do sujeito caso não problematizemos
uma concepção pós-moderna e periódica do corpo. Para o corpo masculino essa
comunicação emblemática com a máquina presentifica-se em todas as vivências aqui
apontadas até o momento. Assim, aproprio Barbosa, Barbara C. de O. revelando que:
“o fato de se tomar a comunicação como valor utópico gera certos ‘efeitos
perversos’. A primeira conseqüência pode ser constatada no sentido da
palavra comunicação que passa a significar tudo e, ao mesmo tempo, já não
quer dizer nada.” (2008:22).
O corpo-máquina, sarado e tatuado desfalece seu imaginário afetivo e sexual no mundo
cibercultural. O vigor, as tatuagens, a perversidade sexual e as relações eróticas
alcançaram o valor utópico de uma consciência comunicacional nunca vista. Foi pelo
advento da cibercultura que os desvios comportamentais também passaram a conviver em
perfeita sintonia com a perversão virtual veiculada em redes multimidiáticas. Essa
instantaneidade do prazer que o corpo recebe da máquina é subvencionada pelas imagens
corporais de um simulacro angustiado e hipotético, talvez ele nem exista mais naquele
instante, considerando que a cibercultura congela e/ou transforma completamente todos
os corpos em suas projeções. No futuro surgirão outras relações glocadas na cibercultura
que poderão completar o desejo, a satisfação e a vida humana diante da máquina.
¹ Na Fenomenologia significa o aspecto subjetivo da vivência constituído por todos os atos que tendem a apreender o
objeto: o pensamento, a percepção, a imaginação.
² Na Fenomenologia significa o aspecto objetivo da vivência, o objeto considerado pela reflexão em seus diferentes
modos de ser dado: o percebido, o pensado, o imaginado.
³ Agência ANSA. Tatuagens invisíveis são a nova moda nos EUA. Rádio Criciúma, Notícias/Geral – publicado em
26/08/2006, 20h02min. Website visitado em 7/12/2008 - 13:02. Disponível na URL:
http://www.radiocriciuma.com.br/portal/vernoticia.php?id=2870
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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com o glocal interativo como habitus. Dissertação (mestrado em Comunicação e Semiótica pelo
Programa de estudos Pós Graduados em Comunicação e Semiótica - PEPGCOS/PUC-SP). São Paulo:
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Corpo máquina tatuado e sarado na pós-modernidade

  • 1. Corpo-máquina, sarado e tatuado Alexandre Batista Reis Diretor da Contemplo Cia de Dança [PRONAC 07_0179] DOUTORANDO EM CIENCIAS DE LA ACTIVIDAD FÍSICA Y DEPORTES/UAM-MADRID-ESPAÑA Resumo Este trabalho busca entender a relação que se estabeleceu na pós-modernidade à luz da pós- industrialização sobre a condição do corpo, em especial ao corpo masculino, que tem se reduzido como corpo-máquina, codificado por tatuagens na sua pele e que surge como um corpo pleno de perversidade sexual cibernética. Este corpo- máquina convive numa intensa problemática que envolve várias áreas científicas afins, tais como: filosofia, antropometria, cinema, neurociência, genética e sexualidade; também convive com os critérios ambivalentes relacionados à imagem corporal articulando aspectos do gênero masculino pela estrutura revelada como máquina cibernética no mundo atual. Trata-se ainda de uma crítica com um caráter argumentativo construído por meio de um levantamento bibliográfico despretensioso e contemporâneo fundamentado através de um debate com os textos escolhidos e com a Fenomenologia da Percepção. Julgamos de fundamental importância a análise dos movimentos cibernéticos que incitam o corpo a assumir o comportamento da máquina, a superar a cura e a iconografar a pele incondicionalmente como “tábula- rasa” de sua existência na atual sociedade pós- moderna, a qual é a mantenedora de uma emblemática e angustiada vida cibercultural. Palavras-chave Corpo; Corpo-máquina; Cibercultura; Pós-modernidade. Abstract This study attempts to understand the relationship established in post-modernity in the light of post- industrialization on the condition of the body, particularly the male body, which has been reduced as body-machine, codified by tattoos on your skin and it appears as a body full of sexual cybernetics perversity. This body-machine live in a severe problem that involves several related scientific areas, such as: philosophy, anthropometry, movies, neuroscience, genetics and sexuality; also coexists with the ambivalent criteria related to body image articulating aspects of the male as revealed by the structure machine cybernetics in the world today. This is still a critical character with an argumentative built through a bibliographic unpretentious and contemporary motivated by a discussion with the texts chosen and the Phenomenology of Perception. We believe the importance of fundamental analysis of cyber movements that incite the body to assume the behavior of the machine, to overcome the healing and unconditionally iconography of the skin as a "tabula-rasa" of their existence in the current post-modern society, which maintains such flagship and anguished cyber life. Keywords Body; Body-machine; Ciberculture; Postmodernity. Bahia, dezembro de 2008
  • 2. O corpo é um dos centros temáticos da cultura a partir dos anos setenta. A sua pretendida liberação por meio de suas mais diferentes práticas físicas e expressivas na pós-industrialização condicionou-lhe uma ameaça narcisista e um tanto histérica. Na filosofia o corpo é enfocado como contraditório e ambivalente. No pós-modernismo, ou como diria Hal Foster “pós-modernismos” (1996:175), a distinção entre estilo e episteme ainda não reduziu o fenômeno “corpo” numa completa simetria de códigos claramente representados. O corpo agora é uma máquina cibernética sarada e tatuada, como os próprios termos o definem em suas formas e conteúdos simbólicos. O corpo não pode ser considerado sinteticamente dominante, ele se porta como abertura e entrelaçamento do campo simbólico, ele se torna mesmo “o símbolo de todos os símbolos existentes ou possíveis”. Michel Bernard (2000:30-31) pode concluir que “o corpo vivido por nós não é jamais verdadeiramente e totalmente nosso, nem a maneira como vivemos este corpo.” Ainda que especulativo o estudo da imagem do corpo e da medição precisa do corpo só foi possível com o surgimento de instrumentos que pudessem registrar o tempo desse corpo. Além disso, a compreensão da imagem corporal se torna essencial à percepção do corpo e segundo Rincón B., Cassandra E.: “possui uma profunda relação com a dinâmica da personalidade, já que assimila-se com a estrutura que intervém por excelência nas ações antecipadas, além de ser instrumento para penetrar na essência do que se percebe.” (1971:145). A sociedade pós-industrial, com seus métodos de produção mais avançados, agregou a dispersão pós-modernista à essência humana. Juntas elas passaram a desenvolver uma série de tecnologias alimentadas pela obstinação por qualidade total e cura ostensiva do corpo. A cura ostensiva do corpo tem as suas raízes em diversos momentos que emergiram para alcançar esta reformatação essencial do corpo e que emancipou o homem no contexto histórico e social da pós-industrialização. Desde o final do século XIX que percebemos a evolução do corpo a partir das mudanças tecnológicas indicadas por diversos códigos imagéticos e sensoriais. Ferdinando Martins aponta que: “Essas mudanças, aliadas ao advento de novas tecnologias e a expansão dos meios de comunicação de massa, por sua vez, influenciaram a codificação do corpo – movimento intensificado com a globalização, que exige códigos não verbais para a internacionalização das mensagens. Configura-se, dessa forma, a era da imagem, com os corpos tendo que enquadrar, de alguma forma, em esquemas pré-concebidos.” (2008:2). No dandismo do início do século XX notava-se a valorização da sofisticação delicada e gestual, expressando a intelectualidade masculina de forma frívola no corpo; a Segunda Guerra mundial trouxe consigo uma hipervalorização do corpo masculino disciplinado e eugênico em detrimento aos outros corpos, considerados impuros e inumanos. Por este motivo, foram condenados ao degredo judeus, homossexuais, exilados, comunistas, entre outros inseridos num contexto conflituoso por mais trinta anos deste século.
  • 3. O advento da AIDS, que trouxe consigo a noção da imune fragilidade e morbidez ao corpo contaminado (em especial aos homens que praticavam sexo com homens) incitando a procura de uma cura irrevogável para a doença. Cura que ainda está em processo de descoberta e sustentada pelo coquetel retroviral medicamentoso do final deste século. As ciências médicas e o estudo da fisiologia humana são paradoxais. Significa dizer que nenhum corpo é integralmente idêntico e o tempo do corpo é infinito para a sua lógica funcional: forma e/ou função. A incerteza que envolve o estudo da fisionomia e da fisiogenia se deve ao fato de que na antropometria pouco ainda se fez para justificar cientificamente a compleição imagética do corpo e suas interações neurofisiológicas e neurocomportamentais. Segundo apurado por Jacques Leenhardt : “essa ciência, incerta porque, como notava Kant, sem regras, tentava fazer corresponder imagens a tipos de comportamento, partindo da hipótese que as características físicas do corpo constituem uma semiótica dos caracteres”. (2007:4). Tendo em vista a sua interface com as novas tecnologias e com outras ciências devemos notar que a antropometria não pode ser considerada uma ciência pautada em meras questões matemáticas e dispositivas. São essas interfaces que, talvez ainda, proporcionem o caráter empírico ao que Kant se referia, acusando-a como ciência sem regras e meramente hipotética. A antropometria pode ser definida como um ramo da ciência que se ocupa da medição da estrutura corporal, assim como suas aplicações e técnicas de estudo. Nesta disciplina concorre uma série de outros conhecimentos relacionados: Anatomia, Matemática, Física, Estatística e Informática. Aparentemente simples, porém exigirá um extraordinário rigor por parte daquele que a realiza. Seja na forma de medir o corpo (precisão), bem como, na correta escolha do método (exatidão). O registro fotográfico é responsável pela sustentação periódica do corpo. E de fato muitos autores frisam a importância dela na reorganização da imagem corporal na modernidade e afirmam a sua importância como único e primeiro suporte sustentável de representação da imagem do corpo. Segundo Barbosa, Barbara C. de O.: “a imagem técnica surge com a fotografia, desenvolve-se com o cinema e culmina com a expansão da televisão. É, porém coroada pelo constante fluxo imagético da era cibercultural.” (2008:60). O corpo perdeu os apelos modernistas em que ele era o suporte de muitas projeções humanas meramente formais no século passado. Com a fotografia presente na realidade pós-moderna há uma importante observação do corpo no sentido do desejo e da sedução. Ainda com relação à imagem, Barbosa, Barbara C. de O. (2008) complementa que a “natureza da imagem doravante permite não somente a contemplação, mas a inserção e a interferência na imagem.” A imagem corporal aparente da fotografia corresponde ao momento histórico em que o corpo se situa no mundo, por este motivo a redução do corpo é temporal e não somente espacial, ele ocupa um tempo no mundo. A interferência da imagem corporal no mundo depende da capacidade de perceber e analisar cada vez mais os planos complexos do estar no mundo. Rincón B., Cassandra E. (1971) afirma que “neste aspecto vemos como o corpo se percebe como um objeto; o sujeito emergiu do
  • 4. mundo dos objetos tendo como instrumento seu próprio corpo.” A imagem concebe ao corpo um individualismo instantâneo que é fruto de desenvolvimento próprio do produto pronto, acabado, entrópico e que as estruturas sociais contemporâneas lançam em direção ao futuro. Nesse corpo e máquina ao mesmo tempo o design das formas simbólicas é cada vez mais técnico. Na Alemanha de 1920, período de grande mudança tecnológica e industrial, Fritz Khan escrevia e desenhava sobre o homem-máquina. O corpo era visto na época como um elemento funcional e até mesmo irrelevante na máquina social, seus movimentos eram exclusivamente calculados para o trabalho. Para Fritz Kahn o corpo era uma fábrica complexa e ele o concebeu utilizando metáforas da vida industrial moderna. O fenômeno corpo-máquina foi enfatizado também no cinema com o primeiro filme expressionista de que se tem notícia: “O Gabinete do Dr. Caligari”. Nele, o corpo do herói, Cesare, é uma espécie de máquina hipnotizada que obedece incondicionalmente aos desejos caóticos de seu manipulador, o Dr. Caligari. A estética do corpo-máquina culmina nos anos 60 com a filmografia do cineasta canadense David Cronenberg o qual, segundo Eliska Altmann (2007), “ já demonstrava obstinação pelo híbrido corpo-máquina”. Altmann, afirma que: “Nessa espécie de ambivalência, porém, os comportamentos e as funções corporais parecem estar, ao mesmo tempo, para além de uma construção social, pois excedem os limites de controle na medida em que experimentam transformações imanentes às pulsões. Estas, apesar de estarem interligadas às forças de dominação e poder social, têm uma potencialidade sobre- humana.” (2007:46). A vida cotidiana fragmentou essas projeções humanas, a expressividade manifesta-se em práticas multimidiáticas sobre-humanas ou até mesmo pós-humanas. O corpo procura por mais liberdade, seja por meio destas plataformas em que a tecnologia pós-industrial reflete a sua noese¹, seja por meio do senso de liberdade que está registrado como Ilustração 1: The workings of the nervous system, Fritz Kahn. Copyright © The British Library Board
  • 5. noema² de nosso sistema neurofuncional e que caracteriza a nossa atitude moral pelas sensações somestésicas de bem-estar. Essa subjetividade pós-industrial é o paradoxo da forma e da função do corpo em si, muitas vezes ela é trazida ao nível da consciência pela imaginação criativa e, quando possível, se torna um brinquedo concupiscente para interagir no “vir-a-ser” do corpo. A subjetividade pós-industrial se equilibra como ‘tábula- rasa’ do corpo-máquina, num possível tempo e espaço cibernético, onde ele (corpo) vai expor a sua implacável robustez imaginária mediante a mínima energia. O fenômeno corpo é apontado cada vez mais flexível, pleno de destrezas, excitante, autônomo e transgressor de regras tradicionais. Isso representa uma resignificação do desejo direcionado ao corpo em movimento, e utilizando a conjectura de Barbosa, Barbara C. de O. veremos que: “(...) com efeito, as tecnologias de tele-ação além de afetarem o ‘corpo territorial’, atingiram a natureza do indivíduo e do seu ‘corpo animal’ (...) pois as transmissões nos meios comunicacionais, paradoxalmente, implicariam em uma ‘inércia-crescente’, uma vez que o indivíduo para estar tele-presente não precisaria se locomover.” (2008: 31). De fato se estabelece uma prioridade territorial e social tendo em consideração o ponto da central de distribuição das conexões, dali sobrevive uma rede rizomática. Entretanto, a importância do núcleo geográfico e operacional não pode ainda ser completamente descartada. Na locomoção o corpo é transportado, ou melhor, transmitido de ponto a ponto. Na linguagem da cibercultura ele é “roteado” por uma central para onde todos os corpos convergem antes de alcançarem o seu destino final ainda que a trajetória seja próxima demais entre todos. A cibercultura é um fenômeno transpolítico e isso pode ser percebido pelo resultado das eleições estadunidenses que elegeram Barack Obama presidente em 2009. Além de gravar muitas mensagens na página da internet relativa à transição de governo, lançou-se no You Tube afim de comunicar-se diretamente com a população americana. Especialistas consideram este modelo de campanha, apoiada na web, extremamente inovador. Em tempos presentes, o valor dos acordos tende a se reorganizar pelo vínculo estabelecido não apenas pela renitência do protagonista e de seus corpos, o vínculo está estabelecido pelo uso que se faz deste corpo. O atual fluxo imagético cibercultural determina mais do que nunca a ansiedade da pós-modernidade em capsular o humano aliado à tecnologia. A natureza incansável do homem pós-industrial para projetar, acessar e transmitir não se deve somente à plasticidade cibernética, mas também por conta da recente segurança de suas infinitas conexões. O que dizer da conectividade deste corpo, mediante uma prática informacional presente na atualidade? Ela é ligada somente à necessidade de instrumentos cada vez mais eficientes e velozes? O corpo demanda ansiedade para resolver ‘a tempo’ todas as suas infinitas conexões com o presente e isso despersonaliza o emissor, que embora preparado para a tecnologia, tornar-se-á inerente a ela. A customização está presente não somente nas marcas, mas também nos corpos que a liberdade expressa na pós-industrialização. No suporte gráfico e sarado da aparência fundamentam-se os objetivos dessa representação plena. Entretanto, é a percepção da plenitude no ideal vigoroso e absolutamente consciente que traz consigo uma condição apta e voraz almejada, porém esta é uma condição volúvel em essência por conta desse desdobramento. Alcançar a plenitude na relação homem e máquina significa presumir uma prontidão do corpo. Significa uma purificação instantânea de nossa
  • 6. percepção tardia de si e do outro, cada vez mais estamos diante de um espaço corporal que se dedica ao deleite e ao encontro de seu avatar, ou seja, o encontro de sua redenção perceptiva tardia de si e do outro. São essas concepções de imagens corporais concebidas no exterior de si e no ambiente virtual da cibercultura pós-industrial que estimulam a epistemologia do prazer. Hoje somos manipuláveis pelos programas computacionais e/ou econômicos. Nossa plasticidade pode ser percebida, digitalizada e telemidiatizada em prol da ambivalência retração/atração de nossa imagem corporal. A imagem do corpo alcança cada vez mais o âmago essencial e imaginário. A imagem do corpo propõe uma nova moral, uma nova episteme do prazer e uma recente pós-modernidade humanizante e paradoxal no corpo industrializante de si. Se representado na pintura, por exemplo, a imagem do corpo passou a assumir com o tempo, em especial ao corpo masculino, uma reencarnação do mito e da alma elevando-o para esferas transcendentais antes inimagináveis, e alcançadas, com os avanços científicos e tecnológicos: “a tradição ocidental costumava ver uma unidade humana constituída de duas entidades chamadas de alma e corpo, separando o espiritual e o físico para melhor reuni-los no mito do Deus-Homem, do Espírito encarnado que é Cristo, a ciência racionalista, moderna, que se organizará pouco a pouco a partir do Renascimento em torno ao pensamento de Descartes, separou os órgãos e as funções. Dessa maneira, ela esperava conhecer e analisar melhor o funcionamento do corpo, tratando-o como uma máquina que responde às leis da mecânica.” (Leenhardt., J., 2007:1-2). De fato, em milhares de anos, muitas espécies selecionaram os indivíduos mais resistentes e fortes. No desenvolvimento neurocomportamental o corpo mantém-se como suporte da totalidade e da virtude. Sua imagem é a concretude da vida e de nossos comportamentos, mesmo abstrata ela está concebida no interior de nosso sistema neurofisiológico e está correlacionada aos aspectos libidinal e pulsional. Identificar a programação neurálgica dos sistemas multimidiáticos amplia as condições de autonomia e de excelência na relação corpo-máquina. Entretanto, a sociedade apregoa uma pós-industrialização fundamentada em tratados demasiadamente prolixos, angustiantes e descartáveis. Essa condição ambígua de pretensa liberdade precisa ser amenizada em novas relações de interdependência e cooperação para a manutenção do fenômeno corpo-máquina. E, não somente, pelo aspecto híbrido da conjunção corpo-máquina, pois a sua condição saudável ultrapassa o equilíbrio neurofisiológico. Mais além do corpo-máquina é o sobre-humano que se estabelece. Ele consolida um modelo corporal robótico ou magnético e eminentemente fluído na sociedade pós-industrial. E, ele pretende surgir exatamente sincronizado com o nosso sistema neurocomportamental pós-modernista. Este “sobre- humano” se exprime de diferentes formas. Por exemplo, hoje existem próteses que procuram dialogar com a capacidade neurocomportamental do corpo. Além disso, o prazer instantâneo que a máquina proporciona ao ser humano evidencia sua imagem e o induz cada vez mais ao vigor e à velocidade, trata-se assim de uma relação homem e máquina de infinita ambivalência e ansiedade. Indiscutível interface entre a cibernética e ambivalência do corpo e da máquina neste movimento pós-modernista, é nele que o corpo se encontrará codificado geneticamente e somestesicamente “sarado”, e esta somática é entendida como fragmentável em órgãos de função específica e clonáveis como bem
  • 7. soube definir Leenhardt., J. quando explica-nos que: “a tecnociência contemporânea levou essa lógica dos órgãos às suas extremas conseqüências com a criação de bancos de órgãos. O corpo torna- se semelhante a um automóvel, um conjunto de peças destacadas, organizadas de acordo com as leis da funcionalidade.” (2007:2). O corpo assume a máquina como redução fenomenológica de sua capacidade evolutiva, ele interage com a ambivalência de sua condição pós-moderna. E nesse sentido ele aperfeiçoa sua imagem corporal nos ambientes onde ele transita, seja este espaço cibernético ou real. Portanto, aqui comparado ao automóvel, qual espaço real tem sido dedicado a forjar este corpo no contexto pós-industrial, ou melhor, onde fica essa “oficina do corpo”? Ela é a academia de musculação, criada início do século XX e espalhada em todos os bairros das cidades pós-industriais. A academia de musculação, entendida aqui como objeto arquitetônico pós-moderno, proliferou-se como objeto de comunicação do corpo que busca um culto ao corpo como acontecimento. Nela se concentra a eternidade do corpo-máquina e ela associa a proliferação do corpo como máquina (de culto), e Maffesoli, M. explica que este processo acontece com todos os outros objetos de culto, tendo que: “eles são objetos de um verdadeiro culto, e, sobretudo, fornecem uma multiplicidade de cultos comuns. Quer seja a televisão, o videotexto, a micro-informática e outra telecópia, todos encurtam o tempo, aniquilam o futuro e são promotores de um instante eterno.” (1996:194). De acordo com Maffesoli, M. (1996) podemos ainda associar que a academia de musculação é um objeto de comunicação do corpo-máquina e que nela “o urbanismo barroco recorre à sensação (ambiente), procede por sedução (aparência) e dispõe efeitos (acontecimento).” Na academia de musculação pós-modernista a variação imagética e objetal deve propor a nova busca da imagem corporal. Nela deverá ser proposto um estilo para “sentir” o corpo. Não distante apenas do prazer que exaspera-se com o cenário social que se apresenta ou com o ambiente de uma percepção velada do outro e de seu corpo. A academia de musculação pode ser considerada como espaço de uma sensação sutil para o ‘status quo’ ambiental da pós-industrialização. Ela (re)cria a relação emblemática de transpiração e esforço em perfeita simbiose com a “oficina” onde se projeta o corpo, ou seja, neste caso, com a aparelhagem e o maquinário presente. Na crista da evolução do homem pós- industrial, a academia de musculação é capaz de reduzir e manipular o fenômeno corpo- máquina. Por este motivo o corpo-máquina é pleno de causalidade e espacialidade. O homem está cada vez mais modelando seu próprio corpo, sua própria imagem, coincidindo-a com a imagem dos objetos cibernéticos. Ao ingressar nesta “oficina” o corpo se sente máquina. A sensação de (re)construção do corpo com aparelhos vai associar este maquinário ao símbolo idealizado do mundo multimidiático pós-industrial. Na academia de musculação a aparelhagem convive com o corpo, modulando-o e modelando-o numa
  • 8. vivenciada, próxima e acessível tonicidade. Entretanto, sua redenção completa se dá pela exposição e projeção cibernética dos músculos expressivos. Assim, o computador assume o fenômeno com velocidade e transmutação e, estas duas, são características marcantes da pós-modernidade no corpo. A imagem do corpo sarado permanece à venda também na televisão. Ela tornou-se a imagem ideal do corpo em si. Nesta fábula o corpo é um produto e como tal deve receber seu valor e deve ser consumido. Ilustração 2: Gogo Boy em apresentação na boate Blue Space de Brasília. Coleção particular do autor - 2007 O vigor e a forma alcançaram a consciência da pós-fabricação do corpo por meio de seus incríveis mecanismos de modelagem física disponíveis nas mídias. A ambivalência dos corpos atuais, após quase um século de industrialização cultural americana, sucumbe às formas mais angustiadas e definidas de corpo masculino sincronizado pela TV e seus consumidores. São disponibilizados aparelhos cada vez mais modulares, plenos de design, protético-anatômicos e com uma eficiência e eficácia indiscutível de treinamento para o corpo sob qualquer condição: física, temporal, social ou arquitetônica. Nem todos os homens possuem estes corpos tele-midiatizados, suas mutações não dependem somente
  • 9. de um projeto pós-fabricado ou de um modelo de corpo exibido nos mecanismos multimidiáticos. As mutações corporais estão acontecendo, de fato, no ambiente da imagem autônoma e individual do corpo em si. Elas apelam para uma autonomia que Leenhardt. J. (2007) determina de “autonomia enquanto máquina”. E concede uma “autonomia técnica crescente a um corpo tratado, cuidado e transformado pelas técnicas medicinais cada vez mais sofisticadas”. O corpo tem que ser sarado, hiper cuidado e extremamente mesurado. Veicula-se a cura a qualquer custo, a imunidade, a autonomia e os outros valores qualitativos que são também muito enfatizados na pós-industrialização ou na era hiper industrial como aponta Bernard Stiegler (2008), bem como a sua desconstrução espaço-temporal que aproxima o corpo da máquina instantânea e eficiente. A máquina pode ser reciclada infinitas vezes e ela, tal qual máquina, reorganizada traz consigo a mesma somestesia de bem-estar para o corpo que a utiliza. O corpo pós- industrial dialoga com a pós-modernidade no sentido de obedecer uma outra lógica, a lógica da máquina. Há evidências dos limites temporais e espaciais no fenômeno corpo- máquina e quem esclarece isso é Glenberg, A. (2008), citando bases neurocientíficas, onde o corpo possui um panorama cognitivo completamente distinto e que ele só deslancha com uma “cognição incorporada”. Mas, será mesmo que a liberdade cognitiva impele essa nossa cognição incorporada? Questionarei tal posição no momento em que os valores se confundem à massificação dos símbolos corpóreos. Glenberg, A. (2008) confirma que a cognição é o que rege a importante expansão do corpo no mundo. E, que, os nossos pensamentos são compelidos e influenciados por detalhes de nosso corpo. Essa teoria de cognição incorporada denota o quão imbricado vivemos enquanto mente e corpo. É provável que os nossos códigos genéticos estejam representados em bases muito mais complexas do que os inúmeros eletrólitos que compõem as máquinas mais avançadas. Presume-se então, que surgirão novas tecnologias que aproximem mais ainda o nosso corpo da máquina. Mas antes que elas cheguem impávidas melhor perscrutar a semiótica do corpo, pois todos os avanços que o corpo assumiu consolidaram-se de uma ILUSTRAÇÃO 3: O CÓDIGO GENÉTICO
  • 10. reversibilidade do próprio corpo em seu tempo. Para comunicar-se imanentemente consigo mesmo e com os outros, os corpos têm o músculo entendido como objeto e mecanismo de poder. Desde a antiguidade e em infinitas culturas o homem reveste seu corpo de códigos visíveis e invisíveis de poder. Então, qual é o melhor código para o corpo? O genético ou o pictórico? Isso significa que o corpo desta máquina cognitiva não será meramente revestido pela superfície. Mais do que nunca nas superfícies cibernéticas pós-modernas o design da embalagem é uma condição eloqüente à vanguarda deste objeto. A epiderme é a nossa representação fenomenológica de corpo mais superficial, ela ocupa o espaço do tempo que o corpo transita. A demarcação e a diferenciação com relação ao outro é feita por meios iconográficos, sejam estes códigos meramente formais ou estéticos. Entre a pele e a moda pode existir uma criptografia iconográfica no corpo e, mais precisamente, refiro- me a tatuagem. A tatuagem é entendida como código híbrido do corpo com a máquina. Ela busca sua inserção como fragmento arquetípico individual ou tribal e, justamente, dá mais sentido cibernético ao corpo. Nos sistemas operacionais e multimidiáticos essa distinção existe por meio de softwares, transistores, chips, códigos criptografados e senhas que regem o mundo cibernético. Neste jogo de formas fragmentadas soube Maffesoli, M. (1996) caracterizá-lo como “aparência da parte significante”, no qual a ordem dos fatores não altera a coerência de cada fragmento. Demonstramos o quão barroco ainda somos com o nosso corpo pós-modernista configurado numa segmentação cada vez mais comparada aos seus inúmeros desdobramentos de nosso tempo. Aproprio os fragmentos tatuados em epidermes corpóreas, e situo Maffesoli, M. apontando que: “É esta a lição essencial da forma. É isto que faz da frívola aparência um elemento de escolha para compreender um conjunto social. Pois suas diversas modulações por aglomeração, por sedimentação, vão, num certo momento determinar o ambiente da época. Insistindo nessa expressão, trata-se de ressaltar que ela é também feita de sensações, sentimentos, emoções coletivas. Coisas que constituem a carga imaginária, ou o que Cassirer chamava de “pregnância simbólica” , e que não se pode mais reduzir ao patológico ou ao infrateórico.“ (1996:141). O sentido barroco da tatuagem se confunde com a imensa possibilidade iconográfica do corpo em si. Respeitando as condições mínimas de manutenção epidérmica onde essa aparência do ícone é inserida como suporte e adereço do corpo. Iconografia da pele, ou seja, a tatuagem representa a liberdade da cibercultura no corpo. Com ela o sentido de perversão se expande em inúmeros e infinitos códigos que a virtude modernista propôs. Pérez, Andrea L. (2006) diz que se trata de uma liberdade condicionada ao tempo presente, que seja, pós-moderno e que: “esta mudança é bastante complexa, em razão da longa tradição de desprestígio e condenação da prática da tatuagem, e se faz evidente na série de valores “negativos” com os quais ela é relacionada, como aquilo que é sujo, podre, perigoso, proibido e contaminado.” (2006:183).
  • 11. A tatuagem assume com a pós-modernidade uma “nova” admiração do corpo, que além de máquina pode conter um código específico o qual o classifica ainda mais como produto industrializado e consumível. Esta mudança está estreitamente relacionada ao processo de comercialização da prática da tatuagem. Hoje ela pode inclusive ser invisível (Black Light Tattoos)³ para aqueles que desejam, porém não podem tê-las na pele por diversas razões. Interessante observar também a invisibilidade de nosso código genético como portador de noema e noese de nossa existência. A concomitância entre o genético e o pictórico ultrapassa a visibilidade e identifica o corpo. Poderíamos então associar a invisibilidade de nosso código genético como sendo a nossa tatuagem única “per se”. Ou seja, estas associações “invisíveis” são desencadeadas também ao nosso código genético que ainda não pode ser identificado a olho nu ou por meio de instrumento banal; esses códigos passam por constantes avaliações científicas, éticas e morais em prol de uma bioética meticulosa e não, meramente, comercializável. Para além da imagem pictórica e aparente no corpo, a tatuagem é uma decisão irrevogável desse corpo. Revestir o corpo com um símbolo gráfico visível ou invisível representa dar liberdade ao rito que a aparência evoca no corpo do outro. Estabelece-se assim uma identificação imediata como também acontece na cibercultura, com seus caracteres iconográficos imanentes e conectivos. Mesmo que o ícone não seja o mesmo admitido pela tribo, ainda assim, uma vez tatuado, o corpo assume essa condição significante. Sabino, César e Luz, Madel T. (2006) afirmam que a maioria dos(as) tatuados(as) das academias pesquisadas escolhe seus desenhos após uma decisão pessoal. “Tatuando-se, buscam singularizar suas figuras, sempre lhes conferindo uma característica diferencial, um detalhe específico; alguns até mesmo “inventam” seus desenhos ou “carregam” no estilo do mesmo ao se dirigirem ao tatuador. Toda essa atitude é engendrada na busca de uma individualidade relacionada à concepção de livre arbítrio (...)” (2006:252). Qualquer contradição não tem espaço no âmbito da aparência. Uma vez tatuado este corpo descreverá por si o signo circunscrito na epiderme. A tatuagem o transportará independentemente da forma exterior e da força interior, individualmente ao “lócus” cibernético. Embora o livre-arbítrio do corpo tatuado almeje estar na condição de controle da forma identitária escolhida ele passará a viver na categoria formista por mais inconformista que possa transparecer. A categoria cultural do corpo “impuro” simbolicamente condenou a tatuagem durante muitos anos. Maffesoli, M. (1996) trouxe uma abordagem aparente que propõe uma redenção sublime da pele pelo seu pavoneamento. Esse autor apresenta a seguinte questão: “(...) o que há de mais frágil, de mais cambiante do que a pele de um indivíduo; sensível às variações das estações, às temperaturas, aos diversos avatares exteriores, ela se modifica segundo as idades da vida. E ao mesmo tempo não é ela que dá coerência a esse conjunto complexo que se chama corpo?” (1996:128) No conjunto que se faz corpo, sendo a pele a superfície que nos identifica essencialmente no mundo pós-moderno, a tatuagem questiona a coerência do tempo e do espaço em que
  • 12. estamos inseridos historicamente. A pele tatuada agrega valores que são identificados também para as questões de gênero, onde o corpo do homem suportou mais este fenômeno. Sobre essa supremacia de gênero Pérez, Andrea L. (2006) afirma que: “(...) é importante lembrar que, do ponto de vista histórico, a prática da tatuagem era basicamente restrita ao setor masculino-marinheiro, presos, motoqueiros, etc, e como tal, vinculada a valores associados culturalmente à masculinidade: como coragem, agressividade, força, entre outros.” (2006: 191). O homem, como suporte sarado da tatuagem é o melhor símbolo do vigor que a pós- modernidade propõe ao corpo. O fenômeno adquire uma deliciosa observação de sua corajosa intensidade e com ele o corpo conquista definitivamente a máquina. O corpo masculino assume a lógica pós-industrial pela estrutura radical da perfeição absoluta, insere um registro tatuado aclamado pela estética pós-moderna e avança no sentido de dar-lhe visibilidade pela invisibilidade de seu registro (aqui entendido também como código genético residente na célula). O protótipo de beleza masculina vem alcançando uma fisiogenia cada vez mais robusta nos grupos de rapazes jovens de classe média e alta. Até os anos 90 o ideal atlético avança irrestritamente à exposição destas imagens de corpo nas academias de musculação e nos concursos de bodybuilding. Essa permissiva expressividade provocou reações contrárias e até punitivas em determinados grupos que consideravam este tipo de comportamento demasiadamente arriscado e ameaçador de certa tendência homossexual. Houve uma dissociação músculo/movimento e nos anos 80 e 90 com a corrida pelo sucesso e pela auto-realização o corpo “sarado” projetou-se na pós-modernidade; esta insistente projeção gerou uma consciência corpórea da necessidade de robustez nestes corpos jovens dos profissionais urbanos. A crise deste físico se dividiu em duas vertentes na sociedade tecnológica e, mais além, ela pode segmentar nitidamente o corpo masculino num ardor pelo corpo aparentemente indestrutível, auto-suficiente e autônomo. A aparência deste corpo não corresponde exatamente à imagem corporal idealizada na estética diacrônica e neurocomportamental humana. E ela não está livre dos artifícios médicos ou cibernéticos. Essa crise identitária gerou o sentido do mergulho na imagem corporal do corpo-máquina, sarado e tatuado. O momento do corpo masculino culmina hoje com uma nova fórmula de corpo próximo da máquina. Elaborado e almejado desde os anos 90 e consolidado por intermédio de sua relação pós-industrial e cibernética com o mundo. O corpo-máquina representa o máximo de eficiência, cada vez mais informacional e midiatizado; e eis o desafio da máquina pós-moderna, o de justamente manter-se entre máxima robustez e insignificante desgaste energético com incrível rendimento. Por este motivo é que a tatuagem no corpo de ombros largos, peitorais desenvolvidos, abdome definido como o de um jacaré, cintura fina, coxas grossas, nádegas bem torneadas assume um valor estético futurista para a autonomia completa do corpo cibercultural. A construção do corpo masculino será muito mais do que malhar o corpo na academia de musculação, também existe uma relação de mundo além, mundo cibernético, onde a intangibilidade do corpo se
  • 13. edifica em cada “download” de imagem corporal. Essa experiência de anonimato considera e apropria uma nova expressão do corpo e para Barbosa, Barbara C. de O. isso vai significar que: “o outro como ‘espectro’, por meio do acesso glocal parece menos ameaçador que no contato direto, incluindo a possibilidade das pessoas expressarem, com maior facilidade, o que realmente desejam dizer.” (2008:64). O outro corpo não precisa ser visto. Em inúmeras situações as redes multimidiáticas integram a imagem técnica ao critério humano que venha a existir no corpo. Essa indeterminação perversa é muito enfatizada nas relações eróticas e, talvez, um tanto histéricas experimentadas pelo corpo-máquina cibercultural. Essa experiência é então condicionada aos ‘movimentos perversos’ da pós-modernidade, isso significa dizer que o tempo para a contemplação ingênua do próprio corpo e para o corpo do outro vem sendo substituído pelos efeitos anódinos da cibercultura. Espera-se que neste ritmo as experiências afetivo-sexuais do corpo-máquina, sarado e tatuado sejam cada vez mais precoces e instantâneas. Mesmo que este desvio seja já discriminado por legislações específicas e considerado como movimento perverso na sociedade, a relação homem- máquina concilia a cibernética aos ritos de passagem do corpo masculino ainda sem muitos cuidados preventivos. E, sob este aspecto Peixoto da Mota, Murilo (1998) já advertia que a intrínseca relação preventiva entre AIDS e erotismo. A perversidade sexual cibernética alcança níveis mais sutis de comportamentos desviantes e posso associar esta, particularmente, ao parâmetro pós-moderno humano. “para uma reflexão específica: o modelo de prevenção deve levar em conta as sutilezas do universo sexual, no qual às classificações públicas sobre o sexo podem corresponder, no mundo da experiência erótica, condutas contraditórias: o comportamento ‘desviante’, por exemplo, pode ser encarado como um estilo, aspecto das regras do jogo (da diferença) ou o próprio modelo que expressa um ‘rito de passagem’. “ (1998:148). Isso não significa dizer, sob nenhuma hipótese, que este ‘rito de passagem’ ou melhor, que esta ‘perversidade cibercultural’ proposta também como inerente ao corpo-máquina, sarado e tatuado tenha mais valia na construção da identidade masculina. Entretanto, é na contradição erótica e na satisfação libidinal do desejo que tem sido resolvida entropicamente e momentaneamente a profunda solidão do corpo pós-moderno cibercultural. A utopia está presente em todos os mecanismos ciberculturais de satisfação do corpo, seja nos links que oferecem todo tipo de sexualidade, seja na liberdade aparente das inúmeras imagens de corpo, disponíveis enfim, como valor utópico da comunicação e responsabilizando-se pela angustiada e perversa relação que se desenvolveu nesse sentido de estar no mundo. A pós-modernidade polemizada por Foster, H. (1996) prevê um colapso “esquizofrênico” do sujeito caso não problematizemos uma concepção pós-moderna e periódica do corpo. Para o corpo masculino essa comunicação emblemática com a máquina presentifica-se em todas as vivências aqui apontadas até o momento. Assim, aproprio Barbosa, Barbara C. de O. revelando que:
  • 14. “o fato de se tomar a comunicação como valor utópico gera certos ‘efeitos perversos’. A primeira conseqüência pode ser constatada no sentido da palavra comunicação que passa a significar tudo e, ao mesmo tempo, já não quer dizer nada.” (2008:22). O corpo-máquina, sarado e tatuado desfalece seu imaginário afetivo e sexual no mundo cibercultural. O vigor, as tatuagens, a perversidade sexual e as relações eróticas alcançaram o valor utópico de uma consciência comunicacional nunca vista. Foi pelo advento da cibercultura que os desvios comportamentais também passaram a conviver em perfeita sintonia com a perversão virtual veiculada em redes multimidiáticas. Essa instantaneidade do prazer que o corpo recebe da máquina é subvencionada pelas imagens corporais de um simulacro angustiado e hipotético, talvez ele nem exista mais naquele instante, considerando que a cibercultura congela e/ou transforma completamente todos os corpos em suas projeções. No futuro surgirão outras relações glocadas na cibercultura que poderão completar o desejo, a satisfação e a vida humana diante da máquina. ¹ Na Fenomenologia significa o aspecto subjetivo da vivência constituído por todos os atos que tendem a apreender o objeto: o pensamento, a percepção, a imaginação. ² Na Fenomenologia significa o aspecto objetivo da vivência, o objeto considerado pela reflexão em seus diferentes modos de ser dado: o percebido, o pensado, o imaginado. ³ Agência ANSA. Tatuagens invisíveis são a nova moda nos EUA. Rádio Criciúma, Notícias/Geral – publicado em 26/08/2006, 20h02min. Website visitado em 7/12/2008 - 13:02. Disponível na URL: http://www.radiocriciuma.com.br/portal/vernoticia.php?id=2870 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTMANN, Eliska. O corpo-máquina de Cronenberg sob a luz pictórica de Bacon: fábulas do devir-outro. Revista eletrônica ALCEU: Rio de Janeiro. ISSN 1518-8728. URL Disponibilizado em: http://publique.rdc.puc-rio.br/revistaalceu/media/Alceu_n14_Altmann.pdf BARBOSA, Bárbara Conceição de Oliveira. Ciberespaço e Dependência – uma análise dos vínculos humanos com o glocal interativo como habitus. Dissertação (mestrado em Comunicação e Semiótica pelo Programa de estudos Pós Graduados em Comunicação e Semiótica - PEPGCOS/PUC-SP). São Paulo: PUC, 2008.
  • 15. BERNARD, Michel. Le Corps. Revue Corps et Culture. In: Corps et Education, número 5 (2000). Marseille. URL Disponibilizado em: http://corpsetculture.revues.org/document730.html#tocto2 BRASIL. Ministério da Cultura. Portaria nº 349, de 2 de julho de 2008. Proponente do PRONAC 07_0179 (Lei Roaunet, art. 18): Alexandre Batista Reis, CONTEMPLO CIA DE DANÇA. Publicada no Diário Oficial da União nº 127, sexta-feira, 4 de julho de 2008. CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL. O Gabinete do Dr. Caligari. Expressionismo Revisitado – cinema e vídeo. Brasília: Banco do Brasil (guia de programação), pág. 11, abril-maio de 2005. CORREIO, Redação. Seção mundo. Publicado em 15.11.2008 – 02h13. Obama continua gravando mensagens exclusivas para a internet. Salvador: Correio da Bahia. 2008. URL Disponibilizado em: http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=9201&mdl=28 FOSTER, Hal. Recodificação: Arte, Espetáculo, Política Cultural. São Paulo: Casa Editorial Paulista, 1996. GLENBERG, Art. Thinking With the Body. Embodied Cognition. In: Scientific American - Mind & Brain Section. Mar 3, 2008. New York. URL Disponibilizado em: http://www.sciam.com/blog/60-second-science/post.cfm?id=thinking-with-the-body HARO, Vicente M. de. Valoración de la condición física y la Salud em la Población Escolar (notas de disciplina de pós-graduação). Curso de Doctorado em Ciencias de la Actividad Física y Deportes, Madrid, UAM. 2001-2002. LEENHARDT, Jacques. As Ambivalências da Identidade Corporal. Revista de História e Estudos Culturais. Lisboa. Abril/Maio/Junho de 2007. Vol. 4, Ano IV, n° 2. URL Disponibilizado em: http://www.pluridoc.com/Site/FrontOffice/default.aspx?q=As%20Ambival%EAncias%20da %20Identidade%20Corporal LUCCI, Elian Alabi. A Era Pós-Industrial, a Sociedade do Conhecimento e a Educação para o Pensar (notas de conferência). São Paulo: Editora Hotopos [online]. Videtur-libro 7. URL Disponibilizado em: http://www.hottopos.com/vidlib7/e2.htm . Visitado em 03/12/2008. MAFFESOLI, Michel. No Fundo das Aparências. Tradução de Bertha Halpern Gurovitz. Petrópolis: Vozes, 2ª edição. 1996. MARTINS, Ferdinando. O Corpo Gay. Revista G Online - Seção G news, coluna Filosofando. Publicado em 08.08.2008. São Paulo: UOL. URL Disponibilizado em: http://gonline.uol.com.br/site/arquivos/estatico/gnews/gnews_filosofando_37.htm . Visitado em 20/09/2008 MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MOTA, Murilo Peixoto da. Gênero e sexualidade: fragmentos de identidade masculina nos tempos da Aids. In: SCIELO (Base de Dados). Rio de Janeiro: Cadernos de Saúde Pública [online], 14(1):145-155, jan-mar, 1998. URL Disponibilizado em: http://www.scielosp.org/scielo.php? script=sci_abstract&pid=S0102-311X1998000100022&lng=en&nrm=iso&tlng=ptpt
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